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3.3 PARÂMETROS DE FUNÇÃO PULMONAR

3.3.1 Fase Pré-Operatória:

Com o objetivo de estabelecer as condições clínicas gerais das pacientes, foi realizada uma avaliação, por meio de anamnese e exame físico, com base na ficha de avaliação apresentada no anexo 2, onde constaram informações tais como: idade, sexo, grau de escolaridade, estado civil, patologias associadas, risco cirúrgico, grau de dispnéia, hábitos de

vida (tabagismo, etilismo e prática de atividade física), peso atual, altura, circunferência do quadril (CQ), e da cintura (CC), freqüência cardíaca (FC), pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) além dos parâmetros da função pulmonar citados acima.

O peso foi verificado no momento da avaliação pré-operatória e por meio do emprego de uma balança digital, devidamente aferida.

A SpO2 e a FC foram registradas por meio da utilização de um oxímetro de pulso.

A CC foi verificada no ponto médio entre o último arco costal e a crista ilíaca ântero- superior, utilizando-se uma fita métrica, com precisão de milímetros. A CQ foi realizada na altura dos trocânteres, com o paciente em posição ortostática, como sugerido por Andrade, Clemente e Gomes (2004) e Rasslan et al (2004).

Após a anamnese e coleta dos dados, as pacientes foram submetidas aos testes propriamente ditos. Para tal, permaneceram sentadas em uma cadeira confortável, com apoio nas costas e nos pés, com as mãos mantidas em repouso sobre as coxas (BLACK e HYATT, 1969; FIZ et al, 1992; KOULOURIS, 1988; NEDER et al, 1999) e com o obturador nasal (clipe) ajustado. O avaliador foi o responsável por evitar qualquer tipo de vazamento, otimizando o ajuste do bucal nos lábios da paciente (FIORE et al, 2004), quando necessário.

Todos os testes foram ensinados previamente e as pacientes foram orientadas individualmente, a fim de evitar a influência do fator ensino-aprendizagem, o qual pode produzir viés nas mensurações, conforme sugerido por Souza (2002); Rasslan et al, (2004) e Fiore et al, (2004).

Após cada procedimento, foi concedido às pacientes um repouso de aproximadamente um minuto (KOULOURIS et al, 1988; NEDER et al, 1999; e FIZ et al, 1992).

Para o registro da CV e do VE, foi ensinado e demonstrado o procedimento para a execução da ventilometria. Especificamente para a coleta da CV, foi utilizada a técnica de medida da CV lenta. Solicitou-se às pacientes que inspirassem profundamente e que

expirassem de forma lenta e completa através do bucal. Esse procedimento foi executado pelo menos 3 vezes, sempre utilizando o obturador nasal. O maior valor encontrado foi computado (SOUZA, 2002; RASSLAN et al, 2004).

Para obtenção do VE, também pela ventilometria, foi solicitado às pacientes que respirassem tranqüilamente pelo bucal do aparelho. Atendidas a essas condições, aguardou-se o melhor momento para iniciar a contagem da fR que foi monitorada durante um minuto. Nesse procedimento, um dos pesquisadores acompanhou a fR, por meio da observação direta no mostrador do ventilômetro, enquanto o outro pesquisador acompanhou a contagem do tempo, utilizando um cronômetro. Os valores do VE e da fR foram posteriormente utilizados para cálculo do valor do volume corrente (Vt = VE/fR).

As pressões respiratórias máximas (Pimax e Pemax) foram obtidas por meio de um manovacuômetro analógico com intervalo de ± 300cmH2O com orifício para alívio da pressão

da musculatura facial, conectado à paciente por meio de um bucal (BLACK e HYATT, 1969; KOULOURIS et al, 1988; FIZ et al, 1992; NEDER et al, 1999; FIORE et al, 2004). Foram consideradas como válidas apenas as pressões máximas sustentadas por, pelo menos, dois segundos e que não oscilassem mais que 10% umas das outras. O maior valor encontrado foi utilizado para análise estatística.

