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CAPÍTULO I Resgatando a História da Família

I.3. Famílias Monoparentais

A existência de famílias chefiadas por mulheres não é uma novidade. No Brasil e no mundo, principalmente nas camadas mais pobres, conhecem uma história secular. Entretanto, estas famílias — e o foco dado a elas — eram denominadas de grupos domésticos matrifocais. Woortmann & Woortman (2004) acreditam que o que é agora novo “é a existência de grupos domésticos monoparentais (e seu crescimento proporcional) nas camadas médias brasileiras”, formadas principalmente pela díade materna com a presença ou não de parentes e agregados. (WOORTMANN & WOORTMAN, 2004, p. 2 e 40).

Conceito de família monoparental.

Conceituar o significado de famílias monoparentais parece bastante simples — o que é complexo, neste contexto, é a história e a necessidade que cada família apresenta. Além disso, é necessário compreender que família enquanto

modelo familiar é um conceito fixo; o que temos, ao falar de família monoparental,

é um grupo doméstico que se organiza a partir de uma certa composição familiar.

A família, para a maioria dos filhos, continua sendo os pais e os irmãos, pois na maioria dos casos a relação pai-filho é preservada. O que não vai mais existir é a co-residência paterna.

Família monoparental é um grupo doméstico formado apenas pela díade mãe-filho (díade materna) ou pai-filho (díade paterna). Este grupo se forma após o divórcio ou a separação do antigo casal, após a morte de um dos cônjuges, ou no caso das mães solteiras.

Desde um ponto de vista conceitual, a noção de monoparentalidade se ajusta melhor ao conceito de grupo doméstico que de família, mesmo porque a expressão ‘parental’ se refere à relação de filiação e não de conjugalidade. Por outro lado, quando aplicada à chamada díade materna, ela se refere,...mais a momentos conjunturais que a tipos de família. Contudo, um dos desenvolvimentos recentes nas relações de gênero em camadas médias é o que diz respeito a mulheres que desejam ter filhos mas não maridos, ou companheiros residentes. Monoparentalidade, pois, tem significados distintos em diferentes contextos. (WOORTMANN & WOORTMAN, 2004, p. 84).

CAPÍTULO II – Que família é esta que estamos

pesquisando?

“Amor não tem que se acabar Eu quero e sei que vou ficar Até o fim, eu vou te amar

Até que a vida em mim resolva se apagar” (GILBERTO GIL – Amor Até o Fim).

A família vem apresentando mudanças significativas no que diz respeito à sua estrutura. Desde a década de sessenta, com a industrialização e a urbanização, a mulher conquistou um espaço na sociedade de que antes não dispunha. Na atualidade, inicio deste século, é cada vez mais comum encontrarmos lares chefiados por mulheres, principalmente nas camadas pobres.

A sociedade, que antes separava o público do privado (com a mulher inserida no âmbito privado, cumprindo o papel de dona-de-casa, enquanto o homem recebia o papel de provedor, trabalhando fora para que a casa tivesse tudo o que fosse necessário para o bem estar material do lar), conhece transformações, pois com o movimento feminista as mulheres saem às ruas para protestar e lutar por direitos iguais, transformando essa realidade. A família dita moderna sofre uma ruptura e novas perspectivas surgem para a vida conjugal (VAITSMAN, 1994).

Com os ganhos e as perdas sofridas com o movimento feminista, surge um novo espaço para a mulher na sociedade, na qual ganha autonomia. Ela sai de

casa, vai para o mercado de trabalho, procura se qualificar e ganhar independência financeira e individual. Ela tem controle sobre seu corpo e seus desejos (anticoncepcional, camisinha, aborto etc.). A autonomia e individualização fazem com que os casamentos ocorram mais tardiamente, e o desejo de filhos é postergado em virtude da carreira.

Em 1977, sancionada a lei do divórcio, altera-se a relação marido/mulher. O casamento, que havia sido constituído para durar até o final da vida dos cônjuges, não é mais usual. Com o final do amor o casamento, que era indissolúvel, acaba e o casal se separa; os bens são partilhados; os filhos vão para a casa de um dos pais; a mulher, se não estava inserida, vai para o mercado de trabalho, buscando uma colocação para manter sua casa e sua prole.

No decorrer das décadas a família e, em especial aqui, as famílias e a população de camada média, se reorganizaram, surgindo desta maneira novas concepções de família. Como Vaitzman (1994) indica,

Além de casais de homossexuais, conquistaram seu espaço as pessoas que viviam sós, livres do estigma de solteirões, as mães solteiras e os descasados de ambos os sexos que, juntamente com o exercício simultâneo de alguma atividade remunerada, assumiram a criação dos filhos sem a presença de um parceiro (VAITZMAN, 1994, p.13).

A autora ainda explica que, desta maneira, a família acabou se tornado mais igualitária e as atribuições, antes bem definidas, acabaram por se diluir. O fato é que as mulheres tiveram um papel fundamental nesta mudança, pois foi justamente a busca por novas perspectivas e realizações que fez com que a sociedade tivesse que se reorganizar. Os conflitos de valores igualitários e a individualização fizeram com que a família sofresse uma crise e acabasse por se transformar.

A família sobre a qual discorreremos nesta dissertação é aquela contemporânea em uma de suas formas de organização. É a família monoparental, organizada a partir de uma única díade, a mãe e filho, ficando claro que poderia se organizar através da díade pai e filho, da qual não trataremos.

Para especificar ainda mais qual seria o grupo trabalhado optamos pelas mães separadas ou divorciadas, exclusivamente pelo fato de que representam uma grande parcela da população. Poderiam entrar no grupo ainda as mães solteiras; as viúvas ou até mesmo aquelas mulheres que não são casadas, têm família, mas não dividem o mesmo teto com o companheiro. Podemos avaliar a importância do fato através da apresentação de dados obtidos junto ao IBGE.