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Factores que internamente concorrem para o aumento do fluxo ilegal em Angola

CAPÍTULO III – FACTORES QUE CONTRIBUEM PARA O FLUXO ILEGAL EM

3.3. Factores que internamente concorrem para o aumento do fluxo ilegal em Angola

A problemática do fluxo ilegal em Angola é bastante difícil de ser controlada por ser igualmente difícil o controlo e a identificação dos imigrantes em situação ilegal pela porosidade das fronteiras, pelas delimitações geográficas de grupos étnicos-linguísticos não coincidentes às fronteiras estatais, por algumas pessoas serem membros integrantes de comunidades nómadas e porque muitas pessoas não possuem prova do seu local de nascimento nem de cidadania e muitas outras questões que afligem o Continente no seu todo e que favorecem grandemente o agudizar do fenómeno em abordagem.

A questão da unidade nacional constitui ainda hoje uma das preocupações essenciais nos países africanos em geral e particularmente em Angola. Embora as fronteiras herdadas da colonização sejam respeitadas no quadro das Convenções internacionais, elas não deixam de ser artificiais pelo facto de ter separado arbitrariamente os povos e destruindo deste modo os Estados pré-coloniais (nações étnicas) que foram constituídos ao longo de vários séculos de movimentos migratórios bantu. (LUANSI, 2003)

Como se sabe, Angola é neste contexto um mosaico de diferentes grupos étnicos e tipos humanos que antes da penetração europeia tinham diferentes estruturas de organização política, cultural e social.

77 Dos fatores mais apontados como propiciadores da imigração a nível internacional destacamos: o subpovoamento de alguns países, as potencialidades naturais destes países, a possibilidade de trabalhar mais facilmente nestes países e mais recentemente a possibilidade de salários mais altos, por seu turno, as migrações ilegais são conduzidas por forças poderosas e complexas como a falta de oportunidades de empregos e de outros meios de subsistência nos países de origem, a procura de mão-de-obra barata flexível nos países de destino, etc.

E, mais recentemente têm-se destacado como potenciais impulsionadoras da imigração ilegal no país as seguintes (LUANSI, 2003):

 A procura de recursos para ascensão social por mecanismos mais ou menos organizados contando com a conivência direta de alguns cidadãos nacionais: A necessidade de melhoria da condição socioeconómico do migrante os leva a adotarem procedimentos de penetração e inserção na sociedade de imigração devidamente pré- definidos e por formas a conseguirem alcançar os seus objetivos com a facilitação de alguns cidadãos nacionais;

 A existência de inúmeras redes de contrabando ao nível das fronteiras regionais: O verdadeiro motor de entrada ilegal de estrangeiros em Angola têm sido os grupos de indivíduos que a troco de alguns favores monetários ou não tratam de introduzir ilegalmente estrangeiros para Angola, desviando – se de todo o esquema de segurança montado pela polícia de guarda fronteira e outros órgãos competentes por conhecerem com profundidade as melhores rotas de entrada ilegal para Angola;

 A vulnerabilidade das fronteiras terrestres, fluvial e marítima: Em Angola, ainda é penosa a situação das fronteiras, é assim, que com essa dificuldade jamais será possível se combater eficazmente o fenómeno imigração ilegal;

 A utilização dos residentes fronteiriços (cidadãos que residem ao longo da fronteira, com o tempo de residência igual ou superior a cinco anos e numa profundidade territorial estabelecida convencionalmente por acordo bilateral) como guias de imigrantes ilegais para a movimentação fácil no interior do território nacional: Por estarem mais próximos dos Estados vizinhos, os cidadãos residentes fronteiriços na maior parte das vezes familiarizam-se com cidadãos residentes fronteiriços de outros países pelo seu contacto quase que permanente no âmbito das trocas comerciais, de assistência médica, medicamentosa, escolar e outras, contactos esses que elimina no seio destes o conceito de

78 limites territoriais, passando dessa forma os cidadãos fronteiriços a servirem de verdadeiros guias e acolhedores de imigrantes ilegais para o interior de Angola quer por ignorância (sobre os prejuízos da imigração ilegal para o Estado) quer por desinformação das leis sobre a imigração ou mesmo por necessidade financeira e familiarização;

 A dificuldade ligada ao processo de aquisição de documentos para migrar-se legalmente: Uma das causas mais fortes da imigração ilegal para Angola compreende o excesso de requisitos exigidos para a arrumação das condições suficientes de imigração legal, o que se traduz num cúmulo de burocracia e aumento da preferência à entrada fraudulenta ao país por parte de muitos estrangeiros cujas necessidades por vezes não lhes permitem aguardar, mesmo que anteriormente desejassem imigrar legalmente;

 A prática da corrupção ao nível dos serviços estatais e em especial dos ligados ao controlo da migração de estrangeiros: A corrupção é uma das vias que mais pendor tem tido no quadro da imigração ilegal, e ela só se torna recurso de grande monta devido a fraca capacidade económica e financeira dos órgãos e agentes encarregues de garantir a inviolabilidade das fronteiras bem como a verificação do tempo de permanência de estrangeiros em Angola, alias, a corrupção ganha maior ímpeto aonde as necessidades são acentuadas e existam potenciais corruptores;

 O fácil enquadramento de estrangeiros no sistema comercial angolano: O facto do circuito comercial angolano ser predominantemente informal torna fácil a inserção de qualquer estrangeiro ilegal no mesmo circuito, pela sua própria natureza paralela por outro lado, as facilidades para essa inserção resultam do facto de ao nível dos negócios de maior peso os imigrantes contarem a partida com a proteção de alguns elementos detentores de algum poder ao nível da orgânica do Estado angolano, com pretensões pecuniárias;

 O registo extraordinário de adultos em condições pouco fiáveis que facilitam a infiltração de estrangeiros ilegais no território nacional: O registo se apresenta como o requisito normal de gozo da nacionalidade angolana deste modo, o registo extraordinário de adultos poderá ser encarado como uma verdadeira oportunidade para qualquer estrangeiro ilegal que procure se tornar angolano a todo custo;

O transporte de civis em meios de transporte militar e paramilitares e de outros organismos públicos: A movimentação ao nível interno de nacionais e estrangeiros em

79 meios militares torna difícil a localização e detenção de imigrantes ilegais pois, os meios militares normalmente gozam de isenção fiscal;

A desenfreada exploração artesanal de diamantes que assumindo proporções tão altas é tida como um foco indisfarçável de atracão de estrangeiros que queiram prosperar pela via da ilegalidade ao invés de o fazerem no contexto da indústria extrativa nacional (A indústria diamantífera angolana nasce em 1912, quando foram descobertas na Lunda as primeiras pedras, sendo atingida a produção máxima de 2. 413. 021 Quilates, em 1971 tornando Angola no quarto produtor mundial em valor, pela sua qualidade – José Gonçalves Dias Amaral, in LUCERE nº 1 – ano 1 pág. 62), por meios legais.