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Vivendo o processo da separação A vida social

CAPÍTULO III – Entendendo a Pesquisa e seu Referencial Teórico.

IV.4. Vivendo o processo da separação A vida social

A questão da retomada da vida social ocorre para algumas mulheres. O que conta não é o fato de terem estado casadas ou não, mas com quem estavam e como caminhavam diante do problema. Silvia sempre gostou de eventos culturais e de arte; nunca teve a companhia do marido para freqüentá-los, mas o fato não a prendeu em casa. Após a separação passou a sair mais e a se dedicar a outras coisas.

(...) Por não ter, não estar mais casada. Ai que eu sai muito mais de casa. Eu já tinha mil compromissos. Mas agora então, desde que me separei me dedico a várias causas assim, e sem preocupação nenhuma. Não tenho que me reportar a ninguém.

Elena é uma mulher muito sociável e transformava a vida do casal. Diante da separação manteve sua vida social.

Ah ficou melhor viu (risos). Não posso me queixar.

(...) não ficou melhor, ficou igual talvez. Melhor porque, ela mudou e mudou para melhor, vamos dizer assim. Mas eu também não posso dizer que tenha mudado para melhor porque eu não posso dizer como seria se eu tivesse continuado casada. Que na realidade a minha vida social sempre foi ditada por mim. Eu que sou uma pessoa extremamente sociável. Eu lembro disso, todas as coisas em casa, todas as festas... Toda a, a receptividade que eu tinha, dos amigos, da família, até da família dele, era eu que promovia.

A minha vida continuou aqui: com os meus amigos, minhas coisas. A minha vida social não teve alteração.

Joana viveu atritos diante do fato de estar casada e não poder sair, pois isso gerava conflitos na relação do casal. Depois da separação retomou a sua vida social. Ela se sentia uma pessoa bem mais velha por viver reclusa, apesar de ter pouco mais de vinte anos na época. Esse fato gerou um peso muito grande na relação do casal.

Ai, melhorou muito (risos), depois da separação. Vários motivos, primeiro porque o B. era um velho. Chato. Programa de sábado a noite era assistir Zorra Total, eu queria morrer!! Ai credo, que horror! Então eu comecei a sair mais por mim [depois da separação], e como o G. ta sempre em São Paulo nos finais de semana, então na verdade, ficou pra mim muito mais fácil. Então eu voltei a vida social depois da separação. (...) Minha vida social é cem por cento.

Entrevistadora: Só teve ganhos?

Só ganhos (risos). Nem uma perda. Mas não porque eu era casada. Porque eu era casada com ele. Acho que cada relacionamento é um relacionamento. Porque ele era assim: não gostava de sair, não gostava de passear, não gostava de fazer nada, só ficar em casa assistindo tv, ponto.

Questionada sobre sua reação por ter sido casada com alguém tão diferente dela, Joana respondeu:

É. Eu tentei questionar muito, mas eu não tinha esta abertura com ele, de questionar e tal. É uma coisa que não acontecia muito. As poucas vezes que eu tentei foi tipo assim: ‘Vamos sair, eu quero’. Foram brigas homéricas. Então eu fui me condicionando de que eu não podia fazer aquilo e foi um dos motivos pelos quais a relação acabou né? Eu tinha vinte e dois anos e me sentia uma velha de quarenta. Não pode. Não dá. Não faz bem isso.

Rose percebe que obteve ganhos em sua vida social, atribuindo-lhe os valores da retomada da liberdade e do sossego. Acha que o fato de o ex-marido

não estar mais fisicamente presente em casa lhe deu quietude, o que é positivo. A contrapartida é não poder sair por não ter com quem deixar os filhos.

(...) Boas, que eu acho que não tem preço. Que eu acho que não abro mão, é realmente a minha liberdade. É o meu sossego. Não estar do lado de uma pessoa que você não quer ficar, entendeu? Você não suporta mais. Então, essa liberdade, de poder dormir a hora que você quer, de poder, entre aspas, porque você tem compromissos, mas assim, que não tem uma pessoa te perturbando. Isso pra mim é coisa que é assim, é fundamental. Sabe? É... então foi muito bom.

(...) antes de me separar, às vezes, por exemplo, eu ia mais ao cinema. Não só por uma questão financeira, porque apesar do meu marido não colaborar, mas ele estava em casa e a responsabilidade era dele. (...) agora, eu parei, eu saia menos ainda depois que eu me separei, porque eu não podia. Não tinha com quem deixar filho. (...) Por exemplo, se eu vou numa festa, vou deixar os meninos em casa sozinhos? Se ele tava em casa, pelo menos tinha um guarda lá, alguém em casa. Agora não dá. (...) eu não saiu muito. Não tenho uma vida social assim. (...) dentro do possível, eu vou com os meninos, assim né? Mas sem grandes agitos. Não arrumei outro parceiro, nunca tive, nunca encontrei nem um namorado. Nada. Ah, e também acho que é uma coisa, é, difícil. Acho que hoje não tem mesmo homem na praça. A verdade é essa. Acho que tem muito mais mulher do que homem, né? Não tem qualidade, né? Tem quantidade de homem, mas qualidade a gente não tem. Então, nunca, nunca apareceu nem um relacionamento, nada. E vivo minha vida assim, pros filhos, pra casa, trabalho. Minha vida é essa. Eu não paro. Eu vou dormir à uma hora da manhã todo dia e acordo às seis horas da manhã todo dia. É no mínimo uma hora da manhã. É porque é muita responsabilidade, é muito detalhe, é muita coisa. Eu sou muito assim, controladora. Tudo eu tenho que ver, então é muito cansativo.

Nem tenho tempo de sair também. Nem tenho dinheiro. Nem tenho condições. Nem tenho tempo, nem nada. Então é isso.