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Análise A reforma do Mapa Judiciário

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junho/2012Vida Judiciária

Nº 167 - junho 2012 - 7,50 €

MARCAS

REGISTO DE MARCA – Ação de anulação de registo - caducidade EM FOCO

A insolvência singular no novo CIRE

ENTREVISTA António Casimiro Ferreira, sociólogo

“A reforma do Direito do Trabalho é uma forma de rearranjar

as relações de poder”

Análise

A reforma do Mapa Judiciário

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Nome

Morada

C. Postal

E-mail Nº Contribuinte

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r Para o efeito envio cheque/vale nº , s/ o , no valor de € , r Solicito o envio à cobrança. (Acrescem 4€ para despesas de envio e cobrança).

ASSINATURA

(recortar ou fotocopiar)

R. Gonçalo Cristóvão, 14, r/c • 4000-263 PORTO Código da Insolvência e da

Recuperação de Empresas e Legislação complementar

Autor: Vida Económica Páginas: 176

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EDIÇÕES DE BOLSO

Código do IVA 2012 e Legislação complementar

Autor: Vida Económica Páginas: 176

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Autor: Vida Económica Páginas: 128

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editorial

VIDA JUDICIÁRIA - junho 2012 1

Reforma na legislação laboral

Por: Sandra Miranda da Silva

António Casimiro Ferreira, sociólogo, é perentório em afirmar que “a agenda reivindicativa dos empregadores não passa pela reforma do Direito do Trabalho”.

Na opinião do Dr. António Casimiro Ferreira, há questões que preocupam bem mais os empresários, como o custo da energia, o acesso ao financiamento bancário e a

desburocratização do Estado do que a reforma das leis laborais.

Na entrevista concedida à “Vida Judiciária”, o sociólogo António Casimiro Ferreira acredita que as reformas do sistema bancário e do Estado é que são as verdadeiras reformas que não estão a ser feitas, o que preocupa empresários e investidores internacionais.

O Dr. António Casimiro Ferreira entende que, em Portugal, com a última revisão introduzida ao Código do Trabalho, pela Lei n.º 23/2012, de 25 de junho, estão a alterar-se de uma forma muito significativa a correlação de forças e as funções do Direito do Trabalho, não acreditando, por isso, que haja reversibilidade nas medidas que estão a ser tomadas.

Proprietário

Vida Económica - Editorial, S.A.

Rua Gonçalo Cristóvão, 14 - 2º 4000-263 Porto

NIF 507 258 487

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Coordenadora de edição Sandra Silva

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Redação, Administração Vida Económica - Editorial, S.A.

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Delegação de Lisboa Campo Pequeno, 50 – 4º Esq.

1000-081 LISBOA Telefone: 210 129 550

Impressão Uniarte Gráfica / Porto Publicação inscrita no Instituto da Comunicação Social nº 120738 Empresa Jornalística nº 208709 Periodicidade: mensal

Nº 167 junho 2012

REVISTA MENSAL

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sumário

VIDA JUDICIÁRIA - junho 2012 2

9 Em Foco

A insolvência singular no novo CIRE

15 Atualidades

Informações jurídicas

19 Registos & Notariado

Mediação imobiliária

21 Análise

A reforma do Mapa Judiciário

33 Marcas & Patentes

REGISTO DE MARCA – Ação de anulação de registo – caducidade

38 Jurisprudência

Resumos de Jurisprudência Jurisprudência do STJ e das Relações Sumários do STJ

62 Legislação

Principal legislação publicada 1ª e 2ª séries do Diário da República

António Casimiro Ferreira, sociólogo

e autor do livro “Sociedade da Austeridade e direito do trabalho de exceção”

“A reforma do Direito

do Trabalho é uma forma de rearranjar as relações de poder”

4 Entrevista

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Nome

Morada

C. Postal

E-mail Nº Contribuinte

r Solicito o envio de exemplar(es) do livro Contratos a termo, com o PVP unitário de 12,90 €.

r Para o efeito envio cheque/vale nº , s/ o , no valor de € , r Solicito o envio à cobrança. (Acrescem 4€ para despesas de envio e cobrança).

ASSINATURA Autor: André Strecht

Ribeiro

Páginas: 176

P.V.P.: €12,90

(recortar ou fotocopiar)

R. Gonçalo Cristóvão, 14, r/c 4000-263 PORTO

A obra dá particular relevo a questões práticas, com apresentação das soluções avançadas pela doutrina e jurisprudência, fornecendo ao leitor um instrumento de trabalho que lhe permite resolver no terreno os problemas que o contrato a termo encerra.

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qual muito contribuiu a experiência do escritor enquanto advogado na

área do direito do trabalho.

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eNTRevISTA

VIDA JUDICIÁRIA - junho 2012 4

TERESA SILVEIRA

teresasilveira@vidaeconomica.pt

Autor do livro “Sociedade da austeridade e Direito do Trabalho de exceção”

editado pela “Vida Económica”, em entrevista

“A reforma do Direito

do Trabalho é uma forma de rearranjar as relações de poder”

Apesar de aos olhos do cidadão comum poder parecer o contrário, “a agenda reivindicativa dos empregadores não passa pela reforma do Direito do Traba- lho”, afirma António Casimiro Ferreira, sociólogo e autor do livro “Sociedade da austeridade e Direito do Trabalho de ex- ceção”, editado pela “Vida Económica”.

Em entrevista à “Vida Judiciária” à margem de uma das sessões de apre- sentação da obra, o também professor do Centro de Estudos Sociais da Uni- versidade de Coimbra afirma que “há outras questões” que preocupam mais os empresários para além das normas laborais, como “o custo da energia, o acesso ao financiamento bancário ou a desburocratização do Estado”. Essas, sim, são “as verdadeiras reformas que

não estão a ser feitas e que preocupam os empregadores e empresários e até os investidores internacionais”.

Rejeitando o conceito de que o Direito do Trabalho tenha de ser ‘market friend’

e considerado “um mecanismo facilita- dor da criação de emprego, da redução do desemprego, da competitividade e da produtividade”, António Casimiro Ferreira não tem dúvidas: “Estamos a alterar, de uma forma muitíssimo significativa, a correlação de forças e as funções do Direito do Trabalho” em Portugal. E “não é crível que haja rever- sibilidade nas medidas que estão a ser tomadas”.

vida Judiciária – O que é que o mo- tivou para a escrita deste livro “So- ciedade da austeridade”, tendo em conta a conjuntura em que vivemos e as mexidas recentes em algumas

matérias do Código do Trabalho?

António Casimiro Ferreira – Este é, de facto, um livro que nasce da circunstân- cia que estamos a viver agora. Talvez valha a pena referir que foi escrito em cerca de três meses, três meses e meio, e que resultou, em primeiro lugar, da tentativa de esclarecer, do ponto de vista sociológico ou sócio-jurídico, o momento que estamos a atravessar e não somente o registo em que ele tem sido captado, ou seja, económico, e tentar captar aquela lógica que eu de- signaria por sociedade da austeridade.

Em segundo lugar, o livro nasce também da minha preocupação, eu diria cívica, com o momento que estamos a viver.

E com essa minha preocupação cívica, como cidadão, e que resulta também do meu entendimento daquilo que deve ser o lugar do professor universitário e investigador relativamente aos proble-

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mas comuns que todos enfrentamos. E eu sou um cidadão preocupado com o momento que estamos a viver.

vJ – Quando se procedeu à sistemati- zação da legislação laboral em Portu- gal e à publicação do primeiro Código do Trabalho, em 2003, e já depois, em 2009, aquando da primeira revisão desse Código, vários especialistas disseram que se estava a conferir ao Código um pendor mais civilista.

