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ESTUDOS DA LITERATURA PORTUGUESA

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Academic year: 2021

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ESTUDOS DA LITERATURA

PORTUGUESA

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

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Osmane Chaves João Jacomel

Gervásio Meneses de Oliveira William Oliveira

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Sumário

Sumário

Sumário

Sumário

Sumário

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O Teatro Gil Vincente

A Novela de Cavalaria

A Formação de um Estado Independente: Portugal

1ª Época Medieval

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Atividades Complementares

Classicismo

Barroco

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ITERÁRIASEM

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2ª Época Medieval

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Arcadismo ou Neoclassicismo

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Atividade Complementar

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Romantismo: Contexto Histórico e 1ª Geração

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43 39 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 47

Romantismo: 2ª e 3ª Gerações

Realismo

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

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Modernismo: Contexto Geral e a Geração Orfeu

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Fernando Pessoa e os Heterônimos

A Geração de Presença

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José Saramago: O Nobel da Literatura

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Atividade Complementar

Atividade Orientada

Glossário

Referências Bibliográficas

71 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 80 83 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 73

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Apresentação da Disciplina

Apresentamos, neste Módulo, uma visão geral da Literatura Portuguesa. O espírito que norteou nosso trabalho foi o de elaborar um material sério, consistente e agradável, que servirá como ponto de partida para o estudo da Historiografia Literária de Portugal.

Quanto à apresentação dos assuntos, partimos do conceito de Estilo de Época para estudar cada momento literário, no contexto em que foi produzido e difundido, visando que vocês, alunos, possam desenvolver, através desse aprendizado, um espírito crítico em relação à literatura em questão. A opção por esta divisão tem um cunho didático e funciona como uma síntese. É impossível abarcarmos todo o conhecimento acerca de tudo o que chamamos de Literatura Portuguesa, porém, esperamos que o conteúdo disponibilizado aqui funcione como o início de uma longa e apaixonante viagem literária.

Longe de ser a única possibilidade de trabalho, este Módulo é um instrumento que, utilizado como base de estudo, certamente contribuirá para promover a reflexão e a autonomia do seu aprendizado. Como o ensino de literatura deve estar sempre intimamente articulado com a leitura e a escrita, sugerimos que vocês, educandos, promovam momentos de leitura dos livros mencionados e elaborem resenhas dos capítulos estudados, procurando relacionar o conteúdo dos textos a outras fontes de pesquisas, como a Internet, filmes, etc. E, se possível, socializando essa reflexão com alguns de seus colegas através de e-mails e

chats.

O material está organizado em 2 Blocos temáticos, subdividido em 4 Temas e estes apresentados em 16 Conteúdos, nomeados de acordo com os assuntos e objetivos abordados. No Bloco 01, estudaremos desde a origem da Literatura em Língua Portuguesa ao Arcadismo. No Bloco 02, veremos o período que chamamos de “Romântico” até o que denominamos “Tendências contemporâneas”. No final de cada Tema acrescentamos questões para fixação dos assuntos estudados. Todas as atividades didático-pedagógicas deste Módulo partem da leitura do material impresso e da sua complementação virtual, disponível na home-page.

Esperamos que este material vá ao encontro das atuais necessidades do curso e do aprendizado sobre a literatura lusa.

Seja bem-vindo (a)! Roselana Trindade

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Estudo da

Literatura

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A Formatação de um Estado Independente: Portugal

Neste primeiro bloco, estudaremos as principais manifestações da Literatura Portuguesa, desde o Trovadorismo, na Idade Média, ao período denominado de Arcadismo, também conhecido como Neoclássico.

Veremos que os primeiros textos literários portugueses remontam ao século XII, ou seja, muitos séculos antes da chegada da frota comandada por Pedro Álvares de Cabral ao território brasileiro. Veremos, portanto, que a Literatura Brasileira trás, em si, uma herança do período que estudaremos a seguir.

Contextualizando o Medievo Literário Português

O CONDADO PORTUCALENSE

A independência de Portugal foi conseguida de forma gradativa, contra os reinos cristãos da Península Ibérica. A tranqüilidade conseguida com os casamentos reais1 (Reino de Leão

e Reino de Borgonha) foi abalada com a morte do Imperador Afonso VI (final do Séc. XI) e a tênue unidade política se desfaz, ocorrendo as lutas entre os reinos cristãos.

