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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Fase primária (silvicultura) e a produção de madeira

A partir dos dados contidos nas planilhas dos inventários florestais realizados nas áreas estudadas, efetuados em 2011 e 2013, e da comparação das informações dos quatro inventários anteriores, totalizando 318 inventários feitos em 58 talhões (dados apresentadas nos Anexos 1 e 2), foi feita uma análise preliminar para verificação da série histórica em relação à extensão de tempo amostrada e da completude dos dados (i.e. sobre a existência de vazios). Nessa primeira etapa foram excluídas 55 medições e, consequentemente, os respectivos talhões, sendo mantidas 263. Numa segunda análise, foi feita a identificação de dados tais como: idade do talhão, densidade da população (i.e. número de árvores por ha), efetiva idade quando da ocorrência do desbaste, área basal, e volume de biomassa encontrado.

Dos 263 resultados de inventários selecionados na primeira análise, foram feitas as classificações por idade e, em seguida, por número de plantas por hectare, em função das idades. Nos cálculos foram utilizados os volumes de produção nos anos de desbaste e corte. Foram considerados os anos anteriores e posteriores aos anos de referência dos desbastes, ou do corte, e também a amplitude da população recomendada em função da fase e do sistema de manejo. Foi admitida uma variação na população de até 20% de forma a limitar a redução a padrões próximos aos alternativamente recomendados em EMBRAPA (2016), e que resultariam em uma área por planta similar ao espaçamento 2,5 m x 3 m, que é um dos recomendados. Isso foi feito porque as populações observadas estão bem abaixo dos padrões silviculturais recomendados pela EMBRAPA.

A reposição de plantas é prática já dominada e consolidada no meio florestal. Para as áreas estudadas, com espaçamento 2 m x 3 m, que é a referência para a região, os números de plantas por hectare são: 1.600, 1.040, 624 e 312, respectivamente, a cada período de desbaste ou corte. Sobre essas populações é que foram efetuadas as intervenções do primeiro, segundo e terceiro desbaste e do corte raso, respectivamente. Assim, 136 registros foram excluídos e 127 registros foram levados aos cálculos estatísticos. Os resultados são apresentados na Tabela 4.1, para o conjunto amostral utilizado para o cálculo das produções de madeira nos anos de desbaste e de corte. Os valores apresentados são de estoques acumulados de madeira,

expressos em m3/ha (metros cúbicos por hectare), de acordo com a idade e com o local de plantio, para três desbastes e mais um corte raso, no final do ciclo. Esses três desbastes são efetuados com as idades aproximadas de 9, 12 e 15 anos, e o corte raso com 18 anos.

Figura 4.1: Estoques médios de madeira, expressos em m3/ha, de acordo com a idade da árvore, para 22 diferentes locais de plantio em florestas de pinus na Região do Contestado, em

Santa Catarina – Brasil, com base em inventários florestais efetuados entre 2007 e 2013.

Fonte: elaboração própria com base em resultados obtidos, a partir de cálculos deste estudo

A escolha de mudas de boa qualidade, o plantio correto (incluindo replantio), o emprego de tratos culturais adequados ao local de plantio, notadamente para o combate de formigas e plantas invasoras, são fatores determinantes para a obtenção de uma boa densidade de plantas por unidade de área e, adicionalmente, de plantas de boa qualidade, o que proporcionará incrementos volumétricos maiores.

0 100 200 300 400 500 600 0 5 10 15 20 Local A2 Local E1 Local G1 Local G2 Local G3 Local H1 Local H2 Local H3 Local H4 Local J1 Local J2 Local M1 Local M2 Local T1 Local T2 Local T3 Local T4 Local T5 Local T6 Local T7 Local T8 Local T9 Est o q u e (m 3/h a)

Tabela 4.1: Resultados da análise de 127 registros de estoque de madeira, população média de plantas por hectare, área representativa e número de medições para cada um dos desbastes e corte raso, com base em inventários florestais realizados entre 2007 e 2013 em florestas de pinus na Região do Contestado, em Santa Catarina – Brasil.