Concorda com essa visão?

ACF – Desde os anos 80 do século passado que, sobretudo depois da- quela matriz fi xada pelo consenso de Washington, que lançou uma linha re- formadora de sentido neoliberal, vimos assistindo a um processo de reforma da legislação laboral que tem procurado fazer com que o Direito do Trabalho seja ‘market friend’ e cada vez mais

considerado um mecanismo facilitador da criação de emprego, da redução do desemprego, da competitividade, da produtividade, etc. O que é certo é que, e em primeiro lugar, não existe nenhuma evidência de que essa rela- ção existe. Ou seja, desde os anos 80 a discussão está instalada, mas não existe uma evidência para além de qualquer dúvida de que a desregulamentação do Direito do Trabalho tem esse impacto na criação de emprego e no crescimento económico.

vJ – Isso não está provado, de todo?

ACF – Não, não está. Há estudos contra- ditórios, porque há investigações que selecionam um conjunto de variáveis e dizem que sim e que há uma relação entre a criação de emprego e fl exibi- lização e menor rigidez da legislação laboral, mas há outros estudos que não

caucionam esta afi rmação. O que se tem convencionado e tem sido o pensamen- to ‘mainstream’ é esse: é aquele que diz que quanto mais forem liberalizadas as normas laborais e quanto mais elas forem afeiçoadas ao funcionamento do mercado, tanto melhor, porque cria-se emprego e reduz-se o desemprego, etc..

A verdade é que a Organização Interna- cional do Trabalho (OIT) não cauciona esta abordagem, que é muito axiomáti- ca e muito redutora daquilo que é o pa- pel e as funções do Direito do Trabalho na sociedade. Mas redirigindo a minha resposta para aquilo que inicialmente me perguntou, de facto esta tendência foi-se instalando e, em Portugal, nós conhecemos em 2003, que foi quando foi publicado o Código do Trabalho e se procedeu à codifi cação da legislação laboral, à instrução de um conjunto de aspetos que iam no sentido de fl exibili-

“Não existe uma evidência, para além de qualquer dúvida, de que a desregulamentação do Direito do Trabalho tem esse impacto na criação de emprego e no crescimento económico”, frisa António Casimiro Ferreira, em entrevista à “Vida Judiciária”.

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zar a legislação laboral. Essa perspetiva foi retomada subsequentemente e diria que, em 2009, quando se procedeu à revisão, na sequência do Livro Branco, a cuja Comissão pertenci…

vJ – e da qual se veio a demitir…

ACF – Sim, exato... E essa linha de fl exi- bilização levou a alterações. Mas agora o que temos é uma situação distinta…

vJ – Não queria deixar de o questio- nar exatamente sobre a sua demissão da Comissão do Livro Branco do Có- digo do Trabalho, juntamente com o professor Júlio Gomes, da Faculdade de Direito da Universidade Católica do Porto. O que levou a essa sua saída?

ACF – Sobretudo um desconforto me- todológico, porque a forma como os trabalhos funcionavam não permitia

um debate acumulado. Não havia atas e a inexistência de atas prejudicava os trabalhos da Comissão. E em muitas reuniões sucedia que a memória do que se tinha debatido se tinha perdido.

E isso gerou muito mal-estar, particular- mente quando nós fi zemos declarações e tentámos sinalizar a nossa posição.

vJ – Isso prejudicou o resultado fi nal, em sua opinião?

ACF – O resultado fi nal não o subscre- vo. Não participei. Acho que aquele foi o resultado que quem esteve até ao fi m considerou possível ou desejável.

Houve uma ou outra declaração do doutor João Correia… é o que tenho memória, mas, de facto, foi uma posição pública que tomei, justamente por não concordar com a metodologia e por me parecer que o resultado estaria muito afastado do contributo que eu gostaria

de ver refl etido pela minha parte. Foi, efetivamente, uma tentativa de chamar a atenção para isso.

Voltando às alterações da revisão de 2009 do Código do Trabalho, se é ver- dade que houve uma dinâmica desde os anos 80, também é verdade que vive- mos hoje um momento diferente. Este momento diferente procurei retratá-lo no meu livro como Direito de exceção, justamente porque anteriormente ain- da havia debate de ideias, de caráter político, diria mesmo de caráter ideo- lógico, entre as posições neoliberais, de individualização da relação laboral, e as outras perspetivas que continuam a existir e que defendem uma função protetora do Direito do Trabalho como sendo uma característica da sua iden- tidade político-jurídica. O Direito do Trabalho não existe para facilitar a vida ao mercado. O Direito do Trabalho exis- Manuel Carvalho da Silva (à esquerda), professor universitário

e ex-secretário-geral da CGTP, foi um dos oradores, com o advogado António Vilar (à direita), na sessão de apresentação do livro de António Casimiro Ferreira (ao centro) que decorreu na FNAC, em Lisboa.

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te para proteger aqueles que são mais frágeis numa relação como é a relação laboral, marcada por uma assimetria de poder muito acentuada. E, portanto, essa identidade político-jurídica do Direito do Trabalho enquanto Direito da discriminação positiva para os mais vulneráveis não pode ter concordância com a lógica de funcionamento do mercado. São lógicas distintas.

vJ – Mas tendo em conta a particu- laridade da conjuntura que estamos a viver…

ACF – As conjunturas ou a excecio- nalidade dos momentos não pode conduzir-nos a renunciar a princípios fundamentais, como seja o da De- mocracia ou os valores éticos pelos quais orientamos as nossas práticas.

E as instituições devem orientar a sua atividade, bem como o Direito deve dar sequência à sua finalidade. Eu não posso admitir que princípios éticos re- lativos à dignidade da pessoa humana sejam agora colocados numa situação de maior fragilidade, porque as ruturas que agora são apresentadas não care- cem de contraditório, não carecem de debate, porque a excecionalidade, o medo, a insegurança e a necessidade imperiosa de termos de flexibilizar para crescer é apresentada como inevitável.

Ora, é contra esta inevitabilidade deste Direito do Trabalho, para o qual não há alternativa nenhuma e que se legitima a si próprio pela excecionalidade do momento que eu vejo aí o claudicar de princípios básicos da Democracia e de tudo aquilo que o Direito do Trabalho é, e que é um Direito para cumprir e con- ferir proteção cidadã aos trabalhadores.

vJ – O Direito do Trabalho poderá estarem risco, neste momento?

ACF – O Direito do Trabalho está em risco, porque, como nós nos apercebe- mos, este processo de reforma, que não é exclusivo de Portugal, pois é um pro- jeto mais amplo como reformas como as que estão a suceder em Espanha, por exemplo, ou como sucederam na

Grécia, é uma tendência que evidencia, cristaliza uma matriz de caráter neoli- beral relativamente ao entendimento do valor do trabalho nas sociedades contemporâneas. Que é como quem diz ‘o trabalho é uma mercadoria’. Isto, quando o trabalho não deve ser en- tendido como mercadoria. É o querer olhar para as relações laborais como se fossem uma relação social semelhante às outras, quando não o são. E a isto chama-se uma agenda de reforma de sentido neoliberal, que visa, justamente, expandir esta ideia de que o mercado tudo resolve e tudo trata.

vJ – Uma das mais recentes medidas de revisão do Código do Trabalho prende-se com a redução dos mon- tantes das indemnizações por despe- dimento e está em estudo a possibili- dade de nivelar essas indemnizações pela média da União europeia. esta lógica parece-lhe correta, tendo em conta que Portugal tem níveis sala- riais bastante mais baixos daqueles por que nos queremos nivelar?

