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Fatores que facilitam e/ou dificultam a materialização do trabalho

4.3 O MARXISMO PRESENTE NO TRABALHO PROFISSIONAL: DESVENDANDO A

4.3.7 Fatores que facilitam e/ou dificultam a materialização do trabalho

No que tange aos condicionantes do trabalho profissional, sejam os que facilitam este processo ou dificultam, as respostas concentraram-se no registro de aspectos que atrapalham a materialização do trabalho. Somente um profissional mencionou um exemplo positivo, referindo-se a sua relação com a equipe profissional:

O que facilita é esta troca com os outros profissionais, teve um período que eu fiquei muito sozinha, foi muito difícil, e com a ampliação da equipe é bem diferente, com diferentes saberes é melhor ainda. Facilitou a vinda do advogado, da psicologia, dos estagiários, agora passamos a ter supervisão mais sistemática, a gente sabe que daqui a uma semana vai vir uma supervisora e vamos poder discutir os casos, está muito tranquilo neste momento. Dificuldade, até não dá pra citar dificuldades neste momento, eu acho que são desafios, a gente tem que estar se reciclando teoricamente, ficar neste desafio de trabalhar as questões nossas, cada vez mais difíceis e cada vez mais complexas. As situações, os atos infracionais, as pessoas que chegam para nós com situações diferentes, sentimentos diferentes, isso é um desafio até a gente passar a entender. (E3)

A dificuldade é encarada como desafio, como algo que pode ser superado. Nesse sentido, o fortalecimento do profissional para enfrentar as dificuldades também está vinculado à possibilidade de se manter atualizada teoricamente, apropriando-se constantemente dos aspectos que compõem o trabalho; do mesmo modo que a aproximação com os saberes de outras áreas também facilita o desenvolver deste processo. Esta avaliação positiva sobre as condições de trabalho ainda se vincula a mudanças reais neste serviço. Com o processo de implantação do SUAS, e a organização em plano nacional dos seus serviços, ocorreu uma reestruturação da Política de Assistência Social no município, o que acarretou a ampliação de alguns espaços físicos e o aumento do número de profissionais atuantes na área.

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Contudo, outros equipamentos da política continuam enfrentando as mesmas dificuldades antigas, tanto de infraestrutura como de falta de recursos humanos para o atendimento da população. Essas dificuldades foram apontadas como barreiras para a materialização do trabalho do Assistente Social, como se pode constatar no relato a seguir:

Quando eu vim para Porto Alegre eu me impactei, as pessoas sem saber como lidar, as dificuldades do próprio espaço físico, o sigilo. Muitas vezes está acontecendo uma reunião do lado, e eu estou fazendo um atendimento com uma família que está sendo discutida na reunião. O sigilo é uma questão mínima. A instituição me viola enquanto profissional e está também violando os direitos deste usuário. O espaço físico é totalmente inadequado. Só tem uma porta, se tem uma emergência, não tem por onde sair, não tem segurança, nós já tivemos que chamar a polícia rodoviária em uma ocasião para sair escoltada, pois não temos segurança, são só mulheres. Faço o grupo num espaço que é de uma pastoral, uma casinha muito precária, teve um temporal que eu pensei que o telhado ia voar, to violando o meu direito, não tem um banheiro. Se meu direito está sendo violado, como vou garantir direito para o usuário. Acho que tem muito que andar, principalmente este município. O SUAS ainda está engatinhando, acho que não é prioridade do poder público. Infelizmente. (E1).

Constata-se no relato a ausência de condições mínimas para efetivar um trabalho de qualidade, onde o próprio profissional percebe que o seus direitos estão sendo violados, pois para o atendimento dos usuários da política não está assegurado o direito ao sigilo, há falta de espaço adequado para a realização de grupos com a comunidade, conforme previsto no SUAS, além da sensação de insegurança devido à organização da estrutura física do equipamento e também da ausência de um profissional da área. Essas características, que estão presentes no espaço de trabalho, são traços históricos da Política de Assistência Social, aspecto já conhecido por quem trabalha nesta área. Um profissional sobrecarregado, somado à falta de valorização por parte do poder público sobre a política, constitui parte dos determinantes que afastam o trabalhador de momentos reflexivos sobre o que está fazendo.

Tendo em vista a reestruturação da política, que se direciona para uma organização diferenciada da assistência social, prevendo uma maior integração entre as ações desenvolvidas, também houve alusão nas entrevistas sobre as dificuldades de se trabalhar em equipe de forma democrática, unindo diferentes

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saberes e modos de conceber o trabalho, para construir relações que promovam um bom andamento dos serviços:

Eu acho que é muito novo o CRAS e muitos profissionais ainda têm dificuldade de trabalhar, psicólogo trabalhar com assistente social, enxergar que a gente pode trabalhar no mesmo espaço. Quais são as competências de cada especificidade, de cada profissional e de que forma podemos trabalhar em parceria. Como funciona um grupo, qual a periodicidade, como é que a gente pode fazer um planejamento, que a teoria não esteja dissociada da prática (...). (E3)

Ao reconhecer o caráter contraditório da política, os profissionais apontaram para alternativas de enfrentamento, avistando, desse modo, a existência de possibilidades de transformação de uma determinada realidade. Em mais de um caso foi citada a importância do coletivo, enquanto estratégia de organização para reivindicar melhores condições de trabalho. Novamente, o método de trabalho empregado auxilia na superação do conceito de que basta somente constatar determinadas problemáticas. O Serviço Social é uma profissão essencialmente interventiva, portanto a transformação deve localizar-se no eixo do trabalho profissional. O depoimento que segue ajuda a exemplificar esta constatação:

(...) Um guarda nós não tínhamos, aconteceram vários episódios aqui dentro, de risco para equipe e para os usuários, e a equipe se uniu e eu disse: Não! Chega de mandar e-mail, agora é hora da gente se unir, chega, agora nós vamos lá na direção, se a direção não está me ouvindo, agora vai ouvir um coletivo ou então vamos deixar a porta trancada. Então são estratégias, a gente vai por um caminho, se aquele não dá, a gente vai por outro, a gente tem que estar sempre refletindo e buscando outras alternativas (...). (E5)