Itens 1º desbaste 2º desbaste 3º desbaste Corte raso

Idade referencial 9 anos 12 anos 15 anos 18 anos

Estoque médio antes do desbaste ou corte (m3/ha) 224,92 305,63 304,15 336,78

Desvio padrão (m3/ha) 46,72 70,99 57,77 49,43

Média +1 desvio padrão (m3/ha) 271,64 376,62 361,92 386,21 Média -1 desvio padrão (m3/ha) 178,19 234,64 246,38 287,35

Coeficiente de variação (%) 20,77 23,23 18,99 14,68

Número médio de plantas amostradas (por ha) 1.145 703 480 328 Número de referência para população (por ha) 1.600 1.040 624 312

Área representativa (ha) 745,20 918,09 942,10 1.299,63

Número de medições 27 43 36 21

Fonte: elaboração própria com base em resultados obtidos da análise das amostras do banco de dados de inventários florestais, utilizado neste estudo.

Os plantios mais recentes (i.e. após o ano de 2000), para os quais foram aplicadas de forma correta as técnicas de manejo, têm apresentado populações próximas ao padrão recomendado por EMBRAPA (2016). Há duas explicações importantes para os melhores resultados: recentemente foi feito o plantio em novas áreas, adequadas e de acordo com a tecnologia recomendada (as florestas mais antigas foram adquiridas de terceiros e já estavam implantadas) e, principalmente, com o emprego de procedimentos mais eficazes para amostragem e monitoramento de resultados dos tratos culturais, com correção de problemas em tempo hábil.

Os desbastes antigos, feitos com idades distintas das práticas atuais, quando o sistema de produção previa quatro e não três desbastes como hoje, também têm efeito sobre a dispersão; entretanto, esse aspecto não pode ser considerado na análise do número de plantas, devido à população estar abaixo dos parâmetros recomendados. Na prática, a correção dos efeitos de redução de densidade populacional é feita principalmente por meio de desbastes seletivos, em que árvores de menor potencial (em função do diâmetro e da altura) são retiradas sem obedecer ao percentual de redução que é padrão. Assim, a tendência é o número de plantas por área ser reduzido a valores próximos do recomendado, na medida em que os desbastes são feitos. Esse aspecto pode ser verificado nos resultados apresentados na Tabela 4.1, em que, a partir do primeiro desbaste, observa-se correção gradual das densidades populacionais.

No primeiro desbaste, quando há a intenção de colheita mecanizada ou semimecanizada (como no caso em estudo), é utilizada de forma adicional outra técnica de manejo que visa abrir estradas para o deslocamento das máquinas que vão realizar operações dentro do talhão, ou gleba. É o desbaste sistemático. Em geral, é retirada a 10ª ou a 11ª fileira, a partir de uma estrada que permita acesso ao talhão. Essa operação é repetida até a outra estrada, no lado oposto. O formato da área pode implicar redução maior ou menor da população de plantas por hectare nesse primeiro desbaste. Isso pode ocorrer mesmo sendo aplicado o mesmo critério de eliminação de fileiras para áreas de formas diferentes.

Na Figura 4.2 são apresentados os valores médios de estoque de madeira, mais especificamente de toras. Nos cálculos não foram considerados os volumes do ponteiro com diâmetro abaixo de 8 cm, folhas (acículas), galhos, serrapilheira, tronco remanescente após corte e raízes. Ou seja, somente a porção de maior qualidade industrial (para uso em serrarias, produção de celulose e energia) está refletida nesses valores.

Com o objetivo de validar os resultados de produtividade do local estudado para certas condições de campo das plantações, foi utilizado o programa computacional SisPinus, da Embrapa Florestas. Inicialmente, para avaliar a consistência dos dados, foi feito o ajuste para uma condição de emprego de boas práticas de manejo e tratos culturais, condição essa que teria os seguintes parâmetros: densidade inicial igual a 1.600 plantas/ha, taxa de sobrevivência de 97% no primeiro ano e um ambiente de produção ou Índice de Sítio (IS) padrão, para efeito de cálculo, igual a 218.

8 Índice de Sítio (IS) é o índice que expressa o potencial produtivo em um determinado local, com base na altura predominante das árvores desse local (aquelas com a idade de 15 anos). Por exemplo, no caso de IS = 21, a altura predominante das árvores é 21 m (EMBRAPA, 2006).

