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Falta de acordo adia votação do marco regulatório dos caminhoneiros;

4.2 Ethos mostrado do Congresso em Foco nas notícias

4.2.11 Falta de acordo adia votação do marco regulatório dos caminhoneiros;

Um elemento constante nesta notícia, Falta de acordo adia votação do marco regulatório dos caminhoneiros; anistia de multas será via MP (GÓIS, 2018b), é a presença de

35 Projeto de Lei de iniciativa da Câmara. 36 Projeto de Lei.

marcas discursivas que remetem à região de fundo, os bastidores, do Congresso em Foco enquanto instância midiática. Ou seja, o website se identifica no enunciado várias vezes mostrando que foi um ator construtor da notícia, enunciado em um ethos de credibilidade e de profissionalismo que vai além da região de fachada, isto é, além da publicação da notícia como algo que aconteceu independente do enunciador. Quando o Congresso em Foco diz “A parlamentar disse ao Congresso em Foco que…”, “Representantes dos caminhoneiros disseram ao Congresso em Foco que…”, “ele disse ao Congresso em Foco que…” e “Como este site mostrou ontem…”, o enunciador se coloca como ator da notícia, enuncia em um ethos dito de profissionalismo e credibilidade na notícia, pois as fontes de informação dizem diretamente ao Congresso em Foco aquilo que é pertinente à notícia; mantém, porém, um efeito de objetividade ao se colocar em terceira pessoa, e não em primeira pessoa.

O ethos de jornalismo político está também bem presente em toda a enunciação da notícia, cujo assunto é o impasse na Câmara dos Deputados entre parlamentares e representantes dos caminhoneiros sobre a votação do PL 4860/2016, apelidado de “marco regulatório dos caminhoneiros”, que foi à votação em plenário no contexto da greve dessa categoria em 2018, que causou desabastecimento geral no Brasil de vários tipos de produtos, desde alimentos até combustível.

Aliado a essa categoria de ethos, o ethos de profissionalismo se manifesta também no recurso dos hiperlinks ao longo da notícia, de modo a permitir ao leitor voltar a notícias publicadas anteriormente pelo website sobre a greve dos caminhoneiros. Mostra-se, assim, como uma mídia que está acompanhando com muita proximidade o evento, não deixando nenhum detalhe escapar, principalmente quando relaciona elementos da crise à atuação parlamentar.

A hipertextualidade se manifesta também nos olhos da notícia: o primeiro, no meio do texto, diz “Queda de Parente, desabastecimento, escoltas, inquéritos… veja números e fatos sobre a greve dos caminhoneiros”, apontando assim para uma nova página com o resumo de tudo o que vem acontecendo em consequência da greve. “Queda de Parente”, ainda, não necessita de explicações para o leitor habitual do Congresso em Foco na visão desta mídia porque se refere a uma figura comum no cenário político à época, quem seja, Pedro Parente, então presidente da Petrobras, que saiu do cargo justamente por causa da greve. No final da notícia, o outro olho, “Ministro da Fazenda diz que governo não estuda subsídio para reduzir preço da gasolina”, também mantém profunda relação com a temática da greve dos caminhoneiros, visto que a alta no preço dos combustíveis foi uma das causas do movimento paredista.

O Congresso em Foco joga na notícia, entre os argumentos dos parlamentares a favor da aprovação do PL e de representantes dos caminhoneiros autônomos, contrários ao marco regulatório. Embora o efeito de objetividade jornalística de trazer citações de fontes dos dois lados da questão possa também sugerir a enunciação em um ethos de apartidarismo, isto é, o Congresso em Foco poderia dizer de si, e trabalha discursivamente para manter essa imagem de si, que não estava atuando nem a favor nem contra os caminhoneiros, mas que estava apenas noticiando que uma falta de acordo entre deputados federais ainda não permitia que a votação do PL 4860/2016 fosse viabilizada.

