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Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 26/04/2012

Revista nº 33/08.9TMBRG.G1.S1 - 2.ª Secção Assunto: Casa de morada de família – direito ao arrendamento

I - São questões diferentes, a relativa à atribuição provisória da casa de mo-rada de família durante o período da pendência do processo de divórcio (art.

1407º, nos 2 e 7, do CPC) e a de constitui-ção de arrendamento da casa de mora-da de família, regulamora-da, como processo de jurisdição voluntária, no art. 1413º do CC, e prevista, como efeito do divórcio, nos arts. 1793º e 1105º do CC.

II - Tendo cessado as relações patri-moniais entre os cônjuges (art. 1688º do CC), face ao trânsito em julgado da sentença que decretou o divórcio, até à partilha, mantém-se a chamada comu-nhão de mão comum ou propriedade coletiva, com aplicação à mesma das regras da compropriedade (art. 1404º do CPC).

III - No plano dos princípios, não discipli-nando a lei, de forma específica, como efetuar a atribuição provisória da casa de morada de família (bem comum dos ex-cônjuges) na pendência do divórcio – in casu, até à adjudicação dos bens

aos excônjuges – nada impede, tudo aconselhando, ao invés, que nos socor-ramos, como pano de fundo, do regime arrendatício fixado no citado art. 1793º e dos índices de referência aí contidos.

IV - Não havendo, de qualquer modo, que fixar a compensação devida ao ex-cônjuge privado da casa de morada de família a favor do outro pelos valores de mercado, desconsiderando a situação económica daquele que da casa mais necessitar.

PENAL

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 22/02/2012

Proc. nº 371/07.8TAFAF.G1.S1 - 3.ª Secção Assunto: Duplo grau de jurisdição

I - O direito ao recurso, enquanto garan-tia de defesa com expressa consagração no art. 32º, nº 1, da CRP, identifica--se com a garantia do duplo grau de jurisdição quanto a decisões penais condenatórias e ainda quanto às deci-sões penais respeitantes à situação do arguido face à privação ou restrição da liberdade ou de quaisquer outros direi-tos fundamentais.

II - Embora valha no processo penal português o princípio da recorribilidade das decisões judiciais, plasmado no art.

399º do CPP, do ponto de vista jurídi-coconstitucional não são ilegítimas, à luz do art. 32º, nº 1, da CRP, restrições do direito ao recurso relativamente a decisões penais não condenatórias ou que não afetem a liberdade ou outros direitos fundamentais do arguido. Esta disposição constitucional não imporá, portanto, a concessão ao arguido do di-reito de recorrer de toda e qualquer de-cisão judicial que lhe seja desfavorável.

III - No caso vertente o recorrente pre-tende recorrer de uma decisão prévia [decisão da conferência que se pronun-ciou sobre a decisão do Juiz Desembar-gador relator que teve por objeto o pe-dido de julgamento em audiência] que não aquela que o condenou em pena de prisão. Porém, trata-se de decisão que não pôs termo à causa e, como tal, está abrangida pela regra da irrecorri-bilidade imposta pela al. c) do nº 1 do

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art. 400º, por referência da al. b) do art.

432º, ambos do CPP.

IV - De facto, a decisão recorrida não configura uma decisão que põe termo à causa, consubstanciando única e exclu-sivamente uma decisão interlocutória, isto é, uma decisão sobre uma questão prévia e que deixou incólume a relação processual penal consubstanciada na verificação da responsabilidade criminal do arguido.

V - A decisão recorrida pode, até, conter outras decisões que ponham termo à causa suscetíveis de recurso para o STJ.

Todavia, tratando-se de uma questão interlocutória, a circunstância de ter sido objeto de recurso autónomo não lhe confere recorribilidade fundamentada na circunstância de as restantes pode-rem ser objeto de recurso para o STJ.

