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Fatores que dificultam a implantação da fitoterapia na rede básica de saúde

CAPÍTULO 3. FITOTERAPIA X ATENÇÃO BÁSICA: UMA RELAÇÃO A

VII. Fatores que dificultam a implantação da fitoterapia na rede básica de saúde

Procurou-se investigar os possíveis obstáculos à implantação da fitoterapia sob diferentes pontos de vista, quais sejam: a) Institucional (da SMS); b) Profissional e c) Usuários. Assim, os CD’s puderam opinar sobre quais seriam tais barreiras sob vários ângulos do problema.

Quando questionados sobre quais fatores dificultariam a implantação da fitoterapia na rede básica de saúde do ponto de vista da instituição, 30% dos entrevistados referiram que o financiamento desse tipo de serviço constitui uma forte barreira à sua efetivação, pois, na opinião deles, a SMS de Natal-RN não dispõe de dotação orçamentária para dar conta dos serviços que ela deveria bem e prontamente oferecer à população. Eles ainda disseram que inovar os serviços de saúde com esta alternativa requereria verbas e, por isso, não crêem em

sua realização. Os discursos seguintes traduzem a escassez financeira da SMS como um grande entrave na opinião dos entrevistados:

CD 23 – “Falta muita coisa para o que o serviço já oferece, imagine para implantar uma coisa nova? Para começar isso no serviço público, tem que dar uma satisfação! Quem vai plantar isso?”.

CD 18 – “Acho que a maior dificuldade é a parte financeira, porque aqui a gente tem a farmácia, tem os farmacêuticos, tem o horto de plantas, mas não tem os fitoterápicos porque faltam verbas para comprar os insumos farmacêuticos. Sempre bate na parte financeira”.

CD 27 – “Implementar isso é muito complicado, veja nossa cadeira... (cadeira odontológica em péssimo estado de conservação). Eles não consertam o que precisa, você acha que vai ter dinheiro pra fitoterapia?”.

Conforme já discutido no item VI dos resultados, a produção de fitoterápicos configura-se como um aspecto positivo para inserção na rede básica de saúde, sendo uma alternativa mais econômica para os serviços públicos. No entanto, para implantá-la o serviço precisa dispensar alguma soma em dinheiro. Por outro lado, uma vez implantada, representaria uma economia para a saúde pública, pois há vários remédios obtidos a partir de plantas medicinais com aplicação na atenção básica de saúde.

A este respeito, Akerele2 afirma que na atualidade os medicamentos a base plantas medicinais têm um papel vital nos cuidados primários de saúde para grande parte da população mundial, especialmente nos países em desenvolvimento; em muitos casos, estes medicamentos suprem a lacuna entre a disponibilidade e a demanda dos medicamentos modernos.

Segundo Phillipson e Wright citado por Futuro28, nos países do terceiro mundo cerca de 70 a 80% da população não tem acesso à Assistência Farmacêutica. Apesar desses países possuírem quatro quintos da população mundial, só produzem 10% e consomem 14% dos medicamentos industrializados, enquanto os países do primeiro mundo produzem 90% e

consomem 86% desses medicamentos. Nesse sentido, a inserção de programas ou projetos de fitoterapia comunitária são muito bem-vindos, uma vez que vai está aumentando o acesso à assistência farmacêutica básica nos países em que ela é deficiente.

A pressão mercadológica das indústrias farmacêuticas foi outro motivo referido por 23,33% dos CD’s pesquisados contra a implantação da fitoterapia. Esta parcela dos participantes acredita que o monopólio do mercado de medicamentos no Brasil associado ao poderio econômico destas indústrias são fortes obstáculos à efetivação da idéia em pauta. A fala a seguir retrata bem esta questão:

CD 06 – “São vários fatores, primeiro a pressão mercadológica da indústria farmacêutica que, sinceramente, ela monopoliza o mercado; e obviamente isso teria que ser uma coisa da Secretaria de Saúde buscando formas alternativas, só que a gente sabe que a secretaria hoje ta falida. Você chega na farmácia aqui, são poucos os medicamentos, as opções, mesmo os tradicionais. Fitoterapia, você tem ...Aqui você tem um Projeto Farmácias Vivas, são coisas que ainda estão rastejando, a maioria dos profissionais nem sabe que existe este projeto; então, as dificuldades são primeiro de ordem econômica, com o poderio econômico da indústria farmacêutica que não deixa que isso deslanche porque ela vai perder mercado e também a secretaria enquanto a Saúde Pública, não tem interesse de fazer com isso realmente seja uma prática rotineira”.