A pressão inspiratória máxima (Pimax) foi medida próxima do volume residual. As pacientes foram orientadas a realizar uma expiração máxima depois de ajustada a peça bucal e a realizar um esforço inspiratório máximo contra uma via aérea ocluída (Manobra de Muller).

A Pemax foi medida após inspiração completa seguida de um esforço expiratório máximo, também contra a via aérea ocluída (Manobra de Valsalva). Para tanto, foi solicitado às pacientes que inspirassem profundamente e, logo em seguida, “soltassem todo o ar com força”, pelo bucal.

Os maiores valores de pressão (Pimax e Pemax) foram selecionados para posterior análise (CAMELO, FILHO e MANÇO, 1985; FIORE et al, 2004).

3.3.2 Fase Pós-Operatória

Após alta da UTI, entre 12 e 24 horas de PO, as pacientes foram reavaliadas no quarto/enfermaria, conforme a ficha de avaliação de PO (ANEXO 3), que constava de: tempo de cirurgia, de anestesia, SpO2, FC, fR, CV, VE, Vt, Pimax e Pemax.

Todos os testes foram realizados na mesma padronização da fase pré-operatória.

INSTRUMENTOS UTILIZADOS

• Ventilômetro de Wright (FERRARIS – Medical Limited); • Manovacuômetro (Marca SUPORTE ± 300cmH2O);

• Traquéias, bucais e obturador nasal (plástico); • Oxímetro de pulso (NONIN – Onyx);

• Ficha de avaliação pré e pós-operatória; • Cronômetro (Cassio);

• Balança digital (Filizola) com capacidade para 250 kg; • Fita métrica plástica e,

• Esfígmomanômetro (Tycos).

Todos os equipamentos plásticos passaram por processo de desinfecção antes e após cada uso.

3.4 TRATAMENTO ESTATÍSTICO

Os dados obtidos foram analisados no programa estatístico SPSS (Statistical Package

for the Social Sciences), versão 12.0. Foi realizada a análise descritiva dos dados visando a média e o desvio padrão e valores mínimos e máximos.

Foi também utilizado o teste t de Student pareado e considerando como significativo um valor de p ≤ 0,05.

A estatística foi realizada utilizando o percentual de diferença entre o pré e o pós- operatório.

4 RESULTADOS

A amostra estudada foi composta por 27 mulheres com idade de 33,93 ± 7,48 anos; peso corporal de 114,88 ± 9,33 kg; altura de 162,97 ± 5,57 cm; IMC de 43,47 ± 3,63 kg/m2; circunferência abdominal e do quadril com 124,96 ± 7,72 cm e 136,15 ± 9,51 cm respectivamente; e a razão entre a cintura e o quadril de 0,920 ± 0,065 (Tabela 3). O IMC mínimo foi de 37,1 kg/m2, o que classifica todos os indivíduos pesquisados como obesos Classe II ou III (IMC ≥ 35 kg/m2).

As características das pessoas estudadas quanto a estado civil, sedentarismo, consumo de álcool e tabagismo são descritas na tabela 4.

Tabela 3 – Descrição da amostra (n = 27).

Parâmetros Média Desvio padrão Mínimo Máximo

Idade (anos) 33,93 ± 7,48 24 48 Peso (kg) 114,88 ± 9,33 93,6 134,0 Altura (cm) 162,67 ± 5,57 153 172 IMC (kg/m2) 43,47 ± 3,63 37,1 51,6 CA (cm) 124,96 ± 7,72 110 140 CQ (cm) 136,15 ± 9,51 116 154 RC/Q 0,9205 ± 0,0653 0,78 1,08

Legenda: IMC: índice de massa corporal; CA: circunferência abdominal; CQ: circunferência do quadril; RC/Q: razão cintura/quadril.

