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3 A EXPANSÃO DO TRÂNSITO E A SUA LEGISLAÇÃO NO BRASIL: UM

5.4 Fatores associados selecionados

Importante destacar a classificação que está sendo utilizada neste trabalho com relação ao nível de gravidade dos acidentes de trânsito. Essas ocorrências podem ter diferentes desfechos, como a vítima sobreviver sem lesões físicas, sobreviver com lesões leves, com lesões graves ou falecer. No presente estudo, entende-se como acidente de trânsito com vítima grave aquele que resultou em óbito ou em lesões físicas graves, sendo essa classificação realizada pelas autoridades de trânsito da PRF. As lesões provocadas pelos acidentes de trânsito são consideradas graves quando a integridade física do indivíduo é comprometida a determinado nível no qual o risco de ocorrer o óbito seja iminente, sendo necessários procedimentos médicos mais complexos para a sua recuperação, como por exemplo, intervenções cirúrgicas (DNIT; PRF, 2010). Nesse nível de gravidade são mencionadas as grandes lacerações, extrações de partes do corpo de forma violenta em decorrência do acidente, hemorragias severas e queimaduras de 2º e 3º graus que tenham atingido mais de 50% da superfície do corpo da vítima (DNIT; PRF, 2010).

E o óbito da vítima do acidente de trânsito é constatado pelos agentes da PRF quando, no local da ocorrência, há algum dos seguintes eventos: decapitação do tronco da vítima, esmagamento ou carbonização do corpo, esmagamento da calota craniana com perda de massa encefálica, presença de

livor mortis (lividez cadavérica) ou rigor mortis (rigidez cadavérica)11, ou ainda qualquer outra lesão que tenha provocado a perda de sinais vitais da vítima (PRF, 2015).

Além disso, é importante destacar que a base de dados da PRF também está sujeita a erros de preenchimento e perda de informações por parte das autoridades de trânsito, como o subregistro de óbitos, de feridos ou de idade das vítimas. Com relação ao estado físico das vítimas, existe a possibilidade que ele seja alterado após algum tempo da ocorrência, pois o registro é feito no local do acidente, não sendo atualizado para outros estágios que a vítima pode chegar. Por exemplo, no local da ocorrência do acidente, o estado físico da vítima foi registrado como ferido de forma leve, no entanto, horas depois da ocorrência seu estado físico pode ser agravado, podendo ser submetido a algum procedimento, como a amputação de determinado membro, podendo ocorrer o óbito, ou seu estado físico pode ser mantido como ferido levemente.

Originalmente, as bases de dados da PRF dos anos de 2007 e 2016 apresentam 26 variáveis. Entre essas, foram selecionadas 11 variáveis para compor os fatores associados aos acidentes de trânsito. Com a variável de estado físico da vítima, que é o desfecho do estudo, são contabilizadas, no total, 12 variáveis.

Algumas das variáveis selecionadas para os fatores associados aos acidentes necessitaram de alguns tratamentos. Por exemplo, a variável „idade‟ do indivíduo envolvido no acidente encontra-se em anos completos, originalmente. Para esse caso, realizou-se uma categorização em grupos etários, gerando quatro categorias: (1) 18 a 29 anos; (2) 30 a 39 anos; (3) 40 a 49 anos e (4) 50

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O livor mortis ocorre quando há a cessação da circulação sanguínea no corpo da vítima e devido à força gravitacional, o sangue tende a acumular-se nas regiões do corpo que estejam mais próximas ao solo, as quais adquirem uma coloração intensa arroxeada, esverdeada ou avermelhada. Dessa forma, as regiões do corpo mais distantes do solo perdem sangue, tornando- se pálidas. Enquanto o rigor mortis ocorre pelo enrijecimento da musculatura da vítima, processo que inicia-se pelos músculos faciais (GARRIDO; NAIA, 2014).

anos ou mais. Por outro lado, algumas variáveis já se encontravam categorizadas, mas pela pouca quantidade de casos em algumas de suas categorias, foram executadas novas categorizações, como é o caso da variável 'condição meteorológica' e „causa do acidente‟. Para essa última variável, a categorização foi realizada de forma que cada uma de suas categorias representasse uma dimensão da tríade epidemiológica: (1) Aspectos relacionados ao comportamento do condutor; (2) Aspectos relacionados à via/ ambiente; (3) Aspectos relacionados ao veículo e (4) Outros.

A variável „dia da semana‟, que originalmente possuía sete categorias, foi categorizada de forma que passou a ser representada por apenas duas: (1) Segunda a quinta-feira e (2) Sexta-feira a domingo. Tal categorização foi realizada tendo em vista a associação da gravidade dos acidentes de trânsito em períodos de finais de semana. A variável „tipo de acidente‟, que apresentava 17 categorias, também foi transformada em uma variável binária, cujas categorias construídas foram: (1) Colisão frontal e (2) Demais acidentes.

