• Nenhum resultado encontrado

Conhecer o perfil dos estudantes participantes desta pesquisa é fundamental para identificarmos a realidade em que estão inseridos. Além das perguntas voltadas à identificação do perfil dos participantes da pesquisa, elencamos uma série de outras perguntas capazes de identificar o conhecimento, a relação e a vivência

destes com a temática. Nessa parte, as questões que compõe o questionário são objetivas e discursivas. Para a análise das questões discursivas, que não apresentam identificação, elaboramos descritores próprios, formados pela letra R de resposta, seguida do numeral ordinal referente ao aluno, tendo como descritores: R1, R2, R3, R4, R5, R6, R7, R8, R9, R10, R11, R12, R13, R14, R15, R16, R17, R18, R19, R20, R21, R22, R23, R24, R25, R26, R27, R28, R29, R30, R31, R32, R33, R34, R35 e R36. Esses Descritores não apresentam nenhuma possibilidade de identificação dos alunos e servem apenas para melhor compreensão dos resultados desta pesquisa.

De maneira geral, o discurso dos alunos pode ser sintetizado na figura 14.

Figura 14 - Síntese da diversidade presente nos discursos dos egressos da EB

Fonte: Organizado pelas autoras com base nos questionários, 2019.

Percebemos um discurso em tom de denúncia por parte dos egressos que relatam o fato da escola ser um lugar marcado por uma sucessão de acontecimentos, geralmente omitidos ou negligenciados. É bastante acentuado o discurso de que, em muitos casos, o aluno ainda não tem clareza do que está acontecendo, principalmente em relação à sexualidade, mas também com as próprias mudanças relacionadas à fase da adolescência e não encontram apoio por parte da escola, que demonstra uma dificuldade em gerir os conflitos manifestados em várias formas citadas pelos alunos, como por exemplo o bullying, a agressão

física e verbal, o preconceito e a discriminação em razão da orientação sexual, da cor da pele, do peso, da religião, entre outros motivos apontados.

Os discursos foram analisados a fim de identificar a existência das cinco noções investigadas: diversidade, conflito, violência, inclusão e exclusão. Para cada noção foram atribuídos descritores específicos compostos pela letra inicial da noção e o numeral ordinal correspondente, identificando D1 a D11, C1 a C12, V1 a V3, E1 a E2. Em seguida analisamos cada descritor e o classificamos de acordo com suas características em luminoso (L), opacas (O) ou sem relação (SR), conforme sintetizado na tabela 21.

Tabela 22 - Classificação das noções contidas nos discursos dos egressos da EB conforme suas características

Noção Característica Descritor

Diversidade L D3, D4, D5, D6, D8 e D9 O D1, D2, D7, D10 e D11 SR - Conflito L C1, C2, C4, C5, C6, C7, C9, C10 e C12 O C3, C8 e C11 SR - Violência L V3 O V1 e V2 SR - Inclusão L - O - SR - Exclusão L E1 e E2 O - SR -

Fonte: Organizado pelas autoras com base nos questionários, 2019.

As noções depreendidas nos discursos dos egressos mostram-se mais contundentes em relação à nossa pesquisa. Aproximadamente 64,3% das menções apresentam fortes indícios luminosos em detrimento de 35,7% que, embora opacos, também ajudam a pensar esse contexto. Observamos a inexistência de noções sem

relação com a pesquisa o que nos induz a pensar que esse resultado está relacionado diretamente com a proximidade dos egressos da EB com a experiência vivida no lugar escola, enquanto os documentos das políticas educacionais encontram-se distantes da realidade das escolas, e por essa razão os usos das noções ocorrem de maneira generalizada. Essas características ficam melhor visualizadas no gráfico 18.

Gráfico 18 - características das noções pesquisadas nos discursos dos egressos da EB

Fonte: Organizado pelas autoras com base nos discursos dos egressos, 2019.

O gráfico nos revela que as noções não são utilizadas de maneira indiscriminada, sendo possível afirmar que todas elas apresentam relação com essa pesquisa. A noção de inclusão não foi citada nos discursos analisados, talvez por que a palavra em si não representa, para o aluno, uma relação forte com a pesquisa. Neste caso, o aluno não se apropria da noção de inclusão como necessária à função social da escola, de acolher os diferentes e promover uma educação emancipatória. Esse indício pode estar relacionado ao uso comum desse termo, vinculado à questão dos alunos com necessidades educacionais especiais. Os indícios de luminosidade são elevados, totalizando 54,6% da noção de diversidade, 75% da noção de conflito, 33% da noção de violência e 100% da noção de exclusão. Podemos inferir que esses discursos, por se tratarem da vivência dos alunos, são manifestações do cotidiano das escolas que marcam suas vidas de maneira

negativa. Essas noções em que encontramos maiores indícios luminosos encontram-se na tabela 2222.

