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A jornalista Felícia Cabrita foi convidada pelo grupo parlamentar do PSD a estar presente em Comissão. Pedro Duarte deu início à inquirição, agradecendo a presença, e começando por uma pergunta “genérica”, relacionada com o tema maior da Comissão, a

liberdade de expressão, “no fundo para auscultar um pouco a sua sensibilidade sobre esse problema, hoje, em 2010, no nosso país”, justifica.

Antes do momento interrogativo elogia Felícia Cabrita: “É uma jornalista experimentada, como sabemos, que tem um percurso reconhecido, nomeadamente na área da investigação.”

Depois das perguntas do deputado social-democrata, acerca de pressões económicas e do peso que a componente económica tem nos destinos da publicação, a jornalista do Sol, introduz: “Agradeço o convite que me fizeram, é raro dar-se a palavra aos jornalistas em comissões parlamentares, ou comissão de ética, e muita falta faz ouvir os jornalistas nos locais certos.” Tal como explica que conhece a existência de pressões, fruto da larga carreira profissional que tem, mas adverte: “Não sou pressionável.”

Começa criticando a postura de “alguns” elementos do PS, de que destaca Arons de Carvalho e António Costa, quanto à postura que têm em relação ao jornal em que trabalha, sendo peremptória – “O jornal Sol para o partido socialista é um jornal sem credibilidade.”

Relativamente à polémica que envolve a falta de transparência de propriedade do Sol, Felícia Cabrita entrega fotografias dos accionistas, explicando que “não se escondem.” E especifica que são Joaquim Oliveira e dois empresários angolanos (sem mencionar os nomes) – “que felizmente nos libertaram da intenção que havia por parte do partido socialista para liquidar financeiramente o nosso jornal”.

Deslinda que quando se refere ao primeiro-ministro, não se está especificamente a referir a José Sócrates, só é feita essa identificação por ele estar em funções – “podia- me estar a referir a qualquer primeiro-ministro”. E que os jornalistas não são culpados das atitudes dos políticos – “não somos nós que enfiamos o primeiro-ministro em casos como o Cova da Beira, o caso da licenciatura, o caso do Freeport, etc”, aludindo aos processos em que José Sócrates era referido.

João Serrano, deputado do PS, foi o inquiridor seguinte. Esclareceu inicialmente que “o grupo parlamentar do partido socialista não alimenta quaisquer teorias de perseguição ou quaisquer teorias de conspiração, o nosso único objectivo é esclarecer as questões.”

O deputado direccionou a sua intervenção para área da Justiça, encerrando inclusive a sua intervenção questionando a jornalista sobre o que esta entende por

jornal Sol divulgou. Cabrita defende-se: “O jornalista deve fazer o escrutínio de tudo e ninguém está acima da lei; nem o PGR, nem o presidente do Supremo”, sendo interrompida por uma deputada socialista: “nem o Sol”.

É notória a tensão entre o grupo parlamentar socialista e a jornalista. Mas continua: “Da parte de alguns elementos do partido socialista há de facto uma assunção de que o jornalismo é controlável. Tanto o acham, que o dizem.”

João Semedo, do BE, questiona a jornalista se tem alguma prova de que o primeiro-ministro teve envolvimento directo na compra da TVI pela PT. Tal como relativamente a pressões do primeiro-ministro quanto às publicações do Sol.

Quanto ao alegado controlo governamental da comunicação social portuguesa, Felícia Cabrita explica que a publicação de tais acusações é prova suficiente: “nós trabalhamos com factos, o jornal Sol e outros não têm noticiado nem mais nem menos do que factos. Temos conhecimento das pessoas que estavam envolvidas, pelo menos para já de uma parte das pessoas que estavam envolvidas, por enquanto têm aparecido pessoas próximas do primeiro-ministro, como se sabe. Portanto, ou aqueles intervenientes e aquelas conversas de facto existem e os intervenientes são aqueles ou estamos perante um fenómeno de clonagem.”

Confirma que nunca recebeu nenhuma pressão do primeiro-ministro ou de alguém que lhe seja próximo. Remete tais questões para o director do Sol.

A segunda ronda de perguntas é iniciada por Pedro Duarte, que faz um ponto de situação nos trabalhos: “afirmou-nos aqui hoje que está convicta e a equipa que trabalha consigo no Sol, disse-o no plural ‘estamos convictos’, de que de facto havia um plano para controlar a comunicação social, plano esse encabeçado digamos assim pelo senhor primeiro-ministro.” O deputado pede à jornalista que discorra acerca desse plano, que apresente as características.

Felícia Cabrita explica que o plano seria iniciado pela PT, e que teria a duração de dois anos. Todavia, indica que o primeiro-ministro “numa primeira fase não esteve de acordo.”

O deputado pede igualmente à jornalista que se pronuncie, enquanto jornalista, sobre o encerramento do Jornal de Sexta e a não publicação da crónica de Mário Crespo.

Percebemos que a forma de raciocínio de Felícia Cabrita resulta de uma interpretação do que acontece permitir perceber e confirmar os factos que lhe estão na origem. Isto é, parte do efeito para confirmar a causa.

É exemplo a sua opinião da TVI, ao afirmar que o facto de o Jornal de Sexta ter terminado explica a existência de algum plano por detrás com interesse em que tal acontecesse. “O que é certo é que o jornal acabou, mas a história repetiu-se; não foi a primeira vez que Manuela Moura Guedes foi retirada dos ecrãs. Se bem se lembram também durante o processo Casa Pia também foi retirada dos ecrãs (…) há aqui uma reincidência de facto no caso de Manuela Moura Guedes.”

Quanto ao caso do jornalista da SIC, apenas descreve o que aconteceu e demonstra preocupação quanto à forma como as determinantes deste processo têm ocorrido.

O interveniente seguinte, Miguel Laranjeiro, do PS, refere-se ao alegado plano de controlo descrito pelo jornal Sol classificando-o de “delirante”, “mirabolante” e “impossível”. Considerando que a maior prova da sua inverosimilhança é a continuidade da existência de liberdade de expressão.

Alude também aos resultados que as averiguações jurídicas tiveram: “Para além disso, para além de algo que qualquer um de nós pode percepcionar, o senhor procurador – não sou eu!, não é nenhum elemento do partido socialista, não é nenhum advogado. O senhor Procurador-geral da república considerou no seu despacho ‘que não existe uma só menção de que José Sócrates tenha proposto, sugerido ou apoiado qualquer plano de interferência na comunicação social’. Portanto, aquilo que o Sol nos foi apresentando nas últimas semanas é uma matéria de interpretação. (…) Os factos desmentem absolutamente essa interpretação”

O deputado recorre ainda a declarações de Felícia Cabrita ao longo da Comissão, comentando-as e fazendo mostrar que são incoerentes. De que é exemplo a jornalista ter dito que o Sol não tem as escutas do caso Face Oculta, mas que as publicaram, como realça o deputado.