ACF – Duas coisas. Em primeiro lugar, os direitos não podem ser descontextua- lizados. Há um equilíbrio societário. A sociedade como um todo é constituída por diversas instituições e o equilíbrio que o Direito do Trabalho tem e a ar- ticulação que faz com outras áreas da vida em sociedade faz parte de um todo que é a sociedade portuguesa. Em 2006, por exemplo, começou a discutir-se a flexissegurança como uma medida que deveria alavancar as reformas, mas eu sempre insisti na ideia de que não é a flexissegurança que produz a Dinamar- ca, mas a Dinamarca que produz a flexis- segurança. Querendo com isso salientar o facto de este ser um mecanismo que, pelo facto de funcionar bem e porque corresponde a diversas articulações e equilíbrios historicamente construídos na Dinamarca, não quer dizer que resul- te noutros países.

vJ – esse conceito foi, de resto, quase abandonado em Portugal.

ACF – Sim… a flexissegurança e o Direito do Trabalho da austeridade e de exceção é uma versão musculada da flexissegurança e, sobretudo, deixa perceber o que é que a flexissegurança era no avanço neoliberal no domínio das relações laborais.

vJ – O que me quer dizer é que o conceito da flexissegurança não foi passado para a letra da lei, mas que, na prática, ele acaba por ser imple- mentado?

ACF – Foi depurado. O que é que se pretende? Reduzir cada vez mais as proteções sem dizer que elas acaba- ram, mas os subsídios, os mecanismos e funções sociais do Estado estão a ser reduzidos, ao mesmo tempo que se está a emagrecer o Direito do Trabalho.

E diz-me: ‘Bom, mas continua a haver subsídio de desemprego e reformas e formação profissional’. E eu digo: ‘está bem, mas em que condições?’. Há uma aparência de proteção, mas flexibiliza- -se cada vez mais a relação laboral no seu sentido restrito e, ao fazê-lo, não se pode presumir que as proteções, poucas, cada vez menos, que o Estado confere resolvem a tal caraterística das relações laborais que é a da assimetria de poder. O olhar não democrático que acontece, infelizmente, em muitas das empresas.

Mas quanto às medidas concretas desta alteração, a meu ver, são duas: indivi- dualização das relações laborais, com uma crescente contratualização entre empregador e trabalhador singular em aspetos cruciais, como nos horários de trabalho e outros. É uma individuali- zação que tem como contrapartida o esvaziamento tendencial da dimensão coletiva do Direito do Trabalho que, em boa verdade, é a sua razão de ser. E, por isso, há uma desarticulação propositada entre o implementar das medidas indi- vidualizantes, daquilo a que podemos chamar o individualismo laboral indi- vidualizado, ao mesmo tempo que se desinstitucionaliza uma das instituições fundamentais do Direito do Trabalho,

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que é a negociação coletiva. Há aqui este duplo movimento que desprotege a maioria dos trabalhadores, que não têm condições para fazer uma nego- ciação democrática – nós vivemos em Democracia! –, quando sabemos bem dos problemas da insegurança laboral e o medo de perder o emprego, etc.

vJ – estas mudanças na legislação laboral deveriam trazer ganhos para as empresas. As empresas de facto ganham com estas alterações às leis laborais, por exemplo em matéria de horários de trabalho?

ACF – Vou dar-lhe uma opinião. Eu julgo que é público e notório que a agenda reivindicativa dos empregado- res não passa pela reforma do Direito do Trabalho. Há outras questões que os preocupa: o custo da energia, o acesso ao financiamento bancário, a desbu- rocratização do Estado. Essas, sim, são as verdadeiras reformas que não estão a ser feitas e que preocupam os empregadores e empresários e até os investidores internacionais. Para mim, o que se está a passar com o Direito do Trabalho é uma questão ideológica e de poder. Eu já afirmei isto várias ve- zes. A reforma do Direito do Trabalho é uma forma de rearranjar as relações de poder na sociedade portuguesa. É quase um ajuste histórico com o 25 de Abril, na exata medida em que o que se está a fazer é alterar a correlação de forças no espaço das empresas. Não é por uma questão de eficiência e de eficácia e de maior dinamismo. Obvia- mente que se se reduzir os custos de produção é tentador dizer que sim e que vamos reduzir ao máximo. Mas de- pois eu pergunto: então onde que está aquela veia quanto aos trabalhadores a participarem na vida das empresas?

E a esforçarem-se por um coletivo que é o da empresa? E a despir aquilo que aparentemente lhes confere alguma segurança e a venderem a alma ao dia- bo, que é como quem diz ao lucro, ao empregador? Eu não creio que seja por aí. Aliás, essa é uma evidência pública, que resulta das análises que são feitas

na imprensa, das entrevistas que são dadas. A verdadeira agenda reivindica- tiva das entidades patronais não passa pelo Direito do Trabalho. Não é essa a questão. Aqueles mais sequiosos de conseguirem explorar os trabalhadores dirão ‘quanto mais barato melhor’, mas há aqui outros que não o dirão. E esses empresários mais sérios com certeza que apanharão a boleia da legislação laboral – não há outra forma de dizer isto –, mas não é isto verdadeiramente que os preocupa. Veja o que diz o pre- sidente da CIP [António Saraiva], que também depende da negociação que está a fazer com o Governo. Há alturas em que diz ‘ah, a legislação laboral não interessa muito’ e outras vezes diz ‘não, não, a legislação laboral se não é altera- da então vamos ter muitos problemas’, quando, no fundo, querem é negociar outras medidas junto do Governo.

vJ – Como é que viu todo o processo de assinatura do Acordo Tripartido para a Competitividade e o emprego, assinado com os parceiros sociais (à exceção da CGTP) a 18 de janeiro deste ano?

ACF – Eu, num dos capítulos do meu livro, trato do acordo de concertação social e, de facto, um dos conceitos que utilizo para tentar explicar o que está a acontecer agora é a ideia de medo social.

vJ – Medo social?

ACF – Medo, sim. O modo como o medo se constitui em fator de legitimação e, ao mesmo tempo, cerceador das expectativas positivas das pessoas.

Todo o clima que rodeou a negociação do processo de concertação social foi marcado pela inevitabilidade de não existirem alternativas, pela circunstân- cia de isto ser imperioso porque não há alternativas a esta reforma e pelo facto de, se não assinarem, no caso da UGT, ocorrerem consequências mais danosas para os trabalhadores. E, portanto, isto foi negociado sob o signo do medo e do auspício da insegurança criada nas pessoas, alavancado numa forma de

configuração de poder que reúne o poder dos não eleitos, como a ‘Troika’, com o poder dos eleitos, como é o Go- verno e que constituem uma agenda de matriz neoliberal. E há esta combinação de poder entre os não eleitos e parte dos poderes dos eleitos e tudo produ- ziu este acordo de concertação social.

Com toda a franqueza, não me pareceu dignificante para aquilo que, para mim, é dignificante, que é o diálogo social, quer ao nível macro, da concertação social, quer no diálogo social ao nível das empresas.

vJ – Assistimos a várias reformas da legislação laboral nos últimos anos, nomeadamente esta última, em 2012 [Lei 23/2012, de 25 de junho]

que foi realizada numa conjuntura de exceção, como refere no seu livro.

Crê que, ultrapassada esta época de austeridade, será possível voltar ao Direito do Trabalho que tínhamos inicialmente?