Figura 4.2: Representação gráfica dos estoques médios de madeira e faixa de variação considerado um desvio padrão, expressos em m3/ha, para cada uma das colheitas realizadas

nos três primeiros desbastes e no corte raso, ao final do período; resultados com base em inventários florestais realizadas entre 2007 e 2013 em florestas de pinus na região do

Contestado, em Santa Catarina – Brasil.

Fonte: elaboração própria com base em resultados obtidos da análise das amostras do banco de dados de inventários florestais, utilizado nesta dissertação

Com essas hipóteses, para as árvores com nove anos de idade, obteve-se os seguintes resultados: volume total de 230 m3/ha; e população remanescente de 1.545 plantas. A comparação desses resultados com aqueles informados na Figura 4.2 sugere que os locais amostrados têm potencial produtivo superior àqueles usualmente classificados como IS = 21, pois mesmo com a densidade bem inferior (¾ do referencial teórico, indicado em SisPinus) das plantas (1.145 plantas/ha), os valores de estoque de madeira foram semelhantes (diferença de apenas 2,2%).

Aplicando-se, então, os valores encontrados, de 1.145 plantas por hectare no ano nove, e com ajuste do índice de sítio para IS = 22, obteve-se 220 m3/ha, o que indica que o padrão de produtividade média da região objeto do estudo é igual ou superior ao que corresponde ao IS = 22. Ainda, quando a população do IS = 22 é ajustada para os parâmetros recomendados, o estoque do nono ano passa a ser de 259,7 m3/ha (15,46% acima dos 224,94 m3/h observados), valor que pode ser entendido como potencial médio para os locais amostrados sob sistemas de produção que empreguem boas práticas de plantio, manejo e tratos culturais (SISPINUS, 2016). 271,64 376,62 361,92 386,21 224,92 305,63 304,15 336,78 178,19 234,64 246,38 287,35 100 150 200 250 300 350 400 450

Primeiro Desbaste Segundo Desbaste Terceiro Desbaste Corte Raso

+1 DP ( m3/ha) Média ( m3/ha) -1DP ( m3/ha)

Es to q u e ( m3/h a)

Na Tabela 4.2 os estoques volumétricos de madeira, expressos em m3/ha, resultantes dos cálculos efetuados a partir dos inventários florestais, são primeiramente convertidos para massa, segundo parâmetros de densidade encontrados em Mendes (1993). Em seguida, são aplicados sobre os estoques, expressos em t/ha (tonelada por hectare), os percentuais de desbaste utilizados como parâmetros de extração no manejo das florestas amostradas. Esses resultados, quando comparados aos projetados para serem extraídos dessas áreas, apresentam percentuais (nas médias de cada desbaste) bem próximos aos projetados, com variação entre 93,4% e 101,2%. No somatório dos desbastes, as médias apresentaram valor apenas 3,14% menor que a projeção de extração, que também é valor próximo do parâmetro adotado pela empresa reflorestadora das áreas amostradas.

Os valores de densidade obtidos em Mendes (1993), expressos em t/m3, indicados na Tabela 4.2, são atribuídos à biomassa “verde”, recém-colhida, que no presente estudo possui 55% de umidade em base úmida. Um metro cúbico dessa biomassa com 55% de umidade, quando absolutamente seco (0%), segundo Higa et al. (1973) e Schilling et al. (1997), resulta 330 a 390 g/cm3 (densidade básica), que terão a mesmo conteúdo energético que o 1 m3 com 55% de umidade. A biomassa seca e logo após o corte (verde) possui poder calorífico inferior distinto (Brand et al., 2004). A referência para a alimentação da planta de péletes se dá pelo conteúdo energético à entrada, que em última análise está na matéria seca. Contudo a biomassa úmida, recém-colhida, é a que entra na indústria.

Os rendimentos (em tonelada/ha) informados na Tabela 4.2 para os diversos desbastes e cortes, estão próximos ao considerado como projeção das colheitas anteriores das florestas estudadas, também informado na mesma tabela como “Projeção na Extração de Biomassa”, e são similares aos valores obtidos na simulação do software Sispinus, conforme mencionando anteriormente.

