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Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra Manuel Porto

Não tendo podido estar presente, com grande pena, no dia 7 de Novembro, agradeço a possibilidade de me associar com este pequeno texto. Começo por felicitar o decano da secção, Paulo de Pitta e Cunha, e Jorge Braga de Macedo, com a iniciativa e a organização de uma sessão com tão grande significado e tanto interesse.

Tendo o meu colega de Universidade Joaquim de Sousa Andrade falado da investigação e do ensino de Economia na sua Faculdade, na Faculdade de Economia de Coimbra, desde a sua criação, importaria que não deixasse de haver referência ao papel que teve e continua a ter a Faculdade de Direito desta Universidade.

Trata-se de Faculdade que deu um contributo em grande medida pioneiro no nosso país ao longo de muitas décadas, quando não havia outras Universidades, e mesmo depois, quando o ensino de economia não era ministrado ainda em Faculdades próprias.

Tiveram lugar pois aqui investigação e ensino a que ficaram ligados nomes que nunca serão esquecidos, como são os casos, no século XIX, de Adriano Forjaz de Sampaio, bem como, no século XX, de Marnoco e Sousa e, já nos anos vinte deste século, de António Oliveira Salazar, Ruy Ulrich e João Lumbrales.

Com a ida destes professores para Lisboa, em dois dos casos para o desempenho de funções governativas e tendo dois deles exercido funções docentes de grande relevo na Faculdade de Direito de Lisboa (conforme é devidamente sublinhado no texto de Eduardo Paz Ferreira), a regência das disciplinas de Economia na Faculdade de Direito de Coimbra foi confiada em dois anos a um professor da Faculdade de Ciências, Diogo Pacheco de Amorim, e num terceiro ano a um professor francês da Sorbonne, François Perroux.

Foi então, mais concretamente em 1934, que se doutorou José Joaquim Teixeira Ribeiro, o qual veio a ter uma presença especialmente marcante,

não só pelo tempo em que assumiu grande parte dos encargos de regência na área das ciências económicas (assumindo quase sempre o encargo de dar também aulas práticas) como pelos contributos inovadores que foi proporcionando. E assim aconteceu em domínios diversos, da análise da estrutura do Estado, com reflexões feitas acerca do sistema corporativo ou acerca do papel que poderia caber a economias socialistas ou capitalistas, das Finanças Públicas e do Direito Fiscal; neste domínio tendo sido também marcante o papel de Teixeira Ribeiro em atividades legislativas, designadamente como Presidente da Comissão que levou a cabo a Reforma dos anos 1958-65, com a inovação marcante de se ter passado de um sistema de tributação do rendimento normal para um sistema de tributação do rendimento real ( com Teixeira Ribeiro a distinguir-se ainda depois com críticas violentas a medidas tomadas de “contra-reforma” fiscal…).

Quando estamos a lembrar, com a feliz iniciativa agora tomada, uma sessão da Academia das Ciência quarenta anos atrás, em 1977, com a memória de Keynes, importa sublinhar o contributo de Teixeira Ribeiro para o conhecimento em Portugal do pensamento desse grande economista, designadamente através das suas lições de Finanças Públicas. E tratando-se de uma memória que aqui teve lugar importa ter bem presente o papel que Teixeira Ribeiro teve na Academia, ocupando a cadeira que veio a ser ocupada pelo decano atual da secção, Paulo de Pitta e Cunha, e tendo tido contribuições várias e marcantes nas sessões da Classe de Letras, até ao ano em que a morte nos privou da sua presença.

Os contributos de Teixeira Ribeiro foram ainda recentemente lembrados num artigo de três membros da Academia desta secção, Manuel Jacinto Nunes, infelizmente falecido entretanto, José Luís Cardoso e Manuel Lopes Porto (artigo publicado no Boletim de Ciências Económicas da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra).

A investigação feita na Faculdade de Direito de Coimbra na área da Economia veio a ficar refletida também em dissertações de doutoramento das décadas de cinquenta e sessenta do século passado, casos da dissertação de José Pizarro Beleza, sobre a “Teoria do Juro, A Controvérsia Keynesiana”, defendida em 1958, e de João Ruiz de Almeida Garrett, sobre “Pagamentos

Internacionais: introdução ao estudo do problema”, defendida em 1961. O primeiro destes doutores ainda teve encargos de regência na Faculdade de Direito de Coimbra nos anos seguintes, até ser chamado ao exercício de funções governativas. Almeida Garrett e Fernando Seabra, também licenciado na Faculdade de Direito de Coimbra, vieram a distinguir-se com o seu contributo na criação e na docência na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (que teve mais tarde também o contributo de outro licenciado pela Faculdade de Direito de Coimbra, Armando de Castro); com Almeida Garrett a ser convidado e a assumir encargos de regência na escola de Coimbra já nos anos oitenta.

Nos anos 50 e 60 foi ainda marcante o papel de assistentes, como foram os casos de Alexandre Pinto Coelho do Amaral e José Guilherme Xavier da Basto, este a ter um lugar de relevo também na Faculdade de Economia de Coimbra, quando foi criada, bem como em tarefas de legislação fiscal, com especial relevo para o IVA, tendo presidido à comissão que elaborou o Código deste imposto (trata-se de participações devidamente referenciadas por Joaquim Sousa Andrade).

