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O deputado do PSD, grupo parlamentar requerente da presença do presidente do SJ, direcciona as suas questões com vista a obter declarações de Alfredo Maia nomeadamente em relação ao primeiro-ministro e aos procedimentos danosos para a comunicação social em que alegadamente houve a sua intervenção. Aludindo a temas como as pressões do primeiro-ministro ao Público e ao Expresso, à não publicação da crónica do jornalista Mário Crespo – “como classifica a rejeição da publicação de um artigo do jornalista Mário Crespo?”, e demorando-se algum tempo no tema do encerramento do Jornal de Sexta, o caso mais mediático, Amadeu Albergaria não se esquece do cargo que o convidado ocupa, colocando as suas perguntas no âmbito das intromissões no livre exercício da profissão de jornalista, de que o convidado é o principal defensor, e esperando deste, aquando da resposta, uma retumbante nomeação das más práticas intentadas, espera, pelo executivo.

A última pergunta do deputado social-democrata é sintomática desta busca de oportunidades que acima referimos. Em que não só faz referência às críticas que o chefe do governo faz quanto à divulgação de escutas, mas alude às declarações que o inquirido proferiu acerca do caso, promovendo e pedindo que este volte ao tema e o

Uma quinta pergunta: penso que todos nos recordamos que o primeiro-ministro, José Sócrates, comentou há pouco tempo as noticias que revelavam conversas comprometedoras para pessoas suas próximas e que revelavam também um plano ou um possível plano de controlo da comunicação social, dizendo que se tratava de um ‘jornalismo de buraco de fechadura’. O senhor jornalista afirmou na altura que o primeiro-ministro tem o direito de fazer apreciações deste tipo, mas acrescentou que o senhor engenheiro José Sócrates é ‘hoje suspeito de pretender tornar-se dono da porta inteira e não apenas da fechadura ou do seu buraco’. A pergunta era se quer concretizar esta afirmação de que ele quer ser dono da porta toda.

Alfredo Maia inicia o seu depoimento agradecendo a presença e referindo o interesse que o SJ tem em colaborar com este tipo de Comissões Parlamentares, denotando a preocupação em perceber se o primeiro-ministro, tal como refere o Sol, teria ou não um plano para controlar a comunicação social portuguesa. No entanto, explica que o SJ não tem poderes suficientes para averiguar se isso aconteceu, e diz-se esperançoso de que esta Comissão chegue a uma conclusão quanto à denúncia que foi feita.

Para tal, faz uma revisão de alguns casos que referem a má relação do Governo com a comunicação social, mencionando várias vezes o desejo que tem em que sejam resolvidos, isto é, que se apure se aconteceram dessa forma danosa. Para além de revelar preocupação quanto ao procedimento do director do Jornal de Notícias, ao não publicar a crónica de Mário Crespo, esclarece a posição do SJ, quanto ao encerramento do Jornal de Sexta pela administração da TVI; O presidente do SJ, aludindo a esta pergunta, refere que “o SJ não teve a menor dúvida logo que isso aconteceu de considerar absolutamente ilegítimo e ilegal a intervenção do conselho de administração ou do accionista”

O deputado do PS, Manuel Seabra, faz uma súmula das acusações do PSD quanto aos procedimentos de José Sócrates em relação à comunicação social e questiona directamente o presidente do Sindicato quanto ao tema central da Comissão:

Não é novidade; de há uns anos a esta parte temos vindo a assistir a um conjunto de ataques do PSD a este nível. Começou com a história do clima de ‘asfixia democrática’ denunciado pelo PSD. Uma acusação que claramente fazia impender sobre o primeiro-ministro, engenheiro José Sócrates, e dessa evolução mais ou menos doentia e calhou agora na denúncia de inexistência de liberdade de expressão em Portugal. (…) Há ou não liberdade de expressão em Portugal?

De seguida, recorre a declarações que contrastam com as concepções unânimes, de que o PSD é o principal “denunciador”, e mostram que esse consenso não existe. Inicia com a opinião do SJ quanto ao telejornal de sexta-feira da TVI, que o considera alheio às boas práticas jornalísticas. Cita igualmente Miguel Sousa Tavares: “o fim do Jornal de

Sexta, apresentado por MMG não é o fim da Liberdade de Informação, o fim do Jornal de Sexta, apresentado por MMG, é o fim da Liberdade de manipulação.” E, por fim, a crítica de Henrique Monteiro ao jornal Sol, em contraposição com o bom jornalismo que o Expresso pratica e que daí resulta o facto de ser líder de audiências.

Em resposta à primeira pergunta, Alfredo Maia considera que “a Liberdade de Expressão é um doente com respiração assistida”, pois embora exista, explica, há enormes procedimentos e idiossincrasias que a condicionam. De que são exemplos o próprio Estatuto do jornalista, a concentração económica, a colocação de notícias por “fontes organizadas” e o não acesso a informação primordial.

Quanto ao pedido feito para comentar as afirmações que Manuel Seabra citou, o presidente do SJ, indica que todas as pessoas têm o direito de expressar as suas opiniões, mas que tal não “legitima” a intervenção que aconteceu na RTP, aludindo aos comentários que o primeiro-ministro fez quanto a esse telejornal.

Cecília Meireles, do CDS-PP, pede a Alfredo Maia que esclareça acerca da dependência que os media nacionais têm do Estado, nomeadamente quanto à publicidade e ao financiamento que procuram na banca.

O presidente do Sindicato alude a um inquérito que o Sindicato faz pontualmente a jornalistas, nomeadamente a responsáveis editoriais, em relação a pressões, citando as percentagens quanto às opções de resposta. Em Outubro de 2004, isto é, durante o governo PSD-CDS-PP, foi feita a seguinte questão: “enquanto jornalista alguma vez se sentiu pressionado ou ameaçado por interesses económicos, políticos ou de outra ordem?.” Alfredo Maia indica que 24% responderam ‘nunca’, 61% ‘sim, algumas vezes’, e 7% ‘frequentemente’.

No mesmo inquérito, estava contida outra questão: “acredita que existe um plano do governo para controlar a comunicação social?”, 57% dos inquiridos responderam ‘Sim’, 43% responderam ‘Não’.

Uma pergunta semelhante, refere Alfredo Maia, feita em Outubro de 2009, ou seja, no Governo PS: “ao longo do último mandato o governo José Sócrates tentou manipular a comunicação social? 48% dos inquiridos responderam ‘Sim’, e houve outra opção ‘Sim, mais que os anteriores’ que obteve 19% das respostas.

Já na segunda ronda de perguntas, Celeste Amaro, deputada social-democrata, questiona o presidente do SJ se os “ataques” do primeiro-ministro à comunicação social portuguesa, poderão ter como resultado um condicionamento da actividade dos

mencionou, elucidam que os jornalistas entendem tal alegada intervenção como um problema à sua actividade. Todavia, esclarece ainda que o debate de opiniões deve existir e que a própria comunicação social também faz duras ofensivas. O presidente considera assim, concluindo, que a melhor posição é a convivência pacífica entre as diferentes concepções e investidas.

No final da audição, que durou aproximadamente duas horas e meia, o presidente da Comissão, Luís Marques Guedes, justificou a delonga com a importância dos temas em discussão, tal como com a presença do presidente do SJ, em contrapeso com a representação da parte corporativa da profissão, em maior número, no conjunto das audições, visto terem estado presentes alguns administradores. Ou seja, quis também dar oportunidade a um representante dos jornalistas de contrabalançar com a larga representação de entidades de comunicação social.