Tabela 4 – Característica da amostra: estado civil; tabagismo; sedentarismo e etilismo. Nº de indivíduos (n = 27) Porcentagem (%) Casada 13 48,1 Solteira 11 40,7 Estado civil: Divorciada 3 11,1 Etilismo presente 6 22,2 Tabagismo 3 11,1 Sedentarismo presente 23 85,1

A prevalência de doenças, sinais e sintomas possivelmente associados ao excesso de peso que foram encontrados na amostra estão descritas na tabela 5.

Tabela 5 – Prevalência de doenças, sinais e sintomas associados à obesidade.

Patologias encontradas Nº de indivíduos (n = 27) Porcentagem (%)

DM 4 14,8

HAS 15 55,6

SAS 3 11,1

Hipercolesterolemia 9 33,3

Edema nos Membros Inferiores 14 51,9

Artropatia (joelho, tornozelo e lombar) 26 96,3

Refluxo gastroesofágico 7 25,9

Dispnéia (aos médios esforços) 15 55,6

Cefaléia 7 25,9

Ansiedade 22 81,5

Depressão 13 48,1

Na tabela 6 estão descritos os dados a respeito do tempo médio de cirurgia e anestesia com seus valores mínimos e máximos.

Tabela 6 - Dados do intra-operatório.

Parâmetros avaliados Média e Desvio

Padrão Mínimos/Máximos Tempo de cirurgia (min) 208,15 ± 34 155 / 280 Tempo de anestesia (min) 239,26 ± 33,12 190 / 315

Na tabela 7 encontram-se os dados detalhados referentes aos parâmetros analisados com valores médios e desvio padrão da fase pré e pós-operatória.

Tabela 7 - Parâmetros avaliados.

Parâmetros avaliados Média e Desvio Padrão PRÉ

Média e Desvio Padrão PÓS FC (bpm) 85,93 ± 8,38 98 ± 10,52 SpO2 (%) 96,33 ± 1,35 93,37 ± 2,89 fR (ipm) 16,41 ± 3,41 19,67 ± 4,27 CV (ml) 3846,67 ± 721,71 2849,63 ± 669,58 VE (l) 11478,52 ± 3045,76 12710,74 ± 3591,35 Vt (ml) 717,09 ± 210,75 667,09 ± 235,46 Pimax (cmH2O) 96,85 ± 28,52 53,89 ± 17,77 Pemax (cmH2O) 107,41 ± 24,89 34,81 ± 12,20

Legenda: FC: freqüência cardíaca; SpO2: saturação periférica de oxigênio; CV: capacidade vital; VE: volume

minuto; fR: freqüência respiratória; Vt: volume corrente; Pimax: pressão inspiratória máxima, e Pemax: pressão expiratória máxima.

A média da SpO2 no pré era de 96,33 % ± 1,35 % e no pós houve uma redução para

93,37 % ± 2,89 % (Tabela 7 e Gráfico 1). Essa redução em valores percentuais foi de (-) 3,06 % tendo significância estatística com p < 0,01 (Tabela 8).

A CV comportou-se da mesma forma que a SpO2 com valores de pré de 3846,67 ±

721,71 ml e de pós de 2849,63 ± 669,58 ml (Tabela 7, Gráfico 2) e a redução percentual foi de (-) 23,63 % também significativa (Tabela 8).

Tabela 8 – Variação percentual dos parâmetros no pós-operatório.

Parâmetros avaliados Média (%) Desvio Padrão p

FC (bpm) 15 16,14 0,001* SpO2 (%) - 3,06 2,97 0,001* fR (ipm) 21,57 23,01 0,001* CV (ml) - 23,63 22,65 0,001* VE (l) 16,82 45,15 0,064 Vt (ml) - 3,09 33,51 0,636 Pimax (cmH2O) - 41,14 22,04 0,001* Pemax (cmH2O) - 66,68 12,37 0,001*

* p ≤ 0,01 – valores com significância estatística.