Tabela 23 - Noções de maior potencial luminoso nos discursos dos egressos

DESCRITOR ASSERTIVA23

D3 Eu acho que isso só existe pq algumas pessoas não são criadas para lidar com a diversidade, falta de os pais os ensinarem a respeitar qualquer pessoa independente de como ela é.

D4 e C1 Considero que existe de modo geral os conflitos em decorrência da diversidade. Talvez falte orientação.

D5 e C4 Esses conflitos têm relação por que ainda é difícil para algumas pessoas aceitarem o seu próximo apesar das diferenças, e no ambiente escolar percebemos o grande choque de culturas, pois é lá que temos um contato mais direto com pessoas de diversidades diferentes das nossas.

D6 Existe porque muitas escolas não tratam como prioridade o ensino sobre a diversidade, sendo essa de suma importância. Já que não ensinam sobre o respeito ao próximo, os alunos muitas vezes com opiniões formadas e não questionadas acabam repetindo comportamentos irracionais fomentando o ódio ao diferente.

D8 e C9 A diversidade na verdade não é algo muito fácil de ser aceito por determinados grupos, o que pode causar esses conflitos

D9 e C10 Primeiro porque na escola onde eu estudava existia pouca diversidade, a maior e mais comum era referente a classe social apenas. Então todo aluno "diferente" que chegasse, era motivo para conflito.

C2 Porque a maioria dos casos de conflitos tem por base a não aceitação do outro "ser diferente".

C5 Por que as pessoas não são iguais e algumas não aceitam essas diferenças e acabam criando conflitos.

C6 Pois os conflitos são gerados a partir de intolerância e preconceito sendo estes problemas sociais

C7 Existe, pois vários conflitos que presenciei estavam relacionados à cor da pele, à orientação sexual ou à pobreza.

C12 Acredito que os conflitos acontecem quando a pessoa não conhece alguém próximo que já passou por algum tipo de discriminação ou nunca passou pessoalmente por aquilo. A partir do momento que se entende que somos todos iguais, temos todos os direitos, tendemos a respeitar o outro. Mas o ambiente de casa e escolar precisar ser

22

Apresentamos no quadro 22, todos os discursos dos egressos da EB, que julgamos apresentar maior potencial luminoso.

23

Foram realizadas correções gramaticais nos discursos dos alunos, que não modificam o seu contexto.

um ambiente em que se conversa sobre isso e se discute sobre o papel de cada um de nós em cada contexto que estamos inseridos. V3 Pois muitas pessoas abominam o "diferente", pois não querem ser

"diferentes" e aí usam da violência, como meio de não ser "assim", mas acabam sendo pessoas tão mal resolvidas, que em muitas circunstâncias, o ódio pela diferença passa da fase de "Bullying" para uma perseguição e até mesmo homicídio. Infelizmente.

E1 Tipo físico (magreza) e timidez, através de brincadeiras de mal gosto e exclusão

E2 Descaso dos professores com alunos que tinham problemas físicos/mentais, humilhação, também por parte dos professores, de alunos com dificuldade de aprendizado em determinadas disciplinas, piadas e exclusão de colegas de baixa renda, negros e deficientes. Fonte: Organizado pelas autoras com base nos discursos dos egressos, 2019.

