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2. GEOMORFOLOGIA DOS AMBIENTES CÁRSTICOS

2.5. Feições Cársticas

2.5.1. Feições Superficiais: exocarste

O conjunto de feições cársticas superficiais compõe as áreas morfológicas denominadas exocarste (JENNINGS, 1971; BÖGLI, 1980; FORD; WILLIAMS, 2007). As

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O epicarste, ou zona subcutânea, é constituído pela porção superior da rocha subjacente coberta por material pedológico (FORD; WILLIAMS, 2007). 

principais formas cársticas superficiais são os karrens, dolinas, uvalas, poljés, maciços, torres, verrugas, arcos, pontes naturais e as feições hidrológicas.

Karren, lapiéz ou lapiás são canaluras de espessura milimétrica a centimétrica, que sulcam a superfície das rochas. As áreas recobertas por lapiesamentos são denominadas campos de lapiás ou karren fields (JENNINGS, 1971; BÖGLI, 1980).

A temperatura, regime pluviométrico, composição mineralógica, estrutura, textura, grau de inclinação da rocha e as ações biológicas são fatores que podem condicionar o lapiesamento e as variações tipológicas13 dessas feições (SWEETING, 1972). As kamenitzas são bacias fechadas de tamanho centimétrico a métrico, resultantes da dissolução superficial da rocha. Conforme Rodet et al. (2009), a kamenitza resulta da erosão periférica da rocha sob a ação do lençol de água superficial. As ocorrências de karrens e kamenitzas em rochas siliciclásticas são comuns, podendo-se destacar no Brasil as seguintes áreas de ocorrência, como o médio vale do Rio Paraíba do Sul (UAGODA, 2006; UAGODA et al., 2011); Parque Estadual do Rio Preto (RODET et al., 2009); Diamantina (SOUZA, 2011) e Chapada dos Guimarães (HARDT, 2011).

As dolinas são consideradas depressões fechadas e afuniladas, com formato circular ou oval, cujo tamanho varia de alguns metros a centenas de metros de profundidade e diâmetro, sendo sempre mais largas do que profundas (JENNINGS, 1971; FORD; WILLIAMS, 2007). As dolinas podem ser classificadas conforme os processos envolvidos no seu desenvolvimento. Os principais tipos de dolinas são: i) de dissolução; ii) colapso ou abatimento; iii) aluvial ou de subsidência e iv) colapso devido ao carste subjacente.

As uvalas são coalescências de duas ou mais dolinas, apresentam fundo irregular com um ou múltiplos pontos de infiltração e podem desenvolver lagoas temporárias no seu interior (WHITE, 1988). A dolinas e uvalas são feições recorrentes em rochas siliciclásticas nas Serras do Ibitipoca, Carrancas e Luminária, localizadas na região sudeste de Minas Gerais (CORRÊA NETO et al., 1995; CORRÊA NETO et al., 1997; CORRÊA NETO, 2000), no Parque Estadual do Rio Preto (RODET et al., 2009), no vale do Rio Paraíba do Sul (UAGODA, 2006; UAGODA et al., 2009), na região de Altinópoles (SP), Campos Gerais (PN), próximo à Serra do Itaqueri (SP), na região da Chapada dos Guimarães (MT) (HARDT, 2011) e nas regiões de Jardim (MS) e Ponta Grossa (PR) (SALLUN FILHO; KARMANN, 2007) (FIG. 2.3).

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Os karrens podem ser classificados conforme o tamanho, origem ou morfologias desenvolvidas. Entre vários tipos de karrens, destacam-se: os laminares, denteados, planos, em rochedo ou karrenstein, em agulhas ou punhais, alveolares, rillenkarren, trittkaren, entre outros (SWEETING, 1972). 

 

FIGURA 2.3 - Feições cársticas em rochas siliciclásticas. A) Karren no médio vale do Rio Paraíba do Sul (UAGODA, 2006); B) Dolinas no médio vale do Rio Paraíba do Sul (UAGODA, 2006); C) Kamenitza em arenitos da Formação Furnas (MASSUQUETO et al., 2011); D) Karrens alveolares (wall pockets) em arenitos da Formação Furnas (MELO et al., 2011); E) Uvala próximo à Serra do Itaqueri (HARDT, 2011).