A variável „estado físico‟, a qual representa o desfecho do presente estudo, apresenta quatro categorias nas bases de dados originais, que são: (1) Ileso; (2) Ferido leve; (3) Ferido grave e (4) Morto. Como o ponto central do presente estudo é a análise dos acidentes de trânsito com vítima grave, foi necessária a exclusão das vítimas que foram classificadas como ilesas após a ocorrência do evento (categoria 1), pois considerou-se que esses indivíduos apresentavam riscos mínimos ou inexistentes para lesão grave ou óbito, posteriormente. Cabe ressaltar também que acidentes de trânsito sem feridos tendem a serem subnotificados, uma vez que nessas ocorrências pode não haver o acionamento das autoridades de trânsito pelos envolvidos. Em seguida, as categorias (2) Ferido leve; (3) Ferido grave e (4) Morto foram recodificadas em forma de uma variável binária, sendo que as (3) e (4) foram agregadas em uma única categoria, representando o desfecho grave do acidente de trânsito, e a categoria (2) representando o desfecho não grave. Todas as variáveis utilizadas no presente estudo e suas categorias estão descritas no Quadro 7. Nesse quadro também estão destacados estudos anteriores que mostram evidências de que as variáveis aqui selecionadas possuem associação à ocorrência da gravidade dos acidentes de trânsito.

Quadro 7 – Categorização das variáveis referentes aos fatores associados aos acidentes de trânsito, Polícia Rodoviária Federal, 2007 e 2016.

Fonte: PRF, 2007 e 2016.

Foram realizadas duas etapas de análise das variáveis selecionadas para o presente estudo: a análise descritiva e a inferencial. As variáveis apresentadas

Variável original na base de dados da PRF Nova variável Categorização

1 '18 a 29 anos' 2 '30 a 39 anos' 3 '40 a 49 anos' 4 '50 anos e mais' 1 'Masculino' 2 'Feminino' 1 'Segunda a quinta-feira' 2 'Sexta-feira a domingo' 1 'Chuva / vento' 2 'Céu claro / sol' 3 'Nevoeiro / neblina / nublado'

1 'Sim (colisão frontal)'

2 'Não (colisão lateral, traseira, transversal, capotamento, tombamento, saída de pista, atropelamento de animal, atropelamento de pessoa, colisão com objeto fixo, colisão com

objeto móvel, danos eventuais, incêndio, derramamento de carga, queda do veículo,

colisão com bicicleta, outros)'

3 'Aspectos relacionados ao veículo' (defeito mecânico no veículo) 4 'Outros' 1 'Até 10 anos' 2 'Mais de 10 anos' 1 'Amanhecer' 2 'Pleno dia' 3 'Anoitecer' 4 'Plena noite' 1 'Simples' 2 'Dupla' 3 'Múltipla' 1 'Cruzamento' 2 'Reta' 3 'Curva' 1 'Rural' 2 'Urbano'

1 'Aspectos relacionados ao comportamento do condutor' (desobediência à sinalização, dormindo, falta de atenção, ingestão de álcool,

não guardar distância de segurança, ultrapassagem indevida, velocidade incompatível)

2 'Aspectos relacionados à via/ ambiente' (animais na pista, defeito na via) Idade (ALMEIDA et al., 2013; MINAYO, 2009; WHO,

2013; RAMADANI et al., 2017) Grupos etários

Sexo(ALMEIDA et al., 2013; MINAYO, 2009; WHO,

2013; RAMADANI et al., 2017; BARROSO JUNIOR, -

Dia da semana (ALMEIDA et al., 2013; BARROSO

JUNIOR, 2018) Período da semana

Condição meteorológica (USMAN et al., 2012; ERIC

et al., 2014)

Condição meteorológica (2)

Colisão frontal

Causa do acidente (ALMEIDA et al., 2009; CHAGAS

et al., 2012; ALMEIDA et al., 2013; CNT, 2017)

Traçado da via (CNT, 2017; BARROSO JUNIOR,

2018) -

Uso do solo (AMARASINGHA; DISSANAYAKE, 2014;

CNT, 2017; BARROSO JUNIOR, 2018) -

Tipo de acidente (ALMEIDA et al., 2009; ALMEIDA et

al., 2013)

Ano de fabricação do veículo (ALMEIDA et al., 2013;

MORAIS et al., 2014; ZHANG et al., 2014)

Ano de fabricação do veículo (2)

Fase do dia (ALMEIDA et al., 2013; AMARASINGHA;

DISSANAYAKE, 2014; BARROSO JUNIOR, 2018) -

Tipo de pista (LIMA et al., 2008; CNT, 2017;

BARROSO JUNIOR, 2018) -

Causa presumível do acidente

no Quadro 8 foram analisadas inicialmente de forma descritiva por meio de suas proporções, segundo o desfecho do acidente de trânsito (lesão leve ou lesão grave/óbito). Essa análise descritiva também foi desagregada de acordo com o tipo de veículo (automóvel e motocicleta), a rodovia (BR 101, 116 e 230) e o ano de ocorrência (2007 e 2016). No segundo momento, as variáveis foram submetidas à estimação de modelos de regressão, procedimento descrito com mais detalhes na próxima seção.