VI - Este entendimento, respeitando a garantia constitucional do duplo grau de jurisdição, está em perfeita consonância com o regime dos recursos traçados pela reforma de 98 para o STJ que obstou, de forma clara, ao segundo grau de recur-so, terceiro grau de jurisdição, relativo a questões processuais ou que não te-nham posto termo à causa. A exceção é a prevista na al. e) do art. 432º, do CPP, à qual não é subsumível a hipótese em apreço.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 8/02/2012

Proc. nº 746/08.5TAVFR.P1.S1 - 5.ª Secção Assunto: Vícios do art. 410º do Código de Processo Penal - Concorrência de culpas I - Existe uma contradição entre os fac-tos referentes à circunstância de saber se o arguido ao efetuar a mudança de direção para a esquerda viu, ou não viu, o motociclo conduzido pela vítima, que circulava em sentido contrário.

II - Dando-se como provado um facto e o seu contrário, configura-se uma con-tradição insanável da fundamentação (al. b) do nº 1 do art. 410.° do CPP), a me-nos que se possa considerar a existência de um mero erro de escrita, suscetível de ser corrigido nos termos do disposto no art. 380.° do CPP, podendo sê-lo pelo tribunal superior em caso de recurso.

III - Sendo o erro ostensivo (art. 249º

CC) e sendo inequívoco o sentido do pensamento do julgador, a correção do lapsus calami, através da adição da partícula “não”, não importa uma modi-ficação essencial.

IV - Aproximando-se a vítima do cru-zamento onde ocorreu o acidente a uma velocidade que não foi possível determinar, mas superior a 50 km/h, velocidade máxima permitida naquele local, verifica-se a prática de um fac-to ilícifac-to que faz presumir a culpa na produção dos danos dele recorrentes, dispensando-se a prova em concreto da falta de diligência, e sendo a velocidade a que circulava o veículo causa adequa-da do acidente.

V - Conduzindo o arguido um veículo pesado e tendo feito a manobra de mudança de direção para a esquerda, de forma distraída e inopinada, invadindo a hemi-faixa contrária, levando à ocorrên-cia dum embate com o motociclo que seguia dentro da sua mão de trânsito, a responsabilidade do arguido é muito superior à da vítima, que, seguindo em-bora com velocidade superior à legal, sempre teria prosseguido a sua marcha se não tivesse ocorrido uma invasão abrupta da sua faixa de rodagem pelo veículo pesado.

VI - Tomando em consideração o comportamento ilícito de ambos os intervenientes, fixam-se, as percenta-gens de culpabilidade em 90% para o do arguido e de 10% de para a vítima, mas, dada a enorme desproporção da gravidade das respetivas infrações, é de considerar inexpressiva a censura ao lesado para efeitos do art. 570º do CC, inexistindo fundamento para a redução da indemnização.

VII- Provada a prestação de alimen-tos à demandante, sua companheira, por parte da vítima, no âmbito de uma obrigação natural resultante das relações de convívio conjugal entre ambos existente, tem aquela direito a ser ressarcida independentemente da necessidade efetiva de alimentos, de harmonia com as regras gerais da res-ponsabilidade pelos danos causados, segundo a previsão do disposto no nº 3 do art. 495º do CC.

VIII - O valor indemnizatório de € 60 000 pelo direito à vida – que foi cortada numa altura em que, dada a sua idade, a vítima estaria no pleno das suas ca-pacidades, não sofria de problemas de saúde, trabalhava como analista de sis-temas (profissão para que se preparou através da frequência, em Portugal e no estrangeiro, de diversos cursos de natu-reza profissional), usava os seus tempos livres para a prática de BTT e orientação em bicicleta e pedestre e vivia há 6 anos em união de facto, numa relação estável – tem-se por plenamente justificado, por estar em conformidade com os montantes jurisprudencialmente fixa-dos para casos semelhantes e ter sido arbitrado com observância das regras de boa prudência, atendendo à justa medida das coisas e à criteriosa ponde-ração das realidades da vida.

IX - Embora vivesse com a companheira, a vítima mantinha, à data do acidente, com os pais, uma relação sempre mui-to forte, sem atrimui-tos, com um clima de união e partilha recíproco, passando a vítima e a sua companheira as férias de verão e outros períodos com os deman-dantes, numa casa que estes possuem no Algarve, que sofreram, e sofrem, com a perda do filho.

X - Atendendo a este circunstancialismo e utilizando a equidade, não se vê razão para alterar o valor de € 25 000 fixado para cada um dos pais, por danos não patrimoniais.