ACF – Não creio. O que nós estamos a assistir não são medidas transitórias. São medidas que procuram institucionalizar um certo padrão de relações laborais. É certo que a evocação de motivos para as alterações é a que assenta no momento de crise e de exceção que nós vivemos, mas não é crível que haja reversibilidade nas medidas que estão a ser tomadas.

Desde logo porque não estão a ser to- madas só em Portugal. É bom salientar isso. Esta é uma agenda reformadora que está a ser implementada em vários países. Eu até diria que a própria estra- tégia Europa 2020, que começa de novo a ser evocada no âmbito das atividades da Comissão Europeia, já lá tem uma série de referências à necessidade de flexibilização do Direito do Trabalho. De resto, com invocação direta do princípio da flexissegurança. Portanto, o que está em marcha é uma revisão que não é reversível, não é transitória e que vem aproveitar esta circunstância especial que estamos a atravessar para alterar, de uma forma muitíssimo significativa, a correlação de forças e as funções do Direito do Trabalho.

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eM FOCO

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A sexta alteração ao Código da Insol- vência e da Recuparação de Empresa (CIRE), aprovada pela Lei n.º 16/2012, de 20.4, entrou em vigor no dia 20 do passado mês de maio. Esta reforma tem como principal objetivo reorientar o CIRE para a promoção da recuperação, privilegiando-se sempre que possível a manutenção da empresa em dificuldade no giro comercial, criando-se uma nova oportunidade antes da liquidação do seu património.

A grande novidade desta reforma passa pela criação do processo especial de revi- talização. Pretende-se que este processo seja um mecanismo célere e eficaz que possibilite a revitalização da empresa que se encontre em situação económica difícil ou em situação de insolvência me- ramente iminente mas que ainda não te- nha entrado em situação de insolvência atual, ou seja, que se apresente em con- dições para laborar e que seja possível a sua recuperação através de negociações com os credores.

- INSOLvÊNCIA SINGULAR

Antes de destacarmos os principais as- petos desde novo processo especial de revitalização, passamos a analisar o atual regime aplicável às insolvências singula- res e o que mudou com as alterações ora introduzidas:

1. Insolvência de pessoa singular: O processo de insolvência é agora tido como um processo de execução univer- sal que tem como finalidade a satisfação dos credores pela forma prevista num plano de insolvência, baseado, nome- adamente, na recuperação da empresa compreendida na massa insolvente, ou, quando tal não se afigure possível, na li-

quidação do património do devedor in- solvente e a repartição do produto obti- do pelos credores.

Encontrando-se em situação económi- ca difícil, ou em situação de insolvência meramente iminente, o devedor pode requerer ao tribunal a instauração de processo especial de revitalização, que destacamos infra.

2. Dever de apresentação à insolvên- cia em geral: O devedor deve requerer a declaração da sua insolvência dentro dos 30 dias seguintes à data do conhe- cimento da situação de insolvência.Este prazo foi agora reduzido dos anteriores 60 dias para os atuais 30 dias.

Quando o devedor seja titular de uma empresa, presume-se de forma inilidível o conhecimento da situação de insolvên- cia decorridos pelo menos três meses so- bre o incumprimento generalizado de obrigações.

No entanto, este dever de apresentação à insolvência não é aplicável às pessoas singulares que não sejam titulares de uma empresa na data em que incorram em situação de insolvência. As pessoas singulares não devem, contudo, abster- -se de se apresentarem à insolvência nos seis meses seguintes à verificação dessa situação de insolvência.

3. Petição inicial: A apresentação à in- solvência ou o pedido de declaração des- ta faz-se por meio de petição escrita, na qual são expostos os factos que integram os pressupostos da declaração requerida e se conclui pela formulação do corres- pondente pedido.

Na petição, sendo o requerente o próprio vendedor, deve indicar se a situação de insolvência é atual ou apenas iminente,

e, sendo pessoa singular, se pretende a exoneração do passivo restante.

4. Pessoas especialmente relaciona- das com o devedor: São tidos como especialmente relacionados com o de- vedor pessoa singular:

- O seu cônjuge e as pessoas de quem se tenha divorciado nos dois anos an- teriores ao início do processo de in- solvência;

- Os ascendentes, descendentes ou ir- mãos do devedor ou de qualquer das pessoas acima referidas;

- Os cônjuges dos ascendentes, descen- dentes ou irmãos do devedor;

- As pessoas que tenham vivido habitu- almente com o devedor em economia comum em período situado dentro dos dois anos anteriores ao início do processo de insolvência

5. Alimentos ao insolvente: Se o deve- dor carecer absolutamente de meios de subsistência e os não puder angariar pelo seu trabalho, pode o administrador da in- solvência, com o acordo da comissão de credores, ou da assembleia de credores, se aquela não existir, arbitrar-lhe um sub- sídio à custa dos rendimentos da massa insolvente, a título de alimentos.

Havendo justo motivo, pode a atribuição de alimentos cessar em qualquer estado do processo, por decisão do administra- dor da insolvência.

6. Trabalhador insolvente: A declara- ção de insolvência do trabalhador não suspende o contrato de trabalho, sendo que o ressarcimento de prejuízos decor- rentes de uma eventual violação dos de- veres contratuais apenas pode ser recla- mado ao próprio insolvente.

A insolvência singular no novo CIRe

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eM FOCO

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7. exoneração do passivo restante: No caso das pessoas singulares declaradas insolventes, pode ser-lhes concedida a exoneração dos créditos sobre a insol- vência que não forem integralmente pagos no processo de insolvência ou nos cinco anos posteriores ao encerra- mento deste.

O pedido de exoneração do passivo res- tante é feito pelo devedor no requeri- mento de apresentação à insolvência ou no prazo de 10 dias posteriores à citação, e será sempre rejeitado se for deduzido após a assembleia de apreciação do re- latório; o juiz decide livremente sobre a admissão ou rejeição de pedido apresen- tado no período intermédio.

Se não tiver sido dele a iniciativa do pro- cesso de insolvência, deve constar do ato de citação do devedor pessoa singular a indicação da possibilidade de solicitar a exoneração do passivo restante.

Do requerimento consta expressamente

a declaração de que o devedor preenche os requisitos. Na assembleia de aprecia- ção de relatório é dada aos credores e ao administrador da insolvência a pos- sibilidade de se pronunciarem sobre o requerimento.

8. Pressupostos da concessão da exo- neração do passivo restante: A con- cessão efetiva da exoneração do passi- vo restante pressupõe que exista motivo para o indeferimento liminar do pedido;

o juiz profira despacho declarando que a exoneração será concedida uma vez ob- servadas pelo devedor as condições pre- vistas no artigo 239.º (a seguir transcrito) durante os cinco anos posteriores ao en- cerramento do processo de insolvência;

não seja aprovado e homologado um pla- no de insolvência, e que pós esse período de 5 anos e cumpridas que sejam efetiva- mente as referidas condições, o juiz emita despacho decretando a exoneração defi- nitiva, ou seja, despacho de exoneração.

“ Artigo 239.º

Cessão do rendimento disponível 1 - Não havendo motivo para indeferimen- to liminar, é proferido o despacho inicial, na assembleia de apreciação do relatório, ou nos 10 dias subsequentes.

2 - O despacho inicial determina que, du- rante os cinco anos subsequentes ao en- cerramento do processo de insolvência, neste capítulo designado período da ces- são, o rendimento disponível que o deve- dor venha a auferir se considera cedido a entidade, neste capítulo designada fidu- ciário, escolhida pelo tribunal de entre as inscritas na lista oficial de administradores da insolvência, nos termos e para os efeitos do artigo seguinte.

