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2 Métodos e abordagens propostos

2.2.2 Fatores FLAG associados à bonificação docente

Ao classificar os tipos de bonificação docente implantados no Brasil, Nathalia Cassettari reconhece três tipologias:

O primeiro, o pagamento por mérito individual, é o modelo mais criticado, por depender de avaliações subjetivas do desempenho dos professores e por incentivar a competição entre eles.

Já a bonificação com base no resultado das escolas, apesar de receber diversas críticas ao relacionar diretamente o desempenho dos professores ao resultado dos alunos nos sistemas de avaliação, tem se expandido com bastante rapidez.

Por fim, a bonificação com base nos conhecimentos e habilidades dos professores é o modelo mais recente e consiste em avaliações objetivas dos professores que podem ser das mais complexas (envolvendo múltiplos instrumentos) às mais simples (resumidas a um único instrumento, como provas, em geral), sendo essas últimas as mais utilizadas no Brasil. (CASSETTARI,2012, p. 14)

Esta autora lista efeitos colaterais associados: “a criação de uma rivalidade entre os professores; o aumento da desigualdade entre as escolas; o incentivo a fraudes; a exclusão de alunos que não apresentem bons desempenhos, dentre outros” (CASSETTARI,2012, p. 3).

Os dados para a construção dos FLAGs associados às políticas de bonificação, no nível das UFs, foram embasados nos trabalhos de Scorzafave, Ferreira e Dorigan (2014, 2015). Estes autores indicam cinco tipos de bonificação docente, resumidas no Quadro 5.

As características destes sistemas de bonificação são detalhadas por Nogueira et al. (2013), incluindo datas de início, legislação aplicável e abrangência. As datas de início das políticas foram empregadas para determinar a “dosagem” da exposição à política no momento de realização das provas estudadas.

Quadro 5 – Bonificações docentes por UF

Tipologia de Bonificação Docente UF Tipo para agrupamento

Sem bonificação

AL, AP, BA, DF, MA, MT, MS, PA, PR, PI, RN, RS, RO, SC 1 Com bonificação Não vinculada a

proficiência discente AC, GO, RR 2

Vinculada a proficiência discente Base em avaliação estadual própria CE, ES, MG, PE, RJ, SP 3 Base mista (avaliação própria e Prova Brasil) AM, TO 4 Base no Ideb e

Prova Brasil SE, PB 5

Fonte: Elaboração do autor, com base em Scorzafave et al. (2014).

O Tipo 1 indica a ausência de políticas de bonificação estadual, à época de realização da Prova Brasil 2013 e 2015. São 14 UFs representadas nesta categoria.

O Tipo 2 abrange as três UFs que têm políticas de bonificação, sendo estas não embasadas na medida da proficiência dos alunos. Nelas, são usados critérios de assiduidade docente, formação continuada, projetos desenvolvidos nas escolas, entre outros. Estas políticas têm paralelo com o apresentado por Berliner e Biddle (1995) como uma alternativa interessante ao uso da proficiência docente como insumo da responsabilização.

2.2. FLAGs – os Fatores Ligados Ao Gaming 81

O Tipo 3 cobre as seis UFs que têm bonificação docente embasada na proficiência aferida dos alunos, entre outros fatores, mas que contam unicamente com avaliações estaduais próprias para suportar os resultados. Por não usar a Prova Brasil como insumo, não são esperados, a priori, resultados degaming para UFs classificadas como de Tipo 3. O Tipo 4 conta com duas UFs que bonificam seus docentes com base na proficiência discente medida tanto por avaliações estaduais próprias quanto pela Prova Brasil e Ideb resultante. Para este tipo, é plausível a associação com evidências degaming.

O Tipo 5, também com duas UFs, bonificam os docentes com base em atingimento de metas de proficiência discente aferida exclusivamente com base na Prova Brasil. É esperada maior pressão degaming, na Prova Brasil, nestes contextos.

A Tabela 2 ilustra as variáveis FLAGs para as UFs, conforme a tipificação do Quadro 5. A variável DOSE indica o tempo decorrido, em anos, desde a implantação da política de bonificação e a data da Prova Brasil em estudo (2013 e 2015)8.

