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Faculdades interdisciplinares na relação com o social e o universo

4 A EPISTEMOLOGIA DO PENSAR INTERDISCIPLINAR AFRICANO:

4.4 Faculdades interdisciplinares na relação com o social e o universo

A relevância interdisciplinar para o social promove a sensibilidade com o todo (o mundo e as relações promovidas nele), bem como a questão temporal como cíclica (renovável) e não obsoleta como nossa cultura vem tratando. Interdisciplinaridade é, em suma, as ciências da vida que se completam sendo uma só, e podemos definir esta ciência de como pensar, uma vez que o cérebro entende para apreender o conhecimento através da forma como o fenômeno provoca instintivamente, como dito anteriormente, a assimilação, comparação e identificação para que algo se torne conhecimento.

Na tradição africana do Ifá a filosofia é a interação com o meio que se vive, se valendo de todos os sentidos, e a visão é de que o universo conversa e se relaciona com a humanidade a todo tempo. Temos neste conceito a relação que não é mudo, assim como o Arkhé é acessível, para eles tudo a sua volta também é. Neste meio a relação não se dá somente com uma forma de diálogo e sim com todas as formas o que vemos, sentimos, ouvimos, assimilamos, entendemos e apreendemos para, consequentemente, ter utilidade ou sentido complementar nas relações que necessitem de habilidades e capacitação.

Cada vez mais a reflexão em torno da experiência moderna dá os indícios de que a fragmentação e o seccionamento da realidade, operadas por uma ciência positiva, cedem lugar a uma visão integrada das ações humanas, inclusive, ao seu caráter imponderável e não determinístico, fortalecendo a necessidade de buscar a compreensão da experiência humana na integralidade material e espiritual, no espaço e no tempo (SEDUC, 1998, p.77).

A faculdade humana da subjetividade é explorada pela percepção, seja ela estética, semiótica, enfim, a forma como se comunica através do fenômeno aos nossos olhos não é um desligamento, mas um mergulho na cognição de hipóteses. Por vez a experimentação verdadeira é vez viável dentro da tradição filosófica do Ifá através do que é tangível e sentido, como exemplo a materialização de toda crença da tradição do Ifá está na natureza.

O antigo conceito de desligamento para fins estéticos é, fundamentalmente, a noção de desligar-se de certos interesses, de modo que está aliada à noção de “desinteresse”. Entretanto, existem muitas versões de como isto acontece ou é conseguido, bem como de quais são os interesses decisivos que devem ser mantidos temporariamente inativos. A metafísica ao fundo dessa teoria particular determina, geralmente, a explicação que ela dá quanto ao desligamento. Se achar que “metafísica” é uma palavra muito forte para ser usada aqui, substituamo-la por “crenças quanto ao que é verdadeiro e real”. Isso abrangerá a possibilidade de que a Ciência, sem ser uma metafísica, influencie a crença sobre a realidade (ALDRICH, V. C, 1976, p. 23).

Experimentar é parte da provocação do fenômeno, neste sentido, é instintivo e por mais que seja subjetiva esta ação ela estará sempre em busca da razão, bem como a lógica a ser dada ao fenômeno, algo descortinado, que tiramos o véu da incompreensão. Tudo pode tomar sentido quando achamos uma aplicabilidade, ou seja, algo que faça sentido. Até mesmo a lógica depende do sentido, ela, por sua vez, é a aplicabilidade fundamentada através do subjetivo fenômeno provocador dos instintos.

Parto do princípio que só é subjetivo algo que não foi compreendido ou decifrado, logo dentro da tradição interdisciplinar do Ifá só existirá subjetividade para quem não compreende ainda os paradigmas, ou seja, não tem um olhar além. O Arkhé será metafísico para quem não compreende os arquétipos na natureza e sociedade, o divino é a existência real que se materializa na natureza, tudo aqui no mundo real é ciência. O ato de cognição através da interação do fenômeno resulta no experimento.

São premissas que nos levam às crenças, mas somente as experimentações, a verdadeira interatividade formadora de opinião pessoal, que consegue convencer os nossos sentidos do valor do que deve ser entendido para ser apreendido como forma de conhecimento pelo nosso cérebro. Não quero com isto trazer descrença a modelos, mas fortalecer a ideia do valor do modelo quando ele deixa de ser modelo para ser experimento.

A criatividade não surge somente da ideia ou subjetividade ela sim pode ser o resultado interdisciplinar, ou seja, experimento que se tornou apreensão do conhecimento, dela surge o estado de êxtase do criar ou somente reproduzir o aprendizado (materialização ou resumo do entendimento). Pode ser arte, o estado não somente de criar, mas de estruturar através do aprendizado uma forma sentimental, racional ou não racional de materializar as sensações sentidas e vividas do fenômeno do apreender que por vez quer ser a forma de algo sentido ou dar forma a algo sentido que poderemos chamar de experimentação verdadeira. A interdisciplinaridade mostra-se fundamentada na intersubjetividade, tornando-se presença através da linguagem como forma de comunicação e expressão humana [...] A interdisciplinaridade guarda com a intersubjetividade uma ligação de identidade e diferença. Identidade enquanto “interação”, atitude própria do humano enquanto ser social que se fundamenta na afetividade, na compreensão e na linguagem, como existenciálias básicas desse ser. Diferença, pois, como disciplina exige do sujeito que este mantenha a consciência direcionada ou tensão para algo que acontece numa ação específica, o que se constitui na própria dialética homem- mundo (FAZENDA, 2001, p. 24).

A experimentação verdadeira pode, em resumo, ser o conceito, a tradução de algo, a memória adquirida, enfim, o conhecimento que formará a memória efetiva. É na experimentação que passo a praticar a assimilação, a comparação e identificação com algo. É também um meio de provocar através da expressão, interação as sensações diversas nos sentidos humanos, bem como a relação lógica com tudo, desta forma, dizer destaco que a experimentação verdadeira é uma forma interdisciplinar de se adquirir e se conectar a algo.