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O FAZER ECONÔMICO DOS ROMANOS 30.

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1. O FAZER NO CONTEXTO DO IMPÉRIO ROMANO 15.

1.3. O FAZER ECONÔMICO DOS ROMANOS 30.

Para desenvolver uma análise do fazer econômico é importante destacar características peculiares desta sociedade, para não incorrer em anacronismo. O primeiro é definir que o Império Romano, segundo Lenski, pertence a classificação de sociedade agrária, que está inserida na

segunda grande revolução social da antiguidade que foi possível por vários fatores, os mais importantes dos quais foi uma série de invenções e

descobertas que resultaram em progressos significativos na produção,

transporte e comunicações. Entre eles, alguns dos mais importantes foram a invenção do arado e os dois desenvolvimentos relacionados a ele e que aumentaram grandemente o valor desse instrumento, isto é, a descoberta de como usar a energia animal e a descoberta dos princípios básicos de metalurgia. Paralelamente a estes desenvolvimentos estavam as invenções da roda e da vela, o que facilitou muito o movimento de homens e mercadorias. Esse complexo de eventos lançou as bases para o surgimento de um novo tipo de sociedade que, embora tenha recebido outros nomes, chamarei sociedade agrária, reconhecendo assim o caráter distintivo de seu sistema de subsistência (LENSKY, 1969, p. 201).

Com o aprimoramento da técnica, em decorrência de inversões tecnológicas, favoreceu o desenvolvimento dessa sociedade que passou utilizar melhor a terra, melhorando a quantidade e qualidade dos alimentos para a subsistências. Além do uso da metalurgia e da tração animal, para uma ampliação da produção. E do transporte realizada tanto, por terra como pelo mar.

Em decorrência do aumento da produtividade agrícola, surge o segundo aspecto que é a estrutura de dominação, pois se estabelece um poder de comando para administrar o que é produzido. Até porque, com o excedente da produção, a utilização de tecnologia e a tração animal, algumas pessoas, podem ser dispensadas de algumas atividades básicas e se dedicarem a outras atividades.

Essas outras atividades vão ser desenvolvidas nas cidades e com isso surge uma gama de pessoas que vão oferecer meio de funcionamento de trabalhos não agrìcolas, função exercida pelos „funcionários públicos‟, “sacerdotes, eruditos, escrivães, comerciantes, servos, soldados, artífices, trabalhadores e mendigos. Ao lado destes, existe uma pequena elite que obtém o seu sustento da posse da terra e ou de cargos polìticos” (STEGEMANN; STEGEMANN, 2004, p. 25). Dessa maneira, percebe-se a consolidação de uma sociedade um pouco mais complexa e com características peculiares. Porém, esse aspecto social, vai ser abordado no tópico

subsequente, nesse momento, esta pesquisa vai concentrar-se somente no fazer econômico do Império.

Esse fazer econômico é marcado com essa realidade de desenvolvimento agrário, percebe-se que a centralidade das relações econômicas estava na agricultura. Uma especificidade da sociedade agrária é a fonte de riqueza e poder, ser a terra, que produz o excedente que sustenta as elites. Quem detém a terra e o meio de produzi-la é ao mesmo tempo uma pessoa rica e poderosa. Dessa maneira, o “campo foi de longe o maior produtor de riqueza, sendo que, simultaneamente, as cidades teriam tido uma estreita ligação simbiótica com as áreas rurais” (STEGEMANN; STEGEMANN, 2004, p. 21). As cidades seriam lugar de moradia das dos grandes latifundiários os quais retiravam a maior parte da sua riqueza da agricultura. Por isso, em um fragmento de Cartão, citado por Crossan, tem-se uma apresentação das atividades mais digna de ser desenvolvida por um jovem patrício:

É verdade que obter dinheiro através do comércio às vezes é mais lucrativo, ainda que arriscado; o mesmo poderia ser dito dos empréstimos a juros, se esta fosse uma opção honrada. Os nossos antepassados possuíam o mesmo ponto de vista, que reproduziram nas suas leis. Assim, o ladrão era obrigado a pagar uma multa no dobro do valor de seu roubo, e o usuário, uma multa no quádruplo do valor de seus lucros. Daí pode-se perceber como o usuário era ainda menos benquisto do que o ladrão. E quando desejavam elogiar um homem de valor, eles o chamavam de „bom agricultor‟ ou „bom fazendeiro‟; aquele que recebia este tìtulo sabia ter sido o objeto de um grande elogio. Considero todo mercador um homem enérgico, capaz de ganhar muito dinheiro; mas, como disse acima, trata-se de uma carreira arriscada, que muitas vezes pode acabar em desastre. Por outro lado, os homens mais corajosos e os saldados mais fortes vêm da classe dos fazendeiros; essa ocupação é a mais respeitável, oferece um sustento garantido e não desperta hostilidades. Aqueles que se dedicam a ela, portanto, não são vítimas de animosidades (CROSSAN, 1994, p. 87).

Como a terra é a fonte de poder, de riqueza e estável, a agricultura é defendida como a melhor e mais honesta atividade a ser desempenhada por um homem íntegro do período. Um dado importante é que, no período, existiam muitos latifúndios de influentes senadores ou apoiadores do império, que sempre são ampliados, enquanto uma considerável parcela de pequenos agricultores é tragada pela pesada carga tributária do Império. Tornando-se, desse modo, ou meeiros, ou arrendatários na melhor das hipóteses, como também viravam trabalhadores diaristas ou assalariados.

