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FAMÍLIA DE SÍLVIO: autoestima e autoconceito comprometidos após a

No documento wagnerjaernevaysilveira (páginas 65-68)

Minha trajetória para visitar a família do Sílvio começou uma semana antes. Havia sido acordado com a família o encontro em uma sexta-feira, às 19h. Saí de minha casa guiado pelas informações feitas pelo Sílvio. Entretanto, essas informações não abrangeram todo o percusso que deveria ser feito por mim para chegar à residência dele . Assim, passei por várias ruas e cada vez havia a necessidade de prosseguir. Ressalto que ele reside em um bairro considerado “perigoso” da cidade. Naquela noite escura, observei a presença de vários jovens e adultos nas ruas. Tinha a impressão que todos olhavam para mim com curiosidade, fazendo com que me sentisse receoso. Cheguei em uma parte do bairro que estava sem energia elétrica. Havia uma concentração maior de pessoas naquele local, próximo a uma fogueira montada no asfalto.

A visibilidade de dentro do carro era ruim, não dava para enxergar os números das casas, bem como os nomes das ruas, e por medo de pedir informações às pessoas, contornei o carro e começei a fazer o caminho inverso. Desci o morro até o local que tinha energia elétrica. Ali, telefonei para o Sílvio, tentei os três números de telefone que detinha, porém não tive sucesso. Isso serviu com uma “válvula de impulsão” e rapidamente desci o morro. Senti alívio somente depois de chegar em uma avenida mais movimentada da cidade, já fora do bairro.

No outro dia pela manhã, tive êxito ao tentar falar com a família. A esposa do Sílvio atendeu ao telefone e a situação foi explicada para ela. A visita foi reagendada.

Apesar do receio semelhante, através das informações encontrei a casa do Sílvio. Ele estava no portão com um amigo. Sílvio me direcionou até a sua casa. Para chegar lá percorri um corredor de uns vinte passos, depois desci alguns degraus de escada para chegar à porta da sala.

Foi na pequena sala da casa que a entrevista aconteceu. Fiquei sentado no sofá de dois lugares enquanto a esposa do Sílvio ficou sentada em uma cadeira, assim como o marido, porém distantes um do outro. No colo da mãe estava a filha mais nova do casal. Ainda na sala, havia a cunhada do Sílvio que não participou da pesquisa, mas que revezava com a mãe o cuidado da criança. No momento da visita não estavam presentes os outros dois filhos do casal, um de 12 e o outro de 13 anos.

Sílvio tem 43 anos, é negro, de olhos castanhos, cabelos crespos e curtos. Ele tem aproximadamente 1,70m de altura e aparenta normalidade em relação ao IMC. Comentou que estudou até o ensino médio. Refere ser evangélico. Falou que é cozinheiro industrial, porém por causa de sua situação de saúde não está trabalhando.

Sílvio comentou que realizou dois anos de tratamento conservador. Está há cinco meses em TRS, na modalidade de HD. Utiliza o CDL inserido em veia jugular direita como acesso venoso para o tratamento hemodialítico. Relata perda da visão direita e que já tem a acuidade visual prejudicada na outra vista. Contudo, ele considera que seu estado de saúde está melhorando, mas a presença do quadro de anemia o deixa cansado, dificultando a realização das tarefas do dia-a-dia. Entretanto, classifica a sua situação de saúde, assim como sua qualidade de vida como boa.

A esposa Elza é uma mulher de 33 anos. É da raça negra, tem aproximadamente 1,60m de altura e aparenta normalidade em seu IMC. Possui cabelos crespos, negros e curtos. Refere ser evangélica. Estudou até o ensino médio. Relata ser empregada doméstica e que, atualmente, realiza a limpeza de uma loja de sapatos no centro da cidade. Não possui carteira assinada. Negou a presença de patologias.

Elza transparece preocupação e receio em relação às condições de saúde do esposo. A partir disso, a esposa coloca-o como uma pessoa que precisa de cuidados e que não pode contar com ele. Por isso, ela enxerga o transplante renal como uma solução para os problemas e continuidade da vida.

A família vivencia dificuldades financeiras. A mulher se esforça e o Sílvio faz salgado para vender, mas a renda é incerta e pequena, mesmo com o recebimento do auxílio doença. Eles colocam a dificuldade para “manter o pão do dia-a-dia”, assim como as outras refeições.

Sílvio manifesta afinidade maior com seus dois filhos mais novos. Seu primeiro filho, de 13 anos, parece, baseado na fala do Sílvio, que é menos compreensível com o pai, fugindo da obediência.

No final do encontro, seu filho Victor chegou da rua, um menino de 12 anos, moreno, magro, com cara de “sapeca.” Vestia bermuda e estava sem camisa. Trazia com ele uma caixa de isopor, na qual carregava os salgadinhos feitos pelo pai para vender e, consequentemente ajudar na renda da família. O pai perguntou para o filho como foram às vendas e o filho responde que não foram boas. O Sílvio colocou que uma parcela da renda provenientes dos sagados ele dá para seu filho.

Em relação ao casal percebe-se um distanciamento no relacionamento homem e mulher. Percebe-se em Sílvio a autoestima prejudicada pela doença, culminando com a alteração da referência de liderança familiar.

A família disse que precisa de mais “conhecimentos” no contexto da DRC e meios de cuidado com a saúde. Entretanto, Sílvio demonstra estar se adaptando à doença e busca um novo estilo de vida.

4.6 FAMÍLIA DE ISABEL: mudança de assunto na família, emergindo a saúde como

No documento wagnerjaernevaysilveira (páginas 65-68)