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Fernando Pessoa e os Heterônimos

No documento ESTUDOS DA LITERATURA PORTUGUESA (páginas 63-67)

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VOCÊ SABIA QUE...

Fernando Pessoa possui uma faceta rica, densa e intrigante e diz respeito

ao fenômeno da heteronímia, ou seja, à sua capacidade de despersonalizar-se e reconstruir-se em outros personagens?

Fernando Antônio Nogueira Pessoa (1888-1935) é um poeta que se

transfigura em vários poetas, os seus heterônimos, e para cada um deles deu uma biografia, caracteres físicos, traços de personalidade, formação cultural, que resultam em diferentes maneiras de interpretar o mundo. Foi assim que

Fernando Pessoa “fez nascer” os poetas Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

OBSERVE: É importante não confundir heterônimo com pseudônimo.

Pseudônimo é um nome falso, sob o qual alguém se oculta. O heterônimo vai além: é um outro nome, uma outra personalidade, uma “outra individualidade”, diferente, portanto, da do criador. Como nos explica o próprio Fernando Pessoa:

“Por qualquer motivo temperamental que me não proponho analisar, nem importa que analise, construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e idéias, os escreveria. Assim têm os poemas de Caeiro, os de Ricardo Reis e os de Álvaro de Campos que ser considerados. Não há que buscar em quaisquer deles idéias ou sentimentos meus, pois muitos deles exprimem idéias que não aceito, sentimentos que nunca tive. Há simplesmente que os ler como estão, que é aliás como se deve ler”.

Fernando Pessoa - obra poética.

Foi um dos diretores da revista “Orpheu”, participando ativamente do Modernismo em Portugal. Queria ser absoluto e abrangente; universal, e talvez por isso, multiplicou-se para poder sentir os vários ângulos da realidade por meio da sua heteronímia. Tornou-se, então, vários poetas ao mesmo tempo, com características próprias, biografias próprias, etc. Quis reconstruir o mundo, organizar o caos.

Escreve como F. Pessoa - ele mesmo e seus heterônimos.

PERFIL DOS HETERÔNIMOS

Para que você conheça um pouco melhor esses “poetas”, apresentamos, a seguir, os heterônimos:

ALBERTO CAEIRO

Nasceu em Lisboa em 1889 e morreu tuberculoso, também em Lisboa, no ano de 1915. Considerado o mestre dos outros heterônimos e do poeta ortônimo, Alberto Caeiro escreveu em versos livres (sem métrica regular) e brancos (sem rimas), de forma lírica, espontânea, instintiva, de candura e placidez ideais. Caeiro não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária, daí, algumas vezes, a simplicidade quase infantil do estilo. Órfão, é o heterônimo menos culto e complicado, e por ter vivido no campo, escreve com a linguagem simples e o vocabulário limitado de um poeta camponês pouco ilustrado.

Ficou conhecido como o Poeta das sensações, pois considerava que a sensação seria a única fonte válida do conhecimento. Assim sendo, a sua produção literária é

Estudo da

Literatura

Portuguesa

Um rápido esboço de suas características:

  

 Fuga para o campo - rural clássico reinventado.

  

 Pretende ser objetivo - o mundo não carece de subjetivismos.

  

 Sensacionismo - Objetiva o registro das sensações sem a mediação do pensamento (objetivismo visualista): “pensar é estar doente dos

olhos”

  

 Proclama-se antimetafísico - pratica o realismo sensorial, numa atitude de rejeição as elucubrações do Simbolismo.

  

 Poeta-filósofo, fruto do seu contato direto com a realidade (influencia Antônio Mora).

  

 É um poeta por natureza - “um poeta e nada mais”.

  

 Agnóstico – nega qualquer forma de espiritualismo ou de transcendência.

  

 Paganismo – “pensar como os deuses, pelos pés, pela boca, pelo ouvido, pelos olhos.”

  

 É (ou pretende ser) um homem franco, alegre, de visão ingênua. Bucólico.

  

 Prestava-se à descrição pictórica impressionista.

ÁLVARO CAMPOS

Nasce em Tavira, em 1890 e viveu em Lisboa na inatividade sem constar data da morte. Era alto, magro e corcunda. Intelectual, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar Engenharia, primeiro a Mecânica e depois a Naval, mas não exerceu a profissão. É todo emoções - É o heterônimo mais nervoso e emotivo, que por vezes vai até à histeria. É considerado um poeta futurista.

Possui uma evolução literária caracterizada em 3 fases:

1ª Fase

  

 Inicia-se como “decadente-simbolista” – Decadentismo (poemas ainda metrificado e rimado).

  

 Homem hiper-civilizado, é o poeta moderno cosmopolita, melancólico.

  

 Entediado com o mundo, fuma ópio para escapar da doença da vida (escapismo). (OPIÁRIO)

2ª Fase

  

 Ingressa no modernismo - na segunda fase - com a sua vitalidade transbordante, e o seu amor ao ar livre e ao belo feroz.

  

 Sofre a influência de Alberto Caeiro (a quem toma como mestre)

  

 Passa a cultuar a energia e a força.

  

 Ele é, pelo tom e pelo estilo, um Sensacionalista – Explosão de emoções e vida.