Porém, pode-se identificar marcas discursivas que sugerem que o Congresso em Foco, na verdade, assume um posicionamento pró-caminhoneiros. Mais, enuncia em um ethos de defesa dos Direitos Humanos, consequentemente, dos trabalhadores, no caso, caminhoneiros. Na frase “A parlamentar disse ao Congresso em Foco que uma delas se refere a normas sobre o descanso de motoristas, que corria o risco de ser modificado em plenário”, o uso da expressão “correr o risco”, que não fica claro se veio da deputada federal paranaense Christiane Yared, do Partido da República (PR)38, a parlamentar referenciada no trecho, mas é uma clara escolha discursiva do Congresso em Foco, e tem uma carga semântica de que algo ruim provavelmente acontecerá.

Outra situação é o embate enunciado pelo Congresso em Foco entre caminhoneiros e patrões. Ainda usando a voz da deputada Yared, o website diz: “A deputada quer evitar justamente que isso aconteça, e que as empresas se responsabilizem pelo custo”. O uso de “evitar”, mesmo como citação indireta, tem também um valor semântico de impedir que algo de ruim aconteça, assim, quando o Congresso em Foco opta por usar esse verbo, expressa também sua preocupação em “evitar que isso aconteça”.

Mais um caso no qual se percebe a tendência pró-caminhoneiros do Congresso em Foco aparece no seguinte trecho:

Chamado de “marco regulatório dos caminhoneiros”, o PL foi pinçado dos arquivos do Congresso justamente para ajudar no enfrentamento da crise do transporte de cargas, mas tem causado atritos entre parlamentares, donos de transportadores e condutores autônomos, que veem na matéria um instrumento de retirada de direitos. Representantes dos caminhoneiros disseram ao Congresso em Foco que, além de atingir direitos, o PL foi concebido sob medida para beneficiar os patrões – neste sentido, lembram que o primeiro acordo com o governo, no calor da paralisação nacional, foi assinado por oito entidades, sete das quais representantes do patronato.

Há uma recorrência no que diz respeito à retirada de direitos, enunciada indiretamente na voz dos caminhoneiros autônomos, aliás, os únicos a terem alguma voz neste parágrafo. Além disso, há uma denúncia ao corporativismo patronal frente aos caminhoneiros autônomos. Essa mesma denúncia aparece quando, em um ethos didático, o Congresso em Foco informa que a então Advogada-Geral da União, Grace Mendonça, havia acionado “o STF para aplicar multas a corporações envolvidas na greve”, explicando entre parênteses que se trata de crime de locaute.

Ainda na defesa percebida em prol dos caminhoneiros, o Congresso em Foco afirma ainda que “o projeto não é de interesse do governo, o que reduz suas chances de aprovação em caráter prioritário”, depois de afirmar que havia mais de 400 deputados na Câmara no momento de produção da notícia, o que tecnicamente viabilizaria a votação do PL. Assim, critica, sob o viés da objetividade jornalística, certa omissão do Governo Federal e de sua base de apoio na Câmara dos Deputados quanto ao caso dos caminhoneiros, mesmo com toda a repercussão nacional em decorrência da greve do setor.

Destacamos nesse grupo, ainda, o último parágrafo da notícia, na qual o Congresso em Foco reproduz em citação direta as preocupações de Wallace Landim, líder do Movimento Caminhoneiros por um Brasil Melhor, bem como em citação indireta as conquistas que o caminhoneiro afirmou ter conseguido em prol da categoria. O Congresso em Foco finaliza a notícia com uma citação direta de Landim: “Mas e depois disso?”. Uma vez que a escolha de trechos de discurso citado são escolhas discursivas do enunciador principal do texto, o website assume também para si o questionamento de preocupação em relação ao futuro da categoria dos caminhoneiros.

E, embora em alguns parágrafos, o Congresso em Foco traga na voz do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e da advogada-geral da União, Grace Mendonça, argumentos contrários a anistiar as multas dos caminhoneiros grevistas, ainda assim fica aberta a possibilidade de, pelo menos, discutir a conversão de alguns tipos de multas em advertências, ou seja, de algum modo beneficiar os caminhoneiros. Conforme o título da notícia, a anistia das multas, que era um dos pontos mais sensíveis do marco regulatório, foi retirada do texto e seria editada como MP.

4.2.12 Câmara adia conclusão de projeto que dá permissão à Petrobras para negociar áreas