Além da luminosidade ser presente nos discursos dos alunos, também há uma certa tendência em justificar essa relação entre a diversidade e os conflitos escolares. D3, D4, C1 e C12 afirmam existir os conflitos em função da diversidade, mas atenuam a situação por considerar que, talvez, falte orientação por parte da família para que esses alunos aprendam a respeitar os outros, sem nenhuma forma de distinção. Essa afirmação é reforçada por D5, D8 e C4, que diz ser “difícil para algumas pessoas aceitarem o seu próximo apesar das diferenças”, destacando ainda que, a escola por ter essa característica de reunir, num mesmo espaço, uma multiplicidade de sujeitos diferentes provoca esse “choque de culturas”. Apesar desse discurso, D9 e C10 destaca outra situação no mínimo curiosa. Embora os discursos tenham uma tendência em afirmar que a questão central está no fato da escola reunir um grande número de alunos com características diversas e essa variedade provocar os conflitos, afirma que “na escola onde [...] estudava existia pouca diversidade, a maior e mais comum era referente a classe social apenas” e por essa razão “todo aluno "diferente" que chegasse, era motivo para conflito”. Neste caso, não importa a quantidade ou a variedade de características, e sim o fato de ser diferente do padrão estabelecido daquele momento e naquele lugar. E1 destaca que os motivos para a ocorrência dos conflitos são variados, mas destaca principalmente o “tipo físico (magreza) e timidez, através de brincadeiras de mau gosto e exclusão”. Infelizmente, a afirmação de E2 nos deixa reflexivos, por destacar que os conflitos motivados pela diversidade não ocorrem apenas entre os pares, reforçando que presenciou “descaso dos professores com alunos que tinham problemas físico-mentais [...] de alunos com dificuldade de aprendizado em

determinadas disciplinas” e que foram alvos de “piadas” e também de “exclusão de colegas de baixa renda, negros e deficientes”.

O discurso apresentado por C9 destaca que “a diversidade na verdade não é algo muito fácil de ser aceito por determinados grupos, o que pode causar esses conflitos”. Quando pensamos nos motivos dessa não aceitação, “do outro ser diferente”, conforme declarado por C2, C5, C6 e C7, nos deparamos com um discurso incomodativo apresentado por V3: “muitas pessoas abominam o "diferente", pois não querem ser "diferentes" e aí usam da violência, como meio de não ser "assim"”. Essa afirmação parece se caracterizar como uma autodefesa por não querer se assemelhar ao outro.

A culpabilização da escola, também é recorrente nos discursos apresentados pelos alunos, como é o caso de D6 que destaca o fato de que “muitas escolas não tratam como prioridade o ensino sobre a diversidade, sendo essa de suma importância” e complementa para que não fiquem dúvidas: “já que não ensinam sobre o respeito ao próximo, os alunos muitas vezes com opiniões formadas e não questionadas, acabam repetindo comportamentos irracionais fomentando o ódio ao diferente”. Em outras palavras, esse aluno declara que a escola é responsável, tanto por propiciar o encontro de diferentes, quanto pelo fato de não abordar questões relativas ao respeito mútuo.

Os participantes foram questionados se, durante a época em que eram estudantes da Educação Básica, haviam presenciado dentro das dependências da escola, cenas de agressão física ou verbal, perseguições, desacato ou desrespeito ao professor, indisciplina em sala de aula ou outras situações semelhantes. A maioria expressiva, representada por 84% dos estudantes responderam positivamente, conforme destacado no gráfico 19:

Gráfico 19 - testemunhas de cenas de agressão, desacato ou desrespeito durante a EB.

Fonte: Organizado pelas autoras com base nas respostas dos alunos, 2019.

Atrelada a esta constatação, investigamos junto aos alunos, qual das cenas presenciadas teve consequências mais graves e os porquês. Os alunos destacaram diversos casos que merecem atenção, conforme podemos observamos no gráfico 20:

Gráfico 20 - tipos de ocorrências testemunhadas pelos alunos na EB

Fonte: Organizado pelas autoras com base nas respostas dos alunos, 2019.

Infelizmente, confirmamos no discurso dos alunos, que disparadamente o desrespeito ao professor está presente em nossas escolas. Outros fatores relevantes configuram-se em agressões físicas, verbais, bullying e cyberbullying que

ocupam respectivamente o 2º, 3º e 4º lugar nas definições apresentadas pelos alunos.

Um fator pouco manifestado pelos alunos, que em geral é um dos grandes problemas em sala de aula, é a questão da indisciplina, com apenas 2,85%. Outros 5,7% citaram as discussões entre alunos e professores como ocorrência de maior gravidade presenciada no ambiente escolar. A justificativa para tal fato seria as notas que os alunos tiravam em provas e trabalhos.

Normalmente, as situações apresentadas acima, são passíveis de medidas adotadas pela escola em relação às vítimas e aos autores. Ao serem questionados, sobre qual delas tiveram consequências mais graves, obtivemos declarações importantes para nossa reflexão. Entre as declarações apresentadas, destacamos o argumento apresentado por R3 ao afirmar que “nenhuma atitude desrespeitosa teve a consequência à altura. Geralmente, [...] a sala toda ouvia sermão do diretor e no máximo o aluno era suspendido por 3 dias”. Na argumentação do aluno, as consequências não condiziam com os fatos, no máximo o que poderia acontecer era uma bronca coletiva e suspensão para o envolvido e tudo voltava ao normal. Fato este, complementado por R7: “a maioria das coisas que aconteciam eram tidas como „rotineiras‟ e se passava um pano por cima e seguia-se em frente”. Esse argumento demonstra certa naturalização da violência escolar, algo tão comum que acaba sendo tratado como normal.

