• Nenhum resultado encontrado

2.5 Fatores de Risco Associados

2.5.1 Fatores de risco relacionados com o trabalho

Os fatores de risco físicos englobam fatores biomecânicos e ambientais. Entre esses fatores, os mais referidos como preponderantes para o desenvolvimento das LMERT são a postura, a repetitividade, a força e a exposição a vibrações (Barbe & Barr, 2006; Lanfranchi & Duveau, 2008; Roquelaure et al., 2009). No entanto, também são referidos outros fatores tais como a exposição a temperaturas extremas (Piedrahita, Punnett, & Shahnavaz, 2004) e a movimentação manual de cargas (Uva et al., 2008). É de salientar que, a combinação dos fatores de risco físico na atividade de trabalho pode aumentar a probabilidade do aparecimento e/ou agravamento de LMERT (EU-OSHA, 2010b; Lanfranchi & Duveau, 2008; Melo, 2012), principalmente no que respeita à força exercida e à repetitividade no trabalho (Punnett, Gold, Katz, Gore, & Wegman, 2004), tornando-se assim necessário conhecer cada um desses potenciais fatores.

Posturas de trabalho

A postura é um dos fatores de risco mais estudado e é entendida como a orientação biomecânica entre os segmentos e a disposição do corpo adotada para a execução da tarefa (Nordin & Frankel, 2012).

De acordo com Uva et al. (2008), a postura depende de vários aspetos, como, por exemplo: (1) o alinhamento biomecânico; (2) a orientação espacial das várias zonas corporais; (3) a posição relativa dos vários segmentos anatómicos e (4) a atitude corporal assumida durante a atividade de trabalho. Além disso, a postura é igualmente influenciada pela tarefa a realizar, pelo posto de trabalho e suas características, pelas ferramentas e utensílios e pelas capacidades e limitações dos trabalhadores, incluindo as características antropométricas (Polajnar, Leber, & Herzog, 2010; Sealetsa & Thatcher, 2011).

As posturas desfavoráveis, nomeadamente, as posturas estáticas ou de variações posturais de grande amplitude ou com grande velocidade durante a execução da tarefa, podem conduzir ao desenvolvimento de LMERT (Nordin & Frankel, 2012). A adoção de uma postura ou posição extrema, isto é, quando se assume uma posição quase no limite das possibilidades articulares também aumenta o risco de desenvolvimento de LMERT (Uva et al., 2008). De facto, de acordo com Canjuga, Hammig, Bauer, & Laubli (2010), a postura foi o único fator de risco físico estudado em que se verificou uma relação estatisticamente significativa com o absentismo, a curto e a longo prazo, devido a LMERT.

Na atividade de costura, os trabalhadores realizam as tarefas na posição sentada e em posturas inadequadas durante longos períodos de tempo. Alguns autores têm defendido que estas condições estão associadas à prevalência de SME na região cervical, nos ombros, nas mãos, na coluna vertebral, nas costas, nos joelhos, na coxa e nos pés dos operadores de máquinas de costura da indústria do calçado (Aghili, Asilian, & Poursafa, 2012). Adicionalmente, outros estudos referem que a postura estática associada a posturas extremas do tronco, pescoço e extremidades superiores nestes trabalhadores originam uma elevada prevalência de SME que

afetam a região lombar, pescoço, ombros e membros superiores (Kaergaard & Andersen, 2000; Polajnar, Leber, & Herzog, 2010; Zhang et al., 2011). Outro estudo realizado no setor da costura de uma indústria do vestuário referiu que a prevalência de dor nas costas poderia estar associada a posturas inadequadas e a fraca iluminação (Parimalam, Kamalamma, & Ganguli, 2007).

Movimentos repetitivos

Segundo a EUROFOUND (2007), o trabalho repetitivo com as mãos é o fator de risco físico mais reportado no trabalho. Segundo a mesma fonte, cerca de 62% dos trabalhadores europeus estão expostos a movimentos repetitivos durante períodos iguais ou superiores a um quarto do tempo de trabalho.