CD 25 – “...talvez a indústria farmacêutica fosse um fator impeditivo, pois ela é poderosíssima no país, tem essa questão mercadológica do capitalismo, do mercantilismo, talvez alguém ligado à indústria farmacêutica poderia colocar barreiras, dificuldades para se contrapor ao processo”.

Esta mesma pressão mercadológica referida aqui por 23,33% dos pesquisados como um entrave do ponto de vista da SMS, foi referida no item VI como um aspecto negativo à inserção da fitoterapia na rede básica de saúde, já tendo sido feita naquele tópico a discussão pertinente.

Para outros 20% dos dentistas, a burocracia da SMS constitui um sério entrave à implantação da fitoterapia na atenção básica. A narração seguinte descrita por um destes profissionais clarifica como a burocracia pode se constituir em um fator impeditivo:

CD 02 –“Hoje em dia eu trabalho aqui no plantão e no almoxarifado central na parte de odontologia, na distribuição de medicamentos odontológicos e de material de consumo. Como é que poderia ser implantada a fitoterapia? Eu estou lá há um ano, e desde que estou lá que eu tenho uma guia de suprimentos que tem vários itens e eu sempre quis mudar alguma coisa desse material de consumo básico até alguns itens que são mais permanentes como, por exemplo, brocas. Por que sempre se usar aquelas mesmas brocas? Eu já tentei tanto mudar a numeração daquelas brocas, mas o inferno da burocracia é tamanho que eu já desisti de tentar mudar alguma coisa ali dentro”.

Nesse discurso fica clara a dificuldade de se promover uma pequena mudança na compra de insumos odontológicos para a rede pública de saúde e, analisando mais profundamente a fala do profissional, fica subentendido quão grande serão os obstáculos a serem transpostos para criar de fato uma política de saúde que tenha como objetivo sistematizar o uso da fitoterapia na atenção básica.

A falta de qualificação profissional na área de fitoterapia foi apontada por cinco CD’s (16,66%) como um empecilho que a SMS irá enfrentar se, de fato, a política de inserção for efetivada. Na opinião desses participantes, para esta idéia ser implantada, deveria existir dentro da secretaria um setor com pessoal técnico qualificado para repassar os saberes deste campo do conhecimento para os profissionais da rede. Os trechos a seguir focalizam esta situação:

CD 05 – “Eu acredito que...se existisse um... um setor na SMS com pessoal técnico qualificado para nos instruir sobre isso, que começasse a desenvolver esse trabalho. Precisa dar início ao processo, né?”.

CD 09 – “A secretaria não tem pessoal qualificado, ela dispenderia custos, não teria aceitabilidade da população, não era um serviço que

ela poderia manter, com o tempo ela se esvairia. Nenhuma, a secretaria não tem estrutura nenhuma, pra nada”.

Este aspecto, a falta de qualificação profissional, já foi referido por mais da metade dos dentistas pesquisados como um aspecto negativo à inserção das plantas medicinais nos serviços de saúde pública. Aqui, mais uma vez, ele é citado, porém agora como um obstáculo a ser superado pela SMS. Necessário se faz lembrar que exaustiva discussão sobre a formação profissional já foi feita, não sendo necessário neste momento repeti-la.

Por fim, 10% dos odontológos apontaram como barreira institucional à implantação da fitoterapia a necessidade de organização dos serviços de saúde para gerenciar uma ação desta natureza. Assim, o transporte, o acondicionamento, o fornecimento, dentre outros aspectos foram postos em xeque, como pode ser observado no discurso abaixo:

CD 08 – “Olha, como eu já falei, são produtos perecíveis, diferentes dos industrializados; além disso o fornecedor? Como é que você teria certeza de ter o fornecimento e com constância? São produtos sazonais também, não é? Distribuição? Seria muito mais complicado, o acondicionamento de um remédio em frasco eu acho que é bem mais fácil do que algumas folhas que não podem ficar sem oxigênio ou que teriam que... O acondicionamento, o transporte, eu acho que seria mais difícil nessa parte aí de fornecedor com constância de distribuição e de armazenamento já que são perecíveis”.