A Figura 4.3 apresenta a evolução dos preços da madeira de pinus destinada à produção de celulose, posto indústria, convertidos para valores constantes de julho de 2015 pelo IPCA-IBGE. O preço das toras de menor diâmetro é o referencial para a matéria-prima a ser utilizada na fabricação de péletes. A média dos valores observados de janeiro de 2010 a setembro de 2015 foi de R$ 70,99 por tonelada, e o desvio-padrão R$ 3,93 por tonelada. Os preços apresentam estabilidade no período analisado, com leve tendência de queda a partir de 2012, acentuando-se a queda após o fim de 2014, e são coerentes com o preço pago pela empresa Trombini Embalagens S/A, em Fraiburgo, Santa Catarina, de R$ 63,44 por tonelada no início de 2015.

Tabela 4.2: Resultados da análise de 127 registros de estoque de madeira, expressos em m3/ha e t/ha, dos três desbastes e corte raso, com base em inventários florestais realizados entre 2007 e 2013 em florestas de pinus na Região do Contestado, em Santa Catarina – Brasil.

Extração/Intervenção florestal Estoque antes do desbaste (m3/ha) Densidade (t/m3) (a) Estoque (t/ha) Parâmetro de extração (% retirado no desbaste) (b) Biomassa a ser extraída (t/ha) Projeção de extração de biomassa (t/ha) (b) 1º desbaste (9 anos) Média de 27 medições (745,2 ha) 224,92 0,918 206,48 35,00 72,27 71,40

Média -desvio padrão de 27

medições (745,2 ha) 178,19 0,918 163,58 35,00 57,25 71,40

Média +desvio padrão de 27

medições (745,2 ha) 271,64 0,918 249,37 35,00 87,28 71,40

2º desbaste (12 anos) Média de 43 medições

(918,1 ha) 305,63 0,928 283,62 40,00 113,45 119,60

Média -desvio padrão de 43

medições (918,1 ha) 234,64 0,928 217,75 40,00 87,10 119,60

Média +desvio padrão de 43

medições (918,1 ha) 376,62 0,928 349,50 40,00 139,80 119,60

3º desbaste (15 anos) Média de 36 medições

(942,10 ha) 304,15 0,94 285,90 50,00 142,95 153,00

Média -desvio padrão de 36

medições (942,1 ha) 246,38 0,94 231,60 50,00 115,80 153,00

Média +desvio padrão de 36

medições (942,1 ha) 361,92 0,94 340,20 50,00 170,10 153,00

Corte raso (18 anos) Média de 21 medições

(1299,63 ha) 336,78 0,951 320,28 100,00 320,28 326,00

Média -desvio padrão de 21

medições (1299,63 ha) 287,35 0,951 273,27 100,00 273,27 326,00 Média +desvio padrão de 21

medições (1299,63 ha) 386,21 0,951 367,29 100,00 367,29 326,00

Média geral 648,94 670,00

Média geral -desvio padrão 533,42 670,00

Média geral +desvio padrão 764,47 670,00

Fonte: elaboração própria com base em resultados obtidos da análise das amostras do banco de dados de inventários florestais, utilizado nesta dissertação; Mendes (1993); FISCHER (2016).

Figura 4.3: Preços médios da madeira de pinus para celulose, posto indústria, de janeiro de 2010 a setembro de 2015, convertidos a valores constantes de julho de 2015 pelo IPCA-

IBGE, em Santa Catarina – Brasil.

Fonte: CEPA (2016); IBGE (2018).

Os custos de formação de um hectare de floresta de pinus nas áreas amostradas foram estimados em R$ 9.362,99 e R$ 7.596,87 por hectare (base 2015), respectivamente para uso múltiplo e uso energético (ver Tabela 4.1). Para considerar a recuperação do capital, sobre esses custos foram acrescidos 6% ao ano, para os períodos entre cada desembolso e a colheita. A remuneração do capital, ou a inclusão da “Produtividade do Capital” nos custos, como referido por Silva et al. (2002), permite que o custo unitário do produto melhor expresse seus componentes. No caso específico, o objetivo foi o de cobrir eventual custo de captação de recursos financeiros com destinação específica (implantação de floresta) ou, alternativamente, o de considerar o custo de oportunidade de uma aplicação financeira conservadora e de longo prazo, tal qual é o investimento na silvicultura, o que confere caráter perene para a atividade. Assim, os custos passaram para R$ 14.135,30 para uso múltiplo e R$ 12.100,65 para uso energético.

