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Relatórios contemporâneos: um diálogo entre o local e o global

O diálogo entre os discursos dos alunos tem continuidade com a análise do relatório do NEPRE-online 2018 e com a pesquisa sobre violência na escola e bullying, divulgada pela UNESCO no início de 2019, que nos permite estabelecer uma relação entre o local e o global.

Vinculado à Política de Educação, Prevenção, Atenção e Atendimento às Violências na Escola e ao NEPRE, foi desenvolvida uma ferramenta atribuída ao SISGESC (Sistema de Gestão Educacional de Santa Catarina), chamada de NEPRE online onde as escolas podem e devem realizar os registros relacionados as violências ocorridas no ambiente escolar, tendo como objetivo integrar os NEPREs existentes nas escolas, SUPRE e SED, gerando dados relacionados as violências ocorridas nas escolas, para facilitar a análise e o planejamento de ações de prevenção nas escolas.

Referente ao período letivo de 2018 (fevereiro a novembro) foi divulgado um relatório do NEPRE-online, a partir das informações registradas pelas escolas estaduais. Essa ferramenta é uma fonte de dados importante, embora percebamos que nem todas as unidades escolares a utilizem para realizar seus registros, conforme observamos no gráfico 32:

Gráfico 32 - Percentual de escolas em cada gerência regional de educação que registraram as ocorrências de violência na escola em 2018 no NEPRE-online

Fonte: Adaptado pelas autoras, com base no relatório do NEPRE-online 2018, 2019.

Embora a adesão das escolas seja considerada baixa, acrescida do fato de que nem todos os episódios ocorridos no interior das escolas são registrados utilizando esta ferramenta, este relatório vem ao encontro desta pesquisa, principalmente quando apresenta o gráfico 33, que retrata os motivos geradores de violência ou conflitos nas escolas.

Gráfico 33 - motivos apresentados como geradores de violência nas escolas da rede estadual de SC em 2018

Ao analisarmos o gráfico acima, referente aos registros realizados pelas escolas, podemos destacar que 23,2% deles tem relação direta com a diversidade em suas diversas formas: de gênero, orientação sexual, étnico-racial, religioso, características físicas, biológicas, pessoas com necessidades educacionais especiais e doenças crônicas. Outros 53,6% são destacados como atos de incivilidade, que pode ou não ter relação com nossa pesquisa, pois conforme Charlot (2002, p. 437), incivilidades seriam “comportamentos que se contrapõem as regras de boa convivência”, as chamadas falta de limites, o que nos permite pensar: boa convivência e falta de limites em relação a quem e ao quê? Outros 23,20% estão relacionados ao uso de drogas e ao vandalismo.

Partindo do cenário de conflitos e violência na escola em âmbito local, vamos ao encontro do relatório sobre a situação mundial, divulgado pela UNESCO em 2019. Esse relatório é resultado de uma pesquisa realizada pela parceria entre a UNESCO e o Instituto de Prevenção à Violência Escolar vinculado a Universidade de Mulheres EWha, e apresenta contribuições importantes ao contexto desta pesquisa, apontando que entre as causa implícitas da violência na escola e do bullying, se destacam as “normas sociais e de gênero”, principalmente as que se baseiam “na discriminação de gênero e em expectativas sobre os papéis, estereótipos e diferenças de poder associados ao status de cada gênero ( UNESCO, 2019, p. 8), destacando que

As crianças e os adolescentes mais vulneráveis, incluindo os mais pobres ou provenientes de minorias étnicas, linguísticas ou culturais, migrantes ou pertencentes a comunidades de refugiados ou pessoas com deficiências físicas, apresentam maiores riscos de sofrer violência escolar e bullying. Crianças e adolescentes cuja orientação sexual, identidade ou expressão de gênero não se conforma às normas sociais ou de gênero tradicionais são afetados de modo desproporcional.

Os dados apresentados por este relatório são alarmantes, demonstrando que, anualmente, aproximadamente “246 milhões de crianças e adolescentes sofrem algum tipo de violência escolar e bullying”, destacando uma “prevalência da violência de três a cinco vezes mais significativas entre estudantes LGBT, do que entre outros estudantes”, resultado que varia conforme a cultura local (UNESCO, 2019, p. 9). Além da questão de gênero, a questão econômica e social também é um fator essencial que submete alunos a situações de discriminação e violência na escola.

Esse documento reafirma que as violências nas escolas “são reforçadas por normas e estereótipos de gênero, orientação sexual e demais fatores que contribuem para a marginalização – como pobreza, identidade étnica ou idioma”. No decorrer do documento os índices variam conforme a região e a manifestação da violência, contudo, são contundentes os motivos apresentados para tal prática. (UNESCO, 2019, p. 17).

Entre os principais motivos para a ocorrência da violência na escola, este relatório aponta as questões relacionadas a diversidade, o que nos direciona à nossa hipótese de pesquisa, conforme a figura 14:

Figura 15 - Motivos desencadeadores da violência escolar e do bullying de acordo com a UNESCO

Fonte: UNESCO, 2019, p. 16.

A ilustração acima é clara ao propor que, entre os fatores desencadeadores de violência, se encontram justamente aqueles voltados às diferenças, que fogem ao padrão da “normalidade” previamente estabelecida e que se enquadram no público que compõe a diversidade. Entre esses fatores se destacam as questões socioeconômicas, de orientação sexual e de gênero, as deficiências e as questões étnico-raciais, vindo ao encontro do que propõe esta pesquisa.

Os dados apresentados por esta pesquisa chamam a atenção e é uma mostra da realidade, haja vista que o próprio documento aponta para a tendência dos alunos silenciarem o sofrimento, e por diversas razões, muitos alunos demoram

a denunciar a violência sofrida ou nem o fazem em aproximadamente 30% dos casos.

Tendo em vista o resultado concreto da realidade apresentado por estes relatórios, no próximo item, estabeleceremos um diálogo entre os resultados das análises realizadas até aqui.

3.2 DIVERSIDADE E CONFLITOS ESCOLARES: FRONTEIRAS NO LUGAR