Abdala Junior e Paschoalin2 assinalam que “apesar do processo de independência

de Portugal está ligado à diferenciação das atividades econômicas da região e às rivalidades entre os grupos feudais. Foi, entretanto, o povo quem participou ativamente desse processo, através de organizações municipais, os Concelhos populares”. Os Concelhos (dentro do sistema feudal) propiciaram a D. Afonso Henriques (reconhecido Rei, pelo papa, em 1179), filho de Tareja, as forças militares necessárias para a independência.

O sistema vigente na Europa, o feudalismo, por predominar grupos sociais fechados, impossibilita a mobilidade de classes. Neste sistema social, competia aos servos trabalhar para, seus senhores; à nobreza feudal competia defender a sociedade; e à igreja, orar por toda a sociedade. Lembremos que em Portugal dentro dos “coutos” (propriedade da Igreja) ou da “honras” (propriedade da nobreza) os senhores eram autoridade absoluta e só prestava obediência ao rei – que detinha os direitos de justiça suprema.

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

Temos, portanto, uma organização social fechada, que é reiterada pelo espírito teocêntrico. A Igreja, rica senhora feudal, além de ensinar os mistérios da fé nas freqüentes missas e/ou em outras cerimônias religiosas, como as peregrinações ou romarias, era também responsável pela difusão da educação – o centro da instituição pública se localizava nas catedrais ou nas escolas episcopais, nos conventos e mosteiros. Mediante a esse contexto, as grandes massas adquiriam conhecimentos teóricos e práticos transmitidos por via oral. Tradições populares, romances, sermões e provérbios tinham papel importante na formação dos indivíduos, fato observado desde o reinado de Sancho I, filho de Afonso Henrique.

Nas feiras circulavam a literatura oral, sendo divulgada por meio dos jograis, recitadores, cantores e músicos andarilhos. A poesia e a música estavam sempre ligadas, o trovador compunha o poema que era cantado pelo jogral, que percorria todo o reino, inclusive as peregrinações religiosas e as festas palacianas, acompanhado pelo menestrel, músico agregado a uma corte.

Essa produção cultural trovadoresca, chamada de literatura cantada e, por isso, conhecida como cantigas, sobrevive até hoje em coletâneas renascentistas registradas em coleções, Os Cancioneiros. Infelizmente, as partituras das músicas se perderam quase todas, sobrando nos dias de hoje apenas cinco, escritas por Martim Codax.

A Literatura

De um modo geral pode dizer-se que apesar da Literatura portugue-sa ter expressão literária em todos os gêneros, predomina o lirismo em todas as suas formas até na épica, características aparentemente dominantes no temperamento nacional.

A primeira forma das literaturas ocidentais é a poesia e é oral: e compilada de forma escrita posteriormente, transcritos os poemas de memória. O verso com ritmo e rima é mais fácil de memorizar e sobreviveu até ser registrado, o que não aconteceu com as estórias que necessariamente existiram e poderiam ter caráter literário também.

A história da poesia moderna ocidental inicia-se com a poesia cavalheiresca da Idade Média. Depois de um período de três séculos em que a poesia provinha exclusivamente de monastérios, e tinha a religião como tema, a poesia cavalheiresca, em pleno teocentrismo medieval, tem como objeto o profano, o homem e os seus sentimentos, principalmente o amor.

O lirismo provençal irradiou-se por toda a Europa meridional e não se compreenderia Petrarca e Dante sem ela como antecedente. É proveniente de Provença, região ao sul da França que tinha muita riqueza devido ao próspero comércio com a bacia mediterrânea e o norte de África de Massília, cidade fundada pelos romanos. Ali dominava a língua d’oc, doce e rica, enquanto no norte da Gália se falava a língua d’oil, rústica e veemente, que vem a ser usada na prosa. Prosa essa que influenciará também as outras literaturas do mundo ocidental com os romances do ciclo Bretão (rei Artur) e com as novelas do ciclo carolíngio (Carlos Magno e a demanda do Cálice Sagrado).