A classificação por tipo de bonificação estadual, apesar de ser apenas uma das tantas alavancas indutoras de gaming possíveis, se mostra suficiente para evidenciar padrões de interesse, revelados adiante. Por exemplo, os Tipos 4 e 5 (bonificações associadas diretamente ou indiretamente ao Ideb) tendem a apresentar maiores indicadores de fraudes e exclusões de baixa proficiência que os Tipos 2 e 3.

Há vários outros mecanismos potencialmente indutores degaming que vão além da bonificação estadual. Por não serem disponíveis com a extensão e granularidade compatível com a Prova Brasil, não foram tabulados nem empregados como fatores explicativos. Por exemplo, é crescente a adoção de sistemas municipais de avaliação, alguns deles associados a políticas de responsabilização.

Um levantamento destas avaliações (BAUER et al., 2015), em parceria do Inep com a Fundação Carlos Chagas, com expressiva cobertura municipal, revela que 37% dos municípios respondentes já tinham, em 2014, suas avaliações próprias e 21% dos que ainda não tinham, planejavam ter. As razões alegadas para ter suas próprias avaliações municipais, estão majoritariamente relacionadas à “melhoria de qualidade”.

Apenas 6,3% dos municípios respondentes usam os resultados para bonificar docen- tes e 9,5% usam as avaliações para premiar escolas. 6% dos municípios indicam usar os resultados para demitir diretores e 22,6% contam colocar resultados em placa visível à frente das escolas, como ilustrado na Introdução.

8 Consultas aos sítios das secretarias de educação estaduais não indicaram alteração nas tipificações

entre 2013 e 2015. Portanto, UFs têm mesmo T IP O de um ano Saeb para outro, com a variável DOSE de 2015 incrementada em exatos 2 anos versus seus valores de 2013.

Tabela 2 – Variáveis associadas à bonificação docente para 2013 Unidade da Federação Bonificação Docente Vinculada a proficiência Avaliação Própria Ideb e Prova Brasil Anos desde Implantação Tipo

BONIF_DOC BASE_PROF BASE_

AVAL_PROP BASE_ IDEB DOSE AL 0 0 0 0 0.00 1 AP 0 0 0 0 0.00 1 BA 0 0 0 0 0.00 1 DF 0 0 0 0 0.00 1 MA 0 0 0 0 0.00 1 MS 0 0 0 0 0.00 1 MT 0 0 0 0 0.00 1 PA 0 0 0 0 0.00 1 PI 0 0 0 0 0.00 1 PR 0 0 0 0 0.00 1 RN 0 0 0 0 0.00 1 RO 0 0 0 0 0.00 1 RS 0 0 0 0 0.00 1 SC 0 0 0 0 0.00 1 AC 1 0 0 0 3.27 2 GO 1 0 0 0 4.69 2 RR 1 0 0 0 4.93 2 ES 1 1 1 0 2.52 3 RJ 1 1 1 0 2.85 3 CE 1 1 1 0 4.10 3 SP 1 1 1 0 4.93 3 MG 1 1 1 0 5.35 3 PE 1 1 1 0 5.35 3 TO 1 1 1 1 2.10 4 AM 1 1 1 1 5.94 4 SE 1 1 0 1 2.18 5 PB 1 1 0 1 2.27 5

Fonte: Elaboração do autor.

Planos de Ações Articuladas (PAR) também poderiam representar alguma forma de pressão, pelos potenciais fluxos de financiamentos a eles associados. Os PAR constituem o “planejamento multidimensional e plurianual (4 anos) que os municípios, os estados e o Distrito Federal devem fazer para a obtenção de apoio técnico e financeiro do MEC com a adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação do PDE” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 402). Estes autores consideram o PAR fundamental para a melhoria do Ideb, mas Bartolomeu Sousa (2011) ao analisar os PAR, discorda:

[Há p]roblemas e limites estruturais na proposta e execução do PAR que não lhe permite ser um instrumento de planejamento da educação, seja para estados ou municípios, mas apenas um instrumento de planejamento da rede de ensino, e instrumento de controle do MEC, com forte viés