Com base nas produtividades de biomassa apresentadas na Tabela 3.2 e nos valores finais de biomassa, os custos médios da matéria-prima para produção de péletes são de R$ 97,48 R$/t, quando considerado o uso energético e a colheita mecanizada no nono ano (corte raso). Já para o sistema de produção para uso múltiplo, embora necessárias as etapas de poda e o desbaste semimecanizado, de maior custo, a implantação tem custos rateados de forma linear por todo o volume. Portanto, na alocação, o direcionador de custo é a produção de

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 jan _10 ab r_ 10 ju l_ 10 o u t_ 10 fev_ 11 mai_ 11 ag o _11 n o v_ 11 fev_ 12 mai_ 12 ag o _12 n o v_ 12 Fe v/2013 Mai o /2013 A go /2013 N o v/2013 Fe v/2014 M ai o /20 14 A go /2014 N o v/2014 Mar /2015 Ju n /2015 Se t/2015 Ma d eira d e p in u s p ar a ce lu los e p o sto in d ú stria (R$ /t)

madeira – no caso, em m3 ou tonelada – a ser colhida nos desbastes subsequentes, fato que resultou em um valor médio de 90,53 R$/t, com composição de acordo com o que é apresentado na Tabela 4.3.

Tabela 4.3: Custos de implantação e de extração em florestas de pinus para uso dedicado para energia e uso múltiplo, acrescidos de 6% ao ano, em florestas de pinus na Região do Contestado, em Santa Catarina – Brasil (valores para 2015)

Sistemas de produção/manejo Formação da floresta (R$/t)

Corte, carregamento e

transporte (R$/t) Custo total (R$/t) 1 Uso Múltiplo

1.1 Média 21,78 68,75 90,53

1.2 Média -desvio padrão 26,50 68,75 95,25

1.3 Média +desvio padrão 18,49 68,75 87,24

2 Uso Energético

2.1 Média 58,60 38,88 97,48

2.2 Média -desvio padrão 73,97 38,88 112,85

2.3 Média +desvio padrão 48,52 38,88 87,40

Fonte: elaboração própria com base em resultados obtidos da análise das amostras do banco de dados de inventários florestais e custos, utilizado nesta dissertação.

Na avaliação para o uso múltiplo, os custos de corte, carregamento (inclui arraste e baldeio) e transporte (vide informação no Capítulo 3), nos dois primeiros desbastes, são os custos do sistema semimecanizado de colheita, que utiliza o corte manual com motosserras, o que eleva o valor por tonelada para R$ 68,75, contra R$ 38,88 do uso energético, que é totalmente mecanizado.

Os custos de produção apresentados na Tabela 4.3 são superiores aos preços de mercado encontrados em CEPA (2016) e DERAL (2016), referentes ao ano de 2015, ambos de R$ 60,00 por tonelada, posto pátio das indústrias, sem requisito de certificação. Retirando- se dos cálculos deste estudo o COT (Custo de Oportunidade da Terra), além dos custos diretos para que seja viabilizada a certificação FSC e a remuneração do capital, o custo por tonelada da biomassa seria de R$ 69,02. Contudo, esse valor ainda incluiria os custos indiretos da certificação, tais como cumprimento integral da legislação fiscal, trabalhista e ambiental, que são as maiores razões de ser requerida a certificação.

Portanto, conclui-se que a avaliação feita nesta dissertação é realista, não sendo possível a comparação com preços de mercado, uma vez que, no caso, a procedência e os padrões de qualidade da madeira comercializada não podem ser atestados. Os custos apresentados na Tabela 4.3 estão impactados pela remuneração do investimento na formação

da floresta (37% adicionais sobre o investimento), pelo custo de oportunidade da terra (9% adicionais) e pelos custos de certificação (17% adicionais)9.

Quando a biomassa requerida deve satisfazer requisitos mínimos, como os demandados pelas fábricas de péletes, os preços são superiores e coerentes com os desta dissertação. Em um estudo de 2015, Quéno (2015) pesquisou indústrias de péletes que precisam ser abastecidas com matéria-prima de qualidade e, por isso, controlam padrões e selecionam fornecedores. O autor atribuiu um preço médio para biomassa para produção de péletes premium, com 10% de umidade, de R$ 185 por tonelada (R$ 140 por tonelada da biomassa + frete de R$ 45 por tonelada ), o que equivale a R$ 115 por tonelada com 55% de umidade.