Os provençais foram, portanto, os mestres e iniciadores da poesia européia moderna. Como sua influência aconteceu em Portugal:

1 - Casamento dos três primeiros reis de Portugal com princesas do sul da Gália, que traziam em seu séquito jograis e trovadores.

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3 - As romarias aos santuários famosos como o de Santiago de Compostela. O canto, a poesia e o drama litúrgico eram os meios com que o clero fomentava o interesse e a participação do povo. Esses foram evoluindo e expulsos para os adros. Vinham romeiros de França com seus cantares característicos. Nos santuários, vários povos confraternizavam culturalmente.

4 - O intercâmbio de várias espécies entre portugueses e provençais: relações comerciais, vida comum entre os cruzados, as viagens dos cruzados lusitanos, etc.

Em toda a cristandade medieval, a Igreja viu-se obrigada primeiro a proibir a prática de ritos e festas pagãs que persistiam em cantos e danças eróticas de mulheres dentro dos próprios templos.

Depois expulsou estas manifestações que se davam nos adros (manifestação persistente seria, por exemplo, as lavagens dos adros das Igrejas em Salvador.

Os costumes e as práticas populares medievais nos adros das igrejas ou por ocasião de feiras de produtos é uma fonte de restauração das energias gastas no sacrifício e no trabalho durante o resto do ano. No momento da romaria, cessa o penoso trabalho de todos os dias, instaura-se o reino da abundância, da permissividade, da alegria; há trocas materiais, culturais e afetivas; danças, cortejos triunfais, aproximação entre pessoas, encontros e fusões de grupos e categorias pela conjuntural cessação das proibições, tudo isto se sente ou se pressente na poesia trovadoresca.

Desde o fim do século XII, com a formação das cortes senhoriais, a produção cultural nobre diversifica-se: surge a poesia lírica e satírica, com as cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer. Assiste-se, então, a uma intensa atividade criativa, constantemente renovada pelos contatos e a competição com as cortes estrangeiras, que os cavaleiros jovens, idealistas, aventureiros e sem fortuna, visitavam freqüentemente, trazendo para Portugal as influências culturalmente preponderantes na Europa da época: as influências provençais.

Os poetas conseguem dar vivacidade aos diversos estados emocionais da mulher enamorada: a saudade, o ciúme, o ressentimento, os amuos, as ansiedades, as desconfianças, a reivindicação da liberdade exigida à mãe são expressas de modo muito vivo; as mulheres ora são ingênuas ou sabidas ora compassivas ou calculistas e astutas, sensíveis ou indiferentes, ora se entregam ou se negam aproveitando-se dos seus namorados. Os poetas trovadores mostram uma ampla experiência que a sua vida sentimental variada lhes proporcionou. Nas canções de amigo, de origem local, o amor não é experiência idílica, platônica, ela é realista, física.

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Indicação de Filme

TÍTULO DO FILME: O SÉTIMO SELO (Det Sjunde Inseglet, Suécia, 1957)

DIREÇÃO: Ingmar Bergman

ELENCO: Max von Sydow, Gunnar Bjomstrand, Bengt Ekerot, Nils Pope, Bibi Anderson, Ingá Gill, Maud Hanson, Inga Landgre; 102 min.

O século XIV assinala o apogeu da crise do sistema feudal, representada pelo trinômio “guerra, peste e fome”, que juntamente com a morte, compõem simbolicamente os “quatro cavaleiros do apocalipse” no final da Idade Média. Nesse contexto de transição do feudalismo para o capitalismo, além do desenvolvimento do comércio monetário, notamos transformações sociais, com a projeção da burguesia, políticas, culturais e até

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

1ª Época Medieval

A POESIA LÍRICA GALEGO-PORTUGUESA O nascimento da produção literária portuguesa acontece quase simultaneamente à formação da nação lusa. Apesar de seus primeiros representantes serem todos ligados à corte, não devemos atribuir à primeira fase da Literatura Portuguesa, a da lírica dos trovadores – também conhecida como poesia lírica galego-portuguesa –, um caráter nacional. É necessário considerar que as fronteiras políticas e culturais na Península Ibérica, nesse período, eram muito flexíveis, pois os laços matrimoniais entre os nobres de diferentes cortes eram comuns, fato que favorecia a sua circulação.

