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FAMÍLIA DE ISABEL: mudança de assunto na família, emergindo a saúde

No documento wagnerjaernevaysilveira (páginas 68-70)

Isabel é uma senhora de 67 anos que está há pouco mais de nove meses em tratamento hemodialítico. Faz uso de CDL em veia subclávia direita como acesso venoso para a terapêutica. Ela disse que antes de iniciar a TRS fazia acompanhamento no programa hiperdia da ESF do seu bairro, porém não recebeu informações por parte dos profissionais sobre a DRC. Não chegou a fazer o tratamento conservador. Como causa etiológica do acometimento renal, ela refere à HA. Dona Isabel, convive ainda com a DM e hepatite C. Diante do exposto, classificou suas condições de saúde e qualidade de vida como ruim.

Ela é da raça negra, tem cabelos crespos e curtos, com olhos castanhos. Sua estatura é baixa, aproximadamente 1,50m de altura e demonstra estar acima do peso ideal. Apresenta sinais da idade avançada como alteração de postura e andar lento. Dona Isabel relembra que não completou o ensino médio. Falou que trabalhava como doméstica, hoje refere que é aposentada. Diz ser evangélica.

Dona Isabel é casada, mãe de duas filhas, um filho e avó de duas netas. Ela mora com o marido em uma casa em um bairro da periferia da cidade. Levei algum tempo para encontrar sua casa. Ao chegar na rua e buscar por informações, parei diante de uma mulher, que estava sentada com sua filha em uma cadeira colocada no passeio da rua, logo em frente a um bar. Perguntei se ela conhecia a referida pessoa e, por coincidência, ela era a filha da Isabel, cujo nome é Rosária. Apresentei-me a filha, que se levantou da cadeira e em companhia da filha direcionou-me até a casa da mãe.

As filhas moram no mesmo terreno, uma delas ao lado da casa da mãe e a outra em cima. Na frente da moradia há um pequeno bar da família, onde seu esposo trabalha. Ele é idoso e dependente de cadeira de rodas. Segundo a esposa, por causa de uma paraplegia secundária a um problema na coluna. Ele não participou da entrevista porque estava no bar. A família colocou sua preocupação em relação ao estado de saúde dele, principalmente em relação ao alcoolismo. O bar, segundo eles, funciona como um facilitador.

Poucos minutos passaram e a Dona Isabel chegou na sala acompanhada da filha. Durante esse tempo, a pequena filha de Rosária permaneceu no local.

Aproveitei para perguntar o nome dela, sua idade e o que ela gostava de fazer. Parecia que ela estava feliz com a minha presença.

Ao chegar, Dona Isabel sentou-se no outro sofá, enquanto a Rosária foi chamar pelo seu esposo e pela irmã. Isabel acordou um pouco confusa, desorientada no tempo. Disse que chegou em casa da HD e deitou-se para descansar e, pelo jeito teve um sono profundo.

Brevemente Luciano, esposo de Rosária chega e passado algum tempo a irmã Rose com sua filhinha, também comparecem para o encontro.

Rosária é uma mulher de 31 anos. É da raça negra, de olhos castanhos, tem cabelos crespos e curtos. Apresenta ter 1,60m de altura e sobrepeso ou obesidade. Diz ser evangélica, assim como todos da família. Relata ser do lar e não ter completado o ensino médio. Refere que agora está “presa” por causa do cuidado com a filha e com a mãe. Rosária nega comorbidades e fazer acompanhamento com o profissional de saúde.

O esposo, Luciano, é um homem negro, alto e magro. Negou comorbidades e não compartilha, de forma intensa, dos hábitos alimentares da família que será comentado adiante.

A outra filha de Dona Isabel é Rose. Essa é uma mulher que apesar de jovem já convive com as doenças crônicas, como HA e DM. Cursou até o ensino médio. Diz ser salgadeira, mas que no momento está desempregada. Rose é casada com Moisés, um homem claro, de cabelos castanhos, alto, abdome globoso, que já convive com o DM.

A visita à família da Dona Isabel foi interessante, pois o encontro representou a dificuldade de fazer uma pesquisa enquanto profissional de saúde e não se envolver com a história da família, principalmente, ao deparar-se com o tocar do processo saúde e doença.

Durante o encontro enalteceu o descuido com a saúde, em particular com a alimentação, exercícios físicos e até com a doença já instalada.

A visita transformou-se em um bate papo familiar, envolvendo todas as pessoas presentes. É válido relembrar que no início do encontro só estavam a Dona Isabel, sua filha Rosária, o genro Luciano e a netinha Sophia. Depois vieram à outra filha Rose com a filha Jessica, por fim, chegou o outro genro Moisés.

A família transformou aquele momento em uma oportunidade de falar da saúde, assim colocaram suas experiências e dificuldades. Chegaram a ter

momentos de conflitos, de apontar os erros uns dos outros, mas também de perceber os seus.

Reforça-se que a alimentação foi um ponto crítico. Os maus hábitos alimentares prevalecem e a falta de atividade física é outra realidade. O excesso de peso aparecendo tanto nos adultos quanto nas crianças, que aprendem nesse cenário a consumir, de maneira intensiva, hamburguês, sanduíches, doces e refrigerantes.

Destacam-se as negligências referentes às doenças instaladas como a obesidade, a DM e a hipertensão arterial a partir da não adesão à terapêutica por parte dos familiares.

Essa realidade coloca em evidências as lacunas existenstes no processo de trabalho dos profissionais de saúde na abordagem a essas pessoas, que permanecem sem um tratamento adequado e não conseguem no sistema de saúde usufruir do conceito de integralidade.

O encontro terminou constituindo-se em um grupo de educação em saúde necessário para aquelas pessoas. Acredito que várias questões foram levadas pela família para reflexão, principalmente da necessidade de enfrentarem unidos os problemas, especialmente, relacionados com o estilo de vida. Por fim, registra-se colocação do Moisés: “foi à primeira vez que a família se reuniu para falar da saúde

e não para planejar o que iria fazer para comer”.

4.7 FAMÍLIA DE TÂNIA: vestígios da doença renal crônica e do tratamento

No documento wagnerjaernevaysilveira (páginas 68-70)