Também aqui há uma repetição, uma vez que a necessidade de organização dos serviços de saúde já foi referido no item VI. Conforme discussão feita anteriormente, a idéia de implantar a fitoterapia para ser usada na atenção básica de saúde é racional, econômica, segura e eficaz. Para tanto, ela deve ser feita com critério, por pessoal técnico qualificado que saiba realmente organizar o serviço para fornecer à população um serviço de qualidade.

Do ponto de vista profissional, de acordo com 18 CD’s (60%), um dos fatores que dificultariam a implantação da fitoterapia no serviço público de saúde seria a falta de qualificação profissional:

CD 06 – “Na minha opinião, é uma questão ideológica, principalmente. E tem a ver com a formação, pois ele estudou, ele é um cara doutor e não pode agora ficar passando remedinho à base de planta, entendeu? Pô, isso é coisa da minha avó. Eu sou um cientista, eu sou um médico, eu sou um dentista, eu acho que a resistência maior vai ser esta, agora isso obviamente seria destruído com um trabalho de re-educação, de reprogramação profissional, um curso... A formação, se tivesse na própria formação do profissional, já seria... Na base, no início, não é depois não. Fazer parte do currículo, de uma grade, quer dizer, que as pessoas sejam realmente formadas naquele sentido, não é? Agora é difícil, você já tem toda uma programação, a nossa medicina e a nossa odontologia baseadas no modelo americano, esse modelo pragmático, assistencialista, curativo; quer dizer, demanda uma visão muito mais é... Vamos dizer assim, uma filosofia mais da medicina curativa, prática-curativa, da medicina voltada para o ser enquanto unidade, você perceber a pessoa e buscar coisas naturais... Então, eu acho que a dificuldade maior é isso aí, é a questão da formação, porque você parte daquela idéia que você estudou, que você sabe coisas, isso é uma relação de poder: eu sei que você não sabe, fica quieto que eu sou doutor. Eu que to passando o remédio, né? É o poder, uma relação social e faz isso aqui oh, pega minha receitinha aqui, toma aí porque você vai se dar bem ”.

Esta fala retrata de forma objetiva o consenso da maioria dos pesquisados sobre as deficiências do ensino superior em relação à questão estudada. Com base neste discurso, a formação profissional deveria ser repensada em termos curriculares, vislumbrando formar profissionais com uma visão mais geral do processo saúde-doença, possibilitando um novo agir no setor saúde, que escape ao modelo assistencialista e curativo; e que veja o paciente como um usuário do serviço, estabelecendo com este vínculos de co-responsabilidade, não passando a falsa idéia de superioridade.

Dois profissionais (6,66%) afirmaram ser a descrença nas terapias alternativas e, por fim, um profissional atribui à cultura medicalizadora, o obstáculo à referida implantação.

CD 24 – “Do ponto de vista profissional, será que ele acredita? A pouca credibilidade da eficácia do tratamento”.

CD 17 – “A barreira mais difícil é a cultura, porque eu já faço isso há muito tempo e não vou me preocupar em aprender algo novo. Estudar, aprender, conhecer... demanda tempo, então. É uma mudança muito drástica, porque precisa uma mudança de cultura, daí acho difícil, mas não impossível”.

Tanto a descrença nas terapias alternativas como a questão da cultura medicalizadora já foram fatores levantados pelos respondentes como aspectos negativos contra a inserção da fitoterapia na atenção básica de saúde. Neste momento, estes mesmos pontos são colocados como obstáculos à implantação da fitoterapia. A discussão sobre estes aspectos já foi realizada anteriormente, não sendo necessário aqui retomá-la.

Observa-se uma evidente repetição entre os aspectos negativos referidos no item VI e no VII. Neste, investigaram-se os possíveis obstáculos à implantação da fitoterapia. Dessa forma, aquilo que antes foi referido como negativo à inserção da fitoterapia na rede básica de saúde, agora está sendo colocado como obstáculos sejam eles na ótica da SMS, dos profissionais ou dos usuários, para a efetivação desta idéia.