Outro fator de grande importância para o seu desfronteiramento foi a utilização de uma língua única para as composições. A língua usada ainda não é o português, mas o galego-português, um romanço (língua de origem latina) falada na costa da Península Ibérica. Apesar desta língua ser usada somente no Noroeste da Península, sua escolha não foi aleatória. Lembremos que a região formava uma unidade política cultural que abrangia a Galiza e o território que se tornaria o reino português. Acontece que, mesmo depois do desmembramento, Portugal continuou a manter relações culturais estreitas com a região galega, transformando-se em uma região de importante intercâmbio cultural, principalmente com as peregrinações a Santiago de Compostela.

Não é fácil datar com precisão as primeiras composições do período trovadoresco português, seja pela escassez dos dados biográficos de muitos dos poetas, seja pela natureza própria a essa poesia: a da oralidade. Uma das mais antigas manifestações literárias galego-portuguesas que se tem notícia é a cantiga de maldizer feita por João Soares de Paiva “Ora faz ost’o Senhor de Navarra”, mas muitos consideram a Cantiga da Ribeirinha – também chamada de Cantiga da Garvaia – como a mais antiga, por ser esta a mais antiga registrada. A Cantiga da Ribeirinha foi composta por Paio Soares de Taveirós, provavelmente no ano de 1189 (ou 1198, há rasuras na datação). Como as datas não são claras e as controvérsias entre os estudiosos desse assunto são constantes e cabíveis, conveniou-se datar, portanto, como marco inicial da Lírica Medieval Portuguesa, o último decênio do século XII. Ela se estende até o ano de 1418, quando se inicia, em Portugal, o Quinhentismo; e, na Galiza, os chamados Séculos Escuros.

A primeira geração histórica dos trovadores foi caracterizada pelo policentrismo e a extrema mobilidade dos poetas. Depois, uma segunda geração denominada “geração do meio” surge na corte de Fernando III, Afonso X de Leão e Castela e na do rei português D. Afonso III. A poesia desta nova fase possuía um caráter dirigido, ou seja, os interlocutores se apresentavam em forma de desafio, provocando, assim, a resposta de outros trovadores. As cantigas de maldizer foram bastante favorecidas pelo grupo.

Embora este período seja de grande atividade poética, entra em declínio com a morte de Afonso X e, mesmo ainda existindo trovadores importantes, é a corte de D. Dinis que

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morte de D. Dinis poderíamos pensar no fim do lirismo trovadoresco, no entanto documentos comprovam ter existido, ainda, uma pequena atividade poética patrocinada por seu filho Pedro.

As origens da poesia lírica:

Uma poesia com influência Provençal e/ou uma poesia de caráter popular? A poesia trovadoresca Provençal surge no sul da França em fins do

século XI, tem o seu apogeu no século XII, e declina no século XIII, quando a crise dos senhores do sul obriga os trovadores a abandonarem a região em busca de novos patrocinadores. É caracterizada por ser o primeiro lirismo Ocidental em língua vernácula e pelo caráter inovador dessa poesia. Mesmo com toda a influência socio-cultural somada, ela representou uma ruptura com o período clássico até então cultivado e, principalmente, uma

nova visão de mundo. Um jeito novo de fazer poesia valorizando o erotismo e apresentando uma outra forma de falar de amor, marcada pelo código de comportamento amoroso chamado

fin’amors mais tarde conhecido como o “amor cortês”.

Esse código possivelmente tenha chegado filtrado em Portugal e na Espanha devido à religiosidade vigente, pois Provença era considerada a corte da luxúria e a poesia considerada demasiadamente erótica.

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Podemos, então, dizer que o erotismo

provençal foi podado pelo moralismo religioso dos trovadores galego-portugueses?

A relação amorosa cantada pelos trovadores provençais é a transferência do sistema de vassalagem existente na Idade Média. Representado por um amor cortês no qual um homem da baixa nobreza apaixona-se por uma dama de classe superior que, devido a esta diferença, não irá retribuir a esse amor, passando a existir uma vassalagem amorosa. Mas o amado não quer possuir a amada, e sim gozar desse estado de não-possessão, embora ele sonhe com a retribuição por parte da amada, mesmo porque ela representa a sua ascensão social. Percebemos ser o sentimento amoroso concebido numa tensão constante pelos trovadores desse período.