A Pemax sofreu uma queda acentuada de (-) 66,68 % (Tabela 8) sendo seus valores médios no pré de 107,41 ± 24,89 cmH2O e no pós-operatório de 34,81 ± 12,2 cmH2O (Tabela

7, Gráfico 3).

A Pimax sofreu uma redução de (-) 41,14 % (Tabela 8) com valores respectivos de pré e pós-operatório de (-) 96,85 ± 28,52 cmH2O e (-) 53,89 ± 17,77 cmH2O (Tabela 7, Gráfico

4). Na avaliação, no PO, da força muscular respiratória, tanto a Pimax quanto a Pemax apresentaram grande significância estatística com p < 0,01.

A FC e a fR apresentaram um aumento significativo em relação ao pré-operatório com percentual de 15 % e 21,57 % respectivamente (Tabela 8). Os valores no pré e pós-operatório

eram, respectivamente, para a FC, de 85,93 ± 8,38 bpm e 98 ± 10,52 bpm (Tabela 7, Gráfico 5). Para a fR os valores médios encontrados no pré foram de 16,41 ± 3,41 ipm e no pós de 19,67 ± 4,27 ipm (Tabela 7, Gráfico 6).

O tempo de permanência hospitalar desses pacientes desde a internação até a alta foi em média de 48 horas. A admissão era feita no centro cirúrgico, após a cirurgia eram encaminhadas para a UTI onde permaneciam aproximadamente 20 horas e então, eram conduzidas ao quarto/enfermaria onde ficavam por mais 24 horas.

Gráfico 1 – Comparação da saturação periférica de oxigênio entre o pré e o pós-operatório.

96,33 93,37 91 92 93 94 95 96 97 Pré Pós

Saturação Periférica de oxigênio

Gráfico 2 – Comparação da capacidade vital lenta entre o pré e o pós-operatório. 3.846,67 2.849,63 0,00 1.000,00 2.000,00 3.000,00 4.000,00 CV PRE CV POS Capacidade Vital média

Gráfico 3 - Comparação da pressão inspiratória máxima entre o pré e o pós-operatório.

96,85 53,89 0 20 40 60 80 100 Pré Pós

Pressão Inspiratória Máxima

Gráfico 4 - Comparação da pressão expiratória máxima entre o pré e o pós-operatório. 107,41 34,81 0 20 40 60 80 100 120 Pré Pós

Pressão Expiratória Máxima

Média

Gráfico 5 - Comparação da freqüência cardíaca entre o pré e o pós-operatório.

85,93 98 75 80 85 90 95 100 Pré Pós Freqüência Cardíaca Média

Gráfico 6 - Comparação da freqüência respiratória entre o pré e o pós-operatório. 16,41 19,67 14 15 16 17 18 19 20 Pré Pós Freqüência Respiratória MÉDIA

5 DISCUSSÃO

A obesidade severa está associada a diversas comorbidades, sejam elas psíquicas, metabólicas, osteomusculares, cardiovasculares e respiratórias, dentre outras. As repercussões da obesidade severa na função pulmonar podem variar desde formas leves até o grave comprometimento respiratório que coloca em risco a vida do indivíduo. Quando esses pacientes necessitam ser submetidos a um procedimento cirúrgico surgem novos complicadores que exigem cuidadoso manejo. A logística do hospital deve ser adaptada dimensionando espaços e equipamentos, treinando, de forma especifica, a equipe envolvida.

Os procedimentos cirúrgicos envolvem diversos fatores que colocam o paciente em condição de maior fragilidade e risco, fato que, associado às complicações geradas pela obesidade, podem determinar situações de elevado comprometimento. As cirurgias realizadas na região do abdome superior, como a gastroplastia redutora, predispõem às complicações pulmonares pós-operatórias (CPP), determinando, então, cuidados pré-operatórios rígidos que garantam a boa evolução do paciente.