3 - Integram o rendimento disponível todos os rendimentos que advenham a qualquer título ao devedor, com exclusão:

a) Dos créditos a que se refere o artigo 115.º cedidos a terceiro, pelo período em que a cessão se mantenha eficaz;

b) Do que seja razoavelmente necessá- rio para:

i) O sustento minimamente digno do deve- dor e do seu agregado familiar, não deven- do exceder, salvo decisão fundamentada do juiz em contrário, três vezes o salário mínimo nacional;

ii) O exercício pelo devedor da sua ativida- de profissional;

iii) Outras despesas ressalvadas pelo juiz no despacho inicial ou em momento pos- terior, a requerimento do devedor.

4 - Durante o período da cessão, o devedor fica ainda obrigado a:

a) Não ocultar ou dissimular quaisquer rendimentos que aufira, por qualquer tí- tulo, e a informar o tribunal e o fiduciário sobre os seus rendimentos e património na forma e no prazo em que isso lhe seja requisitado;

b) Exercer uma profissão remunerada, não a abandonando sem motivo legítimo, e a procurar diligentemente tal profissão quando desempregado, não recusando desrazoavelmente algum emprego para que seja apto;

c) Entregar imediatamente ao fiduciário, quando por si recebida, a parte dos seus rendimentos objeto de cessão;

d) Informar o tribunal e o fiduciário de qualquer mudança de domicílio ou de condições de emprego, no prazo de 10 dias após a respetiva ocorrência, bem como, quando solicitado e dentro de igual pra- zo, sobre as diligências realizadas para a obtenção de emprego;

e) Não fazer quaisquer pagamentos aos credores da insolvência a não ser através do fiduciário e a não criar qualquer vanta- gem especial para algum desses credores.

5 - A cessão prevista no n.º 2 prevalece sobre quaisquer acordos que excluam, condicionem ou por qualquer forma li- mitem a cessão de bens ou rendimentos do devedor.

6 - Sendo interposto recurso do despacho inicial, a realização do rateio final só de- termina o encerramento do processo de- pois de transitada em julgado a decisão”.

9. Indeferimento do pedido de exo- neração do passivo restante: O pedi- do de exoneração é liminarmente in- deferido se:

- for apresentado fora de prazo;

-o devedor, com dolo ou culpa grave, tiver fornecido por escrito, nos três anos anteriores à data do início do processo de insolvência, informações falsas ou incompletas sobre as suas circunstâncias económicas com vis- O devedor deve

requerer a declaração da sua insolvência dentro dos 30 dias seguintes à data do conhecimento da situação de

insolvência.Este prazo foi agora reduzido dos anteriores 60 dias para os atuais 30 dias.

Quando o devedor seja titular de uma empresa, presume- se de forma inilidível o conhecimento da situação de insolvência decorridos pelo menos três meses sobre

o incumprimento generalizado de obrigações

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VIDA JUDICIÁRIA - junho 2012 11

ta à obtenção de crédito ou de subsí- dios de instituições públicas ou a fim de evitar pagamentos a instituições dessa natureza;

- O devedor tiver já beneficiado da exo- neração do passivo restante nos 10 anos anteriores à data do início do processo de insolvência;

- O devedor tiver incumprido o dever de apresentação à insolvência ou, não estando obrigado a se apresentar, se tiver abstido dessa apresentação nos seis meses seguintes à verificação da situação de insolvência, com prejuízo em qualquer dos casos para os credo- res, e sabendo, ou não podendo igno- rar sem culpa grave, não existir qual- quer perspetiva séria de melhoria da sua situação económica;

- Constarem já no processo, ou forem fornecidos até ao momento da deci- são, pelos credores ou pelo adminis- trador da insolvência, elementos que indiciem com toda a probabilidade a existência de culpa do devedor na criação ou agravamento da situação de insolvência;

- O devedor tiver sido condenado por sentença transitada em julgado por algum dos crimes previstos e puni- dos nos artigos 227.º a 229.º do Có- digo Penal nos 10 anos anteriores à data da entrada em juízo do pedido de declaração da insolvência ou pos- teriormente a esta data;

- O devedor, com dolo ou culpa grave, ti- ver violado os deveres de informação, apresentação e colaboração que para ele resultam do presente Código, no decurso do processo de insolvência.

10. Cessação antecipada do procedi- mento de exoneração: Antes ainda de terminado o período da cessão, deve o juiz recusar a exoneração, a requeri- mento fundamentado de algum credor da insolvência, do administrador da in- solvência, se estiver ainda em funções, ou do fiduciário, caso este tenha sido incumbido de fiscalizar o cumprimen- to das obrigações do devedor, quando:

- O devedor tiver dolosamente ou com grave negligência violado alguma das obrigações que lhe são impostas pelo

artigo 239.º, prejudicando por esse facto a satisfação dos créditos sobre a insolvência;

- Se apure a existência de alguma das circunstâncias referidas nas alíneas b), e) e f) do n.º 1 do artigo 238.º (que transcrevemos infra) se apenas tiver sido conhecida pelo requerente após o despacho inicial ou for de verifica- ção superveniente;

- A decisão do incidente de qualificação da insolvência tiver concluído pela existência de culpa do devedor na criação ou agravamento da situação de insolvência.

“Artigo 238.º

Indeferimento liminar

1 - O pedido de exoneração é liminarmen- te indeferido se:

a) For apresentado fora de prazo;

b) O devedor, com dolo ou culpa grave, tiver fornecido por escrito, nos três anos anteriores à data do início do processo de insolvência, informações falsas ou incom- pletas sobre as suas circunstâncias econó- micas com vista à obtenção de crédito ou de subsídios de instituições públicas ou a fim de evitar pagamentos a instituições dessa natureza;

c) O devedor tiver já beneficiado da exo- neração do passivo restante nos 10 anos anteriores à data do início do processo de insolvência;

d) O devedor tiver incumprido o dever de apresentação à insolvência ou, não es- tando obrigado a se apresentar, se tiver abstido dessa apresentação nos seis me- ses seguintes à verificação da situação de insolvência, com prejuízo em qualquer dos casos para os credores, e sabendo, ou não podendo ignorar sem culpa gra- ve, não existir qualquer perspetiva séria de melhoria da sua situação económica;

e) Constarem já no processo, ou forem fornecidos até ao momento da decisão, pelos credores ou pelo administrador da insolvência, elementos que indiciem com toda a probabilidade a existência de cul- pa do devedor na criação ou agravamen- to da situação de insolvência, nos termos do artigo 186.º;

f) O devedor tiver sido condenado por sentença transitada em julgado por al- gum dos crimes previstos e punidos nos

artigos 227.º a 229.º do Código Penal nos 10 anos anteriores à data da entrada em juízo do pedido de declaração da insol- vência ou posteriormente a esta data;

g) O devedor, com dolo ou culpa grave, tiver violado os deveres de informação, apresentação e colaboração que para ele resultam do presente Código, no decurso do processo de insolvência.”

11. efeitos da exoneração: A exone- ração do devedor importa a extinção de todos os créditos sobre a insolvên- cia que ainda subsistam à data em que é concedida, sem exceção dos que não tenham sido reclamados e verificados.

A exoneração não abrange, porém:

- Os créditos por alimentos

- As indemnizações devidas por factos ilícitos dolosos praticados pelo deve- dor, que hajam sido reclamadas nes- sa qualidade

- Os créditos por multas, coimas e ou- tras sanções pecuniárias por crimes ou contraordenações

- Os créditos tributários.