E foi esta a poesia difundida por toda a Europa Ocidental, em diferentes proporções, a depender da região. O norte da Itália e a Catalunha, por estarem mais próximas e possuírem costumes parecidos aos da região Provençal, receberam uma influência mais direta, enquanto a Península Ibérica teve uma influência filtrada e menor.

Os Cancioneiros

As poesias trovadorescas galego-portuguesas são consideradas como Literatura Românica e não são propriamente portuguesas, pois abrangia a península Ibérica (hoje Portugal e Espanha). Foram, primeiramente, registradas pela oralidade e só depois de algum tempo fixadas por escrito e transmitidas em três coletâneas:

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

 

 Cancioneiro da Biblioteca Nacional; é o mais completo.

Contém a “Arte de Trovar”, tratado poético que possui instruções para os leitores quanto a arte de compor trovas.

Por falta de registros suficientes, não há como ter uma melhor compreensão do período dos trovadores. Inicialmente, por ser uma poesia destinada à oralidade, e esse motivo tornava desnecessário um registro escrito, e também pelo não reconhecimento da importância de conservá-la. Acredita-se ter havido uma divulgação escrita dessas cantigas, porém em pequeno número.

Gêneros principais da poesia trovadoresca

A poesia trovadoresca apresenta dois gêneros principais: a lírico-amorosa e a sátira. A poesia lírico-amorosa divide-se em Cantiga de Amor e Cantiga de Amigo e a poesia satírica divide-se em Cantiga de Escárnio e Cantiga de Maldizer.

Cantiga de amor

O homem canta o seu amor à amada, sendo ela uma dama da alta nobreza e ele de classe inferior. De origem provençal, embora tenha perdido um pouco da variação das formas e da riqueza de expressão desta poesia. Isso porque, como já vimos, sofreu algumas modificações para se adequar a Península Ibérica. Um outro fator que indica diferença dessa cantiga de uma região para outra é que, enquanto na Provençal o amante nutre um desejo de recompensa por parte da amada e ele vive com alegria esse amor platônico; o amante da poesia galego-portuguesa se torna um coitado, vítima de um amor inacessível que só traz lamento e desilusões e amar é um grande pesar que culmina com o desejo da morte.

Quanto à estrutura e regras formais, podemos dizer que embora a lírica galego-portuguesa não tenha desenvolvido tantos estilos como a Provençal, ela manifesta uma grande preocupação formal. As cantigas eram classificadas em dois tipos: cantigas de refrão e cantigas de mestria (sem refrão), e os trovadores utilizavam alguns recursos estilísticos para darem acabamento formal as suas cantigas.

Cantigas de amigo

Diferente das cantigas de amor, o eu-lírico desta é feminino. O trovador se expressa pela voz da mulher – que tanto pode se dirigir ao amigo, como à sua mãe, irmãs ou mesmo a algum elemento da natureza. Podemos, então, dizer que essas cantigas podem ser divididas em dois tipos. O primeiro tipo, que se dirige a um amigo, é muito parecido com as de amor, pois elas apresentam o ponto de vista feminino do amor cortês se dando às vezes até a substituição do vocábulo “amigo” por “mia senhor”. A semelhança era ainda maior quando os trovadores desenvolvem o mesmo tema nos dois gêneros.

As características mais marcantes desse tipo de cantiga é o paralelismo, que consiste em montar uma composição com base em segmentos repetidos. Sendo este um recurso poético comum na chamada poesia tradicional, de cunho popular. Recurso que se tomou muito importante para os trovadores, e se espalhou por todos os gêneros, inclusive as cantigas de amor, onde o paralelismo semântico é facilmente encontrado.

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Muitos estudiosos, ao se depararem com essas cantigas, se deslumbram não só por seu caráter inovador, mas, principalmente, por pensarem estar diante de uma poesia puramente popular. A origem dessa poesia pode ser explicada como sendo uma poesia feminina pré-trovadoresca, o que é reforçado pelos materiais encontrados. Isso nos leva a crer que inicialmente esse tipo de cantiga tradicional não encontrou lugar entre os nobres, embora eles tenham com certeza apreendido um pouco do gênero. Mas não podemos esquecer que os textos das cantigas que possuímos são obras de poetas conhecidos, dentro de uma poética aristocrática.