XI - Na fixação da indemnização pode o tribunal atender aos danos futuros desde que sejam previsíveis, o que clara-mente sucede com os danos resultantes do decesso da vítima que, no cumpri-mento de uma obrigação natural, pres-tava alimentos à sua companheira, com quem vivia em união de facto.

XII - Tendo a Relação considerado que o montante indemnizatório, capaz de gerar um rendimento correspondente aos alimentos que a vítima prestava à le-sada e que se esgote no fim do período, atinge o valor de € 200 000, ao qual se deve abater a parcela que corresponde àquilo que a vítima consumiria consigo própria (que a Relação estabeleceu em 1/4), fixando a indemnização por danos

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futuros em € 150 000 e não sendo ma-nifesto que a decisão recorrida tenha, nesta parte, afrontado as regras de boa prudência, não há razões para alterar o montante indemnizatório que a Re-lação fixou.

XIII - Sendo a demandante terceiro não há que proceder a qualquer abatimento no valor a pagar resultante da existência de concausalidade de culpas do con-dutor do veículo pesado e da vítima, respondendo a demandada seguradora pela totalidade da indemnização, por ser solidária a responsabilidade pelos danos nos termos do art. 497.° nº 1 do CC, sem prejuízo de poder vir a ser exer-cido direito de regresso.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 29/02/2012

Proc. nº 2327/07.1TAGDM.S1 - 3.ª Secção Assunto: Cúmulo jurídico

I - A medida concreta da pena, nos termos do art. 71º do CP, é fixada em função da culpa e das exigências da prevenção, estabelecendo o art. 40º do mesmo diploma que as penas visam satisfazer as exigências comunitárias de repressão do crime, sem prejuízo dos interesses da reintegração social.

II - Dentro desses parâmetros gerais, a pena terá de fixar-se de acordo com os fatores indicados no nº 2 do referido art.

71º do CP, que podem ser classificados em três grupos: referentes à execução do facto – als. a), b) e c): grau de ilici-tude do facto, modo de execução do crime, grau de violação das suas conse-quências, grau de violação dos deveres impostos ao agente, intensidade do dolo ou da negligência, sentimentos manifestados na execução do crime e fins ou motivação do mesmo; relativa-mente à personalidade do agente – als.

d) e f): condições pessoais do agente e situação económica, falta de preparação para manter conduta lícita; e, finalmen-te, fatores relativos à conduta anterior ou posterior ao crime – al. e).

III - No caso dos autos, são evidentes o elevado grau de ilicitude do facto e a intensidade do dolo. A elaboração e a preparação meticulosa do projeto criminoso, e a sua execução

meticulo-sa e reiterada, que só a detenção em flagrante delito impediu que prosse-guisse, revelam grande determinação e mesmo um grau apreciável de “pro-fissionalismo” por parte do recorrente e restantes coarguidos. O aproveitamento da situação de fragilidade (desempre-go) em que o ofendido se encontrava e da sua ingenuidade, que o levou a acreditar nas promessas de «ajuda»

(quer para arranjar emprego, quer para a obtenção do bilhete, como se, neste caso, essa ajuda fosse necessária) do arguido e seus companheiros, é tam-bém altamente reprovável. O facto de terem ocorrido mais de 4 anos sobre os factos ilícitos não atenua, muito menos significativamente, a ilicitude, por ser um prazo relativamente curto, durante o qual o recorrente tem estado quase sempre recluso. Quanto à personalida-de do recorrente, é manifesta a falta personalida-de preparação para manter conduta lícita, revelada pela reincidência, e sobretudo pelo facto de ter reincidido poucos dias após a libertação do estabelecimento prisional em que cumprira pena entre 24-09-2005 e 08-11-2007.

IV - Por outro lado, a confissão parcial, a abstinência de drogas, a frequência escolar na prisão e o apoio familiar, que o recorrente invoca a seu favor, já foram atendidas no acórdão recorrido sendo, em qualquer caso, de relevo diminuto:

ignora-se o alcance que teve a confissão para a descoberta da verdade material, mas terá sido certamente reduzido, uma vez que nenhuma relevância lhe é dada no acórdão; e os demais factos, embora positivos, e eventualmente importan-tes, para a sua integração na sociedade, após a libertação não encerram valor atenuativo especialmente significativo.