A obesidade como indicador de risco de CPP ainda está insuficientemente estudada, existindo um pequeno número de trabalhos prospectivos. Há dificuldade em estabelecer comparação entre os diferentes estudos pela heterogeneidade das amostras que incluem, no mesmo trabalho, ampla variação nos graus de obesidade ou comorbidades ou amostras pequenas com pacientes de ambos os sexos. Neste trabalho foram selecionados 27 pacientes do sexo feminino de um total de 46 pacientes de ambos os sexos, o que constitui um número significativo quando comparado à literatura. O nível de obesidade ficou restrito aos graus II e III, sendo a faixa etária reduzida (33,93 ± 7,48 anos). Esses dados conferem à amostra elevada uniformidade.

Encontramos, também, na literatura, discrepância nos métodos de diagnóstico complementar utilizados para predizer as alterações e/ou complicações pulmonares (Radiografia de tórax versus tomografia computadorizada) (PASULKA et al, 1986; SAAD e ZAMBON, 2001; EICHENBERGER et al, 2002) e critérios de inclusão das complicações. A título de exemplo podemos citar a embolia pulmonar que para alguns autores é considerada uma complicação pulmonar (STRANDBERG et al, 1986; LAWRENCE et al, 1989) e para outros uma complicação circulatória, alterando drasticamente os resultados das pesquisas.

As cirurgias abdominais altas apresentam complicações pulmonares com incidência variando de 10 a 81% conforme literatura pesquisada, porém os estudos que associam as CPP com a obesidade ainda apresentam muitas divergências (PEREIRA et al, 1999; SAAD e ZAMBON, 2001).

No que se refere à gastroplastia redutora, para tratamento da obesidade severa, o índice de complicações é baixo, existindo um viés por tratar-se de uma cirurgia tipicamente eletiva em que pacientes com risco elevado são excluídos. Como exemplo, o estudo de Pasulka et al 1986, com portadores de obesidade mórbida submetidos à cirurgia de redução gástrica, apresentou incidência de CPP de 3,9% sendo esta muito baixa, quando comparada às complicações pulmonares no PO de outros tipos de cirurgias abdominais alta. Em outro estudo com 1055 pacientes submetidos a cirurgias não torácicas foi observada incidência de 2,7% de CPP (McALISTER et al, 2005).

Neste estudo, não foi diagnosticada nenhuma complicação pulmonar pós-operatória bem como não existiram óbitos. Todas as pacientes tiveram alta, no período máximo de 48 horas, que é a rotina da equipe da gastrocirurgia. A falta de complicações, neste grupo, pode ser atribuída à rigorosa e abrangente avaliação pré-operatória que leva a uma criteriosa seleção de pacientes, o que fez com que o índice de CPP seja inferior ao publicado na literatura. No estudo realizado por Podnos et al e publicado em 2003 avaliou 2771 casos de

pacientes submetidos à gastroplastia por laparotomia no período de 1997 a 2002 e encontraram que 0,78% tiveram embolia pulmonar e 0,33% desenvolveram pneumonia e, 0,87% do total de pacientes foram a óbito. Em outro estudo realizado no Brasil por Saad e Zambon (2001), com pacientes obesos e não obesos acompanhados por até 72 horas de PO a incidência de CPP foi de 12,1%, porém no grupo com obesidade nenhum apresentou qualquer tipo de complicação pulmonar.

Vários autores citam a obesidade como fator de risco para o desenvolvimento de pneumonia em qualquer tipo de cirurgia (TORRINGTON e HENDERSON, 1988). Na gastroplastia redutora para obesidade mórbida, Pasulka et al, (1986) também considera a obesidade como um fator de risco para pneumonia. Porém, no estudo de Livingston et al (2002) que avaliou 1067 pacientes obesos submetidos à gastroplastia redutora no período de 1993 a 2000, não foi encontrou nenhum caso no PO assim como os achados no nosso grupo, lembrando o viés implícito na rigorosa seleção pré-operatória.

