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4.5 A rede ferroviária como indutora do desenvolvimento econômico: o espaço político.

4.5.2 A Família Nogueira

Uma das personalidades importantes e de influencia na região de Jaguariúna foi o Barão de Ataliba Nogueira, atuante empresário do ramo de atividades ligadas ao café e seus desdobramentos.

A família Nogueira, a qual o Barão de Ataliba Nogueira pertence, pode ser considerada como exemplo dos grandes grupos econômicos familiares do Estado de São Paulo, com participação na formação de vilas e distritos em importantes municípios, contribuindo com o seu desenvolvimento econômico através das atividades ligadas inicialmente à produção e exportação de açúcar39.

Esta ação empreendedora e geradora de uma transformação, baseada na ocupação territorial através de uma determinada atividade, seja ela política, social ou econômica pode ser entendida como a busca da interação com o meio, conforme Santos (1996) afirma:

[...] a configuração espacial é dada pela obra dos homens, estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas, cidades etc.; verdadeiras próteses. Cria-se uma configuração territorial que é dada cada vez mais como o resultado de uma produção histórica e tende a uma negação da natureza natural, substituindo-a por uma natureza inteiramente humanizada.

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Disponível em: <http:// www.cmef.com.br>. Acessado em 09/11/2011

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RAMOS,P. & PIACENTE,F.J. família Nogueira: Do acesso á terra no Regime de Sesmarias a produtores e comerciantes de açúcar e café em Campinas/SP. Disponível em: http://www.economia.unam.mx/cladhe/registro/ponencia/382_abstract.doc .

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A afirmação de Milton Santos dá a dimensão sobre o “sistema de ocupação territorial” no sentido de que não se devem negar as várias fases, etapas ou formas de como uma determinada área ou região foi transformada através da ação do homem, ou seja, deve-se considerar para o entendimento de um determinado local ou território, as sucessivas ações de ocupação por apropriação de grupos humanos em função dos mais diversos interesses, e a conseqüente transformação do espaço.

A fixação do homem à terra está necessariamente atrelada às atividades de subsistência, dela resultando outros tipos de relações como as de caráter econômico, político e cultural.

Desta forma a ação do homem faz com que ele adapte o meio natural à sua forma de ocupação em função da disponibilidade tecnológica do momento e de suas condições de apreensão da tal tecnologia.

Assim o tipo de ocupação gerada pelo sistema de sesmarias e que tinha por objetivo, em linhas gerais, a ocupação pela coroa portuguesa das áreas inexploradas do território nacional, foi utilizada também na região de Jaguariúna.

Tais concessões distribuídas aos “homens de bem”, considerados entre pessoas com disponibilidade de recursos financeiros e de pessoal para tal empreendimento, fez com que uma elite agrária fosse se estabelecendo.

Muitas das áreas produtivas originadas das sesmarias formaram-se em função de subdivisões de glebas, ocorridas através de arranjos matrimoniais, heranças e compadrios, conforme verificado em Argollo Ferrão (2004), fortalecendo os vínculos destes grupos.

Da mesma forma, que muitas destas transformações fundiárias da região de Campinas, além das heranças, aconteceram também em função de concessões, dotes, vendas e compras de parcelas, que foram fragmentando ou acrescentando

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propriedades, originando engenhos de açúcar ou transformando-se em fazendas de café.

Para que se situe adequadamente a família Nogueira em relação à região, é necessário salientar que se trata de uma das primeiras famílias a se estabelecer no atual município de Campinas, onde se constituíram em tradicionais proprietários de terra.

A relação da família Nogueira com Jaguariúna também se estabelece através desta rede social familiar, que encontrará o elo de ligação no Barão de Ataliba Nogueira40; sua esposa, a Baronesa de Ataliba Nogueira, Srª. Luisa Xavier de Andrade era neta de Antonio Correa Barbosa, cuja sesmaria originou conforme visto anteriormente, a então Fazenda Jaguari, herança de sua avó a Srª Úrsula Franco de Andrade.

Este é um claro e explicito exemplo da influencia das relações familiares na manutenção do latifúndio.

Outro membro da família Nogueira, com destaque na região foi o Guarda-Mor Manuel Teixeira Vilela, filho de Domingos Teixeira Vilela, produtor e comerciante de açúcar, possuindo várias propriedades agrícolas na região de confluência dos rios Jaguari e Atibaia entre elas a Fazenda Salto Grande, Morro Alto, e os engenhos Cachoeira e Saltinho(RAMOS & PIACENTE, 2011, p.4).

Os fatos expõem uma estreita relação entre as regiões de Campinas e Jaguariúna, através das atividades econômicas das quais participavam este ramo da família Nogueira, ampliando desta forma suas áreas de atuação; podendo-se inferir em uma continuidade territorial entre as regiões, baseada na expansão da atividade

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O Barão de Ataliba Nogueira descende de Thomé Rodrigues Nogueira do Ó, português de Funchal, mudou-se para o Brasil em 1700, foi bandeirante e fundou a cidade de Baependi [MG]; seu filho Domingos Teixeira Vilela e sua esposa Ângela Isabel Nogueira do Prado e filhos, constituíram-se na primeira família citada do município de Campinas em 1774.

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agrícola latifundiária por este grupo específico, ampliando sobremaneira as extensões territoriais de seus domínios.

