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Infraestruturas económicas e de recursos humanos

CAPÍTULO II – ALGUMAS CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÓMICAS DO

2.3. Infraestruturas económicas e de recursos humanos

O Continente africano debate-se com um grave problema no tocante a existência de infraestruturas económicas que a par dos recursos humanos são consideradas como um passo determinante para que qualquer sociedade possa avançar em termos de crescimento e de desenvolvimento económico.

A carência infraestrutural em África repercute negativamente sobre inúmeras tentativas de crescimento e desenvolvimento das suas economias, pelo facto de que, as taxas de produção de bens que ao nível continental já são bastante fracas têm sido ainda mais penosas pelas suas poucas estradas, pontes, linhas férreas, portos capazes, aeroportos de pequeno, médio e grande porte, indústrias extrativas e transformadoras e outras bases

46 físicas indispensáveis ao desenvolvimento. Ora, quando existem estes meios se tornam desaproveitadas pela falta de técnicos nacionais devidamente formados o que se traduz num motivo para a importação de mão-de-obra estrangeira detentora de técnicas e de meios materiais. Do mesmo modo, a mão-de-obra estrangeira se converte em “manuseadores” de sectores estratégicos para a economia nacional que pelos altos custos resultantes dos seus contratos e não só são limitadas as possibilidades do desenvolvimento económico que se deseja para África (COMISSÃO ECONÓMICA DA ONU PARA ÁFRICA, 2005).

O diagnóstico sobre as infraestruturas dos países africanos é uma tentativa sem precedentes de recolha compreensiva de dados sobre os sectores das infraestruturas em África, energia elétrica, transportes, irrigação, água potável e saneamento básico, e tecnologias de informação e comunicação e a fornecer uma análise integrada dos desafios que os mesmos enfrentam. Com base num extensivo trabalho de campo em África, foram encontrados os seguintes resultados (BANCO MUNDIAL, 2008b):

• Os sectores das infraestruturas foram responsáveis por mais de metade do recente crescimento que se registou em África, e têm o potencial de vir a ter um papel ainda mais importante no futuro;

• As redes de infraestruturas em África registam um atraso em relação às de outros países em vias de desenvolvimento, e caracterizam-se pela falta de ligações a nível regional e pelo acesso relativamente estagnado por parte dos utilizadores domésticos;

• A difícil geografia económica de África apresenta um particular desafio em relação ao desenvolvimento das infraestruturas;

• A utilização de infraestruturas em África custa cerca do dobro do preço que em qualquer outro lugar, refletindo a deseconomia de escala no lado da produção e as elevadas margens de lucro existentes devido à falta de competição;

• A energia elétrica é de longe o maior desafio em termos de infraestruturas, com 30 países que sofrem de cortes de energias regulares, e a pagar um elevado preço pelas infraestruturas de produção de energia de emergência;

• O custo da resolução dos problemas ao nível das infraestruturas em África é mais do dobro do que foi estimado pela Comissão Económica da ONU para África (2005):

47 cerca de 93 bilhões de dólares norte americanos por ano, sendo que cerca de um terço desse valor se destina apenas à manutenção;

• O desafio das infraestruturas em África varia muito de acordo com o tipo de País, enquanto os Estados mais pobres estão perante uma tarefa impossível, os Estados mais ricos em recursos permanecem atrasados apesar da sua riqueza;

• Uma grande parte das infraestruturas em África é financiada pelos utilizadores domésticos, com os orçamentos dos governos centrais a representar o maior motor do investimento nas infraestruturas;

• Ainda que sejam alcançados grandes ganhos em termos de eficiência, África enfrenta ainda uma falta de fundos para investir em infraestruturas na ordem dos 31 bilhões de dólares norte-americanos por ano, sobretudo no sector de energia elétrica;

• As reformas institucionais ao nível de regulamentação e a nível administrativo em África estão apenas a meio caminho, mas já se fazem sentir os seus efeitos ao nível da eficiência operacional.

Uma nova tendência das migrações de trabalho reside no número de trabalhadores licenciados e bem qualificados que emigram para os países do Norte (Europa e os Estados Unidos da América). Estas migrações são, em certos países ou em certas profissões (nomeadamente, no sector médico) de tal modo representativas, que se pode falar de “fuga de cérebros”.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (2003), 12.000 médicos da África do Sul e 900 médicos do Ghana trabalham num país do hemisfério Norte (Europa e América do Norte), contra, respetivamente, 33.000 e 3.200 que trabalham no seu país. Tais migrações suscitam um défice importante de pessoal e de competência nos países de partida, o que enfraquece a acessibilidade e a qualidade dos serviços de saúde e de educação, criando, deste modo, entraves ao desenvolvimento económico do país.

Os países africanos “perdem”, assim, os custos investidos na educação e formação destes licenciados. As Nações Unidas avaliam em 184.000 norte-americanos o custo da partida de um quadro africano (BM, 2008b).

No entanto, a maioria dos trabalhadores imigrantes, em condições ilegais, ocupam lugares pouco ou nada qualificados: trabalhadores agrícolas, trabalhadores nas obras, pequenos vendedores no sector formal e informal, etc. Resulta, assim, nas condições de vida que

48 são, geralmente, mais precárias que as dos trabalhadores nacionais, quando se encontram em situação ilegal, são vítimas de descriminações.

Os trabalhadores imigrantes, nomeadamente aqueles em situação ilegal, têm igualmente mais dificuldade em aceder aos serviços sociais (escolas, centros de saúde, pensões de reforma) encontrando-se mais expostos a pressões e a violências por parte da polícia. O repatriamento de salários dos trabalhadores migrantes africanos constitui um apoio essencial para as suas famílias e o seu País de origem. Entre 2000 e 2003 as transferências monetárias dos trabalhadores africanos que vivem noutros continentes elevaram-se a 17 bilhões de dólares norte-americanos por ano.