  

 É o poeta que pretende sentir tudo de todas as maneiras”, ultrapassar a fragmentaridade numa “histeria de sensações”.

  

 Subjetivista, Campos defende uma estética não aristotélica baseada na idéia de força, na emotividade individual - Poesia de força e não de contemplação.

 

 Futurista da exaltação da energia, da velocidade e da força da civilização mecânica (adotando um estilo febril, entre máquinas e a agitação da cidade).

 

 Entusiasta do mundo moderno.

 

 É um homem sujeito à máquina. É por meio da reflexão do homem inserido na realidade moderna e naquilo que gerará a progressão dela que Campos desenvolve os problemas existenciais.

 

 Pela técnica, o homem pode abrir o seu caminho de regresso ao paraíso”.

 

 Vanguardista.

 

 Explora os aspectos fonéticos, onomatopaicos (dadaísmo).

3ª Fase

 

 Por fim, amargurado, reflete de forma pessimista e desiludida sobre a existência.

 

 Volta ao vazio.

 

 Inadaptação às condutas sociais.

 

 Canta a angústia do homem de seu tempo e a crise de valores espirituais.

 

 Amargura angustiada.

 

 Desencontro do sujeito com o mundo e com a existência.

 

 Seu estilo é marcado pela oralidade e pela forma prolixa que se espalha em versos longos, próximos à prosa.

 

 Lirismo desencantado (aproximação com F. Pessoa, ortônimo).

 

 Para ele a metafísica é a pseudociência de se figurar mundos impossíveis.

RICARDO REIS

Nasce em Porto, em 1887, e não há registros de morte. Estudou com os Jesuítas e se formou em Medicina. Discípulo de Caeiro, o segue no amor da vida rústica, junto da natureza. Reis é um ressentido que sofre e vive o drama da transitoriedade, doendo-lhe o desprezo dos deuses. Afligem-no a imagem antecipada da Morte e a dureza do Fado, por isso é considerado um poeta fatalista, nos diz ele: “Acima de nós e dos deuses está o fado (destino)”.

Seus poemas têm forte influência do poeta romano Horácio, sendo assim latinizante no vocabulário e na sintaxe. O seu estilo é densamente trabalhado e revela ainda, muito claramente, o seu tributo à tradição clássica no uso de estrofes regulares, quase sempre de decassílabos nas referências mitológicas, na freqüência do hipérbato, na contenção e concisão altamente expressivas e lúcidas. Considerava-se neoclássico, classicista na expressão das emoções e sentimentos.

Um rápido esboço de suas características:

 

 Monárquico, auto-exila-se no Brasil (1919).

 

 O pensamento como fator inerente à criação artística.

 

 Sensacionismo - Parte das sensações.

 

 A disciplina a serviço do pensamento.

 

Estudo da

Literatura

Portuguesa

 

 Estoicismo – “Seremos mais felizes quanto menor forem nossas necessidades”.

  

 Epicurismos – Necessidade de gozar o aqui e o agora.

  

 Versos elegantes e nostálgicos.

    Culto da ode.   

 Um permanente convite ao amor, ao vinho, às flores.

  

 Culto ao paganismo - “pagão por caráter”.

  

 A REVISTA PRESENÇA

Da revista Orpheu saíram, com efeito, dois números (os únicos publicados) em 1915; Feitos, em parte, para irritar o burguês, para escandalizar, estes dois números alcançaram o proposto, tornando-se alvo das troças dos jornais; mas a empresa não pôde prosseguir por falta de dinheiro. Na seqüência, surgiram duas outras revistas, dentro da mesma tendência: Centauro (1916) e Portugal Futurista (1919).

Em 1917 Almada-Negreiros, “o poeta do Orpheu e o Narciso do Egipto”, organizou no Teatro República (hoje São Luís) uma escandalosa sessão futurista, ainda dentro da corrente modernista – definida como uma nova concepção da literatura como linguagem que põe em causa as relações tradicionais entre autor e obra, e ao mesmo tempo suscita uma exploração mais ampla dos poderes e limites do Homem, o momento em que defronta um mundo em crise, ou a crise duma imagem congruente do Homem e do mundo.

Alguns anos mais tarde, em 1927, surgiu a revista Presença, que não só valorizou as obras dos artistas da Orpheu, como também as divulgou e deu continuidade a elas, adotando uma participação ativa e dentro da realidade da vida moderna. A revista Presença, aparecida em 1927, não só deu a conhecer e valorizou criticamente as obras dos homens do Orpheu, como lhes herdou o espírito por intermédio de alguns dos presencistas, pertencentes já a uma segunda geração modernista. Nela também colaborou Fernando Pessoa.

O modernismo português conheceu ainda mais uma geração estética:

  

 O NEO-REALISMO

Rejeitando a temática psicológica e metafísica que tinha dominado a geração anterior, o Neo-realismo defende uma arte participativa, de temática social. Por sua postura de ataque à burguesia, encontraram pontos de contato com o Realismo de Eça de Queirós. Mas receberam também forte influência do chamado Neo-realismo nordestino da literatura brasileira (que incluía nomes como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz Jorge Amado, entre outros). Parte dos artistas alinhados no Neo-realismo derivara para uma literatura marcada pela exploração do fantástico e do absurdo. Seus principais representantes foram: Alves Redol, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, Ferreira de Castro.

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