Sobre esta questão da ampliação dos territórios através das atividades de comunidades humanas, vale ressaltar o que afirma Santos (1996):

[...] os movimentos da sociedade atribuindo novas funções às formas geográficas transformam a organização do espaço, criam novas situações de equilíbrio e ao mesmo tempo novos pontos de partida para um novo movimento.

Nesta senda onde se vinculam poder econômico à expansão territorial, ressalta- se a figura de Antonio Manuel Teixeira, filho de Manuel Teixeira Vilela, como um dos homens mais ricos da região ainda no primeiro quartel do século XIX, possuindo 600 escravos em suas seis fazendas, inicialmente como produtor de açúcar, depois, exportador de café (RAMOS & PIACENTE, 2011).

Referente à Jaguariúna, o Barão de Ataliba Nogueira, personificou a pujança e o avanço tecnológico e econômico do país entre 1870 a 1890, alicerçados no binômio: ciência e tecnologia (ARGOLLO FERRÃO, 2004).

Figura 22 –Barão de Ataliba Nogueira ás margens do rio Jaguari.

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Através das iniciativas empresariais que requeriam no momento a economia cafeeira, dando continuidade a expansão da “onda verde” pelo interior paulista, foi um dos fundadores da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação, sendo seu presidente no decurso de dezoito anos; foi também diretor e presidente da Companhia Mac Hardy41 e do Banco dos Lavradores (CAMPOS JR., 1952, p. 269-270).

Tais ações traduzem a transformação imperiosa da empresa agrícola escravocrata, dinamizando e inserindo-a no contexto da moderna economia capitalista vigente (CAMPOS JR., 1952, p. 267).

As empresas MacHardy, Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e o Banco dos Lavradores são exemplos típicos de empresas, que ditavam o ritmo do crescimento no país na segunda metade do século XIX, associando a tecnologia ao transporte na geração e diversificação do capital.

A implantação da ferrovia no território nacional foi um marco decisivo nos rumos econômicos do país, cuja economia de exportação embasada na lavoura cafeeira carecia de ações emergenciais no sistema de transporte, tanto no que se referia às rotas comerciais facilitando o escoamento da produção, como através da velocidade que tal tipo de transporte imprimiu possibilitando aos cafeicultores obterem melhores preços em sua produção auferindo-lhes os lucros esperados.

Para se entender o contexto deste tipo de ação empreendedora, cabe salientar uma outra figura relacionada ao segundo Império: o Conselheiro Antonio Francisco de Paula Souza, Ministro da Agricultura (entre 1865 a 1866).

Segundo Campos (2010), o Conselheiro já percebia a precária situação das redes de infra-estrutura e de comunicação, expostas pela Guerra do Paraguai, onde

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Companhia Mac Hardy: Manufatureira, importadora e fundição de ferro e bronze. Indústria fundada em 1875 em Campinas fabricava principalmente máquinas agrícolas para beneficiamento de café, algodão e milho; motores a vapor; caldeiras e turbinas. In: CAMILLO, Ema E.R. Guia Histórico da indústria nascente em Campinas (1850-1887), pp.107-117, Campinas [SP]; mercado das Letras, Centro de Memória, Unicamp, 1998.

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urgiam as mudanças nas bases da produção, da política e da sociedade em relação ao estado de atraso que se encontrava o país frente nações desenvolvidas.

O Conselheiro considerava que deveria ser no setor ferroviário e industrial, os investimentos maiores empregados, tendo ele, a percepção da realidade das cidades brasileiras em especial, as paulistas.

Partilhava deste mesmo entusiasmo, e visão pragmática, o presidente da província de São Paulo, Saldanha Marinho, idealizador e empreendedor da Cia. Paulista de Estradas de Ferro que no relatório de 1868, incentivava os fazendeiros e capitalistas à emergente iniciativa do prolongamento de tal linha como a única forma de desonerar a lavoura, aumentando seu valor líquido, através de um sistema de transporte mais fácil e barato.

É, portanto, dentro destes preceitos de incentivo à iniciativa privada, e devido à quase total inoperância do governo Imperial acerca dos assuntos de infra-estrutura nacional, que se encaixa o Barão de Ataliba Nogueira, formando assim um grupo coeso de agentes transformadores da sociedade em todas as suas dimensões.

Estas ações então, se fizeram presentes inicialmente na região do oeste paulista, onde, nos dizeres de Saldanha Marinho se encontrava “a verdadeira uberdade de solo e lavoura em seu estado mais considerável” (CAMPOS, 2010).

Desta forma, o que possibilitou, portanto, a membros da família Nogueira aplicação de investimentos econômicos e de infra-estrutura, inclusive no transporte ferroviário durante a economia cafeeira, foi o enriquecimento com a atuação na lavoura de cana de açúcar, através do capital acumulado das minas (RAMOS & PIACENTE, 2011).

Já figuravam em levantamento estatístico, entre os anos de 1835 e 1836, quando do início da atividade cafeeira na região de Campinas membros da família

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Nogueira, entre eles: José Teixeira Nogueira de Camargo, Major Luciano Teixeira Nogueira e Domingos Teixeira Nogueira.

A fazenda Santa Úrsula, de propriedade do Barão Ataliba Nogueira, acompanha esta transformação econômica da substituição da lavoura de cana de açúcar pelo café. (BRUNO, ZIGGIATTI, PIMENTA, 2007).