Portanto, percebe-se que, de um modo geral, a idéia que os dentistas têm sobre o assunto em pauta é uniforme, porém o que uns vêem como negativo sobre a inserção da fitoterapia nos serviços públicos de saúde, outros percebem como obstáculos à implantação desta alternativa terapêutica nestes mesmos serviços.

Finalmente, 06 CD’s afirmaram que os profissionais não colocariam nenhum empecilho à implantação da fitoterapia no serviço público, ao passo que 03 disseram que não saberiam responder.

Para a maioria dos CD’s, do ponto de vista dos usuários, não haveria empecilhos à referida implantação. Algumas justificativas foram apontadas e, uma vez agrupadas, elas retratam a idéia que o dentista inserido no serviço público de saúde de Natal tem do usuário. Nesse sentido, os discursos seguintes dão uma visão geral da forma como os profissionais de Odontologia percebem a clientela consumidora de tais serviços:

CD 27 – “Já os usuários, eles gostarão, ficarão satisfeitos, porque são uma classe muito humilde”.

CD 29 – “Os usuários usariam sim. Eles respeitam muito a opinião da gente. Eles são tão, coitados, carentes de tudo, que até agradecem o atendimento que nós prestamos”.

CD 30 – “Não teria problema algum com os usuários. Essas pessoas são muito carentes e, para eles, o que vale é o que a gente diz. Então, não teria problemas!”.

CD 17 – “...eles têm uma confiança muito grande naquilo que o profissional diz ou prescreve; às vezes eles não tomam o remédio por falta de recursos financeiros. Com eles não teria problema”.

CD 26 – “Com as pessoas não teria problema algum, pois elas sempre procuram coisas alternativas. Muita gente já fala que usa. Além disso, é um povo pobre, que não estudou e tem mais é que aceitar essa idéia mesmo...”.

Antes de analisar estes discursos, é pertinente observar que no item VI, 73,33% dos CD’s afirmaram que a receptividade dos usuários à fitoterapia seria boa. Esta maioria na aceitação pela fitoterapia pode ser explicada pela idéia que os pesquisados têm dos usuários do serviço público.

Dessa forma, constata-se que, consoante os relatos acima, na opinião da maioria dos CD’s entrevistados, os usuários aceitariam a inserção da fitoterapia na atenção básica de saúde pelo fato de serem em sua maioria carentes, analfabetos e por concordarem pelo que é dito delo dentista.

Esta concordância consiste em um reflexo da postura autoritária de muitos profissionais de saúde, que costumam não informar o motivo da escolha por um ou outro medicamento (ou procedimento) colocando o usuário numa posição de submissão em relação

à sua autoridade. Isto pode ser claramente visto nos discursos acima transcritos, onde a figura do dentista é vista como uma autoridade com um saber inquestionável a quem se deve respeito e obediência.

À este respeito, Capra18 discute que de acordo com o modelo biomédico, somente o profissional de saúde sabe o que é importante para a saúde do indivíduo, e só ele pode fazer qualquer coisa a respeito disso, porque todo conhecimento acerca da saúde é racional, científico, baseado na observação objetiva de dados clínicos.

Na última fala do CD 26, este na tentativa de explicar o porquê da aceitação das pessoas em relação ao uso da fitoterapia, fundamenta que por ser um povo pobre e analfabeto, “tem mais é que aceitar mesmo esta idéia”. Nada poderia ser mais errado e preconceituoso, posto que o uso de plantas medicinais não é uma prática destinada a pobres e analfabetos.

Isto denota um preconceito em relação aos usuários dos serviços de saúde pública, posto que, conforme explicitado anteriormente, desconsidera as várias vantagens atribuídas á fitoterapia, como o acesso facilitado, o custo menor, a aproximação com a cultura popular e a eficácia das plantas medicinais.

O que se observa nestes discursos é o desconhecimento sobre esta questão, o que é confirmado pelo item II, onde 100% da amostra afirmam nunca ter tido nenhum tipo de formação sobre o uso de plantas medicinais.

