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FATORES QUE DIFICULTAM A COMUNICAÇÃO ENFERMEIRO FAMÍLIA

ENFERMEIROS À FAMÍLIA

7. FATORES QUE DIFICULTAM A COMUNICAÇÃO ENFERMEIRO FAMÍLIA

A par dos fatores facilitadores da comunicação, apuramos a existência de diversos aspetos que dificultam o processo comunicacional, os quais foram sentidos a três níveis: centrados no familiar, centrados no enfermeiro e centrados na dinâmica da UCI (Figura 9).

Figura 9 – Fatores que dificultam a comunicação enfermeiro-família – categorias e subcategorias

Fatores que dificultam a comunicação enfermeiro-família

Centrados no familiar Centrados no enfermeiro Centrados a dinâmica da UCI - Falta de compreensão da informação - Ansiedade - Falta de disponibilidade - Dificuldade em adequar a informação - Dificuldade em avaliar as necessidades do familiar - Postura defensiva - Comunicação de más notícias - Falta de conhecimento sobre o doente - Âmbito da informação - Sobrecarga de trabalho - Ambiente ruidoso - Ausência de privacidade

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Os factores centrados no familiar que dificultam a comunicação referem-se à falta de compreensão da informação e à ansiedade.

Na perspetiva de alguns participantes, o facto de os familiares não compreenderem a informação que lhes é transmitida pelo enfermeiro, ou seja, a falta de compreensão da informação influencia negativamente o processo de comunicação:

“Falta de capacidade da família para compreender o que dizemos.” (E7)

“A falta de compreensão da informação que transmitimos dificulta a comunicação…” (E9)

“A falta de compreensão da informação pelos familiares.” (F1)

O estado de ansiedade de alguns familiares foi apontado por alguns enfermeiros como um fator dificultador da comunicação, como traduzem as seguintes transcrições:

“Ansiedade do familiar perante o doente e a procura incessante de informação...” (E2) “Um estado de maior ansiedade do familiar dificulta a nossa comunicação.” (E7) “O estado de ansiedade de alguns familiares.” (E9)

No que respeita aos fatores dificultadores do processo comunicacional centrados no enfermeiro emergiram sete subcategorias: falta de disponibilidade, dificuldade em adequar a informação, dificuldade em avaliar as necessidades do familiar, postura defensiva, comunicação de más notícias, falta de conhecimento sobre o doente e âmbito da informação.

A falta de disponibilidade para comunicar com os familiares foi considerada como um aspeto que influencia negativamente o processo de comunicação, na perspetiva de alguns participantes dos dois grupos:

“A falta de disponibilidade dos enfermeiros para falar connosco…” (F9)

“ (…) por vezes a falta de disponibilidade e paciência, da nossa parte, para falar com os familiares.” (E5)

“Nem sempre tenho a mesma disponibilidade para falar com os familiares…nos dias em que estou mais bem-disposta tenho mais paciência para eles.” (E6)

A dificuldade em adequar a informação ao nível de compreensão do familiar também surge como fator dificultador, sendo manifestado por três entrevistados:

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“Não ter a capacidade de transmitir a informação de forma a ser compreendida pela família.” (E4)

“A ausência de capacidade para descodificar a informação e adequá-la ao familiar.” (F10)

De acordo com o relato de uma familiar, o facto de o enfermeiro ter dificuldade em identificar as necessidades do familiar, ou seja, não compreender o tipo de necessidades sentidas, dificulta a comunicação entre ambos:

“A ausência da capacidade de perceber o que o familiar precisa naquele momento…se espaço, silêncio, mais informação, suporte, esperança, conforto.” (F10)

A postura defensiva adotada pelo enfermeiro parece interferir de forma negativa no processo comunicacional, como traduz o seguinte excerto de um familiar:

“A adoção de uma postura defensiva por parte do enfermeiro dificulta a comunicação.” (F10)

A transmissão de informação em situações graves, isto é, a comunicação de más notícias foi considerada por alguns enfermeiros como um fator que dificulta a comunicação com os familiares:

“Quando temos de transmitir más notícias é mais difícil comunicar com os familiares.” (E3)

