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Fase de Observação: Processo de Trabalho em Equipe na Enfermagem

Após o período de delineamento do motivo investigativo e aprofundamento bibliográfico acerca do tema processo de trabalho e dimensão da subjetividade, passei

para a fase de observação da realidade das relações interpessoais nas equipes de enfermagem, visando atender ao preconizado por Leontiev (1978), que diz que o foco do funcionamento mental do ser humano corresponde aos processos psicológicos superiores e que esses processos envolvem, necessariamente, relações entre a pessoa e o mundo, que não são diretas, mas mediadas pela cultura e ocorrem num sistema de relações sociais e de vida social, no qual o trabalho tem uma posição central. A interação social é fundamental para o desenvolvimento das formas de atividade de cada grupo cultural, pois a pessoa internaliza os elementos de sua cultura, construindo seu universo intra-psicológico, a partir do mundo externo. Em geral, o indivíduo não o manifesta em seu discurso durante uma entrevista, muitas vezes por serem inconscientes, porém pode expressá-lo em suas ações.

Desta forma, acredito que mediante a técnica de observação simples foi possível um contato direto e uma visão mais ampla das relações culturais e sociais da equipe de enfermagem. Segundo Beck et al. (2001), é um meio do investigador entrar em contato com a realidade a ser estudada, olhar para ela e proceder ao registro de todas as manifestações durante o processo das relações interpessoais presentes na equipe de enfermagem, ou seja, descrição da situação, do ambiente, dos sujeitos, das ações, dos conflitos, das ocorrências, das comunicações verbais e não verbais, das atitudes e comportamentos no desenrolar do cotidiano e, ainda, favorece o processo de reflexão provenientes do próprio ato de observar.

Três equipes de enfermagem foram observadas, no período de outubro a dezembro de 2002, uma de cada vez. A observação ocorreu durante períodos intermitentes de duas horas, e registros subseqüentes, em diferentes turnos de trabalho, totalizando 35 horas de observação. Por conveniência, foram selecionadas duas instituições hospitalares ligadas a uma universidade federal da região sul do Brasil e um posto de atenção primária da rede básica municipal de saúde. Como já foi dito anteriormente, todas as instituições servem como campo de estágio para os acadêmicos de enfermagem, e optei pela inclusão de um posto de atenção primária, para averiguar a realidade da equipe de enfermagem nesse local e identificar se haveria diferenças entre uma equipe da rede hospitalar e outra equipe da rede de atenção primária para construção do Modelo para o trabalho em equipe na enfermagem, tal diferença não foi

detectada ou evidenciada. Para realização da pesquisa foi solicitado (anexo 03), previamente, autorização as comissões de ética dos respectivos serviços de saúde.

Mediante a aprovação para realização da observação, primeiramente foi realizado um contato inicial com as enfermeiras12 das unidades, selecionadas pelas chefias do serviço de enfermagem das instituições de saúde. Mediante combinação prévia, foi realizada apresentação e esclarecimento acerca da pesquisa, para as enfermeiras. Em seguida, por meio de negociação, realizamos o agendamento para posterior apresentação da proposta aos demais membros da equipe de enfermagem, equipe multiprofissional e aprazamento dos dias e horários para realização da observação.

Após o consentimento livre e esclarecido (anexo 04) ser assinado pelos participantes, durante o contato inicial com a equipe, respeitando o aprazamento determinado, foi realizada uma observação simples, por acreditar ser esse o modo mais indicado na abordagem construtivista, durante os meses de outubro, novembro e dezembro de 2002. Essa observação visou apontar os aspectos relacionais visíveis, presentes na equipe de enfermagem, de forma a conhecer a realidade sócio-cultural das equipes de enfermagem e a subsidiar a terceira fase da pesquisa. A investigadora observou e anotou de forma espontânea tudo o que lhe pareceu conveniente em um diário de campo, em conformidade com o objetivo da pesquisa. A observação auxiliou na descrição da contextualização do processo de trabalho em equipe na enfermagem, na realidade pesquisada e, assim, atendeu ao rigor desta pesquisa que tem seu foco na reconstrução da realidade de modo honesto e preciso, além de fornecer subsídios para a elaboração do Modelo para o trabalho em equipe na enfermagem. Os membros das equipes receberam codificação por nomes de flores, a critério de escolha, excluídas, porém, as flores que já tinham sido selecionadas pelas enfermeiras, na fase de entrevista, desta forma buscando assegurar o anonimato.

A observação tinha o foco na equipe de enfermagem, mas essa equipe está inserida numa equipe mais ampla, que podemos denominar de equipe de saúde, passo apresentar a seguir o quadro com as siglas utilizadas, conforme a função desempenhada na equipe, que fica junto ao nome da flor escolhida.

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Quadro 1 – Siglas e funções desempenhadas pelos membros das equipes de saúde observadas

Sigla Função

E Enfermeira

EE Demais membros da equipe de enfermagem, ou seja, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem, acadêmicos de enfermagem e agentes de saúde.

PAS Demais profissionais da área de saúde, isto é, médicos, assistentes sociais, farmacêuticos, odontólogos.

EA Encarregado e responsável pelo Serviço Administrativo AA Auxiliar administrativo

SG Serviços gerais

Nos meses de janeiro e fevereiro de 2003, os dados contidos no diário de campo foram apreciados por todos os participantes das equipes observadas e os mesmos foram validados.