• Nenhum resultado encontrado

O estilo de vida adotado influencia de forma significativa o nosso organismo podendo ser um fator chave no desenvolvimento de doenças. O sedentarismo, a falta de atividade física diária, a adoção de uma dieta desequilibrada ou o tabagismo, constituem fatores de risco associados à doença arterial coronária e AVC. Os fatores de risco são classificados como modificáveis e não modificáveis. Os fatores de risco não modificáveis são aqueles de natureza genética como a história familiar, etnia e idade, que não podem ser alterados. Contudo, existe um outro conjunto de fatores de risco individuais sobre os quais podemos influir e modificar e que estão, sobretudo, ligados ao estilo e ao modo de vida atual. Entre eles destacam-se a exposição ao tabaco, HTA, hipercolesterolemia, obesidade, sedentarismo, diabetes, dieta desequilibrada e consumo de álcool em excesso.

A HTA pode ser compreendida como um fenómeno fisiológico que se verifica quando os valores de PA estão aumentados. Assim sendo, consideram-se valores de pressão arterial sistólica (PAS) (“ x ”) p 140 H (milímetros de mercúrio) e/ou valores de pressão arterial diastólica (PAD) (“ í ”) superiores ou iguais a 90 mm Hg. Todavia, no caso particular dos doentes diabéticos, uma vez que a aterosclerose progride mais rapidamente, considera-se HTA quando os

Relatório de Estágio Farmácia Santo Ovídio 2015

31 valores de PAS são superiores ou iguais a 130 mm Hg e/ou os valores de PAD são superiores ou iguais a 80 mm Hg. Habitualmente apenas um dos valores se encontra alterado. Desta forma considera- q q p v “ x ” alterados, diz-se que o doente sofre de hipertensão arterial sistólica isolada; quando p v “ í ” v , h p arterial diastólica. A hipertensão arterial sistólica isolada é mais frequente em idades avançadas enquanto a hipertensão arterial diastólica em idades jovens. A HTA é o principal fator que contribui para o AVC, no entanto também é associada de forma significativa aos ataques cardíacos. Para o diagnóstico da HTA os clínicos utilizam um algoritmo clínico/árvore de decisão (Anexo XVI-A) que classifica a HTA em graus distintos. De acordo com o algoritmo, conclui-se que as pessoas com PA normal-alta têm risco cardiovascular mais elevado comparativamente às que apresentam uma PA ótima, no entanto na mulher o risco relativo é de 2.5 e no homem de 1.6. No caso da hipertensão sistólica isolada a classificação também é efetuada em graus de 1 a 3, atendendo aos valores PAS [46].

O metabolismo dos lípidos no organismo influencia o risco de DCV. A hipercolesterolemia caracteriza-se pela presença de níveis de colesterol no sangue superiores aos níveis máximos recomendados em função do risco cardiovascular individual. O colesterol é indispensável ao organismo, quaisquer que sejam as células orgânicas que necessitem de regenerar-se, substituir-se ou desenvolver-se. No entanto, valores elevados são prejudiciais à saúde. O colesterol é constituído por dois tipos, o High Density Lipoproteins (HDL), considerado benéfico para a saúde e pelo

Low Density Lipoproteins (LDL) considerado nocivo pois quando em quantidade

excessiva, circula livremente no sangue, acumulando-se na parede dos vasos arteriais. O excesso de colesterol LDL, quer o défice de colesterol HDL aumentam o risco de DCV, principalmente o EM.

O tabagismo aumenta também o risco de desenvolvimento de DCV, sendo este considerado o fator de risco mais importante na União Europeia, estando relacionado a cerca de 50% das causas de morte evitáveis, metade das quais devido à aterosclerose. O risco de desenvolver DCV é mais elevado quando se é do sexo feminino e se é fumador há muitos anos. O risco de AVC nos fumadores é proporcional ao número de cigarros fumados por dia. As mulheres fumadoras que recorrem à anticoncepção oral estão sujeitas a um maior risco de ACV, isto é considera-se que o risco aumenta de seis a oito vezes. O tabagismo passivo também é considerado um fator de risco para DCV. Está descrito que os não fumadores,

Relatório de Estágio Farmácia Santo Ovídio 2015

32 quando têm enfartes, estes ocorrem dez anos mais tarde que os consumidores de tabaco. O tabagismo contribui para o aparecimento da Angina de Peito, do EM e da Doença Arterial Periférica, e pode levar, inclusive, à morte. Para além disso, está descrito que um ex-fumador sem DCV tem um risco de ocorrência de acidentes coronários, ao fim de 10 anos de ter deixado de fumar, semelhante ao de um não fumador [42].

