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4.3 O MARXISMO PRESENTE NO TRABALHO PROFISSIONAL: DESVENDANDO A

4.3.8 O produto do trabalho

O assistente social está na condição de trabalhador assalariado e inserido na divisão social e técnica do trabalho, pois, para realizar seu exercício profissional, necessita vender sua força de trabalho por não ser detentor dos meios de produção. Dessa forma, o trabalho profissional é requisitado socialmente, pois produz um produto socialmente necessário. Nesse sentido, o resultado de sua ação está

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atrelado à conjugação de interesses de grupos opostos, que se concretizam na realidade: a classe trabalhadora e a classe dominante, ambas têm interesse no produto do trabalho do Assistente Social, condicionando o resultado projetado.

O produto do trabalho é, portanto uma categoria fundamental para a análise do trabalho desta profissão, pois é através do mesmo que se materializa a direção social do Serviço Social. A partir desta categoria, buscou-se através das entrevistas apreender como os Assistentes Sociais visualizam e avaliam o produto do seu trabalho, a fim de compreender quais são os valores que o estão permeando.

As respostas conferidas a este tema foram diversificadas, o que permite concluir que não há uma unidade entre os profissionais sobre a compreensão e sobre o conceito de produto do trabalho. Um dos sujeitos da pesquisa declarou que entende por produto do seu trabalho a forma como interpreta as demandas atendidas, sob a ótica da contradição, compreendendo a presença simultânea de fragilidade e potencialidade nos indivíduos, decorrente das suas condições de vida. Nesse sentido, afirmou que, ao visualizar a capacidade de resistência da população frente às expressões da questão social, reconhece a possibilidade de trabalhar em prol do desenvolvimento de processos emancipatórios. Neste mesmo horizonte, o Assistente Social reconhece o protagonismo coletivo da população, na conquista de direitos históricos como o próprio ECA. Um trecho deste depoimento ajuda a ilustrar esta percepção:

Eu não consigo enxergar a fragilidade do sujeito, eu vejo a potencialidade. Eu não vejo só a vulnerabilidade, eu parto do princípio da potencialidade. (...) Esse é o produto do trabalho, as pessoas se empoderando, a autonomia. No grupo de mulheres que eu coordeno tinham mulheres que não falavam nada, hoje falam no próprio Fórum das Carroças, no próprio Coras, demandam. O próprio ECA surgiu destas mulheres, que lutaram pelos direitos das crianças e adolescentes. É assim que vejo o produto do meu trabalho. (E1)

Com isso é perceptível que a apreensão sobre o produto do trabalho relaciona-se a uma ação transformadora da realidade, desencadeada através da intervenção profissional. A conquista de direitos, através do exercício do protagonismo e da participação dos sujeitos, faz parte do produto de uma intervenção, de um resultado projetado pelo profissional, a partir da sua apropriação

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das condições sociais que estão dadas, embora seja construído com os sujeitos. Ao mesmo tempo em que responde as necessidades da classe trabalhadora, contribuindo para a aceleração de processos de tomada de consciência para fundamentar ações, também coincide com os valores e princípios que compõem o projeto ético-político profissional.

O produto do trabalho também foi identificado como algo pertencente a um processo, de tal forma que não há um resultado fechado, passível de uma caracterização única.

O produto do trabalho está também implicado no processo do trabalho. Não se chega a ele no fazer profissional realmente, muitas vezes a gente tem uma expectativa de que a família superou a vulnerabilidade social, ou aquela violação de direitos e acha que o produto final do teu trabalho vai ser este, mas eu acho que não é esse o produto do trabalho, o produto é esse processo em que a gente esta implicado em realizar no acompanhamento familiar (...). (E3)

Sob este crivo, o produto do trabalho perde a sua visibilidade diante de quem o contrata e de quem recebe atendimento, porém o Assistente Social tem que apresentar resultados que justifiquem a sua contratação profissional e seu atendimento às demandas sociais de uma parcela da população. Se há mercado de trabalho para o Assistente Social desenvolver seu exercício profissional é porque existe uma demanda sobre o que ele produz. Concretamente, o Assistente Social precisa apresentar resultados tanto qualitativos, através da organização popular de uma comunidade, por exemplo, quanto quantitativos, que deem conta de apresentar o número de famílias atendidas e vinculadas a um determinado programa social.

Outra caracterização sobre o produto do trabalho apoiou-se sobre o caráter coletivo do trabalho, sendo este produto considerado resultante de um trabalho compartilhado entre equipe e não decorrente do trabalho individual:

O produto sempre é mérito de mais de uma pessoa, é mérito de um coletivo de educadores, técnicos, a coordenação, ele é parte de um processo, então ele não é resultado do meu trabalho, é resultado do coletivo. (E5)

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Atualmente, o SUAS prevê a realização de um trabalho compartilhado entre profissionais de diferentes formações, entre os quais: assistentes sociais, psicólogos, advogados, educadores sociais, entre outros que precisam estar compondo as equipes de CRAS e CREAS. Esta nova composição possibilitou uma maior integração entre os trabalhos desenvolvidos, pois estes diferentes saberes devem se articular para o atendimento da população, ao contrário das práticas até então realizadas onde cada profissional era responsável por um programa, o que acarretava na fragmentação do próprio serviço oferecido. Portanto, o resultado do trabalho do Assistente Social passa a ser resultado de um trabalho coletivo, pois esta nova organização da Política de Assistência Social possibilitou a construção de um trabalho interdisciplinar que, através da interconexão de conhecimentos diversos, contribui com aportes mais ricos e acerca da realidade social à luz da totalidade.