Assim, grandes propriedades de terras pertenciam aos senadores e aos nobres com poder, honra e privilégios dentro do Império. São sempre, poucas

pessoas, detendo muita riqueza, terras e poder, que mantêm a dinâmica economia do Império Romano. Assim,

o que prevalecia, desde a República, era o latifúndio com sua dinâmica de dominação escravagista. A maioria dos latifúndios espalhados pelo império pertencia a famílias senatoriais. Isso indica para a crise econômica vivenciada pela maioria da população: escravidão, endividamento, perda da terra, migração e miséria eram o outro lado da moeda do enriquecimento de poucas famílias no império (RICHTER REIMER, 2006, p. 87).

O recolhimento do excedente implica sempre em que o grupo beneficiário esteja investido de um poder, ou seja, implica em que ele se tenha arrogado o direito de intervir diretamente ou por grupo interposto na organização da produção e na distribuição social (HOUTART, 1982, p. 23). É por meio da força do seu exército e o poder de sua política de exploração que o Império se sustentava.

A administração econômica está preocupada mais com a expropriação do que com o desenvolvimento. Todas as atividades “econômica e política visam mais à expansão do controle dos domínios ou territórios cada vez maiores, ao invés de olhar o desenvolvimento interno” (MALINA, 2004, p. 41). Os impostos existem para o benefício das elites, não são meios de ampliação de políticas ou ações que beneficiariam qualquer outra classe dentro do Império. Por isso, não há preocupação com o desenvolvimento interno.

Portanto, o fazer econômico do Império tinha em seu escopo a exploração dos povos dominados pelo Império, pois ao conquistar um novo território, os romanos impunham altas indenizações ao povo derrotado. No entanto, a exploração não terminava aí: uma parcela da população era vendida como escrava, as terras eram expropriadas e distribuídas entre os patrícios, que as arrendava para o próprio povo conquistado, ficando estes obrigados a pagar rendas anuais elevadas. Quando surgia alguma necessidade de maior controle, os romanos destinavam partes importantes das terras dos vencidos para assentamento de soldados, que se assentavam como colonos.

Assim, as guerras e conquistas contribuem para a manutenção dessa sociedade, pois proporcionam terras conquistadas para agricultura, riquezas do espólio de guerra e prisioneiros, que seriam escravizados, tanto no trabalho doméstico, como no trabalho agrícola e para os mais rebeldes; o trabalho forçado nas minas. Dessa maneira, é imprescindível uma quantidade considerável de

escravos, que permitam não somente a “existência de grandes explorações agrícolas, mas também o recrutamento desse tipo de mão-de-obra e ainda há possibilidade de uma certa conversão do produto social, fruto dessas lavouras” (HOUTART, 1982, p. 67).

O modo de produção escravagista, o qual se caracterizava pela “total sujeição de um grupo humano que, geralmente depois de conquista militar, passa à categoria de meio de produção. O senhor torna-se proprietário do escravo. E, assim, apropria- se do excedente” (HOUTART, 1982, p. 53). Aqueles que sobreviviam da guerra contra os romanos eram escravizados tornando-se produtos para comercialização e ao mesmo tempo, meios de produção de excedente para os seus senhores. Por conseguinte, o escravizado, além de perder, sua terra e liberdade, perdia também a sua produção. Dessa forma, tornava-se também produto e patrimônio do senhor que o detinha como mais um objeto da sua propriedade. Desse modo, a definição de trabalho dentro dessa economia, pressupõe que

trabalho não é apenas um ato para a sobrevivência humana, mas uma relação social e um fazer sociológico, e que a distribuição dos meios de produção e dos frutos do trabalho dependem da organização social de uma sociedade (RICHTER REIMER, 2006, p. 86-87).

A economia escravagista do Império era alimentada em sua maioria pelos prisioneiros de guerra. Assim, qualquer conflito proporcionava mais prisioneiros que ajudavam na “aceleração do processo de expansão econômica, em decorrências da quantidade de guerras. Os prisioneiros constituindo então uma mão-de-obra servil em uma economia agrária” (HOUTART, 1982, p. 21). Eram assim, peças vitais, pois quase toda economia depende dessa exploração do trabalho escravo nas províncias dominadas. Outra fonte de recurso para consolidação do poder romano era a cobrança de tributos cobrados dos povos dominados nas extremidades do Império.

Por isso, um grande contingente de escravos é responsável de produzir alimentos e sustentar a sociedade. E uma pequena elite aristocrática, que é responsável por governar, e ao mesmo tempo de proteger os „agricultores‟ contra agressões externas. Porém, estes têm o direito de viver à custa do excedente agrícola produzido pelos camponeses e escravos (SALDARINI, 2005, p. 50).

O fazer econômico do Império Romano tinha como “método de acumulação do capital era simplesmente tomá-lo de outra pessoa, seja através do espólio das

guerras ou dos impostos altíssimos, arrancados da população camponesa e trabalhadora” (CROSSAN, 1994, p. 86). Ademais, percebe-se que esse fazer produz miséria para uma parte considerável de pessoas que viviam sob o domínio deste poderoso Império. Aqui, cabe destacar que esse fazer romano produz fome, nudez e sede, para aqueles vivem marginalizados e explorados por esse fazer. Assim, a comunidade mateana propõe um fazer contrário em que não se explora, mas cuida- se dos marginalizados, buscando alimentar quem tem fome, dando de beber quem tem sede e vestido o nu.

O próximo tópico apresentará características do fazer romano da lei, por meio da estrutura jurídica consolidar distinções e privilégios na sociedade, o que deixou uma minoria amparada pela justiça, enquanto a maioria continua desamparada e sofrendo injustiças.

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