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FACETAS DO APRENDIZ ESTRANGEIRO

No documento Identidade brasileira tipo exportação (páginas 36-40)

1 A LINGUÍSTICA APLICADA COMO REFERÊNCIA

1.2 FACETAS DO APRENDIZ ESTRANGEIRO

Considerando a interdisciplinaridade presente em um estudo desta natureza, estamos integrando linhas de pesquisa tanto da ciência da Linguística Aplicada quanto dos pressupostos teóricos da Política de Línguas, com o intuito de abarcar os diversos cenários e suas respectivas nomenclaturas de descrição do aprendiz estrangeiro da língua portuguesa modalidade brasileira hoje. É importante salientar que a descrição do cenário presente se deve à sua reconfiguração constante, e ainda, como veremos a seguir, ao fato de que se novas pesquisas são publicadas, novos perfis podem ser criados. Como apoio teórico, destacamos as modalidades investigadas no estudo de caso adiante.

Para desenvolvermos a nossa discussão, distinguimos, novamente, segunda língua (L2) de língua estrangeira (LE). Segundo Gass & Selinker (2001, p. 4-5),

aquisição de L2 significa a aprendizagem de outra língua (por contato com

falantes ou em sala de aula) depois que a língua materna foi aprendida. Às vezes, esse termo se refere à aprendizagem de terceira ou quarta língua. O ponto importante é que a aprendizagem em um ambiente de L2 ocorre com acesso considerável aos falantes da língua aprendida em diversas situações do cotidiano. Aqui, usaremos o termo L2 para referir-nos à situação de aquisição do Português por alunos estrangeiros em aulas particulares no Brasil. Por outro lado, aprendizagem de LE se refere à aprendizagem de uma língua não-nativa no ambiente da língua nativa. Por exemplo, falantes de inglês aprendendo Português nos EUA.

De modo geral, há três tipos principais de aprendizes estrangeiros da língua portuguesa modalidade brasileira:

1) um estrangeiro falante de sua língua nativa (que não seja o Português), que vem para o Brasil, por motivo profissional ou não, para aprender a língua portuguesa, compõe a modalidade Português como Segunda Língua (PL2);

oficial e que estuda a língua portuguesa configura a modalidade Português como Língua Estrangeira (PLE) e

3) um estrangeiro falante de uma ou mais línguas além de sua língua nativa (que não seja o Português) e que aprende o Português é denominado como estudante de Português para Falantes de Outra (s) Língua(s) (PFOL).

Uma quarta categoria engloba o nativo da língua espanhola e estudante de Português como Português para falantes de Espanhol (PFE). Na verdade, o caráter recente da área de estudos pode ser o responsável pela formação de novas nomenclaturas, como por exemplo, uma combinação entre o aspecto geográfico do item 1 e o número de línguas faladas do item 3 ou ainda para a nomenclatura Português como outra língua.

Há, ainda, a abertura para novas classificações com relação à idade, uma vez que é a época de aquisição de uma ou mais línguas, simultaneamente ou não, que determina se estamos tratando de bi/ tri/ plurilinguismo ou não. Até mesmo o que Santos7 sugeriu para a inclusão de disciplinas metodológicas para o ensino de Português Língua Estrangeira na grade curricular das licenciaturas em Português – Literatura pode vir a se tornar uma nova categoria se um estudante estrangeiro participar do Programa de Letras relacionado.

Quem está adquirindo a língua? Definir o perfil linguístico da clientela que está adquirindo a língua portuguesa deve nos auxiliar no mapeamento do aluno. Além dos exemplos acima, devemos considerar o contexto de aquisição das línguas responsáveis pela condição de bilíngue analisada e identificar o domínio funcional de uso linguístico dessas línguas em diferentes situações de comunicação. Com isto, podemos estabelecer o grau de domínio das línguas (língua [+/- dominante]) no estágio de bilingualidade definido pelo momento da investigação. Savedra8 distingue três tipos de situações de bilinguismo, de acordo com o contexto de aquisição:

7 Santos, 2000.

8 Cf. Savedra, 1994. As siglas apresentadas a seguir são utilizadas pela autora, respectivamente, como:

a) L1ab: as línguas são adquiridas ao mesmo tempo, sendo ambas consideradas L1;

b) L1 + L2: uma língua é adquirida posteriormente à outra, antes de a primeira ter sido maturacionada;

c) LM + LE: uma língua é adquirida posteriormente à outra, depois de a primeira ter sido maturacionada.

Notamos que mais pessoas falam mais que uma língua hoje em dia. Definido pela idade e maturidade linguística, o bilinguismo é recorrente em nosso estudo de caso. Devemos analisá-lo porque, em nosso corpus, o aluno estrangeiro habita no Brasil e estuda Português como língua estrangeira, enquadrando-se, assim, nas categorias a seguir sugeridas por Savedra (2002, p. 74).

Quadro 1: Época de Aquisição e Tipo de Bilinguismo

Época de Aquisição Tipo de Bilinguismo

Infância L1ab ou L1 + L2 Adolescência L1 + L2 ou LM + LE

Adulta LM + LE

Fonte: SAVEDRA, M. Aquisição formal da Língua Portuguesa como L2: um estudo de campo no Rio de Janeiro. In: CUNHA, M. J. C. & SANTOS, P. (Orgs.). Tópicos em português língua estrangeira. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002.

A autora sugere que a situação identificada pelo contexto de aquisição não apresenta estabilidade no decorrer da vida dos indivíduos. Ela muda em decorrência da variabilidade de uso funcional de cada uma das línguas e pode acarretar, em determinados períodos de vida, uma situação de domínio linguístico de uma língua em relação à outra. Essa variabilidade de uso não é necessariamente uniforme em todos os domínios de comunicação. Ela sofre modificações também em decorrência de fatores sociais e comportamentais, em diferentes ambientes comunicativos (ambiente familiar, social, escolar e

profissional)9. Essa fluidez quanto ao domínio de uso de ambas as línguas, em diferentes situações comunicativas, define a segunda dimensão de bilingualidade proposta por Savedra.

No caso de nossos alunos de PL2, isto é, estrangeiros que vivem no Brasil e estudam língua portuguesa, o bilinguismo constitui o panorama do corpus delimitado adiante. Em idade adulta, o trabalho simultâneo entre as línguas materna, estrangeira (no caso, inglês no ambiente profissional) e segunda língua (Português modalidade brasileira) pode ser resultado de maturidade e aptidão linguísticas adquiridas.

9 A situação de uso de língua no ambiente familiar é definida pela(s) língua(s) utilizada(s) para

comunicação com parentes próximos e pessoas de estreito convívio. O ambiente social compreende todos os locais de contato social frequente, como clube, igreja e vizinhança. Já o ambiente escolar engloba todo ambiente de instrução formal dentro e fora da sala de aula e por fim, o ambiente

profissional é determinado pela(s) língua(s) utilizada(s) para qualquer situação de comunicação

No documento Identidade brasileira tipo exportação (páginas 36-40)