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STF suspende sessão e adia decisão sobre habeas corpus e embargos de

4.2 Ethos mostrado do Congresso em Foco nas notícias

4.2.8 STF suspende sessão e adia decisão sobre habeas corpus e embargos de

O Congresso em Foco, nesta notícia, STF suspende sessão e adia decisão sobre habeas corpus e embargos de Paulo Maluf (PEREIRA, 2018e), se mantém na dimensão categorial de jornalismo político de seu ethos discursivo pelo assunto abordado, qual seja, um julgamento no STF cujo réu é um deputado federal, naquele momento afastado, e figura notória do cenário político brasileiro, Paulo Maluf. Assim, a fotografia que ilustra a notícia, que retrata Maluf, não precisa de mais esclarecimentos sobre quem ele é. A legenda que acompanha a fotografia – “O deputado foi preso em dezembro do ano passado, após o STF” – embora ajude a contextualizar a relação entre STF e Maluf na notícia, parece incompleta, pois falta uma ação que complemente “após o STF”.

Porém, por se tratar de uma notícia cujo acontecimento é um processo judicial, o Congresso em Foco assume um ethos didático por explicar várias expressões próprias do discurso jurídico e que não fazem parte dos conhecimentos comuns do mundo da vida cotidiana de quem acompanha a política partidário-parlamentar. É assim que o Congresso em Foco explica “embargos infringentes” como “contestação de sentença”, “não transitou em julgado” como “não se esgotaram todos os recursos”, “decurso de prazo” como “prescrição de pena”. A explicação do termo jurídico em uma linguagem mais acessível veio sempre, nesses casos, entre parênteses, de modo a marcar simbolicamente que naquele momento o enunciador assumia um

tom didático para que seu público compreendesse melhor aqueles elementos do discurso jurídico.

O Congresso em Foco, ainda, por meio da enunciação de discursos citados alheios, reafirma seu ethos de defesa da democracia e dos Direitos Humanos, quando traz a questão da prisão domiciliar concedida a Maluf em dezembro de 2017 por decisão do ministro Dias Toffoli como uma “prisão domiciliar humanitária” ao réu que, lembra o website, tem 86 anos e está em um estado de saúde delicado. Inclusive, o Congresso em Foco narra que, em oposição ao pedido do procurador Humberto Jacques, que naquele momento representava Procuradoria-Geral da República (PGR), e que criticou o pedido de habeas corpus de Maluf, que estava sendo relatado por Dias Toffoli, o ministro “logo interrompeu o procurador para ler o laudo médico do deputado afastado Paulo Maluf e ressaltar que sua decisão não se deu com base em notícias de imprensa”. Ou seja, o Congresso em Foco valora positivamente a ação de Toffoli destacando que o ministro decidiu pelo habeas corpus apresentando provas com valor de verdade, isto é, um laudo médico, que é um documento oficial, e não provas com efeito de verdade, como seriam as notícias da imprensa.

Porém, por mais que aparente em determinado momento fazer uma defesa para Paulo Maluf, o Congresso em Foco o faz por ser defensor dos Direitos Humanos. E como defensor da democracia e agente midiático contra a corrupção, isto é, como “cão de guarda” da sociedade, o website expõe ainda os motivos que levaram Maluf ao banco dos réus, a saber, propina recebida quando ele era prefeito de São Paulo na década de 1990. Em dois momentos o Congresso em Foco se coloca contra a morosidade da Justiça, quando diz que o processo “transcorreu por cerca de 20 anos e se arrastou graças à prerrogativa de foro especial de que gozava Maluf antes de ser preso” (grifos nossos), e quando diz que as investigações “se arrastaram por mais de 10 anos desde a instauração do primeiro inquérito, ainda na primeira instância da Justiça” (grifos nossos). O uso do verbo “arrastar-se” dá essa ideia de lentidão e demora.