A obesidade e o excesso ponderal estão diretamente relacionados com um maior risco cardiovascular, pelo conjunto de doenças e estados mórbidos que favorecem, com referência especial para a diabetes Mellitus, HTA e dislipidémia. É recomendada a redução do peso aos indivíduos com excesso de peso (IMC> 25 kg/m2) e especialmente aos obesos (IMC> 30 kg/m2). O perímetro abdominal também é um aspeto a ser avaliado, aconselha-se a redução de peso quando o perímetro da cintura é superior a 88 cm em mulheres ou a 102 cm em homens.

O sedentarismo hoje em dia é considerado um importante fator de risco para o desenvolvimento de doença cardíaca e AVC que atinge uma percentagem muito elevada da população, incluindo adolescentes e jovens adultos. Frequentemente está intrinsecamente associado aos demais fatores de risco pois a ausência de prática de exercício físico potencia a HTA, a obesidade, a diabetes ou a hipercolesterolemia.

A adoção de uma alimentação desequilibrada contribui para o desenvolvimento DCV. Está provado que uma dieta equilibrada constitui um fator na proteção para a saúde. A uma deita desequilibrada está associado o consumo de excesso de sal, gorduras saturadas, álcool em excesso e de açúcares de absorção rápida e por outro lado, a ausência de consumo de refeições à base de legumes, vegetais e fruta.

O stress psicossocial é um fator quase inevitável nos dias de hoje podendo ter duas manifestações, sendo a primeira o stress positivo ou eustress, sem consequências indesejáveis para a saúde e a segunda o distress que surge quando as exigências da vida ultrapassam a possibilidade de superação causando impactos negativos na saúde, quer ao nível físico quer ao nível psíquico particularmente ao nível do sistema cardiovascular. Uma vez, encontrando-se em distress permanente um indivíduo incorre no risco de reatividade cardiovascular. Evidencia-se maior frequência cardíaca, HTA e alterações na resistência periférica total. Assim há anomalias na perfusão do coração e de outros órgãos, anomalias nos movimentos da parede do coração, alterações do ritmo cardíaco, potenciais isquemias, vasoconstrição periférica prolongada, perda da elasticidade dos vasos e tendência a aterosclerose. Resumindo para além da HTA instala-se todo um sério risco de coronariopatia e AVC. Desta

Relatório de Estágio Farmácia Santo Ovídio 2015

33 forma, é recomendada no quotidiano a adoção de estilos de vida que evitem a exposição a ambientes que possam despoletar situações de stress [47].

4.1. Avaliação do Risco Cardiovascular

Na avaliação do risco cardiovascular, devem ser incluídos os utentes com idade entre os 40 e 65 anos inclusive. Atualmente para a avaliação do risco cardiovascular, os profissionais de saúde devem utilizar o Systematic Coronary Risk Evaluation (SCORE) quando adequado ao caso. Os clínicos utilizam um algoritmo clínico para avaliar a situação cardiovascular do utente (Anexo XVI-B) [48].

A tabela de score constituiu um sistema de avaliação de risco a 10 anos de DCV fatal e deve ser utilizada no âmbito do conhecimento e decisão do clínico. Este sistema de avaliação baseia-se nas variáveis sexo, idade, tabagismo, PAS e colesterol total (mg/dl ou mmol/l). O risco é classificado em sete categorias, desde inferior a 1% até 15% ou superior, cada uma com uma cor correspondente. Com base no risco fatal cardiovascular a 10 anos, considera-se como de risco alto, suscetível de medidas mais intensivas de prevenção, inclusive farmacológicas, um risco absoluto igual ou superior a 5%. Desta forma foi construída uma tabela para países da Europa com um baixo risco de DCV (Alemanha, Andorra, Áustria, Bélgica, Chipre, Dinamarca, Eslovénia, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Luxemburgo, Malta, Mónaco, Países Baixos, Noruega, Portugal, San Marino, Suécia, Suíça, Reino Unido) e outra tabela para países da Europa com alto risco (são todos aqueles que não constam na lista anterior) (Anexo XVI-C). No entanto, o cálculo do risco de DCV poderá ser sobrestimado nos países cuja mortalidade por DCV esteja a diminuir e subestimado se a mortalidade estiver a aumentar [48].

Está descrito que o risco pode ser mais elevado do que o estimado pela tabela nas seguintes situações: pessoas sedentárias ou obesas, especialmente com obesidade central; pessoas com histórico de familiar direto portador de DCV prematura; pessoas socialmente desfavorecidas; pessoa com nível de HDL inferior a 40 mg/dl no homem, 45 mg/dl na mulher, com nível de triglicerídeos superior a 150 mg/dl, aumento do fibrinogénio, da apolipoproteína B e da lipoproteína (a), especialmente em combinação com hipercolesterolemia familiar; utente assintomático com evidência de aterosclerose subclínica, por exemplo, a presença de placas de ateroma ou aumento da espessura íntima-média carotídea ou um índice baixo tornozelo-braço [48].

Relatório de Estágio Farmácia Santo Ovídio 2015

34

Documentos relacionados