Os poljés, feições típicas de áreas cársticas, são largas depressões fechadas, com comprimentos e larguras que chegam a dezenas de quilômetros. Essa feição é caracterizada por apresentar paredes abruptas, fundo plano rochoso ou recoberto por argila de descalcificação, aluviões ou depósitos lacustres (JENNINGS, 1971). Gams (1978) define três condições básicas para a definição de poljé: a) largo piso horizontal de rocha ou material

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inconsolidado; b) bacia fechada com bordas íngremes pelo menos em um lado; c) drenagem tipicamente cárstica. Alguns autores, como Gonçalves (2013) defendem a ocorrência de poljés independentemente das dimensões métricas, mas associadas ao processo de dissolução. Hardt (2011) identificou poljés em rochas siliciclásticas no Mato Grosso.

Segundo Suguio (1999) há tendências entre os geomorfólogos em admitir que a seguinte sequência do “ciclo de evolução cárstica”: as dolinas coalescem formando uvalas e estas, por sua vez, aumentam de tamanho dando origem aos poljés. Entretanto, os poljés, geralmente, não são simplesmente uvalas grandes e complexas, pois podem apresentar algum tipo de controle estrutural.

As verrugas ou banquetas são afloramentos individualizados que possuem de alguns decímetros a um metro de diâmetro e altura. Os maciços são feições rochosas semelhantes a planaltos que podem atingir centenas de metros de extensão. Essas feições apresentam paredões recobertos por lapiás. As torres (FIG. 2.4) são feições rochosas isoladas que se destacam na planície cárstica e apresentam formas altas, arredondadas ou irregulares. Arcos naturais correspondem a torres unidas por massa rochosa original através de estruturas horizontais remanescentes. Quando essas estruturas são cruzadas por um curso hídrico ou se localizam em área de desnível do relevo, recebem a denominação de pontes naturais (JENNINGS, 1971; WHITE, 1988; FORD; WILLIAMS, 2007).

FIGURA 2.4 - Torres em rochas quartzíticas na região de Itambé do Mato Dentro Fonte: Fabri (2011)

Essas feições exocársticas residuais em rochas siliciclásticas são registradas, na região australiana de Bungle-Bungle (YOUNG, 1992) e no Brasil; como por exemplo, as torres na

 

região de Itambé do Mato Dentro (FABRI, 2011). Destaca-se a ocorrência de morrotes localizados no oeste do Rio Grande do Sul (ROBAINA et al., 2008); torres, pontes e verrugas no Parque Estadual do Rio Preto (RODET et al., 2009); torres e verrugas inseridos na região de Diamantina (SOUZA, 2011); os cones na região da Serra das Confusões e Serra da Capivara, ambas no Piauí (HARDT, 2011). Na região da reta da Boa Vista, próximo de Diamantina há registros de arcos, que até o momento não foram alvos de estudos científicos.

2.5.1.1. Fluviocarste e Feições Hidrológicas

Cvijic (1960) denomina fluviocarste as áreas que possuem características morfológicas fluviais e cársticas. As principais feições hidrológicas são sumidouros, surgências ou ressurgências e a variedade tipológica de vales, como os secos, cegos, recuados e com paredões abruptos na forma de canyons.

Os sumidouros são pontos de absorção do curso fluvial e permitem a infiltração de água superficial para o meio subterrâneo e por isso, são considerados locais de recarga de aquíferos. As surgências ou ressurgências são pontos de exfiltração hídrica, caracterizada pela saída da água do meio subterrâneo para o superficial (FORD; WILLIAMS, 2007).

Os vales secos possuem fluxo hídrico temporário, com presença de água apenas nos períodos chuvosos. As drenagens desses vales fluviocársticos são capturadas para o meio subterrâneo. Os vales cegos são caracterizados pela interrupção abrupta da drenagem superficial diante da presença do sumidouro. Os vales recuados, por sua vez, correspondem a ressurgência da água em superfície após drenar o meio subterrâneo e, portanto, são associados à presença de ressurgências. Por fim, os vales com paredões abruptos na forma de canyons estão relacionados ao conjunto de processos de abatimento das camadas de rochas superficiais (WHITE, 1988).

Feições hidrológicas em rochas siliciclásticas são registradas nos trabalhos de Corrêa Neto et al. (1995); Corrêa Neto et al. (1997); Corrêa Neto (2000); Robaina et al. (2008) e Uagoda et al. (2011). Em áreas próximas à Vau e ao Acaba Mundo, região de Diamantina, apresentam feições hidrológicas ainda não estudadas cientificamente. Percebe-se que as drenagens são um dos fatores responsáveis pela configuração geomorfológica do carste. As drenagens podem ser autogênicas, ou seja, oriundas nos limites de áreas cársticas; ou alogênicas, que correspondem aos fluxos hídricos originados em áreas não cársticas e infiltram, posteriormente, nos ambientes cársticos.