12. Revogação da exoneração: A exo- neração do passivo restante é revoga- da provando-se que o devedor incor- reu em alguma das situações previstas nas alíneas b) e seguintes do n.º 1 do artigo 238.º, ou violou dolosamente as suas obrigações durante o período da cessão, e por algum desses motivos te- nha prejudicado de forma relevante a satisfação dos credores da insolvência.

A revogação apenas pode ser decreta- da até ao termo do ano subsequente ao trânsito em julgado do despacho de exoneração; quando requerida por um credor da insolvência, tem este ainda de provar não ter tido conhecimento dos fundamentos da revogação até ao momento do trânsito.

A revogação da exoneração importa a reconstituição de todos os créditos extintos.

13. Apoio Judiciário: O devedor (pes- soa singular) que apresente um pedido de exoneração do passivo restante be- neficia do diferimento do pagamento das custas até à decisão final desse pedi- do, na parte em que a massa insolvente

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e o seu rendimento disponível durante o período da cessão sejam insuficientes para o respetivo pagamento integral, o mesmo se aplicando à obrigação de reembolsar o Cofre Geral dos Tribunais das remunerações e despesas do admi- nistrador da insolvência e do fiduciário que o Cofre tenha suportado.

14. Insolvência de ambos os cônju- ges: Incorrendo marido e mulher em situação de insolvência, e não sendo o regime de bens o da separação, é lícito aos cônjuges apresentarem-se conjun-

tamente à insolvência, ou o processo ser instaurado contra ambos, a menos que perante o requerente seja responsável um só deles.

Se o processo for instaurado contra um dos cônjuges apenas, pode o ou- tro, desde que com a anuência do seu consorte, mas independentemente do acordo do requerente, apresentar-se à insolvência no âmbito desse processo;

se, porém, já se tiver iniciado o inciden- te de aprovação de um plano de paga- mentos, a intervenção apenas é admiti- da no caso de o plano não ser aprovado ou homologado.

Respeitando o processo de insolvência a marido e mulher, a proposta de plano de pagamentos apresentada por ambos os cônjuges e as reclamações de crédi- tos indicam, quanto a cada dívida, se a responsabilidade cabe aos dois ou a um só dos cônjuges, e a natureza comum ou exclusiva de um dos cônjuges dessa responsabilidade há de ser igualmente referida na lista de credores reconheci- dos elaborada pelo administrador da insolvência e fixada na sentença de ve- rificação e graduação de créditos.

Os votos na assembleia de credores são conferidos em função do valor nomi- nal dos créditos, independentemente de a responsabilidade pelas dívidas ser de ambos os cônjuges ou exclusiva de um deles.

Nas deliberações da assembleia de cre- dores e da comissão de credores que in- cidam sobre bens próprios de um dos cônjuges, todavia, não são admitidos a votar os titulares de créditos da respon- sabilidade exclusiva do outro cônjuge.

No regime da separação de bens, os bens comuns e os bens próprios de cada um dos cônjuges são inventariados, mantidos e liquidados em separado.

PROCeSSO eSPeCIAL De RevITALIZAÇÃO

Voltando à novidade desta reforma, o processo especial de revitalização, trata-se de um processo que se des- tina a quem se encontre em situação económica difícel, ou seja, a quem se encontre com dificuldade de cumprir pontualmente as suas obrigações por

falta de liquidez ou por não conseguir obter crédito.

O processo especial de revitalização inicia-se pela manifestação de vontade do devedor e de, pelo menos, um dos seus credores, por meio de declaração escrita, de encetarem negociações con- ducentes à revitalização daquele por meio da aprovação de um plano de re- cuperação.

Noção de situação económica difícil:

Entende-se que se encontra em situ- ação económica difícil o devedor que enfrentar dificuldade séria para cum- prir pontualmente as suas obrigações, designadamente por ter falta de liqui- dez ou por não conseguir obter crédito.

Requerimento e formalidades: O pro- cesso especial de revitalização inicia-se pela manifestação de vontade do deve- dor e de, pelo menos, um dos seus cre- dores, por meio de declaração escrita, de encetarem negociações conducen- tes à revitalização daquele por meio da aprovação de um plano de recuperação.

Esta declaração deve ser assinada por todos os declarantes. Encontrando-se o devedor na posse de tal declaração, deverá fazer o seguinte:

- Comunicar que pretende dar início às negociações conducentes à sua recu- peração ao juiz do tribunal compe- tente para declarar a sua insolvência, devendo este nomear administrador judicial provisório e de tal nomeação dar conhecimento, por notificação, ao devedor;

- Remeter ao tribunal cópias dos docu- mentos elencados no n.º 1 do artigo 24.º, que passamos a transcrever:

“...a) Relação por ordem alfabética de to- dos os credores, com indicação dos respe- tivos domicílios, dos montantes dos seus créditos, datas de vencimento, natureza e garantias de que beneficiem, e da even- tual existência de relações especiais, nos termos do artigo 49.º;

b) Relação e identificação de todas as ações e execuções que contra si estejam pendentes;

c) Documento em que se explicita a ativi- dade ou atividades a que se tenha dedi- Este dever de

apresentação à insolvência não é aplicável às pessoas singulares que não sejam titulares de uma empresa na data em que incorram em situação de

insolvência. As pessoas singulares não devem, contudo, abster-se de se apresentarem à insolvência nos seis meses seguintes à verificação dessa situação de insolvência.

No caso das pessoas singulares declaradas insolventes, pode ser-lhes concedida a exoneração dos créditos sobre a insolvência que não forem integralmente pagos no processo de insolvência ou nos cinco anos posteriores ao encerramento deste.

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VIDA JUDICIÁRIA - junho 2012 13

cado nos últimos três anos e os estabele- cimentos de que seja titular, bem como o que entenda serem as causas da situação em que se encontra;

d) Documento em que identifica o autor da sucessão, tratando-se de herança ja- cente, os sócios, associados ou membros conhecidos da pessoa coletiva, se for o caso, e, nas restantes hipóteses em que a insolvência não respeite a pessoa singu- lar, aqueles que legalmente respondam pelos créditos sobre a insolvência;

e) Relação de bens que o devedor detenha em regime de arrendamento, aluguer ou locação financeira ou venda com reser- va de propriedade, e de todos os demais bens e direitos de que seja titular, com indicação da sua natureza, lugar em que se encontrem, dados de identificação re- gistral, se for o caso, valor de aquisição e estimativa do seu valor atual;

f) Tendo o devedor contabilidade organi- zada, as contas anuais relativas aos três últimos exercícios, bem como os respetivos relatórios de gestão, de fiscalização e de auditoria, pareceres do órgão de fiscaliza- ção e documentos de certificação legal, se forem obrigatórios ou existirem, e informa- ção sobre as alterações mais significativas do património ocorridas posteriormente à data a que se reportam as últimas contas e sobre as operações que, pela sua natu- reza, objeto ou dimensão extravasem da atividade corrente do devedor;

g) Tratando-se de sociedade compreendi- da em consolidação de contas, relatórios consolidados de gestão, contas anuais consolidadas e demais documentos de prestação de contas respeitantes aos três últimos exercícios, bem como os respeti- vos relatórios de fiscalização e de audi- toria, pareceres do órgão de fiscalização, documentos de certificação legal e rela- tório das operações intragrupo realizadas durante o mesmo período;

h) Relatórios e contas especiais e infor- mações trimestrais e semestrais, em base individual e consolidada, reportados a datas posteriores à do termo do último exercício a cuja elaboração a sociedade devedora esteja obrigada nos termos do Código dos Valores Mobiliários e dos Re- gulamentos da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários;

i) Mapa de pessoal que o devedor tenha ao serviço.

