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Feitiço da vassoura de bruxa é remédio contra ervas daninhas

No documento RevistaConecta-1 (páginas 74-76)

Duas proteínas com que o fungo Moniliophthora perniciosa leva as plantas de cacau a sofrer necrose, morrer e adquirir o aspecto de vassouras velhas podem se tornar novas armas con- tra as ervas daninhas. “Elas têm diversas características inte- ressantes. Por exemplo, são resistentes a altas temperaturas — altamente estáveis, portanto”, afirma Gonçalo Pereira, pesqui- sador que lidera a equipe do Laboratório de Genômica e Expressão (LGE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “As duas proteínas têm perfis semelhantes de ação e podem dar origem a herbicidas muito eficientes”, completa. Por isso o grupo foi escolhido para participar do Programa de Investigação Tecnológica e vai entrar com um pedido de paten- te para as duas juntas, como um sistema, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), com auxílio da Agência de Inovação Inova Unicamp.

Tudo começou com o projeto de seqüenciamento, letra por letra, dos genes da vassoura-de-bruxa, concluído em 2003. Garimpando as seqüências e comparando-as às que foram depositadas em ban- cos de dados genéticos, os pesquisadores chegaram a proteínas de duas classes ou tipos ligadas à ação

do fungo sobre as plantas. Essas molé- culas são parte do “feitiço” da vas- soura-de-bruxa e atacam especifica- mente plantas do grupo das dicoti- ledôneas, que acarretam grandes pre- juízos econômicos aos produtores. “A remoção das ervas daninhas é a principal atividade de manejo de plantas cultivadas; nas plantações de cacau, em particular, são muito difí- ceis de combater”, afirma Pereira.

Segundo ele, o glifosato [N-(fos-

fonometil)glicina], o herbicida mais utilizado no mundo — repre- senta 60% do mercado mundial de herbicidas não-seletivos ou vendas superiores a um bilhão de dólares por ano — atualmente só se mostra eficaz contra monocotiledôneas, plantas com flor de folhas estreitas (como as gramíneas, os lírios e as palmeiras) e uma única folha primordial para proteger o embrião em desenvolvi- mento. As dicotiledôneas, por sua vez, são plantas com flor cujos embriões têm dois cotilédones e tendem a ter folhas largas. E as ervas daninhas desse tipo já não respondem ao glifosato, que é um herbicida não-seletivo (pode ser usado no combate de várias espé- cies), sistêmico (pulverizado, é absorvido pelas folhas e transpor- tado para toda a planta) e pós-emergente (aplicado depois que as plantas emergem das sementes).

Lançado em 1971 pela empresa transnacional de biotecnolo- gia Monsanto para bloquear a ação de uma enzima fundamental no crescimento das plantas, o glifosato passou a ser utilizado mais intensivamente depois do advento das variedades transgênicas resistentes a ele. O resultado foi a seleção de ervas daninhas resis- tentes com o tempo. Assim, o controle das ervas daninhas dicoti- ledôneas, em geral requer o uso de herbicidas seletivos em com- binação com o glifosato. Este é, por- tanto, o destino provável dos herbi- cidas em potencial descobertos e investigados pela equipe de Pereira. Além da resistência de algumas ervas daninhas, há outros efeitos inde- sejáveis da aplicação do glifosato nas lavouras: resíduos da substância podem ser encontrados em colheitas e em animais usados na alimentação humana, bem como nas águas sub- terrâneas e até na água potável. Por outro lado, altas concentrações foram

Equipe que desenvolveu o novo herbicida: Odalys, Gonçalo e Gustavo

AGRONOMIA

Pesquisadores da Unicamp desenvolvem herbicida a partir de proteínas de fungo que pode ter ampla utilização no mercado

FLAVIANATÉRCIA

encontradas no solo. Já as moléculas que foram garimpadas pela equipe de pesquisadores do LGE em meio aos genes reais ou puta- tivos (supostos) indicados pelo seqüenciamento do patógeno, con- cluído em 2003, não teriam nenhuma toxidez para seres huma- nos e, em oposição ao amplo espectro de ação do glifosato, atin- gem alvos mais específicos.

Existem duas classes de proteínas envolvidas no herbicida. A primeira foi objeto de estudo do doutorado de Odalys García Cabrera, agora aluna de pós-doutorado no laboratório. A segun- da foi o tema da dissertação de mestrado de Gustavo Zaparoli, que estuda agora, em seu doutoramento, os mecanismos de ação das proteínas, assim como sua relação com as células da planta. A iden- tificação de ambas se deu por meio da comparação dos resultados do genoma da vassoura-de-bruxa com as seqüências depositadas

em bancos de dados. “Mas o mecanismo de ação das moléculas ainda não foi identificado e pouco se sabe sobre o modo como o efeito é produzido nas folhas”, afirma Zaparoli.

Agora, Odalys, Zaparoli e Pereira procuram parceiros da indús- tria para levar adiante os testes com os herbicidas potenciais. “Teremos de nos associar com empresas que produzem esse tipo de substância”, afirma Pereira. “Eles têm capacidade de ampliar a escala de produção dos herbicidas e conhecem o melhor veículo, o melhor adjuvante (substância na qual dissolver) para essas pro- teínas”, completa. Segundo ele, com os testes iniciais das proteí- nas se encerra a missão da universidade, cujo papel é fazer “pro- tótipos”, criar novas possibilidades, e não colocar no mercado pro- dutos inovadores. “Essa é uma aplicação cuja importância poderá ser reconhecida por toda a sociedade”, conclui.

DIVULGAÇÃO FERNANDOPETERMANN

Em sua pesquisa de mestrado, Gustavo Zaparoli aspergiu sobre plantas de tabaco, do tipo dicotiledônea, similar a algumas ervas daninhas, uma substância a partir do fungo Moniophthora perniciosa, que provoca necrose nas plantas de cacau; a ação do fungo sobre o tabaco promoveu necrose na planta (no destaque acima), o que o levou a acreditar ser possível desenvolver um novo herbicida a partir desse fungo.

Receitas para uma

No documento RevistaConecta-1 (páginas 74-76)