Argus (2016) menciona que são pagos 0,08 € por tonelada de cavaco vendido, ou R$ 55,43 por hectare, o que corresponde a 30,5% do valor calculado neste estudo, sem considerar a remuneração do capital nos nove anos de crescimento da floresta.

Para atender as normas de certificação de péletes da Classe EN 14961-A1, ou ENplus- A1, há necessidade de que todas as fases de produção sejam certificadas, e os custos correspondentes são considerados neste estudo. Thrän et al. (2017) descrevem que, na Europa, a certificação agregou o SBP (Sustainable Biomass Programme) aos já bem sucedidos programas de certificação florestal, FSC e PEFC (Programme for the Endorsement of Forest Certification).

Os custos indiretos de certificação, agregados aos custos com mão de obra, insumos, mecanização e outros, existem devido à necessidade de cumprimento da legislação trabalhista, ambiental e cumprimento de obrigações fiscais. Basso et al. (2011) descrevem as não conformidades em relação ao Princípio 1 do FSC – Obediência às Leis, encontradas nas certificações realizadas entre 1996 e 2007. Os resultados dos autores são sintetizados nas Figuras 4.4 e 4.5. No caso de florestas plantadas, chama a atenção o percentual de não cumprimento da legislação trabalhista e, principalmente, da legislação ambiental; nesse caso, a maior irregularidade estava associada ao não cumprimento do Código Florestal (ver Figuras 4.4 e 4.5).

9 Como já mencionado, há a componente de custos indiretos, que são de natureza social e trabalhista, e os custos diretos, devido vistorias, avaliações, monitoramento e emissão de certificados.

Figura 4.4: Não conformidades em relação ao Princípio 1 do FSC (Obediência às Leis) encontradas nos relatórios de certificação de florestas plantadas (percentual em relação ao total

de certificações) entre 1996 e 2007.

Fonte: Basso et al., 2011.

Figura 4.5: Não conformidades em relação ao Princípio 1 do FSC (Obediência às Leis) encontradas nos relatórios de certificação de florestas plantadas (percentual em relação ao total

de certificações) entre 1996 e 2007.

Fonte: Basso et al., 2011

A exigência de uma certificação como a do FSC por parte de um consumidor de produto florestal – no caso, de péletes – implica, diretamente, cumprimento da legislação

local em todas as etapas da cadeia de suprimento. Muitas não conformidades destacadas nas figuras anteriores só podem ser detectadas com visita ao local em que as atividades acontecem, como, por exemplo, quanto à legislação trabalhista, ou seja, o cumprimento de normas reguladoras (NRs) relativas ao uso de agrotóxicos, à segurança dos trabalhadores e às condições de existência de depósitos. O cumprimento da legislação é entendido como condição para a existência de um comércio justo.

A exigência do CAR (Cadastro Ambiental Rural) está associada ao Novo Código Florestal e não conformidades a ele não se refletem nos dados apresentados acima; o CAR é informação pública, de livre acesso. O CAR é um avanço para a verificação das não conformidades em relação à Reserva Legal e às Áreas de Preservação Permanente (APPs), mas a informação associada é parcial, dada apenas à definição das áreas destinadas à preservação. Apenas as vistorias podem assegurar se a preservação ou a recuperação dessas áreas está realmente acontecendo (LEGIS, 2018).

Ainda como argumento favorável à certificação, a situação física e documental do empreendimento florestal requer análise in loco, o que os órgãos fiscalizadores públicos não conseguem fazer efetivamente, por falta de recursos humanos e materiais. Assim, por analogia, a certificação complementa parte das deficiências da atuação do poder público, que não é capaz de assegurar aos consumidores que seus fornecedores são cumpridores da normas e leis.

4.2 Fase secundária (industrial) e a produção de péletes

Nesta dissertação foram definidos alguns arranjos para a análise da produção industrial de péletes. Na definição foram considerados aspectos como coerência, sinergia e lógica, tanto do ponto de vista da oferta quanto da demanda de madeira. Os principais parâmetros

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