Saad e Zambon (2001), consideraram como CPP a atelectasia com repercussão clínica ou radiológica; a pneumonia; o broncoespasmo entre outras. Embora a nossa amostra não tenha apresentado evidências concretas de CPP, os dados que mostram a perda da função pulmonar traduzidos pela diminuição da capacidade vital (CV) e saturação periférica de oxigênio (SpO2), aumento da freqüência respiratória e cardíaca, redução da força muscular

respiratória inspiratória e expiratória (Pimax e Pemax) e na alteração dos volumes minuto e corrente sugerem que poderia estar ocorrendo atelectasia subclínica. Esses dados inferem a necessidade da realização sistemática de exames complementares regulares mais detalhados, tais como a gasometria arterial e a radiografia de tórax, os quais não são partes da rotina no PO, ficando restritos a anormalidades clinicamente evidentes. Provavelmente tais procedimentos revelariam maior comprometimento da função pulmonar no PO nessa cirurgia.

De acordo com a literatura o tempo cirúrgico de 210 minutos é um valor de corte a partir do qual aumenta significativamente a incidência de CPP (FILARDO, FARESIN e FERNANDES, 2002). E, segundo Pereira et al (1996) após 120 minutos de cirurgia já seriam notadas alterações na função pulmonar as quais poderiam aumentar ainda mais esse risco. Em recente publicação McAlister et al (2005) encontraram como variável significativa para a associação de CPP um tempo de anestesia com duração igual ou superior a 150 min. Cabe destacar que o tempo de anestesia é sempre superior ao tempo cirúrgico. Essas afirmações reforçam a alta probabilidade de que nossos pacientes tenham desenvolvido CPP subclínicas, uma vez que o tempo médio de cirurgia / anestesia foi de 239,26 minutos. O mesmo deve estar acontecendo nos trabalhos publicados já que o tempo cirúrgico na cirurgia bariátrica é sempre elevado, como por exemplo no estudo de Paisani, Chiavegato e Faresin (2005) com tempo cirúrgico / anestésico de 300 ± 47,5 minutos.

Neste trabalho, outro indicador importante da perda da função pulmonar no PO é a diminuição da CV (23,63 % ± 22,65 %), valor menor daquele encontrado por Paisani, Chiavegato e Faresin (2005) no qual a redução foi de 47 % numa amostra menor (n 21versus 27) composta por homens e mulheres. Tal diferença pode ser atribuída a heterogeneidade da amostra daqueles autores, lembrando mais uma vez, o viés gerado pela criteriosa seleção de pacientes desta amostra.

Rasslan et al (2004) afirmam haver relação inversa entre o grau de obesidade e a capacidade vital. Em nosso estudo não foi possível identificar tal relação com significância estatística, mas podemos observar que ela existiu marginalmente.

O volume corrente (Vt) diminuiu 3,09 %, embora não significativo estatisticamente, mostrou uma linha de tendência. Em contrapartida, o volume minuto (VE) aumentou 16,82 %, também sem significância. Tal incremento foi devido ao aumento da fR, de forma compensatória, embora sem equilibrar plenamente a função pulmonar, visto que a SpO2

apresentou diminuição significativa (3,06 % ± 2,97 %). Resultados semelhantes (aumento da fR e diminuição do Vt) foram também encontrados por Paisani, Chiavegato e Faresin (2005).

As pacientes estudadas apresentaram um aumento significativo de 21,57% na fR no PO. Estes achados são diferentes do estudo de Chiavegato et al (2000), no qual não foram encontradas alterações significativas na fR. Tal fato pode ser devido a que nesse estudo os pacientes eram eutróficos e a cirurgia foi realizada por via laparoscópica a qual apresenta menor comprometimento da mecânica respiratória quando comparada à cirurgia a céu aberto, usada neste estudo. A elevação na fR em nosso estudo provavelmente ocorreu para manutenção do VE uma vez que as pacientes apresentaram, também, diminuição do Vt, embora que sem significância estatística.