A resistência à essa idéia de inserção que poderia surgir por parte dos usuários seria, na opinião dos pesquisados, pela falta de educação da população; pela descrença na eficácia dos tratamentos à base de plantas medicinais; pelo imediatismo exigido por parte dos usuários e pela resistência ao novo.

CONCLUSÕES

Ao analisar as questões tratadas nesta pesquisa, não se deve perder de vista que o conhecimento dos cirurgiões-dentistas do serviço público de Natal-RN sobre as plantas medicinais está relacionado ao contexto social, econômico e cultural, determinando suas condições de existência.

Dessa forma, é necessário enfatizar que uma análise concreta dos sentidos atribuídos à problemática das plantas medicinais aqui abordada só é possível se ela for considerada num discurso bastante amplo, no qual as lacunas, as contradições e, conseqüentemente, a ideologia possam ser detectadas.

Compreender esses sentidos implica conhecer não só o discurso mais amplo, mas a situação que define o indivíduo que o produz. Na visão de Spink52, trabalhar em nível de produção dos sentidos implica retomar também a linha da história, de modo a entender a construção social dos conceitos que o homem utiliza para dar sentido ao mundo.

Tomando como base os sentidos produzidos nos discursos, a falta de conhecimentos sobre a fitoterapia foi o aspecto mais marcante que se percebeu, tendo este fato sido reportado em vários momentos durante a coleta dos dados, assumindo um caráter de repetitividade. Assim, percebeu-se que nenhum deles teve qualquer informação acadêmica sobre este assunto.

A falta de conhecimento e, conseqüentemente, o despreparo profissional sobre o uso de plantas medicinais também foi referendado como um aspecto negativo à inserção dos fitoterápicos na atenção básica (item VI), bem como foi considerado um empecilho à implantação de um serviço desta natureza. Assim, este problema percebido nos discursos obtidos foi visto como algo que precisa ser resolvido para que a idéia de inserir as plantas medicinais na atenção básica de saúde possa de fato acontecer.

A capacitação deficiente dos dentistas aqui analisados sobre o uso de plantas medicinais é fruto de uma formação universitária baseada na concepção flexneriana que, dentre outras características anteriormente enfocadas, excluiu práticas alternativas, já que a viabilização do paradigma da medicina científica se fez com base na sua supremacia sobre as outras práticas médicas alternativas, populares ou acadêmicas. Nesse sentido, sendo a fitoterapia uma prática popular, ela foi marginalizada neste processo e ficou por muito tempo relegada a um segundo plano.

Para se tentar reverter esta situação e com o intuito de produzir mudanças nas políticas, nas estratégias e nos objetivos dos processos de educação e de produção em saúde, surgiram muitos movimentos contra-hegemônicos, tanto na Medicina como na Odontologia. Apesar de suas proposições, de modo geral, tais movimentos não conseguiram reverter a situação do ensino e da prática profissionais, que continuou centrado no hospital, focalizando a assistência clínica-individual e devotado às especialidades, além de excluir as práticas alternativas.

Atualmente, através do Aprender SUS, a integralidade tem sido adotada como eixo da mudança na formação da graduação. Assim, têm sido buscadas experiências empreendidas pelas instituições de educação superior, no intuito de desenvolver a aprendizagem da integralidade, diretriz fundamental do SUS no que se refere à qualidade da resposta do setor ao direito de todos à saúde. Dessa forma, programas de fitoterapia popular podem ser inseridos nesse contexto atual com vistas a não só contribuir com o Aprender SUS, mas também responder a uma necessidade social, que é a questão da assistência farmacêutica básica.

Acerca desta problemática, cabe neste momento lembrar que segundo alguns estudos, nos países do terceiro mundo cerca de 70 a 80% da população não tem acesso à Assistência Farmacêutica. Como discutido anteriormente, o uso de plantas medicinais é mais acessível do que os caros medicamentos industrializados, o que por si só já justificaria sua indicação para a saúde pública.

Atualmente, por motivos diversos, quais sejam médicos, sociais, culturais, filosóficos ou econômicos, houve um processo de redescobrimento (ou de valorização) do uso das plantas medicinais. Assim, organizações não governamentais, instituições filantrópicas, categorias profissionais, o próprio Governo Federal, dentre outros segmentos da sociedade

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