2. O devedor deve ainda:

a) Juntar documento comprovativo dos poderes dos administradores que o repre- sentem e cópia da ata que documente a deliberação da iniciativa do pedido por parte do respetivo órgão social de admi- nistração, se aplicável;

b) Justificar a não apresentação ou a não conformidade de algum dos documentos exigidos no n.º 1....”

Tramitação processual: Posteriormen- te o devedor comunica, por meio de car- ta registada, a todos os seus credores que não hajam subscrito a declaração acima mencionada que deu início a ne- gociações com vista à sua revitalização, convidando-os a participar, caso assim o entendam, nas negociações em curso.

Reclamação de créditos: Os credores (qualquer um deles) dispõe de 20 dias contados da publicação no portal Ci- tius do despacho que nomear o admi- nistrador judicial provisório para recla- mar créditos, devendo as reclamações ser remetidas ao administrador judicial provisório, competindo a este, no prazo de cinco dias, elabora uma lista provisó- ria de créditos.

Lista provisória de créditos: A lista provisória de créditos é apresentada na secretaria do tribunal e publicada no portal Citius, podendo ser impugnada no prazo de cinco dias úteis, dispondo o juiz de idêntico prazo para decidir sobre

as impugnações apresentadas.

Não sendo esta impugnada, a lista pro- visória de créditos converte-se em lista definitiva.

Conclusão das negociações: Findo o prazo para impugnações, os declaran- tes dispõem do prazo de dois meses para concluir as negociações encetadas.

Este prazo pode ser prorrogado, por uma só vez, por um mês, mediante acor- do prévio escrito entre o administrador judicial provisório nomeado e o deve- dor, devendo esse acordo ser junto aos autos e publicado no portal Citius.

Durante as negociações o devedor pres- ta toda a informação pertinente aos seus credores e ao administrador judi- cial provisório que haja sido nomeado.

Os credores que decidam participar nas negociações em curso declaram-no ao devedor por carta registada, podendo fazê-lo durante todo o tempo em que perdurarem as negociações, sendo tais declarações juntas ao processo.

O administrador judicial provisório par- ticipa nas negociações, orientando e fiscalizando o decurso dos trabalhos e a sua regularidade.

Incorreções das comunicações: O de- vedor, bem como os seus administra- dores de direito ou de facto, no caso de aquele ser uma pessoa coletiva, são solidária e civilmente responsáveis pe- los prejuízos causados aos seus credores em virtude de falta ou incorreção das comunicações ou informações a estes prestadas, correndo autonomamente O pedido de exoneração é liminarmente indeferido se:

- for apresentado fora de prazo;

-o devedor, com dolo ou culpa grave, tiver fornecido por escrito, nos três anos anteriores à data do início do processo de insolvência, informações falsas ou incompletas sobre as suas circunstâncias económicas com vista à obtenção de crédito ou de subsídios de instituições públicas ou a fim de evitar pagamentos a instituições dessa natureza;

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VIDA JUDICIÁRIA - junho 2012 14

ao presente processo a ação intentada para apurar as aludidas responsabilida- des.

Durante todo o tempo em que perdu- rarem as negociações, fica impedida a instauração de quaisquer ações para cobrança de dívidas contra o deve- dor, suspendendo-se, quanto a este, as ações em curso com idêntica finali- dade, extinguindo-se aquelas logo que seja aprovado e homologado plano de recuperação, salvo quando este preveja a sua continuação.

Estando nomeado administrador judi- cial provisório, o devedor fica impedido de praticar atos de especial relevo, sem que previamente obtenha autorização para a realização da operação pretendi- da por parte do administrador judicial provisório. Esta autorização deve ser requerida por escrito pelo devedor ao administrador judicial provisório e con- cedida pela mesma forma.

A falta de resposta do administrador ju- dicial provisório ao pedido formulado pelo devedor corresponde a declaração de recusa de autorização para a realiza- ção do negócio pretendido.

Processos de insolvência anteriores:

Os processos de insolvência em que anteriormente haja sido requerida a

insolvência do devedor suspendem- -se desde que não tenha sido proferida sentença declaratória da insolvência, extinguindo-se logo que seja aprovado e homologado plano de recuperação.

Aprovação do plano de recuperação:

Concluindo-se as negociações com a aprovação unânime de plano de recu- peração conducente à revitalização do devedor, em que intervenham todos os seus credores, este deve ser assinado por todos, sendo de imediato remetido ao processo, para homologação ou re- cusa da mesma pelo juiz, acompanhado da documentação que comprova a sua aprovação, atestada pelo administrador judicial provisório nomeado, produzin- do tal plano de recuperação, em caso de homologação, de imediato, os seus efeitos.

O juiz decide se deve homologar o pla- no de recuperação ou recusar a sua homologação, nos 10 dias seguintes à receção da documentação respetiva.

Esta decisão do juiz vincula os credores, mesmo que não hajam participado nas negociações, e é notificada, publicitada e registada pela secretaria do tribunal.

Conclusão sem aprovação de plano de recuperação: Caso o devedor ou a maioria dos credores concluam anteci- padamente não ser possível alcançar acordo, ou caso seja ultrapassado o pra- zo para esse efeito, o processo negocial é encerrado, devendo o administrador judicial provisório comunicar tal facto ao processo, se possível, por meios ele- trónicos e publicá-lo no portal Citius.

Nos casos em que o devedor ainda não se encontre em situação de insolvência, o encerramento do processo especial de revitalização acarreta a extinção de todos os seus efeitos.

Estando o devedor já em situação de insolvência, o encerramento do pro- cesso de revitalização acarreta a insol- vência do devedor, devendo a mesma ser declarada pelo juiz no prazo de três dias úteis, contados a partir da receção pelo tribunal da comunicação que não é possível chegar a acordo.

O devedor pode terminar as negocia-

ções a todo o tempo, independente- mente de qualquer causa, devendo, para o efeito, comunicar tal pretensão ao administrador judicial provisório, a todos os seus credores e ao tribunal, por meio de carta registada.

O termo do processo especial de revi- talização nestes casos impede o deve- dor de recorrer ao mesmo pelo prazo de dois anos.

Havendo lista definitiva de créditos re- clamados, e sendo o processo especial de revitalização convertido em processo de insolvência o prazo de reclamação de créditos destina-se apenas à reclamação de créditos não reclamados.

Garantias: As garantias convenciona- das entre o devedor e os seus credores durante o processo especial de revitali- zação, com a finalidade de proporcionar àquele os necessários meios financeiros para o desenvolvimento da sua ativida- de, mantêm-se mesmo que, findo o pro- cesso, venha a ser declarada, no prazo de dois anos, a insolvência do devedor.

Os credores que, no decurso do proces- so, financiem a atividade do devedor disponibilizando-lhe capital para a sua revitalização gozam de privilégio credi- tório mobiliário geral, graduado antes do privilégio creditório mobiliário geral concedido aos trabalhadores.

Homologação de acordos extrajudi- ciais de recuperação de devedor: O processo especial de revitalização pode ainda iniciar-se pela apresentação pelo devedor de acordo extrajudicial de re- cuperação, assinado pelo devedor e por credores, sendo posteriomente nomea- do pelo juiz um administrador judicial provisório.