Outra razão que poderia explicar o aumento da fR é o fato de que a anestesia, segundo Sprung (2005), gera nos pacientes o aumento do gradiente alvéolo-arterial o qual é compensado com uma alta fração inspirada de oxigênio para manter uma adequada oxigenação arterial. Tal situação se prolonga no PO por um tempo variado. Nossas pacientes permaneceram durante a coleta respirando espontaneamente em ar ambiente, podendo-se inferir que a elevação na fR poderia ser uma forma compensatória,pois deixaram de receber aporte suplementar de oxigênio nas primeiras doze horas de pós-operatório.

Neste estudo houve um aumento de 15% na freqüência cardíaca (FC) em relação ao período pré-operatório. Esta condição pode ser vista como um mecanismo de compensação secundário em virtude das modificações ventilatórias e circulatórias promovidas pela cirurgia. Conforme demonstrado por Hedenstierna (2005) a anestesia modifica a ventilação, a perfusão e o débito cardíaco. Devemos destacar que a elevação de FC tem sido pouco referida nas pesquisas analisadas. O único trabalho com referência específica à FC é o de Chiavegato et al (2000) porém, eram pacientes eutróficos.

Neste estudo encontramos uma queda percentual da Pimax no PO em relação ao período pré-operatório de 41,14% e da Pemax de 66,68%. Tal achado revela que mesmo sem CPP diagnosticadas as pacientes estudadas apresentaram alterações na função dos músculos respiratórios. Segundo Siafakas et al (1998) a diminuição da função da musculatura respiratória que ocorre no PO de cirurgias abdominais pode levar à complicações pós- operatórias tais como a hipoventilação, a hipóxia, a atelectasia e infecções que podem ser ameaçadoras à vida. Essas alterações podem ter sido causadas, segundo o mesmo autor, pela incisão na parede abdominal e pelos agentes farmacológicos dos anestésicos, podendo perdurar por muito tempo após o final da anestesia.

O que verificamos neste estudo foi uma redução muito maior da Pemax do que da Pimax. Tal achado deve-se, provavelmente, à localização da incisão cirúrgica, uma vez que a Pemax depende da integridade da musculatura abdominal e a Pimax da musculatura torácica e do diafragma. Sendo a musculatura abdominal a mais prejudicada na cirurgia bariátrica provavelmente essas pacientes apresentam alteração na função da tosse no PO causando diminuição da clearance brônquica e, conseqüentemente, dificuldade de eliminação de secreção pulmonar. O diafragma tem sua função comprometida, o que não interfere significativamente, pela compensação dos músculos intercostais e acessórios da inspiração (LAGHI e TOBIN, 2003). Resultados semelhantes foram encontrados por Paisani, Chiavegato e Faresin (2005). De acordo com a literatura o comprometimento de função pulmonar pode prolongar-se por mais de duas semanas (SIAFAKAS et al, 1998).

Aparentemente a cirurgia laparoscópica compromete menos a função pulmonar que a laparotomia contudo, é bom lembrar que a cirurgia laparoscópica apresenta maior número de complicações digestivas, conforme demonstrado por Podnos et al (2003) em metanálise envolvendo seis mil pacientes.

São numerosos os estudos que recomendam a realização de fisioterapia como forma de prevenção das CPP (THOMAS e McINTOSH, 1994; HALL et al, 1996; CELLI, 1984).

Os resultados deste trabalho confirmam tais recomendações e enfatizam a necessidade de incrementar o atendimento fisioterápico no PO e prolongá-lo após a alta hospitalar até a plena recuperação de função pulmonar.

A manovacuometria e a ventilometria são instrumentos de medida, de baixo custo, confiáveis e de fácil manuseio à beira do leito, quando comparados a equipamentos hospitalares de grande porte, como a tomografia computadorizada e outros métodos diagnósticos. Ambos podem nortear a evolução dos pacientes, de forma efetiva e acessível

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