A repetitividade do trabalho consiste na realização de movimentos idênticos efetuados mais de duas a quatro vezes por minuto, em ciclos de trabalho de duração inferior a trinta segundos ou efetuados durante mais de quatro horas, num total de um dia de trabalho (Serranheira, Lopes, & Uva, 2005). As formas de organização do trabalho que determinam a execução de tarefas de elevadas exigências de precisão são muito frequentes na indústria. Este tipo de tarefas impõe, por um lado, a realização de gestos que, analisados isoladamente, não impõem um esforço importante mas cuja repetitividade ao longo do período de trabalho lhes confere uma carga elevada.

Algumas indústrias, como a indústria do calçado, envolvem a manipulação de elementos de muito pequena dimensão e impõem, por esse facto, tarefas de grande precisão. Além disso, a sua estrutura apresenta, por vezes, tempos de ciclo da ordem de 10 ou 15 segundos, numa jornada de 8 horas por dia de trabalho. As consequências deste tipo de tarefas estão bem patentes na prevalência das patologias músculo-esqueléticas ao nível do membro superior que constituem fator de perturbação em muitos sistemas de produção (Fung et al., 2007), principalmente no setor da costura. De facto, de acordo com Sarder, Imrhan, & Mandahawi (2006) e Sealetsa & Thatcher (2011), a repetitividade de movimentos realizados com os punhos e as mãos é apontada como um fator de risco relacionado com o desenvolvimento de LMERT. Segundo Ozturk & Esin (2011) o uso frequente de tesouras para cortar as linhas sobrantes da costura também é referido como um fator de risco para a prevalência de SME nas mãos. Já Polajnar, Leber, & Herzog (2010) associaram a repetitividade dos movimentos realizados à prevalência de SME nas regiões anatómicas das costas, pescoço e membros superiores. Por outro lado, Wang, Ritz, Rempel, Harrison, Chan, & Janowitz (2005) referiram que o trabalho repetitivo realizado por estes trabalhadores estava associado à prevalência de sintomas na região das ancas, enquanto Wang et

al. (2007) o associaram ao aumento da dor nas regiões superiores do corpo. Estes mesmos

autores verificaram pelo contrário, que uma maior variedade de tarefas no trabalho originava uma menor prevalência de dor na parte superior do corpo.

Força

Outro importante fator de risco profissional de LMERT é a força. Esta traduz o movimento biomecânico necessário para atingir uma dada ação ou sequência de ações de carácter estático ou dinâmico (Nordin & Frankel, 2012).

Tanto a força elevada (manipulação de cargas superiores a 4 quilogramas, no membro superior) como a força ligeira podem provocar LMERT (Carnide, Veloso, Gamboa, Caldeira, & Fragoso, 2006).

A aplicação da força durante as tarefas de costura está relacionada com a necessidade de segurar objetos e materiais durante um certo tempo ou manter um segmento corporal numa postura extrema. Segundo um estudo realizado por Wang et al. (2007), em operadores de máquinas de costura, constatou-se uma elevada prevalência de SME associados à aplicação de força. Também Tissot, Messing, & Stock (2009) referiram uma associação estatisticamente significativa entre a força exercida e a dor lombar.

Exposição a vibrações mecânicas

A exposição a vibrações está frequentemente associada à utilização de ferramentas elétricas ou pneumáticas (Leclerc, Chastang, Niedhammer, Landre, Roquelaure, & Study Group on Repetitive, 2004). Considera-se que a utilização de ferramentas vibratórias manuais pode influenciar, e de uma forma evidente, o risco de contrair LMERT, quer do sistema mão-braço, quer do sistema corpo inteiro (Serranheira, Lopes, & Uva, 2005). Efetivamente, de acordo com o INRS (2011), as vibrações podem ocasionar a síndrome do túnel cárpico, bem como lesões vasculares nos dedos (síndrome de raynaud), ou da microvascularização do nervo mediano. Os operadores de máquinas de costura estão em risco de contrair LMERT através do uso prolongado de máquinas de costura, muitas das vezes inadaptadas e desprotegidas, expondo os trabalhadores a níveis elevados de vibrações transmitidas ao sistema mão-braço (Nag, Vyas, & Nag, 2010).