Cantigas de escárnio e maldizer

Antes de tudo, é necessário estabelecer uma pequena diferença entre esses dois tipos de cantiga. As cantigas de escárnio o trovador usa termos ambíguos que dificultam a compreensão imediata dos insultos, enquanto nas de maldizer o poeta usa palavras violentas e diretas.

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REFLITA

Apesar das diferenças, as cantigas de escárnio e maldizer possuem algo que as unem: ambas falam mal de alguém, além de pertencerem ao gênero satírico, por vezes burlesco e obsceno, e serem muito apreciadas pelos poetas galego-portugueses.

Devido a essas semelhanças, muitos estudiosos preferem uma classificação geral dessas cantigas por perceberem que em muitas poesias esses critérios se misturam.

Devido à linguagem utilizada e por tratar de temas obscenos, parece ser um gênero totalmente distante dos demais, no entanto, se fizermos uma analise mais minuciosa veremos que elas estão ligadas a começar pelos autores, são os mesmos das de amor e de amigo e, sobretudo, pela capacidade desse gênero em incidir nos demais, parodiando-os.

 

 Um outro tipo de poesia é a Mariana, que existiu no século XIII, que são cantigas de Santa Maria. Por apresentarem temas e reflexões mais amplas e possuírem mais poesias narrativas que de louvor à virgem, muitos autores não as consideram quando analisam a poesia galego-portuguesa, todavia não se podem ignorar as pontes que ligam esse gênero aos demais. O primeiro é o fato de ela ser escrita em galego-português e também ser composta como uma unidade de música e poesia. Sem contar os traços líricos e satíricos encontrados em algumas dessas cantigas.

Para concluir, é preciso ressaltar que, embora as inúmeras críticas feitas à poesia galego-portuguesa, muitas vezes vista como um ramo da poesia Provençal, é incontestável sua importância para a formação de uma nova geração poética, que muito influenciou na poesia procedente. Além de retratar a sociedade da época de uma forma inovadora e de vários ângulos sociais – a corte através das cantigas de amor, o ambiente mais simples e campestre do povo com as cantigas de amigo e ainda uma crítica cômica de todo o sistema social com as cantigas de escárnio e maldizer.

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

A Novela de Cavalaria

A Demanda do Santo Graal

Considerada pelos estudiosos como um dos assuntos mais espinhosos da literatura medieval, devido a enorme quantidade de textos e as inúmeras versões de uma mesma obra, a “matéria da Bretanha” é também um dos temas fascinantes do medievo, embora não seja nada fácil estudar esse período. Muitas vezes é necessário que o especialista recorra a um trabalho arqueológico e filológico das obras existentes para esclarecer datas, local de origem, etc.

O primeiro nó a desatar é quanto à originalidade da demanda portuguesa. O único documento existente é o códice 2594 da Biblioteca Nacional de Viena que é, na verdade, uma tradução de um outro original, possivelmente francês, cujo paradeiro é desconhecido. Um outro impasse é ter surgido nesta mesma época (1400-1438) uma outra versão castelhana do mesmo texto. Isso deu margem a inúmeras discussões acerca da prioridade de uma sobre a outra. Mas estudos feitos por Rodrigues Lapa e D. Carolina Michaeles de Vasconcelos demonstrou ser Portugal o responsável pela tradução e adaptação da obra.

Com o objetivo de minimizar os problemas oriundos da diferença de datas entre o original (século XIII) e a tradução (século XV) e também os de diferença cultural e ainda distingui-las das canções de gestas – cantigas medievais que celebravam os grandes feitos de heróis da época – é tradição dividir a ficção cavalaresca em três ciclos: o Carolíngio – que tem no imperador Carlos Magno e seus pares as figuras centrais; o Clássico – que abrange matéria da Antiguidade clássica, episódios e heróis das literaturas grega e latina; e aquele mais interessante para nós: o Bretão ou Arturiano – onde encontramos a figura do Rei Artur e seus Cavaleiros na Bretanha, pois este é o único ciclo presente na prosa portuguesa.

