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CAPÍTULO I O instituto jurídico da Extradição

1. Evolução Histórica: Definição, Fundamentos e natureza jurídica da

1.1 O Ordenamento jurídico latino-americano e brasileiro

1.2.1 A extradição de nacionais portugueses

O artigo 32º, nº 1 e nº 266 da CRP estabelece que haverá recusa da extradição se a pessoa reclamada for de nacionalidade portuguesa, salvo se a extradição de nacionais estiver estabelecida em tratado, convenção ou acordo de que Portugal seja parte, além de outros requisitos67 estabelecidos no próprio artigo. Assim, a nacionalidade como pressuposto de cidadania é condição primordial para o exercício dos direitos políticos e estabelece a qualidade de se pertencer àquela nação, por isso a Constituição da República Portuguesa dispõe que não será admitida a extradição de pessoas com nacionalidade portuguesa, exceto nos casos previstos no artigo 33º, n.3 e n.468 do diploma constitucional.

Contudo, as inovações do texto constitucional português em matéria de extradição possibilitam a extradição de nacionais, em caso de terrorismo e criminalidade internacional

66 “Artigo 32º Casos em que é excluída a extradição, nº 1 – Para além dos casos referidos nos artigos 6.º a 8.º, a extradição é excluída quando: a) O crime tiver sido cometido em território português;b) A pessoa reclamada tiver nacionalidade portuguesa, salvo o disposto no número seguinte. 2 - É admissível a extradição de cidadãos portugueses do território nacional desde que: a) A extradição de nacionais esteja estabelecida em tratado, convenção ou acordo de que Portugal seja parte; b) Os factos configurem casos de terrorismo ou criminalidade internacional organizada; e c) A ordem jurídica do Estado requerente consagre garantias de um processo justo e equitativo.” 67 Canotilho e Vital Moreira afirmam que a extradição de cidadãos portugueses deixou de ser um direito adquirido em termos absolutos depois da Revisão de 1997 que deu guarida constitucional ao previsto no artigo 7º n. 1 da Convenção relativa à Extradição entre os Estados-Membros de 1996. Assim pode haver extradição se houver reciprocidade, que tenha ocorrido crime de excepcional gravidade, exigindo-se, por fim, a garantia de um processo justo e equitativo. CANOTILHO, J. J. Gomes; MOREIRA, Vital, 2007, ob. cit. p. 532.

68 “Artigo 33º nº 3. A extradição de cidadãos portugueses do território nacional só é admitida, em condições de reciprocidade estabelecidas em convenção internacional, nos casos de terrorismo e de criminalidade internacional organizada, e desde que a ordem jurídica do Estado requisitante consagre garantias de um processo justo e equitativo. Nº 4. Só é admitida a extradição por crimes a que corresponda, segundo o direito do Estado requisitante, pena ou medida de segurança privativa ou restritiva da liberdade com carácter perpétuo ou de duração indefinida, se, nesse domínio, o Estado requisitante for parte de convenção internacional a que Portugal esteja vinculado e oferecer garantias de que tal pena ou medida de segurança não será aplicada ou executada”.

organizada, desde que a ordem jurídica do Estado requisitante consagre garantias de um processo justo e equitativo.

1.2.2 Extradição por motivos políticos ou crime de natureza política

Também, não é admitida a extradição, nem a entrega a qualquer título por motivos políticos ou por crimes em que há pena de morte ou outra de que resulte lesão irreversível da integridade física e deve ser determinada por autoridade judicial. Deve-se, portanto respeitar o pedido de cooperação, sem que a extradição seja por fato que constitua crime de natureza política ou crime conexo com crime político, estando excluída dessas classificações infrações como o genocídio, os crimes contra a humanidade, os crimes de guerra, o terrorismo e outros, conforme artigo 7º, nº1, alínea “a” e nº269 da Lei 144/99.

Nesse sentido a Constituição Portuguesa prevê no artigo 33º nº 6 a “proibição absoluta” de que não será admitida a extradição, nem a entrega a qualquer título, por motivos políticos ou por crimes a que corresponda, segundo o direito do Estado requisitante, pena de morte ou outra de que resulte lesão irreversível da integridade física. Porém, a expressão “proibição absoluta”70 utilizada por Gomes Canotilho e Vital Moreira no sentido de não haver qualquer possibilidade de extradição por motivos políticos e por considerar inconstitucional norma internacional ou nacional permissiva da entrega, exemplificam que com a revisão constitucional de 2001, alargou- se a norma proibitiva do nº 6 aplicando-se ao instituto da entrega do mandado de detenção europeu, previsto na Lei nº 65/2003.

Ocorre que a proibição da extradição compreende duas situações: ser o extraditando acusado ou ter sido condenado pela prática de crime de natureza política e ser o pedido de extradição motivado por perseguição política ou perseguição criminal por razões políticas71.

69 Artigo 7.º Recusa relativa à natureza da infração “nº 1 - O pedido é também recusado quando o processo respeitar a facto que constituir: a) Infracção de natureza política ou infracção conexa a infracção política segundo as concepções do direito português.” E “nº2 - Não se consideram de natureza política: a) O genocídio, os crimes contra a Humanidade, os crimes de guerra e infracções graves segundo as Convenções de Genebra de 1949;b) As infracções referidas no artigo 1.º da Convenção Europeia para a Repressão do Terrorismo, aberta para assinatura a 27 de Janeiro de 1977;c) Os actos referidos na Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adoptada pela Assembleia das Nações Unidas em 17 de Dezembro de 1984; d) Quaisquer outros crimes a que seja retirada natureza política por tratado, convenção ou acordo internacional de que Portugal seja parte.” 70 CANOTILHO, J. J. Gomes; MOREIRA, Vital, 2007, ob. cit. p. 532.

O Supremo Tribunal de Justiça dispõe que o conceito de crime político apresenta variações a partir de um critério objetivo, no qual compreende todos os que ofendem diretamente a organização do Estado, e um critério subjetivo, em que corresponde um fim ou motivo político72. Do mesmo modo discorre que embora o Código Penal separe os crimes contra a segurança exterior do Estado dos crimes contra a segurança interior do Estado, todos eles são objetivamente políticos, pois “não há razão para negar o carácter político das incriminações destinadas a protecção da independencia e da integridade do Estado”73

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Assim, caberá ao Ministério da Justiça e, posteriormente ao Tribunal da Relação, em primeira instância, e, se for o caso, Supremo Tribunal de Justiça analisar se o caso de extradição foi motivado por motivos políticos (perseguição política) ou se configura crime político para autorizar ou não a extradição.