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Fenomenologia e Pesquisa Qualitativa

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3. Método

3.3. Fenomenologia e Pesquisa Qualitativa

A respeito da Fenomenologia, Turato (2003) afirma que ela tem sido “a principal base filosófica para as metodologias qualitativas atuais” (p. 209). A pesquisa fenomenológica insere-se no contexto das pesquisas qualitativas, pois acessa a experiência vivida e busca o significado desta experiência, que é acessada através da linguagem. De maneira análoga, a pesquisa qualitativa tem como objetivo acessar a experiência vivida e o mundo interno e subjetivo do homem, que é não- observável, não-quantificável e não-acessível pela metodologia quantitativa (Holanda, 2003; Moreira, 2002); por esta razão, o método fenomenológico é adequado para se estudar dados desta natureza.

A pesquisa qualitativa procura compreender e/ou interpretar os significados e os sentidos que os indivíduos atribuem às suas experiências, ou, dito de outra forma, ela quer saber quais os sentidos e significações que um determinado fenômeno tem para os sujeitos da pesquisa. Este tipo de pesquisa busca não a explicação, mas a

compreensão do individual, do específico, do particular que se estuda (Coppe, 2001); a Fenomenologia investiga a experiência não no sentido de explicá-la, mas sim de compreendê-la, ou seja, de “ver o modo peculiar específico, do objeto existir” (Machado, 1997, p. 36). A Fenomenologia e a pesquisa qualitativa estão profundamente entrelaçadas, inclusive “foram os alicerces do pensamento fenomenológico que permitiram a abordagem qualitativa” (Turato, 2003, p. 209).

A investigação fenomenológica “trabalha sempre com o qualitativo, com o que faz sentido para o sujeito, com o fenômeno posto em suspensão, como percebido e manifesto pela linguagem” (Bicudo, 2000, p. 74, citado por Turato, 2003, p. 210). O método fenomenológico está em perfeita sintonia com o tratamento qualitativo que foi empregado na análise dos dados fornecidos pelo Psicodiagnóstico Rorschach. A abordagem fenomenológica dos dados também pode fazer análises quantitativas destes com o intuito de compreender melhor o fenômeno em estudo (e isto foi igualmente realizado nesta pesquisa), porém, esta abordagem não define a natureza do fenômeno pela sua característica quantitativa, numérica, assim como não converte o dado quantitativo na explicação única da realidade (S. P. Ramón, comunicação pessoal, 29 de setembro de 2004).

Este estudo insere-se na linha qualitativa de trabalho metodológico, porém, serão quantificadas algumas variáveis qualitativas, pois, para a Fenomenologia, os resultados e conclusões de ambas as análises (qualitativa e quantitativa) devem se combinar e se complementar para uma melhor apreensão e entendimento do fenômeno em estudo. A visão quantitativa e a qualitativa operam em sintonia, não de forma excludente ou oposta, mas complementar, pois os dados qualitativos podem ser convertidos em dados quantitativos, e diferenças quantitativas podem desvelar diferenças qualitativas. Num estudo conduzido por Gomes, Reck, Bianchi e Ganzo

(1993, citado por Gomes, 1998a), mostrou-se “como quantificantes são importantes para indicar e calcular a magnitude de recorrências temáticas. Em contraste, apresentou-se como qualificantes esclarecem resultados quantitativos, oferecendo condições mais rigorosas para a interpretação de achados” (p. 14). A exemplo deste estudo, nesta pesquisa também foi usado indicadores quantitativos e descritores qualitativos para uma melhor compreensão dos dados.

Não podemos dizer que ambos os métodos não se complementariam na prática: enquanto os métodos quantitativos supõem uma população de objetos de observação comparável entre si, os métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenômeno em termos de suas origens e de sua razão de ser (Haguette, 1995, citado por Turato, 2003, p. 145).

O método fenomenológico, a abordagem qualitativa e o Psicodiagnóstico Rorschach estão em perfeita sintonia, pois ambos compartilham pontos em comum: trabalham com o discurso e, através deste, penetram no mundo interior, na subjetividade, no mundo da experiência de um sujeito; defendem a possibilidade de estudo de um fenômeno através do indivíduo que experenciou uma determinada situação; procuram conhecer e compreender os significados que os indivíduos atribuem às suas experiências.

A análise qualitativa propiciará a compreensão do indivíduo em si, a visão particular deste sujeito, a compreensão profunda da sua história de vida e da sua estrutura individual. Este tipo de análise é chamada de compreensão idiográfica ou ideográfica (idio = particular). Outro tipo de análise também pode ser feita a partir dos dados do Psicodiagnóstico Rorschach. Vários estudos anteriores feitos desde a criação do teste estabeleceram medidas e médias para comparação das respostas do indivíduo em estudo com o que é considerado normal, padrão. Os dados obtidos podem ser quantitativamente analisados, comparando-se os resultados das médias calculadas do indivíduo em questão com as médias-padrão, permitindo a apreciação

deste indivíduo não mais em “si mesmo”, como na interpretação idiográfica, mas em relação ao grupo. Esta forma de análise (numérica, quantitativa e padronizada), é denominada compreensão normotética ou nomotética (normo = lei) (R. Petrelli, comunicação pessoal, 18 de outubro de 2004).

A análise nomotética na pesquisa qualitativa indica um movimento de passagem do nível individual para o geral, ou seja, move-se do aspecto psicológico individual para o psicológico geral da manifestação do fenômeno. . . . Esta direcionalidade para a generalidade é obtida pelo pesquisador ao articular as relações das estruturas individuais entre si (Machado, 1997, p. 42). O Psicodiagnóstico Rorschach é capaz, portanto, de fornecer dados para uma análise qualitativa, que propicia o entendimento particular do indivíduo em questão (momento idiográfico), como é capaz também de fornecer dados para uma análise quantitativa, que propicia a visão do indivíduo em relação ao grupo-padrão, permitindo, assim, saber se este se encontra dentro do que é esperado, do que é mais freqüente para, por exemplo, sua idade (momento normotético).

Nesta ocasião também é possível notar pontos em comum entre as análises idiográfica e normotética do Psicodiagnóstico Rorschach e o segundo e terceiro momentos da redução fenomenológica como proposta por Petrelli (2001a).

O segundo momento da redução fenomenológica propõe a busca das essências universais, de uma característica invariante em, por exemplo, uma experiência pela qual várias pessoas passaram. Procura identificar as convergências que passarão a caracterizar a estrutura geral do vivido, busca uma estrutura em comum dentre uma experiência vivenciada por vários indivíduos. É possível fazer um paralelo entre este momento de busca da essência universal e o momento normotético, pois ambos intencionam identificar uma estrutura invariante na experiência, que formarão a estrutura normotética ou grupal.

O terceiro momento da redução fenomenológica, caracterizado pela busca das essências individuais e da particularidade da experiência vivida por um sujeito, pode ser relacionado com o momento idiográfico, pois este procura compreender a subjetividade em si, a particularidade da experiência de um indivíduo, pois este é único e dono de uma experiência de vida única, irrepetível. Buscam-se as divergências que irão caracterizar a maneira particular como cada um reage e significa uma determinada experiência.

Por meio destas análises, a universal e a singular, a normotética e a idiográfica, chega-se à estrutura geral de uma experiência vivida por um grupo de indivíduos e aos elementos comuns desta experiência, como também se alcança as estruturas individuais e seus significados particulares.

3.4. A Inter e a Transdisciplinariedade como Exigências Ética, Epistemológica e

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