“A transmissão de más notícias é uma situação em que é difícil informar os familiares. Houve uma situação grave em que sofri ao dar-lhes aquelas informações…saí daqui a chorar.” (E4)

“Nas situações de transmissão de más notícias tenho mais dificuldade em comunicar com os familiares…” (E7)

Na perspetiva de dois enfermeiros, a falta de conhecimento sobre o doente, ou seja, o facto de não conhecerem tão bem o doente interfere no processo de comunicação, dificultando-o:

“Ter poucos conhecimentos acerca do doente complica a comunicação com a família.” (E8)

“Quando não conheço bem o doente, por estar com ele a primeira vez, tenho mais dificuldade em informar a família.” (E9)

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Todos os enfermeiros entrevistados consideraram que o âmbito da informação é um fator que dificulta a comunicação, nomeadamente a ausência de novidades, a falta de acesso a algum tipo de informação e a necessidade, em certas situações, de transmissão da informação pela equipa médica, como se verifica nas seguintes transcrições:

“O facto de muitas vezes não termos informações novas para dar aos familiares.” (E2) “Quando temos conhecimento de uma informação do estado clínico do doente e que ainda não foi transmitida à família, pela parte médica.” (E3)

“Quando os familiares querem respostas e prognósticos e nós não sabemos se vai correr bem ou mal (…) situações em que não há consenso por parte da equipa médica acerca da evolução e tratamento do doente.” (E6)

“Quando os familiares nos pedem informações às quais ainda não tivemos acesso. Por exemplo, resultados de exames ou análises, exames a programar.” (E9)

No que respeita aos fatores centrados na dinâmica da UCI, constatamos que a sobrecarga de trabalho, um ambiente ruidoso e a ausência de privacidade influenciam negativamente o processo de comunicação enfermeiro-família.

A sobrecarga de trabalho, que leva a uma diminuição do tempo e disponibilidade para estar e comunicar com a família, foi considerada por vários participantes como um fator que dificulta a comunicação:

“Uma elevada carga de trabalho que leva ao cansaço do enfermeiro.” (E3)

“ (…) tempo insuficiente para estar com a família devido ao excesso de trabalho.” (E5) “A falta de tempo provocada pela sobrecarga de trabalho…” (E6)

“Quando os enfermeiros têm excesso de trabalho não têm tanto tempo para nós…” (F9)

Constatamos, também, que, na perspetiva dos enfermeiros que participaram no estudo, um ambiente ruidoso e desorganizado interfere de forma negativa no processo de comunicação com os familiares:

“ (…) um ambiente ruidoso dificulta a nossa comunicação com a família.” (E2)

“O ambiente confuso da unidade que muitas vezes nos impede de comunicar com a família sem interrupções.” (E6)

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A ausência de privacidade durante a comunicação foi outro dos aspetos dificultadores mencionados por dois enfermeiros:

“As unidades dos doentes são muito próximas umas das outras e nem sempre temos a privacidade que desejávamos para falar com a família...principalmente quando as notícias não são boas.” (E2)

“ (…) a falta de privacidade quando comunicamos com os familiares.” (E6)

Em suma, os dados obtidos permitiram identificar um conjunto de áreas temáticas integradoras, as quais dão visibilidade às experiências dos enfermeiros e familiares no processo comunicacional, nomeadamente, os modos de comunicação enfermeiro- família, o âmbito e a opinião da informação transmitida, as necessidades de informação sentidas pela família, os aspetos significativos da comunicação, assim como os fatores considerados facilitadores e dificultadores no processo de comunicação, em contexto de cuidados intensivos.

Salientamos o facto de existirem algumas coincidências nos dados obtidos nos dois grupos de participantes, no que respeita aos aspetos significativos da comunicação enfermeiro-família e aos fatores que facilitam e dificultam esse processo. É de realçar, ainda, que por vezes os mesmos fatores contribuem de forma positiva e negativa para o processo comunicacional.

Concluída a apresentação e análise de dados, procederemos, no próximo capítulo, à discussão dos resultados, focando as respetivas áreas temáticas.

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CAPÍTULO IV