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A Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) foi criada em 1972. O Professor Teixeira Ribeiro defendia que um curso de economia não deveria ser criado na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC) devido aos conhecimentos matemáticos que tal curso exigia. O primeiro curso a funcionar foi o de Economia em 1973/4. A Revolução de Abril de 1974 teve os seus efeitos sobre a Faculdade. Os docentes da Universidade de Coimbra que aqui lecionavam eram da FDUC e da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC). Não houve “saneamentos” políticos na FEUC. Mas os professores estrangeiros, um italiano e outro norte-americano, assustaram-se com os acontecimentos pós revolução e abandonaram o país.

Ao mesmo tempo, e nesta confusão, houve pressões para transformar a FEUC numa Faculdade de Sociologia. Estes comportamentos diminuíram o apoio que o curso de economia deveria ser merecedor. Na sua constituição e desenvolvimento alguns nomes de Professores são merecedores de citação: Eduardo Correia, Teixeira Ribeiro e Simões Lopes.

Retornando à “economia”, a FEUC reforçou-se com Assistentes vindos do (atual) Instituto Superior de Economia e Gestão e com um Investigador do quadro vindo da FDUC, especialista em finanças públicas e fiscalidade e discípulo do Professor Teixeira Ribeiro. Para além destes a FEUC recebeu um professor polaco, que após três anos a aprender português se foi embora, e do qual nunca percebemos qual era a sua especialidade, e ainda um professor brasileiro da área do desenvolvimento económico. O apoio da FCTUC continuou e a FEUC beneficiou do apoio de docentes do ISEG, nomeadamente dos quadros do Grupo de Estudos Básicos de Economia Industrial (GEBEI) e do seu diretor Eng. João Cravinho; de docentes da Faculdade de Economia do Porto; e do Banco de Portugal, o Dr. Ramos Pereira. Em termos de cursos para docentes devemos citar, da Faculdade de Direito de Lisboa, o Professor Sousa Franco, e da Universidade Nova de Lisboa, o Professor Braga de Macedo. A formação macroeconómica dos docentes vindos do ISEG era claramente do Professor Pereira de Moura. Na minha opinião, no início dos setenta, a excelência pedagógica era ofuscada pelo mundo de absoluta certeza e de economia fechada. Os problemas dos anos sessenta quanto à inflação e ao desemprego, que levariam às posições de Milton Friedman e Edmund Phelps, quanto à Curva de Phillips, passavam um pouco ao largo, assim como a crítica à forma como era encarada a política monetária de acordo com a visão de Friedman56. O período de apogeu, do monetarismo, com o seu triunfo intelectual e político, nos anos

56

Milton Friedman, The Role of Monetary Poliey, American Economic Review, LVII, 1, 1968, pp. 1-17; e A Theoretical Framework for Monetary Analysis, Journal of Political Economy, March/April, 1970, pp. 193-238.

setenta, não teve praticamente reflexos em Portugal. Da mesma forma que a resposta de Robert Clower57, num contexto que podemos fazer recuar a Oskar Lange e a Don Patinkin pela leitura em termos de equilíbrio geral, também estava longe das polémicas em Portugal. A evolução das ideias não parava, “(b)y about 1980, it was hard to find an American academic macroeconomist under the age of 40 who professed to be a Keynesian. That was an astonishing intellectual turnabout in less than a decade, an intellectual revolution for sure.”58. E por esta altura os “novi-clássicos” afirmaram-se e a nova contra-revolução keynesiana estava em gestação.

A “macroeconomia” na FEUC continuava no contexto do modelo IS-LM, sobretudo, volto a repetir de economia fechada, com a economia aberta a ser da responsabilidade da disciplina de “economia internacional”. As “finanças públicas” seguiam a mesma linha de orientação, da mesma forma que no essencial era a visão keynesiana que prevalecia em “moeda e crédito” e ainda em “política monetária e financeira”, onde Paul Davidson e Sidney Weintraub reinavam apesar da presença de autores como David Laidler. Se a estas disciplinas juntarmos “planeamento económico” temos um total de 6 disciplinas anuais. Estas disciplinas apenas muito tarde, com a passagem do curso para 4 anos, anterior à passagem para 3, viram o seu peso reduzir-se. No período “revolucionário” a posição marxista não influenciou estas disciplinas tendo, no entanto, influenciado uma parte da disciplina de “introdução à economia”. A disciplina de “economia marxista”, obrigatória a partir de 1975 ou 1976, como possivelmente se lembram, era em Coimbra uma disciplina longe dos livros de divulgação tipo Marta Harnecker. A visão

57

The Keynesian Counter-revolution: a theoretical appraisal, in The Theory of Interest Rates, ed. by F. H. Hahn e F. Brechling, I.E.A.S., Macmillan, London Chapter 5, pp. 103-25.

58

Alan S. Blinder, The Fall and Rise of Keynesian Economics, Economic Record, December, 64(4), 1988, pp. 278-94.

neo-ricardiana, com origem na obra de Piero Sraffa59, dominava integralmente esta disciplina. Isto não significou que princípios ortodoxos do marxismo não fossem usadom noutras disciplinas do curso de “economia”, sobretudo em disciplinas como “introdução às ciências sociais” e “economia agrária”.

Dando o salto para o “pós Bolonha”, apesar da redução substancial das disciplinas do primeiro ciclo, encontramos a macroeconomia a ser lecionada (sem IS-LM) em “macroeconomia I”, (com IS-LM) em “macroeconomia II”, com modelo a 3 equações, de procura global, oferta global e regra de política, em Política Económica, no primeiro ciclo. No que toca ao segundo ciclo as disciplinas de “macroeconomia intermédia” e “política monetária e financeira” seguem manuais novi-keynesianos60. Ao nível dos dois primeiros ciclos a macroeconomia de longo prazo é lecionada nas disciplinas de crescimento económico. No que respeita ao terceiro ciclo, oferecido em conjunto com a Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, a

macroeconomia lecionada é a convencional61 em programas deste tipo.

Introdução do Ensino da Economia em Angola