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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A RECIDIVA PÓS-TRATAMENTO ORTODÔNTICO

2.2.1 Fatores relacionados ao desenvolvimento da sobremordida profunda

2.2.1.1 Fatores dentoalveolares

Em 1928, acreditava-se que os fatores dentoalveolares eram responsáveis pelo desenvolvimento de uma sobremordida profunda. Para Grieve, havia uma divergência de opiniões quanto à etiologia dessa má oclusão, pois, enquanto alguns advogavam a falta de crescimento vertical nas regiões dos molares e dos pré-molares, outros apontavam a responsabilidade à supraerupção dos incisivos e caninos e, outros, ainda, admitiam a combinação de ambas as causas.

Onda, em 1938, relacionou alguns fatores passíveis de desenvolverem uma sobremordida profunda, como a perda prematura dos molares decíduos; a respiração bucal, com consequente protrusão dos incisivos superiores; a função anormal dos músculos da mastigação; a sequência alterada de erupção dentária; a permanência prolongada de dentes decíduos; a má posição e a extrusão dentária.

Numa análise em modelos de gesso, de diferentes casos com sobremordida profunda, Steadman, em 1940, observou a presença da curva de

Spee como fator responsável pela sobremordida profunda. Para seu diagnóstico, uma análise criteriosa dessa curva, de ambos os arcos, deveria ser realizada, pois, o tipo de tratamento e o seu sucesso dependeriam da determinação correta da natureza e da etiologia bem como da cooperação do paciente.

Em 1944, Wylie, investigando cefalometricamente a relação entre as alturas faciais anteriores de 29 pacientes, com os dentes em oclusão e em repouso, relatou que a maioria deles apresentava uma posição de repouso mandibular, determinada precocemente pelo padrão muscular morfogenético, sendo a erupção dentária desenvolvida dentro desse limite. Observou uma grande correlação entre a altura vertical em oclusão e em repouso, denotando uma relativa deficiência na dimensão vertical nos pacientes com sobremordida profunda. Em alguns casos, não ocorreu a quantidade de desenvolvimento vertical permitida pela musculatura, ou seja, os molares não irromperam no grau permitido pelo espaço livre (“leeway space”). Segundo o autor, esses casos apresentavam melhor prognóstico e tratamento, pela extrusão desses dentes.

Apresentando casos, em modelos de gesso, com diversas situações de sobremordida e de sobressaliência, Steadman, em 1949, relacionou a importância da avaliação do tamanho dentário superior e inferior bem como da angulação dos incisivos superiores e inferiores, no comportamento da sobremordida e horizontal. Investigando a possível correlação da magnitude da sobremordida com o ângulo formado pelos incisivos, afirmou que esse trespasse diminui à medida que esse ângulo decresce de 180 graus, e aumenta quando o ângulo excede esse valor. É importante salientar que esse ângulo foi obtido em modelos de gesso, tendo como referência a superfície lingual dos incisivos superiores e a superfície vestibular dos incisivos inferiores.

Procurando avaliar a relação existente entre a sobremordida e as fases de dentadura decídua, mista e permanente, Baume, em 1950, observou a influência da sequência de erupção dentária na quantidade de sobremordida. A mais favorável apresentou-se na seguinte ordem: no arco inferior; canino, primeiro e segundo pré-molares; e no arco superior; primeiro pré-molar, canino e segundo pré-molar.

Em 1952, Prakash; Margolis, analisando 120 telerradiografias de jovens entre 12 e 30 anos, sendo 36 com oclusão aceitável, 44 com má oclusão de Classe I e 40 com Classe II, concluíram que a sobremordida profunda apresentava-se associada à infraerupção dos molares inferiores e supraerupção dos incisivos

superiores. Não evidenciaram a supraerupção dos incisivos inferiores.

