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PERCURSO METODOLÓGICO

4. PROCEDIMENTOS DE RECOLHA DE DADOS

Tendo em conta a metodologia de natureza qualitativa, e de forma a alcançar os objetivos inicialmente propostos, a recolha de dados foi realizada através da observação participante e da entrevista semi-estruturada.

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De acordo com Fortin (2006), a observação constitui frequentemente o meio privilegiado de analisar os comportamentos dos participantes e os acontecimentos que se produzem no meio natural.

A observação não-estruturada, utilizada sobretudo nas investigações qualitativas, consiste em recolher informação sobre os comportamentos, num momento que é julgado oportuno. Neste tipo de observação existe uma grande flexibilidade na forma de recolher os dados e de os interpretar.

Uma das formas mais comuns da observação não-estruturada é a observação participante, a qual implica que o observador se abstraia do seu papel, integrando-se completamente no grupo social se propôs a estudar. Este tipo de observação visa ajudar os participantes a identificar o sentimento das suas ações, surgindo a função do observador de estudar o grupo do interior, através de uma participação direta e pessoal (Fortin, 2006).

O facto de o investigador, neste tipo de estratégia de colheita de dados, ser participante permite o seu envolvimento com os participantes, bem como facilita a obtenção de dados, uma vez que partilhamos a profissão com os observados. O nosso envolvimento com os participantes tornou-se uma constante ao longo do período de recolha de dados, pela abertura e disponibilidade que estes demonstraram.

Na presente investigação, a observação tem como principal objetivo observar o processo de comunicação enfermeiro-familiar. De acordo com Streubert e Carpenter (2002), a observação no campo de investigação permite ao investigador analisar o comportamento dos participantes e os acontecimentos que se produzem no meio natural, sendo necessário colocar em prática um conjunto de perceções, nomeadamente visual, tátil, auditiva e olfativa.

Embora a observação seja um método de recolha de dados que visa a compreensão dos comportamentos e atitudes, também comporta algumas desvantagens. A principal prende-se com o facto de as pessoas observadas, sobretudo inicialmente, deixarem de agir com naturalidade, o que pode comprometer a exatidão das observações (Polit, Beck e Hungler, 2004).

Após a obtenção da aprovação da Comissão de Ética para a realização do nosso estudo, foram acordados, com o enfermeiro chefe do serviço, os momentos de observação e da entrevista, procurando minimizar, desta forma, eventuais perturbações na dinâmica da

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UCI. O período de recolha de dados realizou-se nos meses de Setembro e Outubro de 2014.

A observação foi realizada com base num guião (Apêndice A), elaborado de acordo com os objetivos do estudo e com a finalidade de manter uma observação focalizada na problemática – o processo de comunicação enfermeiro-família numa UCI.

Neste sentido, a observação foi realizada no período da visita (turno da tarde). Ao longo dos períodos de observação fomos, discretamente, efetuando notas, codificadas de O1 a O10, não só dos comportamentos e atitudes comunicacionais dos envolvidos, como também do ambiente e dinâmica circundante, dando relevância aos aspetos que potencialmente poderiam influenciar o processo comunicativo. Após o período de observação procedemos à transcrição dos dados obtidos relativamente ao processo de comunicação enfermeiro-família, ou seja, constituímos as notas de campo. Segundo Streubert e Carpenter (2002), as notas de campo podem conter aspetos descritivos e reflexivos, sendo essenciais para a observação participante, e constituindo, também, um complemento importante às entrevistas.

A par da observação procedemos à realização das entrevistas, aos enfermeiros e familiares, de forma a complementar os dados obtidos através da observação e alcançar um nível mais elevado de compreensão do processo de comunicação enfermeiro-família numa UCI.

Segundo Fortin (2006), a entrevista é um método de colheita de dados essencial nas investigações qualitativas e geralmente possui as funções de examinar conceitos, compreender o sentido de um fenómeno tal como é percebido pelos participantes e servir de complemento a outros meios de colheita de dados.

A mesma autora refere que a entrevista semi-estruturada é utilizada quando o investigador pretende compreender o significado de um acontecimento ou de um fenómeno vivido pelos participantes, obtendo informações mais específicas sobre um determinado tema. Neste tipo de entrevista, o investigador elabora uma lista de temas a abordar, formula questões e coloca-as à pessoa numa ordem que ele considera apropriado. A sua função é encorajar os participantes a falarem livremente sobre todos os tópicos constantes no guião da entrevista. Este guião facilita, assim, a comunicação, na medida em que apresenta, de uma forma lógica, as questões que abordam os diferentes aspetos do tema.

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Neste sentido, elaboramos o guião da entrevista para os enfermeiros (Apêndice B) e para os familiares (Apêndice C), tendo em conta os objetivos preconizados para o estudo, que se constituíram como uma linha estruturante e orientadora do desenvolvimento entrevista. Os dados obtidos através destas entrevistas complementam os dados resultantes da observação participante, proporcionando, assim, uma discussão de dados mais rica.

Este guião foi submetido a um pré-teste, de forma a avaliar, por um lado, a pertinência e compreensão das questões e por outro lado, contribuir para a experiência do investigador na utilização da técnica da entrevista. Verificamos, assim, que as questões orientadoras da entrevista eram pertinentes e adequadas aos objetivos delineados, pelo que não foi necessário alterar ou integrar novas questões no guião.

As entrevistas realizadas foram gravadas e posteriormente transcritas. É de realçar que as entrevistas foram efetuadas durante o período de observação e transcritas no próprio dia, de forma a mantê-las fidedignas relativamente a pormenores observados nos entrevistados.

É de realçar que a realização da observação e das entrevistas no nosso local de trabalho constituiu-se como um elemento facilitador na recolha de dados, quer pela existência de uma relação de abertura com os colegas, quer pelo facto de os familiares não nos considerarem um elemento estranho ao serviço.