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Melhor acústica para salas de música, cinema, teatro e estúdio de gravação

No documento RevistaConecta-1 (páginas 40-42)

“Cada tipo de música necessita de um tipo de acústica. A rever- beração — halo sonoro que prolonga o som no tempo e em todas as direções —, ou difusão do som, influencia os estilos de música e a clareza com que são ouvidos. A reverberação é bem-vinda na música, mas sempre com moderação. Se for exagerada pode com- prometer a qualidade do som e, se for muito pequena, os sons ficam isolados, sem a união necessária para que se torne audível. O estudo da acústica busca promover esse equilíbrio frágil, que pode ser comparado à habilidade de um cozinheiro para deixar uma omelete no ponto”, explica José Augusto Mannis, composi- tor e professor de música do Instituto de Artes da Unicamp. Ele desenvolveu uma tecnologia que permite, por meio de algoritmos, produzir difusores de som que melhoram a acústica de cinemas, teatros, estúdios de gravação, auditórios, home theaters, salas de pro- jeção e salas de aula.

Os difusores de som existem desde a década de 1970. Os mais conhecidos são os difusores por reflexão com interferência de fase (ou difusores de Schroeder) que apresentam irregularidades abrup- tas em seu design. Segundo Mannis, esse tipo de difusor é bastante eficiente para determinadas situações. No entanto, em pequenas salas a reverberação não é adequada: as irre-

gularidades abruptas provocam perda de energia — cerca de cinco decibels cada vez que há incidência de uma onda sonora. “Em ambientes pequenos o som chega a bater centenas de vezes por segundo nas paredes, assim, depois de aproximadamente uma dezena de reflexões o som perde sua intensidade ou até desaparece. Comecei então a questionar como seria possível melhorar a reverberação nesses ambientes para que o som continuasse a existir sem

alteração de seu timbre mesmo depois de muitas reflexões nas paredes de uma mesma sala”, explicou Mannis.

O objetivo era obter um difusor cujo desempenho não impli- casse em tanta perda de energia das ondas incidentes. No design dos difusores por reflexão com interferência de fase há uma seqüên- cia numérica que gera a sua organização. Essa seqüência é quase a mesma ordem dada às notas musicais na música serial conhecida como música dodecafônica, idealizada no começo do século XX por Schoenberg, e por ele denominada técnica de composição com 12 sons. Mannis começou a pensar que “se uma seqüência de notas pode ser transformada num difusor, e um difusor numa seqüência de notas, então é possível desenhar um difusor pen- sando em notas”. Dessa forma, ele passou a criar superfícies com irregularidades comandadas por essas seqüências numéricas ou algoritmos, gerando formas de desenhos geométricos contínuos ao invés de articulações abruptas.

Ao longo do seu trabalho de pesquisa, Mannis também per- cebeu que difusores com perfis arredondados e regulares, pro- postos pelos pesquisadores Kyioshi Masuda, do Technology Research Center, Taisen Corp. (Yokohama, Japão) e Koishi Fujiwara, do Departamento de Design Acústico, do Kyushu Institute off Design (Fukuoka, Japão), em 1995, funcionam melhor do que aqueles irregulares. “Percebi que uma saída possível para minha pesquisa seria mesclar características dos difusores por reflexão com interferência de fase com o design de difusor empregado por Masuda e Fujiwara em seu experimento”, explica o pesquisador, que elaborou então séries numéricas capazes de modular diversos parâ- metros de construção de difusores acústi- cos. Na Universidade do Rio de Janeiro (UniRio), ele pôde aplicar esse conceito

ACÚSTICA

Se uma seqüência de notas pode ser transformada num difusor, e um difusor numa seqüência de notas, então é possível desenhar um difusor pensando em notas

SARANANNI

As imagens ilustram o difusor acústico e como

numa sala muito estreita que precisava ser transformada em estú- dio. Como não havia espaço suficiente para dispor difusores com painéis muito grandes, Mannis aliou as técnicas de Fujiwara às suas criações de difusores sonoros a partir de processo serial. Medições feitas na cabine de gravação do local, denominado Sala Villa-Lobos, comprovaram a eficiência da tecnologia.

Mannis agora trabalha para validar os elementos empregados na sua pesquisa. Novos investimentos devem viabilizar a aplicação de simulações mais complexas, que exigem aplicativos e softwares mais caros. “Procuro aplicar os difusores que criei em casos diver- sificados”, afirma o pesquisador que, na Unicamp, já desenvolve um projeto para adequar a acústica de 20 salas de aula e de práti- ca musical do Instituto de Artes. O Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, também encomendou ao músico um pro- jeto que proporcionará verificar a eficiência desses difusores. Ele destaca ainda que as superfícies seriais podem ser trabalhadas em conjunto com arquitetos e artistas plásticos para que ganhem for- mas belas, sem perder a eficiência acústica.

As informações levantadas pelo Programa de Investigação

Tecnológica (PIT-SP) permitiram elaborar o relatório para pedido de depósito de patente no INPI. É a primeira patente depositada pelo Instituto de Artes da Unicamp. Com isso, será possível incluir o Instituto em processos de transferência de tecnologia.

Compositor formado pelo Conservatório de Paris, com mes- trado na Universidade de Paris VIII, há 11 anos Mannis trabalha com difusores de som. Sua pesquisa teve início quando, a pedi- do do Laboratório de Acústica Musical e Informática do Departamento de Música da USP, participou da conclusão de um projeto para a construção de um estúdio de gravação. Uma vez despertado para o assunto, deu continuidade aos estudos na Unicamp, onde defendeu a tese de doutorado “Design de difusores sonoros a partir de processo serial: adequação acús- tica de pequenas salas à performance e audição musical”, em fevereiro deste ano. “Nas pequenas salas, ou pequenos estúdios, há pouca reverberação, portanto pouca difusão do som. Comecei então a questionar como seria possível melhorar a reverbera- ção nesses ambientes. Foi assim que comecei a estudar os difu- sores”, conta o pesquisador.

Sala Villa Lobos equipada com superfície ondulada que evita alteração do timbre de som

No documento RevistaConecta-1 (páginas 40-42)