Avaliando as telerradiografias iniciais de 51 jovens do gênero feminino e 51 do masculino, com 18 a 25 anos de idade, sendo 34 com oclusão normal e 68 com Classe I (34) e Classe II (34), com sobremordida profunda, Popovich, em 1955, comparou as características dentárias e esqueléticas desses grupos. Para a Classe I, a extrusão do incisivo superior encontrava-se diretamente associada à sobremordida profunda, enquanto o ângulo interincisivo, a infraerupção do primeiro molar superior e a supraerupção do incisivo inferior apenas sugeriram uma relação com a sobremordida, pois, apresentaram-se diferentes do grupo com oclusão normal. Para a Classe II, observou-se uma correlação positiva com o ângulo interincisivo e a supraerupção dos incisivos inferiores e uma correlação negativa com o grau de erupção do primeiro molar superior.

Mesmo considerando a sobremordida profunda como má oclusão dentária, Strang, em seu livro “Tratado de Ortodontia”, de 1957, relacionou também, a importância da posição espacial da mandíbula e do equilíbrio muscular. Para as considerações dentárias, apontou: a supraerupção dos incisivos superiores e inferiores, a infraerupção dos dentes posteriores, a associação de ambos e, raras vezes, a inclinação lingual dos dentes anteriores e a oclusão lingual total dos molares e pré-molares inferiores (Síndrome de Brodie).

Na tentativa de determinar o relacionamento entre os segmentos anteriores, superior e inferior, do arco dentário, Neff (1949) observou que o grau de sobremordida encontrava-se relacionado com as dimensões mesiodistais dos incisivos. Os superiores deveriam ser 18 a 36% maiores que os inferiores para um sobremordida normal.

Da observação de 101 séries radiográficas (telerradiografia inicial, final e de 2 a 8 anos pós-contenção) de pacientes com sobremordida inicial maior que 5 mm, Ludwig, em 1967, sugeriu uma possível correlação entre o ângulo interincisivo e a sobremordida. Não verificou correlação entre o padrão facial e a inclinação dos incisivos superiores e inferiores. Uma significativa correlação foi observada na altura facial total e altura dentária.

Para avaliar o relacionamento entre as dimensões verticais e a rotação mandibular, em pacientes com padrões faciais de crescimento extremos, Isaacson et al., em 1971, compararam 20 casos com padrão horizontal, 20 com vertical e 20 com padrão equilibrado. Encontraram maior contribuição dos molares superiores no

desenvolvimento da sobremordida profunda do que dos molares inferiores.

Herness; Rule; Williams, em 1973, avaliando cefalometricamente 9 jovens do gênero masculino e 11 do feminino, com Classe I, sem tratamento ortodôntico, aos 5, 7, 9 e 11 anos de idade, encontraram uma correlação significante da sobremordida com o ângulo interincisivo nas idades de 5, 9 e 11 anos. Aos 7 anos, os incisivos encontravam-se em erupção, não sendo utilizados para essa correlação. Comentaram, também, a grande variabilidade dos resultados obtidos, questionando a significância dessa correlação. Numa breve discussão de 3 casos clínicos com sobremordida profunda, Lewis, em 1987, apresentou como causa dessa má oclusão, as supraerupções dos incisivos superiores e/ou inferiores. Mencionou a importância do correto diagnóstico para a obtenção de uma função e estética ideais.

Em seu livro, editado em 1986, Van der Linden descreveu a participação do lábio no desenvolvimento da sobremordida profunda. Segundo o autor, o posicionamento mais alto do lábio inferior promovia um pressionamento sobre os incisivos superiores em erupção, verticalizando-os e ocasionando sua sobre-erupção. Secundariamente, os incisivos inferiores também adquiriam uma posição mais retruída e extruída, caracterizando um sobremordida acentuado.

Numa breve discussão de 3 casos clínicos com sobremordida profunda, Lewis, em 1987, apresentou como causa, dessa má oclusão, as supraerupções dos incisivos superiores e/ou inferiores. Mencionou a importância do correto diagnóstico para a obtenção de uma função e estética ideais.