Tendo conhecimento de que as situações que desrespeitam as regras da escola são registradas em livros ou outros documentos, os entrevistados foram questionados sobre sua familiaridade com esses documentos. Aproximadamente 35% dos alunos declararam ter assinado pelo menos uma vez o livro de ocorrências. O dado mais curioso é que em meio a tantas situações ocorridas nas escolas, 19% dos entrevistados declararam que além de não terem assinado, desconheciam qualquer colega que o tenha feito. Outros 46%, admitiram que embora não tenham assinado conheciam alunos que assinaram o livro, conforme observamos no gráfico 21.

Gráfico 21 - registros de ocorrências no livro preto ou similar

Fonte: Organizado pelas autoras com base nas respostas dos alunos, 2019.

Os motivos vinculados à assinatura do livro preto, apresentados pelos alunos, são diversos e em geral estão relacionados à indisciplina, chegadas atrasadas, discussão com colegas, desrespeito, desatenção, conversas durante a aula e furto.

Ao serem questionados se haviam sofrido alguma penalidade enquanto eram alunos da Educação Básica, aproximadamente 34,3% dos entrevistados responderam positivamente. Entre essas penalidades, constatamos que 8,4% dos alunos foram repreendidos, 16,7% receberam suspensão das aulas e 74,9% foram advertidos.

Nas respostas apresentadas é possível depreender que os níveis de gravidade para determinar o tipo de penalidade aplicada em cada situação é relativo e varia conforme a unidade escolar e as regras contidas em seu regimento, já que um aluno foi suspenso das aulas, por exemplo, por ter se molhado na chuva, enquanto outros foram apenas advertidos em casos de agressão física e consumo de bebida alcóolica nas dependências da escola.

Já em relação às penalidades sofridas por outros alunos durante a Educação Básica, 90,6% dos alunos tem conhecimento de colegas que a receberam. Destes, 27,3% tiveram colegas que foram expulsos da escola, 54,6% suspensos e 18,1% advertidos. Entre os motivos apresentados estão a indisciplina, o desrespeito aos professores, agressão física entre alunos, não cumprimento de regras, uso de drogas e álcool, bullying, agressão verbal, roubo e danos ao patrimônio público, conforme demonstrado no gráfico 22:

Gráfico 22 - tipos de ocorrências que resultaram em penalidades

Fonte: Organizado pelas autoras com base nas respostas dos alunos, 2019.

As atitudes apresentadas como motivos para os colegas terem recebido penalidades na escola, são variadas e perpassam em geral a transgressão de regras, manifestando-se tanto na forma física quanto verbal. Entre essa suposta transgressão de regras, destacamos o fato apontado por 3,1% que foram penalizadas por demonstração de afeto entre pessoas do mesmo sexo.

Ao serem questionados se sofreram algum tipo de discriminação enquanto eram estudantes da Educação Básica, isto é, se haviam sido tratados de maneira diferente dos demais em virtude de raça, religião, sexo, orientação sexual, condição social, tipo físico, entre outros, o resultado é muito expressivo, conforme observamos no gráfico 23:

Fonte: Organizado pelas autoras com base nas respostas dos alunos, 2019.

Conforme observamos no gráfico acima, 62% dos participantes sofreram algum tipo de discriminação. Em geral, estes alunos declararam ter passado por humilhações, recebendo apelidos ofensivos, sendo alvos de brincadeiras de mau gosto, exclusão e agressões físicas. As causas de maior impacto nas declarações estão relacionadas à orientação sexual, à religião e ao tipo físico principalmente relacionado ao peso. Além disso, também foram citadas questões relacionadas à raça/cor de pele, tipo de cabelo, condição social e econômica, conforme demonstrado no gráfico 24.

Gráfico 24 - motivos apontados pelas discriminações sofridas

Fonte: Organizado pelas autoras com base nas respostas dos alunos, 2019.