Neste caso a secretaria deve notificar os credores que constam da lista de crédi- tos relacionados pelo devedor da exis- tência do acordo, ficando este patente na secretaria do tribunal para consulta;

e de publicar no portal Citius a lista pro- visória de créditos.

Convertendo-se a lista de créditos em definitiva, o juiz procede, no prazo de 10 dias, à análise do acordo extrajudi- cial, devendo homologá-lo se respeitar a maioria exigida.

A exoneração do devedor importa a extinção de todos os créditos sobre a insolvência que ainda subsistam à data em que é concedida, sem exceção dos que não tenham sido reclamados e verificados.

A exoneração não abrange, porém:

- Os créditos por alimentos

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ATUALIDADeS

VIDA JUDICIÁRIA - junho 2012 15

N

o Conselho de Ministros de 21 de junho último foi aprovada uma proposta de lei que altera vários diplomas aplicáveis a trabalha- dores que exercem funções públicas e determina a aplicação a estes dos regi- mes regra dos feriados e do estatuto do trabalhador estudante previstos no Có- digo do Trabalho.

De acordo com o diploma ora aprovado, está previsto o aumento da mobilidade dos trabalhadores, adaptando as regras da mobilidade especial à administração local e estabelecendo as regras para a rescisão por mútuo acordo entre a en- tidade empregadora pública e o traba- lhador. Procede-se à uniformização das regras da remuneração do trabalho ex- traordinário e descanso compensatório com o Código do Trabalho, reduzindo o

número de feriados e aplicando o regi- me do trabalhador estudante de acordo com o estabelecido no Código do Tra- balho. As regras referentes à possibili- dade de cumulação de vencimentos por trabalhadores em funções públicas são alteradas e é reduzida a compensação por caducidade dos contratos a termo certo e a termo incerto.

Em relação às situações de faltas por do- ença dos trabalhadores nomeados e do regime de proteção social convergente, determina-se que os efeitos no direito a férias e respetivo subsídio são os esta- belecidos para os demais trabalhadores com contrato de trabalho.

Por último, determina-se a aplicação, aos trabalhadores nomeados, das re- gras sobre férias e faltas em vigor para os trabalhadores contratados.

Função pública – alteração de normas laborais

Formação

dos magistrados alterada

No Conselho de Ministros de 21 de junho, foi aprovada a redução para 12 meses do período de formação inicial do Curso normal de formação para as Magistraturas Judicial e do Ministério Público - via académica e do I e II Cursos normais de formação para a Magistratura dos Tribunais Administrativos e Fiscais.

O

diploma que regula a isenção de taxas moderadoras na saúde foi alterado, pelo DL nº 128/2012, de 21.6, passando a prever a isenção imediata nas situações de desempre- go involuntário, de modo a tornar pos- sível tal benefício em momento anterior à comprovação da situação de insufici- ência económica.

Assim, os desempregados com inscrição válida no centro de emprego auferindo subsídio de desemprego igual ou infe- rior a 1,5 vezes o indexante de apoios sociais (628,83 euros), que, em virtude de situação transitória ou de duração inferior a um ano, não tenham a possi- bilidade de comprovar a condição de insuficiência económica, podem pedir reconhecimento da isenção sempre que acedam às prestações de saúde, exibin- do documentação comprovativa a de- terminar pela Administração Central do Sistema de Saúde. Por seu lado, alterou-

-se o dispositivo referente ao transpor- te não urgente de doentes, no sentido de incluir o pagamento pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) do transporte de doentes na prestação de cuidados de saúde de forma prolongada e continu- ada, embora com comparticipação do utente no seu pagamento.

Aproveita-se ainda para integrar no di- ploma agora alterado o regime das con- traordenações já previsto na Lei do Or- çamento do Estado para 2012, de modo a tornar mais ágil e efetivo o processo de cobrança de taxas moderadoras em dívida, através da gestão centralizada de procedimentos.

De acordo com o regime atual de con- traordenações, constitui contraorde- nação, punível com coima, a utilização dos serviços de saúde pelos utentes sem pagamento da devida taxa moderadora, no prazo de 10 dias seguidos após noti- ficação para o efeito.

Taxas moderadoras na saúde.

Desempregados ficam imediatamente

isentos

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ATUALIDADeS

VIDA JUDICIÁRIA - junho 2012 16

Proteção da privacidade e tratamento de dados pessoais

A legislação existente em matéria de tratamento de dados pessoais e de proteção da privacidade no setor das comunicações eletrónicas será alvo das alterações já aprovadas em Conselho de Ministros de 21 de junho, cujo diploma procede à transposição de uma diretiva comunitária.

Estas alterações traduzem-se no reforço da segurança do processamento, na notificação obrigatória de violação de dados pessoais à Comissão Nacional de Proteção de Dados e aos titulares dos dados, na sujeição do armazenamento de dados ao consentimento pelo seu titular e no reforço das salvaguardas dos assinantes contra a invasão da sua privacidade por comunicações não solicitadas para fins de comercialização direta.

N

o Conselho de Ministros do pas- sado dia 21 de julho foram apro- vadas alterações ao Código Pe- nal, ao Código de Processo Penal e Có- digo da Execução das Penas e Medidas Privativas de Liberdade.

No que se refere ao Código Penal, as al- terações incidem sobre a pena acessó- ria de proibição de conduzir que passa a ser também aplicável aos crimes pra- ticados no exercício da condução em que existe violação dos bens jurídicos vida e integridade física. O regime pres- cricional passa a prever-se como causa de suspensão da prescrição do proce- dimento criminal a prolação de senten- ça condenatória em primeira instância, limitando-se o prazo máximo durante o qual o procedimento pode estar suspen- so por efeito da contumácia, tendo em conta a gravidade do crime cometido.

Passa de semipública para particular a natureza do crime de furto simples re- lativamente aos furtos ocorridos em es- tabelecimento comerciais que tenham por objeto coisas expostas para venda ao público, de valor diminuto e que se- jam recuperadas.

Em face do crescente aumento dos fur- tos de cobre, passam a qualificados os furtos de coisas que impeçam ou per- turbem a exploração e fornecimento ao público de eletricidade, gás e outros bens essenciais.

No que concerne ao Código de Proces-

so Penal, as alterações incidem, funda- mentalmente, sobre o âmbito do poder jurisdicional na aplicação de medidas de coação e sobre a possibilidade de, sal- vaguardados os direitos de defesa do arguido, designadamente o direito ao silêncio, as declarações que o arguido presta nas fases preliminares do proces- so serem utilizadas e valoradas na fase de julgamento.

Alarga-se a possibilidade de submissão a julgamento em processo sumário à generalidade dos crimes, com exceção da criminalidade altamente organizada, dos crimes contra a segurança do Estado e dos crimes relativos às violações de Di- reito Internacional Humanitário.

Uniformizam-se os prazos de interpo- sição e delimitando o âmbito de recur- so para o Supremo Tribunal de Justiça preservando a intervenção deste órgão para os casos de maior gravidade.

Por último, as alterações ao Código da Execução das Penas e Medidas Privativas de Liberdade vêm permitir que a pena acessória de expulsão seja antecipada através da diminuição do tempo efetivo de cumprimento da pena de prisão ne- cessário à execução da pena de expul- são. De referir que a execução da pena de expulsão poderá ocorrer mesmo em momento anterior, mediante parecer fundamentado e favorável do diretor da cadeia e da reinserção social, e com consentimento do condenado.

Alterações às leis penais aprovadas

em Conselho de Ministros

Referências

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