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2.5 Fatores de Risco Associados

2.5.3 Fatores de risco organizacionais e psicossociais

Os fatores psicossociais tornaram-se, mais recentemente, uma das matérias de interesse para alguns investigadores, que reclamam o seu poder explicativo para a ocorrência de LMERT. Segundo a EU-OSHA (2007a), os fatores organizacionais e psicossociais estão relacionados com o desempenho do trabalho, com a organização e gestão do trabalho e com os seus contextos sociais e ambientais.

Alguns fatores como, os ritmos intensos de trabalho, a monotonia das tarefas, o insuficiente suporte social (Johnston et al., 2007; Van den Heuvel et al., 2005), o baixo controlo sobre o trabalho (Smith et al., 2009; Van den Heuvel et al., 2005) e o modelo organizacional de

produção (Van den Heuvel et al., 2005) (horários de trabalho, turnos, trabalho em linha, pausas) são, entre outros, alguns dos elementos que podem aumentar a “carga de trabalho”, originando situações de incompatibilidade com as capacidades do trabalhador (Carnide, 2006; Uva et al., 2008).

Estes fatores têm um impacto moderado no desenvolvimento destas patologias e podem igualmente influenciar a suscetibilidade individual para a incidência, gravidade e etiologia das LME (Buckle & Devereux, 2002; Uva et al., 2008). De facto, alguns autores apresentam evidências de que os fatores organizacionais e psicossociais relacionados com o ambiente de trabalho têm um papel preponderante no desenvolvimento de LMERT (Wang et al., 2007; Zhang

et al., 2011). Pelo contrário, Collins & O'Sullivan (2010) não encontraram evidências de tal

associação. Note-se que ao contrário dos restantes fatores de risco, já bastante explorados na literatura, os mecanismos etiológicos de desenvolvimento das LMERT relacionados com os fatores organizacionais e psicossociais do trabalho ainda são pouco compreendidos (Alexopoulos, Tanagra, Konstantinou, & Burdorf, 2006). É de salientar que, esta situação pode estar relacionada com a dificuldade na avaliação destes fatores que são, habitualmente, explorados através de questionários ou entrevistas aos trabalhadores (Sluiter, Rest, & Frings- Dresen, 2001).

Apesar da dificuldade no estabelecimento da relação de causa-efeito entre estes fatores e o desenvolvimento das LMERT, alguns autores como Riley, Hung, Wang, Lin, & Blunk (2012), sugerem algumas justificações para esta relação de casualidade: (1) as exigências psicossociais produzem tensão muscular e exacerbam a tensão biomecânica relacionada com a tarefa; (2) as exigências psicossociais afetam a perceção de SME e/ou perceções das suas causas; (3) os primeiros episódios de dor física podem desencadear uma resposta crónica do sistema nervoso com componentes físicos e mentais e (4) as mudanças em situações físicas de trabalho podem também alterar as exigências psicossociais.

Na indústria do calçado, principalmente no setor da costura, a intensificação do trabalho aumentou como consequência das exigências de produtividade e da grande concorrência, originando uma maior sobrecarga de trabalho. O ritmo intenso de trabalho e o stress induzidos pela sobrecarga de trabalho podem consequentemente influenciar a incidência e a prevalência das LMERT (EU-OSHA, 2007a; Franco, 2010; WHO, 2010). Efetivamente, segundo um estudo realizado por Wang, Harrison, Yu, Rempel, & Ritz (2010) uma elevada sobrecarga de trabalho em operadores de costura da indústria do vestuário estava associada a uma prevalência de SME de maior intensidade nas regiões anatómicas do pescoço e dos ombros. Dados semelhantes foram registados por Ozturk & Esin (2011) para as regiões dos ombros, pulsos, e dedos. Por outro lado, de acordo com um estudo realizado por Canjuga et al. (2010) a oportunidade de escolher ou mudar a velocidade ou ritmo de trabalho estava positivamente associada com o absentismo devido às LMERT.

Para que a sobrecarga de trabalho possa ser aliviada, os trabalhadores devem poder usufruir de períodos de descanso regulares, de forma a recuperar os músculos utilizados aquando do ritmo intenso de trabalho (Uva et al., 2008). Neste contexto, as pausas insuficientes durante o trabalho têm sido apontadas como um fator de risco para o desenvolvimento de LMERT (Leclerc et al., 2004; Palmer, 2011; Zhang et al., 2011). Na atividade de costura, Wang et al. (2007) demonstraram que o tempo de recuperação insuficiente estava associado à prevalência de SME nas regiões anatómicas do pescoço e dos ombros. De acordo com os mesmos autores, a implementação da rotatividade dos trabalhadores em várias máquinas reduziu a prevalência dos

sintomas, devido à distribuição da carga para vários grupos musculares, em vez de carregar um conjunto limitado de músculos. Por sua vez, quando o ritmo intenso de trabalho estava associado à insatisfação no trabalho, o risco de desenvolvimento de LMERT era acrescido.

A insatisfação no trabalho e o baixo apoio social também são referidos como preditores do subsequente desenvolvimento de LMERT (Bartys, Burton, & Main, 2005) e posterior ausência no trabalho (Van den Heuvel, Ariens, Boshuizen, Hoogendoom, & Bongers, 2004). De facto, Kaergaard & Andersen (2000) demonstraram que as mulheres costureiras que percecionaram um baixo apoio social por parte dos colegas e supervisores possuíam um risco maior de contrair LMERT no pescoço e nos ombros. Adicionalmente, Canjuga et al. (2010) referiram que o elevado apoio social por parte dos superiores também estava associado com menos faltas ao trabalho a curto prazo. Contudo, o apoio social não foi considerado um fator significativo para o absentismo a longo prazo. Pelo contrário, Bongers, Kremer, & ter Laak (2002) referiram que uma baixa insatisfação no trabalho e o suporte social também desempenham um papel importante para a recuperação das LMERT.

Também o baixo controlo sobre o trabalho tem sido associado à prevalência de SME. Esta associação é reforçada quando o baixo controlo está acompanhado de outros fatores organizacionais/psicossociais (Leclerc et al., 2004). De facto, Wang et al. (2005) verificaram uma associação estatisticamente significativa entre o baixo controlo sobre o trabalho e a prevalência de SME no setor da costura. Também um estudo realizado, em trabalhadores de escritório, por Van den Heuvel et al. (2005) refere que alguns fatores de risco psicossocial como o baixo controlo sob o trabalho, o baixo suporte social por parte dos colegas e dos supervisores, a insatisfação no trabalho e o stress estão associados ao desenvolvimento da síndrome do túnel cárpico, conforme foi referido no ponto 2.3.3 do presente estudo. Por outro lado, Wang et al. (2007) referem não existir relação significativa entre a prevalência de sintomas nas regiões do pescoço/ombro e membros superiores e o baixo apoio social ou o baixo controlo sobre o trabalho.

Outros fatores de risco psicossociais/organizacionais tais como, o assédio moral e sexual também foram estatisticamente relacionadas com SME, principalmente na zona lombar (Tissot, Messing, & Stock, 2009).