Um esclarecimento muito importante a fazer é quanto à distinção entre a lenda do Rei Artur e o mito do Graal. Apesar de aparecerem juntos na memória popular não são da mesma época, sendo o mito bem mais antigo que a lenda. O Rei Artur foi considerado um grande chefe guerreiro das Ilhas Britânicas, que entre os séculos VI e VII ficou célebre em perigosas batalhas contra os inimigos saxões, e teve suas histórias contadas principalmente pelos conteurs bretões (narradores de contos e fábulas folclóricas que passavam de pais para filhos). Observemos que este é um tema bélico por excelência, enquanto o tema do Graal era essencialmente religioso.

Vendo por este ângulo, parece impossível a junção desses dois temas, no entanto temos textos históricos que traçam todo o caminho percorrido desde a primeira descrição dos feitos do Rei Artur, com Nennius, até a união desses dois temas com Chrétien Troyes na obra Perceval ou le conte du Graal em que o autor vai além dos episódios amorosos, mergulhando em um universo místico, embora sem caracteres cristãos, é, com certeza, a

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Se razões históricas e textuais explicam os laços entre o Graal e o Rei Artur, as afinidades temáticas parecem mais eloqüentes. A vida do rei Artur é totalmente envolvida pela magia de Merlin e pela proteção das fadas, pois foi ele gerado por meio da magia e mesmo depois de morto foi levado pela fada Morgana à ilha de Avalon. E o povo ficou a esperar messianicamente a volta de Artur. Percebemos nitidamente a presença marcante do misticismo não somente na vida do rei como também na vida do reino. São pormenores que acrescentaram á biografia de Artur aquele halo espiritual responsável pela mitificação da lenda.

A ligação do elemento guerreiro ao místico na configuração do Império adquiriu, na verdade, proporções gigantescas. Artur não era somente um chefe político, ele tornou-se para o povo também um chefe simbólico e a ambição de qualquer cavaleiro era tornar-se membro da ordem do Rei Artur, mesmo que para isso fosse preciso renunciar a toda família. Quando a “ordem arturiana” adquire tal magnitude – ao situar os homens num plano de valores em que o heroísmo guerreiro rivaliza com as qualidades morais, sempre cultivadas por vias que exigem renúncias às vezes quase impossíveis, com vistas ao prêmio no fim da longa caminhada, quando isso ocorre – a confluência na tradição do Graal parece inevitável: “o próprio Graal pode, no fundo, representar o elemento transcendente com que esta cavalaria aspirava a completar-se”. Onde o fim justificava os meios, ou seja, a matança que ocorreu na Demanda não era pecaminosa e sim demonstração de bravura para se alcançar à premiação.

Tendo em vista a importância da realidade histórica para toda e qualquer literatura não podemos deixar de ressaltar alguns fatores que contribuíram para o surgimento e desenvolvimento da matéria ficcional da demanda:

A voga do neocetismo; com a conquista normanda, empreendida por Guilherme,

abriu para o mundo as portas do folclore céltico-bretão, com seus inúmeros lutadores ferozes e amantes insaciáveis protegidos pelo fantasioso mundo das fadas.

O movimento intenso das cruzadas, aproximando o Oriente e o Ocidente; com

o objetivo de proteger e recuperar os lugares sagrados e também “recuperar” fiéis para a igreja.

O surgimento da lírica trovadoresca; sendo o século XII considerado o século de

ouro da literatura da França, cuja importância é indiscutível como fonte de todo o lirismo europeu dos séculos posteriores.

A ascensão da cavalaria; que de simples organização militar começa a se transformar

com Carlos Magno (Século IX) numa espécie de confraria religiosa, exigindo do ingressante a observância de uma série de rituais.

Se aliarmos esses fatores ao intenso crescimento das cidades e surgimento das universidades, teremos uma idéia do extraordinário choque de valores que caracterizou os séculos XII e XIII, onde a matança em nome de Cristo e a preservação dos valores da Igreja eram sinônimo de obediência e valorização diante de Deus. E, as peregrinações eram uma forma de obter perdão dos pecados e reinstaurar a paz.

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Literatura

Portuguesa

que a época nos legou no campo da ficção. Quanto à estrutura, podemos dizer terem sido feitas em forma de novelas, o que permitia estruturar os capítulos em contos independentes, com significado próprio.

