• Nenhum resultado encontrado

2. A F AMÍLIA E A SUA I NFLUÊNCIA NA C RIANÇA

2.2. F UNÇÕES P ARENTAIS

Cada criança tem um pai e uma mãe, usualmente presentes desde o seu nascimento no seu mundo objectal, com quem se vai relacionando de diferentes formas. Nos primeiros tempos de vida da criança, a figura materna é sem dúvida a mais importante e privilegiada, assegurando os cuidados do bebé, proporcionando-lhe bem-estar e a satisfação das suas necessidades. Esta relação precoce entre mãe/filho é um aspecto fundamental no

20

desenvolvimento infantil. No que diz respeito à figura paterna, até há pouco tempo, existia uma propensão para excluir o pai, salientando-se mais recentemente a importância do seu papel no desenvolvimento da criança (Almeida, 1994).

2.1.1. PAPEL DA FUNÇÃO MATERNA

Segundo João dos Santos (citado por, Almeida, 1994), um crescimento equilibrado e saudável para a criança, estipula-se na qualidade da relação entre mãe/filho(a), incentivando- se à segurança e à verdadeira autonomia da idade adulta. Para o autor, mesmo que o registo destas vivências não seja verbal, há muitas coisas que dizemos, sentimos e vivemos, que definem a nossa forma de ser, que resultam dessa fase essencial onde se estabelece um contacto muito próximo com a figura materna. Quando se fala de função maternal, a ideia que usualmente ocorre é esta imagem de continente materno que permanece para toda a vida. Assim, torna-se perceptível que a função materna tenha como principal e último objectivo, criar bases sólidas para um funcionamento psíquico equilibrado, havendo portanto, uma relação precoce securizante, não sufocante, de verdadeiro apreço e amor, que tornará possível um desenvolvimento emocional, afectivo e físico harmonioso, pois esta securização que inicialmente vem de fora, por parte desta figura de referência, começa a ser interiorizada, transformando-se posteriormente em auto-segurança e auto-estima e só assim a criança poderá crescer. Posteriormente, a mãe deverá gradualmente reconhecer que o seu filho já não necessita da sua intervenção e ajudá-lo-á a separar-se de si, caso contrário a criança poderá viver a sua experiência de independência adequada para a sua idade, como algo que está errado e sentir ressentimento e culpabilização.

Segundo Bion (1973), dada a importância da figura materna, espera-se que esta exerça uma função continente face à criança, dando-lhe colo, consolo, suporte, que a sacie e securize, transmitindo-lhe segurança, tranquilidade e concedendo-lhe as capacidades psíquicas para que a criança adquira a estabilidade e segurança que precisa.

Segundo Winnicott (1975), a presença da mãe é de extrema importância na vida do seu bebé, pois o seu contacto com o corpo da mãe é fundamental para o seu desenvolvimento emocional. O recém-nascido precisa de protecção para conseguir enfrentar o novo mundo e lidar com as novas sensações e emoções (agradáveis e desagradáveis), às quais não consegue dar significado sozinho.

21

da personalidade da criança, do que as experiências infantis no seio da família, começando nos primeiros meses e na relação com a mãe. A criança escolhe para sua figura principal de apego, a pessoa que lhe dá mais atenção e que lhe presta os cuidados necessários, sendo esta geralmente a figura materna. Em suma, a função materna tem como objectivo principal construir bases sólidas para um funcionamento psíquico equilibrado e uma boa relação precoce que permite um desenvolvimento emocional e afectivo harmonioso, pois a segurança transmitida de início é gradualmente interiorizada, transformando-se em auto-segurança e auto-estima. Assim, a influência de uma mãe nos primeiros anos de vida é muito importante para o crescimento e desenvolvimento da criança a todos os níveis.

2.1.2. PAPEL DA FUNÇÃO PATERNA

Ross (1979), na literatura psicanalítica, a figura paterna foi considerada durante muito tempo como acessória, vista mais como figura de autoridade moral e protectora, mas sem estar directamente envolvida no crescimento emocional dos filhos e nos cuidados a ter, dando portanto a ideia de uma relação pai/criança por vezes destrutiva e pouco afectuosa. Nos dias que correm defende-se que tal como a mãe, o pai tem um papel primordial no desenvolvimento da criança, pelo apoio emocional que dá à família e especialmente à mãe.

Segundo Winnicott (1987), na fase de unidade da díade mãe/criança, logo após o nascimento da criança, o pai tem um papel primordial no apoio e suporte à relação maternal, estabelecendo-se aqui portanto uma relação pai – mãe/criança. Nesta fase o papel da figura paterna é proteger esta unidade, mantendo-a em segurança em relação ao mundo exterior, de forma a que a mãe consiga estabelecer uma verdadeira relação de amor com o seu bebé, sendo que só posteriormente é que a relação pai/criança se irá autonomizar desta díade. Quando a criança é confrontada com o segundo objecto, segundo Bergeret (1976), a criança recebe por intermédio da figura materna um pai, constituindo-se um primeiro ensaio da representação parental. Esta transmissão deriva da própria referência paterna da mãe, assim como da sua relação com o pai da criança. Segundo Cath (1986, citado por Almeida, 1994), a forma como transmite e visualiza o papel do marido, como pai, é talvez um dos factores mais relevantes para a forma como a criança se irá relacionar com a figura paterna e com os outros homens e mulheres ao longo da sua vida. Neste processo, a mãe pode ter um papel determinante na mediação e constituição de atitudes positivas e negativas para com o pai e assim contribuir para um protótipo inconsciente de todas as representações posteriores e idealizações do pai. O

22

pai tem também como principal função ser o agente separador, que vem de fora e diferencia as duas figuras da díade mãe/criança, uma vez que a criança por sua vez precisa do pai para se conseguir desligar da mãe e a mãe da criança, pois é com as suas solicitações afectivas que vai permitir-lhe o afastamento necessário para que a relação não tenha um carácter simbiótico e patológico. A figura paterna além de ser o facilitador da triangulação, tem também um papel muito importante na formação da identidade sexual (especialmente nos rapazes oferecendo um modelo sólido de identificação masculina) e nas escolhas objectais, bem como um papel primordial na construção da personalidade da criança.

Será importante salientar assim, a complementaridade da função maternal e paternal, pois não só o pai e a mãe são influenciáveis no exercício das suas funções, como também enquanto casal afectam o desenvolvimento dos seus filhos. A criança começa por separá-los no início a fim de os compreender, para depois se identificar mais com uma das partes e se descobrir a si própria. Posteriormente, a criança volta a uni-los e a partir da necessidade em mantê-los juntos, forma um novo modelo: o de casal.