Os casos de discriminação por conta da aparência são os mais citados como motivos pelos quais os alunos são discriminados. Já a discriminação racial, que leva em consideração fatores como a cor da pele e o tipo de cabelo, ocupam a segunda posição, com números muito expressivos. Se levarmos em consideração a história da formação do povo brasileiro, que é fruto da miscigenação entre negros, indígenas e brancos, cujos resultados são agrupados em uma categoria definida pelo IBGE como pardos, maior contingente de pessoas que compõe a população brasileira atualmente, esse tipo de discriminação poderia ser considerado auto discriminação, já que se despreza no outro, algo que pertence a cada sujeito, o fato de sermos resultado da mistura entre os povos.

Em relação à orientação sexual, fica claro que, normalmente, o próprio aluno, ainda não tem clareza do que acontece consigo e se depara, de um lado com

colegas que o fazem de piada e de outro, não consegue ter apoio do lugar escola, já que nem sempre encontra profissionais com conhecimento e abertura ao diálogo. Em vários momentos, nas falas24 dos alunos, é possível identificar essa problemática, cujo contexto apresenta fortes indícios luminosos.

Ao explicar os motivos de ter assinado o livro de ocorrências, R28 destaca ter sido vítima de:

Homofobia em duas escolas que cursei o ensino médio. Na primeira que cursei o ensino médio sai da escola por comentários de alunos que diziam que gays tinham que morrer e quando procurei a direção da escola, nada era feito e decidi mudar de escola, onde nesta próxima sofri homofobia da coordenação da escola e da zeladora o que provocou grande instabilidade emocional minha e acabei sendo desrespeitoso e fiquei suspenso da escola, logo em seguida desisti de cursar o ensino médio e fui estudar para concluir pelo ENEM.

Duas situações agravantes são destacadas pelo aluno em duas unidades escolares diferentes. A primeira faz referência à discriminação e ameaça sofrida por sua orientação sexual, por parte dos alunos da escola. A segunda, a discriminação sofrida em outra escola, pelos mesmos motivos, por parte dos profissionais. Nas duas situações o aluno não teve respaldo para solucionar o problema e acabou desistindo de estudar para acabar com o problema, no qual ele era vítima. Ficam evidentes nos discursos dos alunos, a dor, o sofrimento e a crueldade que deixa marcas em suas vidas.

A gravidade desta violência é confirmada por R12 que declara ter testemunhado um colega sofrer “advertências por demonstração de afeto entre pessoas do mesmo sexo”. Neste caso, ganha visibilidade o fato de que as escolas não estão preparadas para lidar com a diversidade, principalmente no contexto da sexualidade, por considerarem demonstrações de afeto como violação de regras de conduta.

O lugar geográfico escola, nem sempre se constitui enquanto espaço de acolhimento, devido a sua característica de reunir uma multiplicidade de sujeitos, características e interesses. Nesse sentido, destaca R7:

Escola nunca é um lugar fácil e se foi para alguém, a pessoa é muito privilegiada; para mim foi um terror psicológico durante todo o tempo,

24

Nessas falas realizamos pequenas adequações gramaticais, que não modificam o contexto ou o sentido da resposta dos alunos.

durante minha formação básica eu era uma criança meio viada e gordinha, ou seja, um alvo fácil. Sofri algumas represálias e etc, acabei me blindando com o estudo e me tornando um dos melhores alunos da turma que ajudava todo mundo na hora da prova ou de trabalhos. O Ensino Médio foi muito mais uma pressão e cobrança estética interna, - o que gerou alguns transtornos alimentares - somado a não aceitação da minha sexualidade do que "sofrer descriminação" em si. Haviam aqueles momentos que tinha umas alfinetadas e "brincadeiras" com uma discriminação velada. Tanto que eu só consegui aceitar minha sexualidade depois de 3 anos na faculdade (durante minha primeira graduação).

Nesta resposta, complexa e reveladora, o aluno deixa claro ter sido discriminado dentro do ambiente escolar, durante toda a sua formação, tendo sofrido danos psicológicos, tanto por conta de sua aparência física por estar acima do peso, quanto pela sua sexualidade, o que o levou a ter dificuldades de aceitar a própria orientação sexual. O preconceito, a discriminação e a segregação vivem disfarçados com o nome de brincadeiras e infelizmente é comum ouvirmos declarações de pessoas que julgam como situações normais. Normal deveria ser a criança ir para a escola estudar e estabelecer laços sociais saudáveis e não ser considerada como alvos potenciais de perseguições. Esse contexto é reforçado por R28, quando