V - Por último, há que considerar as exi-gências de prevenção, quer geral, quer especial, que são particularmente rele-vantes no caso concreto. Efetivamente, a criminalidade violenta é especialmen-te censurável e gera um sentimento generalizado de insegurança, que cabe ao direito combater, salvaguardando o interesse comunitário na punição do crime. Por outro lado, é também evi-dente a necessidade de salvaguarda dos

interesses de prevenção especial, dado o percurso delituoso do recorrente.

VI - Dentro da moldura da pena corres-pondente ao crime de extorsão agrava-da, tendo em conta a reincidência (de 4 a 15 anos de prisão), a pena de 5 anos e 4 meses de prisão afigura-se ajustada às necessidades preventivas, gerais e especiais, o mesmo se podendo dizer da pena de 10 meses de prisão fixada para o crime de falsificação (fixada a partir de uma moldura abstrata de 40 dias a 3 anos de prisão).

VII - Nos termos do art. 77º, nº 1, do CP, a pena única é fixada em função de uma apreciação global dos factos e da personalidade do agente, em ordem a indagar em que medida a prática cri-minosa se ajusta à personalidade do agente ou constitui antes mera plurio-casionalidade.

VIII - No caso em apreço, a prática cri-minosa punida nos autos, que vem na sequência de condenações anterior por condutas semelhantes, revela uma con-jugação, em termos de instrumentalida-de, entre o crime de falsificação e o crime de extorsão, praticado reiteradamente.

IX - Neste contexto, dentro da moldura da pena única, que varia entre 5 anos e 4 meses e 6 anos e 2 meses de prisão, a pena de 5 anos e 8 meses de prisão mostra-se inteiramente adequada.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 22/02/2012

Proc. nº 130/11.3GTABF.S1 - 3.ª Secção Assunto: Vícios do art. 410º do Código de Processo Penal - Conhecimento oficioso I - Vem sendo entendido uniformemen-te pelo STJ que os vícios constanuniformemen-tes do art. 410º, nº 2, do CPP, apenas podem ser conhecidos oficiosamente e, não quando suscitados pelos recorrentes, pois que sendo o STJ um tribunal de re-vista, só conhece dos mesmos vícios de forma oficiosa, por sua própria iniciativa, quando tais vícios se perfilem, que não a requerimento dos sujeitos processuais.

II - Mesmo nos recursos das decisões finais do tribunal coletivo, o STJ só co-nhece dos vícios do art. 410º, nº 2, do CPP, por sua própria iniciativa, e nunca a pedido do recorrente que, para efeito,

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sempre terá de se dirigir à Relação. Tal pressuposto decorre das orientações do processo penal emergentes da re-forma de 98 que, significativamente, alterou a redação da al. d) do art. 432º, fazendo-lhe acrescer a expressão antes inexistente «visando exclusivamente o reexame da matéria de direito», filosofia que, bem vistas as coisas, visa limitar o acesso ao STJ, sob pena de compro-meter irremediavelmente a dignidade deste como tribunal de revista que é (cf. Ac. do STJ de 08-11-2006, Proc.

4056/06 - 5.ª).

III - Consequentemente, assumindo legalmente a competência para o co-nhecimento do mesmo recurso, deverá ser o Tribunal da Relação a decidir do recurso interposto pelo recorrente IV - (em que pretende ver sindicada matéria de facto e de direito).

V - Porém, de tal conhecimento, e competência, devem ser assumidas todas consequências uma vez que, nos termos do art. 414º, nº 8, do refe-rido Código, havendo vários recursos da mesma decisão, dos quais alguns versem sobre matéria de facto e outros exclusivamente matéria de direito, são todos julgados conjuntamente pelo tribunal competente para conhecer da matéria de facto.

VI - Assim, será o Tribunal da Relação a deter competência para a aprecia-ção de todos os recursos interpostos, o que determina a remessa dos autos para tal efeito.

No documento Análise A reforma do Mapa Judiciário (páginas 57-60)

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