Esse mesmo ethos de “cão de guarda” do Congresso em Foco é manifestado nos olhos- hiperlinks, dispostos tanto no meio da notícia quanto no final. Dos dois olhos-hiperlinks no meio da notícia, em um deles “De ‘bandido bom é bandido preso’ a elogios ao ‘amigo Doria’: o que Maluf postou nas redes antes da prisão”, o Congresso em Foco destaca um enunciado irônico de Maluf – “bandido bom é bandido preso” – visto que ele próprio viria a ser preso, e tenta ligar a imagem de Maluf à imagem de João Dória (PSDB34), que na época da publicação

da notícia havia acabado de renunciar ao cargo de prefeito da cidade de São Paulo para tentar ser governador do estado homônimo. No outro, “Cármen Lúcia nega reverter prisão de Maluf: ‘Recorrer é legítimo; abusar deste direito é fraude’”, o Congresso em Foco ecoa o enunciado de Cármen Lúcia contra Maluf, assumindo também a visão de que Maluf passou tempo demais impune, a ponto de ter recorrido tanto na Justiça que seu caso seria já uma “fraude”.

Já dos “olhos” ao final da notícia, em “Câmara suspende salários e benefícios de deputados presidiários”, o Congresso em Foco amplia o olhar a partir de uma notícia sobre um deputado preso, Maluf, com todo o universo de deputados presidiários. É interessante ainda, além do fato de haver deputados presidiários, isto é, parlamentares, legisladores que não gozam do direito à liberdade por terem cometido crimes e terem sido condenados por isso, que seja notícia a Câmara Federal suspender salários e benefícios dessa “bancada” parlamentar, ou seja, que esse acontecimento – a suspensão dos salários e benefícios de deputados presidiários – seja uma ruptura da normalidade institucional e não uma regra.

No último olho, “Réu da Lava Jato, Maluf e o deputado do confete estão entre os mais faltosos na Câmara”, mais uma vez o Congresso em Foco se coloca como “cão de guarda” pois enfatiza que Maluf, além de estar sendo julgado por um crime cometido na década de 1990 quando era prefeito de São Paulo, ainda é réu na Operação Lava Jato e, mais ainda, junto ao “deputado do confete”, é um dos menos assíduos na Câmara dos Deputados.

Aqui, é importante destacar ainda que o Congresso em Foco acredita que “deputado do confete” se refere a alguém de amplo conhecimento por quem acompanha o noticiário político nacional, igualando-o nominalmente a “Maluf”, isto é, o website faz supor que “deputado do confete” é tão conhecido no seu mundo da vida cotidiana quanto “Maluf”, a ponto de não julgar necessário dizer no título quem é esse deputado. Porém, fica a dúvida se realmente é possível deduzir quem é o “deputado do confete” e qual a relevância de chamá-lo assim, isto é, se o episódio que relaciona o parlamentar com confete é tão icônico no mundo político a ponto de ligarmos instantaneamente a pessoa à alcunha.

Portanto, o Congresso em Foco, ao mesmo tempo em que manifesta o ethos de “cão de guarda” da sociedade ao denunciar e noticiar os casos de corrupção que envolvem parlamentares, não deixa de manifestar seu ethos de defesa da democracia e dos Direitos Humanos para, ao invés de enunciar algo como “bandido bom é bandido morto”, prefere dar eco a “bandido bom é bandido preso em condições adequadas”. Além disso, quando sai da “zona de conforto” dos fatos acontecidos nos corredores e salões do Congresso Nacional e vai até o STF, onde o discurso deixa de ser o discurso político-partidário-parlamentar e passa a ser o discurso jurídico, assume um ethos didático para explicar termos do discurso jurídico ao seu

público casual. Por outro lado, exatamente na sua “zona de conforto”, o Congresso em Foco pode acabar enunciando expressões que não são de amplo domínio público, como “deputado do confete”.

4.2.9 STF interrompe sessão que já tem maioria para restringir foro a crimes em razão do