Decorreu um espaço de tempo longo até à realização, já nos anos oitenta, de novos doutoramentos na secção de Economia da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, o primeiro de Manuel Porto, em 1983, com a dissertação “Estrutura e Política Alfandegárias: O caso português”, seguindo- se ainda no mesmo ano António José Avelãs Nunes, com a dissertação “Industrialização e Desenvolvimento. A Economia Política do ´Modelo Brasileiro de Desenvolvimento´”, e em 1988 Aníbal Almeida com a dissertação “Prelúdio a uma reconstrução da economia política”.

Trata-se de dissertações, a par de outros trabalhos dos autores (incluindo textos de ensino), versando temáticas distintas e com o enriquecimento de refletirem posições ideológicas diversas.

O ensino que foi sendo ministrado na Faculdade foi refletindo as novas realidades do mundo (designadamente da Europa) e os contributos que a ciência económica ia proporcionando, mas com Keynes a continuar sempre presente: tal como aconteceu com o ensino da disciplina de Finanças Públicas, com atualização das sempre presentes e excecionalmente didáticas

lições de Teixeira Ribeiro, em lições da disciplina de Economia Política (tal como acontece no manual do autor deste texto, nas várias edições que têm vindo a lume) e ainda com a lecionação de uma disciplina de Economia ao 5º ano, por Avelãs Nunes, em larga medida dedicada à controvérsia entre o pensamento keynesiano ou neo-keynesiano e o pensamento neo-liberal.

Felizmente o lugar da investigação e do ensino da economia, no reconhecimento da sua estreita ligação com o direito, não tem sido posto em causa nem nos currículos dos planos de estudos nem nos conteúdos das disciplinas ministradas na Faculdade Tem-se assim presente o que já havia sido tão bem expressado por Marnoco e Sousa, neste escola, no longínquo ano de 1917, sublinhando que “há a mais íntima relação entre a economia e o direito”, designadamente que “cada relação económica reveste forma jurídica, todas as grandes teorias do direito, principalmente do direito privado, têm um conteúdo económico”. E os tempos modernos não podiam deixar de reforçar esta exigência de articulação entre os dois ramos do saber, com o relevo da realidade económica a exigir a criação de novas disciplinas de direito, do Direito Fiscal ao Direito da Concorrência, bem como a estar muito mais presente em disciplinas tradicionais, por exemplo no Direito Criminal, com a realidade atual a exigir uma atenção que não era dada antes à criminalidade económica.

É de referir aliás que a ligação entre estas duas áreas do saber tem vindo a refletir-se, designadamente na Faculdade de Direito de Coimbra, não só na criação e nos conteúdos de disciplinas da licenciatura, mas também dos mestrados (Moeda e Política Monetária; Crédito e Mercados Financeiros) e do doutoramento (Sistema Financeiro e Comércio Internacional), como também na criação recente e nos conteúdos programáticos de cursos de pós- graduação, como são os casos do Curso de Estudos Europeus, do Curso da Banca, Bolsa e Seguros ou do Curso de Estudos de Direito do Ordenamento, do Urbanismo e do Ambiente (CEDOUA).

Mais recentemente, e para além de contributos que continuaram a ser dados pelos docentes já referidos (havendo a lamentar, além do já mencionado falecimento de Teixeira Ribeiro, em 1997, o falecimento de Anibal Almeida em 2002), vieram a concluir o doutoramento na secção de

Ciências Económicas da Faculdade de Direito de Coimbra, assegurando funções de docência: em 2006 Luís Pedro Cunha, com a dissertação “O sistema comercial multilateral e os espaços de integração regional”, em 2010 José Manuel Quelhas, com a dissertação “Sobre as crises financeiras, o risco sistémico e a incerteza sistemática”, em 2012, João José Nogueira de Almeida, com a dissertação “Sobre o controlo dos auxílios de Estado na União Europeia. Conteúdo, sentido e limites da análise económica na avaliação da compatibilidade dos auxílios de Estado com o mercado interno”,

em 2015, Matilde Lavouras, com a dissertação “A transparência nas

demonstrações financeiras. A true and fair view e o fair value na tributação das empresas”, e Fernando Rocha Andrade, com a dissertação “Benefícios fiscais – a consideração da despesa do contribuinte na tributação pessoal do rendimento”. Estão ainda marcadas provas para breve para Victor Calvete, com a dissertação “Sobre as Origens do Antitrust”, e Teresa Almeida, com a dissertação “Compras publicas ecológicas e a internalização de externalidades ambientais negativas na política europeia dos contratos públicos”. Trata-se de dissertações sobre temas com a maior atualidade, procurando as respostas a dar às exigências de um mundo aberto, tendo-se em conta os contextos em que estamos enquadrados, como é o caso, em particular, do contexto da União Europeia; refletindo em todos os casos os contributos da investigação que tem vindo a ser feita, no nosso país e nos demais países.

A actividade de investigação dos elementos da secção tem vindo a ser publicada em publicações autónomas e em revistas com o maior prestígio, do nosso país e do estrangeiro; sendo além disso de sublinhar a publicação actualizada do Boletim de Ciências Económicas, tendo saído recentemente o volume LX, de 2017, sendo seu diretor Luis Pedro Cunha e anteriormente José Joaquim Teixeira Ribeiro, que a fundou em 1952, e António José Avelãs Nunes. E é de referir também, dado o relevo de temas económicos aqui abordados, a revista Temas de Integração, editada pela editora Almedina mas da responsabilidade de um instituto da Faculdade, a Associação de Estudos Europeus: com o número mais recente agora saído, o número 37, relativo ao 1º semestre de 2017.

Debate (participantes identificados por iniciais constantes da lista)