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4 A EPISTEMOLOGIA DO PENSAR INTERDISCIPLINAR AFRICANO:

4.3 O papel interdisciplinar do professor

Para o professor ser interdisciplinar ele precisa se autoconhecer, se despir de preconceitos, medos, não julgar e provocar sempre, no sentido que não existe certo ou errado e, sim, meio de não correr riscos. Adotam-se tais critérios, devido o poder de provocar o medo ou bloqueio em busca do conhecimento, uma vez que a experimentação é algo pessoal de cada um, que visa estabelecer a relação de equilíbrio emocional e lógico.

Imagine que algo apreciado por acaso pode ser a compactação, o resumo a especificação de um todo, este, por sua vez, pode ser a representação que tomou forma como arte, daí pode-se dizer impressionante, impactante, concreto, abstrato, subjetivo, insinuante. Ademais podem ser atribuídos vários significados, virtudes, de acordo com a sensibilidade captada e traduzida por cada um. Podemos atribuir isto a um fenômeno, algo que força a nossa interpretação e sensibilidade.

No projeto interdisciplinar não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se. A responsabilidade individual é a marca do projeto interdisciplinar, mas essa responsabilidade está imbuída do envolvimento – envolvimento esse que diz respeito ao projeto em si, às pessoas e às instituições a ele pertencentes (FAZENDA, 2001, p. 17).

O fenômeno é o provocador dos sentidos humanos, sua função é incomodar, ele é uma atitude própria da arte, um ato a ser representado que guarda a virtude e os valores. O mesmo é a impulsão para cognição entre o raciocínio lógico e criativo. Ele pode e instiga o ato de cognição através da comparação, identificação e assimilação.

Vulgarmente falando, um fenômeno é algo que força as pessoas a pensar neles. Nesse sentido, existem fenômenos artísticos. Eu poderia chamá-los de dados artísticos, mas esta expressão não retrata tudo aquilo que pode dar origem a perguntas. Apesar disso, tanto os fenômenos como os dados são fornecidos e este é o ponto de partida. A diferença é que o fenômeno é um dado como uma penumbra de questões em torno dele (ALDRICH, 1976, p.1).

O fenômeno é um agente de suma importância para que haja a interdisciplinaridade da afrodescendência. A fenomenologia como um dos campos da filosofia tradicional eurocentrista ganha um novo respaldo ou instituição de valores na filosofia da tradição do Ifá, pois a mesma passa a ganhar sentido interdisciplinar.

O sentido interdisciplinar, bem como a própria interdisciplinaridade vem sendo há milênios a tradição africana que ensina interagir e absorver conhecimentos do todo (a natureza e tudo que há no mundo) para criar, adaptar, recriar e produzir o novo (como o que foi criado ou recriado dentro do processo evolutivo da humanidade), dentro dos recursos e possibilidades que se encontram. Proponho diante deste paradoxo os verbos (criar, recriar, adaptar, produzir) para a educação, baseado nos recursos que temos e podemos ampliar, a fim de inovarmos de acordo com a necessidade social que se tem.

O professor deve buscar sempre através do que tem em mãos o desenvolvimento da auto-otimização do aluno ou educando, muitas vezes, depende de como é assimilada a informação por cada ser humano. Confere ao educador ou professor identificar a limitação que está em cada um e até a inviabilidade da informação para cada um, também a ele é imputado como promover a reflexão de tais informações e até mesmo como estruturá-las.

O ato interdisciplinar é experimental no amplo sentido lógico, criativo, partindo do fenômeno, ou seja, de algo que causa o impacto, a interjeição ou interrogação em cada ser, o mesmo pode causar encantamento dentro de várias vertentes do prazer com sentido 23

hedonista.

Trabalho interdisciplinar porque disposto e motivado a grandes desafios que se vão realizando a partir do cotidiano, através de pequenos passos. Trabalho interdisciplinar que, quando se dispõe a superar barreiras complexas, acata o desafio de desmistificá-las na simplicidade de sua essência. Como, por exemplo, a de desvelar para o homem, com o homem, o que seja visão de totalidade a partir das visões fragmentadas, pois que é a fragmentação que a visão de totalidade subsidia; ou o desafio de desvelar o que venha a ser sugestão (da teoria educacional) de desenvolver o espírito crítico do aluno, exercitando-o na escola (FAZENDA, 2001, p. 136).

O papel do professor em sala de aula seria interpretativo, analítico, provocativo sendo que, a fim de promover o conceito se torne interrogativo, mas jamais deve adotar o perfil do julgar.

Neste trabalho a formação de contexto é a porta aberta para otimização da capacidade interna de cada um. O professor dentro do seu potencial interpretativo, em virtude do quanto representa tal ato contexto individual para o aluno e para o grupo e nele pode trabalhar as potencialidades de cada um e as habilidades adquiridas, bem com a formação das mesmas.

Em alguns casos isolados, educadores de certas escolas têm deixado de lado os conhecimentos tradicionalmente sistematizados e organizados, e têm partido única e exclusivamente para a organização curricular a partir de uma exploração indiscriminada de conhecimentos do senso comum. Esquecem-se, com isso, que o senso comum, deixado a si mesmo, é conservador e pode gerar prepotências ainda maiores que o conhecimento científico (FAZENDA, 2001. p. 17).

A atitude interdisciplinar exige uma nova postura do professor, de constante reflexão sobre sua prática, superando-a e ousando “buscar novas técnicas, que transforme a sala de aula num espaço feliz de trocas, de construção individual e coletiva, de aprendizagem” (JOSGRILBERT, 2002, p. 84).

Pode parecer falácia, mas até mesmo o professor ou educador passa a enxergar as próprias potencialidades diante da descoberta com seus grupos de trabalho levando a desenvolver suas próprias ferramentas que podem a vir a induzir o educando ao encantamento através do fenômeno e a lógica, uma vez que acredito poder ser provocada pelo mistério em uma indagação, premissa ou proposição. Prende-se a busca interdisciplinar somente a se permitir consoante a sede de entender, apreender novos conhecimentos, buscando o novo saber.

Entretanto, o senso comum, quando interpenetrado do conhecimento científico, pode ser a origem de uma nova racionalidade, pode conduzir a uma ruptura epistemológica em que não é possível pensar-se numa racionalidade pura, mas em racionalidades – o conhecimento não seria assim privilégio de um, mas de vários (FAZENDA, 2001, p. 17).

O sistema pedagógico brasileiro parte do princípio de que o saber é para todos, facultando aos modelos de ensino somente a levar o conhecimento e aprendizado, onde não se destaca o desenvolvimento da habilidade de interagir com outros conhecimentos e até mesmo, como dito antes, de criar conceitos. Acredito ser o professor esta porta para outras ciências e diversidades, se este se distanciar da escola doutrinária para se aproximar de uma nova escola de valores, potencialidades e habilidades integrativa do ser.