Um dos pontos mais importante, quando analisamos a Demanda, é percebermos a influência da Igreja na sociedade da época. O remorso e a expiação estão sempre presentes na vida dos cavaleiros. Na figura da “Besta Ladrador” temos uma amostra da punição para aqueles que cometerem o crime do perjúrio, considerado pecado mortal. Sendo o juramento uma condição para ingressar na santa busca. Uma outra condição é não levar mulher na viagem, sob pena de, também, cometer pecado mortal. Pela proibição e a pena imposta, aqueles que desobedecessem – não conseguiriam chegar ao Graal –, percebemos que a Igreja não via com bons olhos a liberdade amorosa cantada pelos trovadores e embalada pela fértil imaginação dos celtas.

Pobre de Lancelot, que embora seja considerado o cavaleiro mais valente da corte arturiana é também o mais pecador. Como se não bastasse ser o pai bastardo de Galaaz, apaixonou-se pela esposa do rei Artur, cometendo pecado duplo: adultério e traição, o que vai contra a moral da Igreja e a ética da cavalaria. Apesar de conhecedor da sua enorme culpa e de padecer com o remorso que ela lhe causa, Lancelot não consegue deixar de amá-la e só a abandona depois que ela morre. Isso retrata a dualidade vivida por Lancelot, de um lado o amor forte e inabalável pela rainha; do outro, o respeito, a admiração e a amizade por Artur, que apesar de tudo, ele continuava cultivando. Acontecimentos que o afasta das honrarias as quais os outros cavaleiros participam e, inclusive, da possibilidade de alcançar a conquista do Graal.

É nesse contexto que surge Galaaz como o “cavaleiro eleito”, “o puro dos puros” porque nunca pecou contra a castidade, passando, assim, a simbolizar um novo Cristo, que com a conquista do Graal salvaria o reino do pecado e implantaria a tão sonhada paz. Mesmo com todos esses méritos, Galaaz não está livre da tentação, e como Jesus, foi levado ao “deserto” para ser tentado pelo Diabo, aqui simbolizado pela mulher: durante a noite Galaaz estava deitado quando a filha do rei penetra no seu quarto, porém ela o encontra usando um cinto de castidade e vendo seus planos frustrados, a donzela ameaça matar-se. Ele, desesperado, cede, mas já era tarde e ela havia morrido, mesmo assim ele foi consolado e eximido de culpa por Boorz. Esse episódio prova que nem mesmo Galaaz, o escolhido, pode se descuidar e deixa claro as muitas provações encontradas pelos cavaleiros. Todavia pensava-se que quanto mais difíceis os obstáculos, maiores as chances de purificação e mais eminente o perdão de Deus.

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Vamos reconsiderar os séculos XII e XIII?

A época é de conturbada polaridade; Deus e o Diabo estão como que lado a lado, com apelos igualmente sedutores; a Igreja e a cavalaria encontram na guerra santa e no monge guerreiro uma forma de minimizar suas diferenças e, na literatura, o erotismo trovadoresco e combatido pelas hagiografias sobre a vida de santos e mártires. Divididos entre a oração e o pecado, o homem medieval vê nas cruzadas uma forma de adquirir o perdão divino. Se confrontarmos essa realidade com a realidade dos Cavaleiros da Távola Redonda e a Demanda perceberemos uma grande afinidade entre ambas, pois as aventuras

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existentes na busca do Graal eram formas de peregrinação. Sendo que na Demanda a fantasia e a realidade se misturam, a ponto de não discernimos os limites entre esses dois mundos.

Em suma, não é sem razão que a Demanda é considerada o maior monumento literário da Idade Média, pois além de ser uma obra coesa e extraordinariamente bem estruturada, ela também retoma elementos de crença heterodoxas, não para puni-los ou cerceá-los, mas para revê-los e até absorvê-los, segundo os dogmas da Igreja.

2ª Época Medieval

As manifestações literárias da primeira época medieval caracterizavam-se pelo predomínio da oralidade e, por esta razão, as cantigas trovadorescas tiveram maior destaque. O século XV, segunda época medieval, representa um momento de transição entre a literatura trovadoresca e o Renascimento do século XVI, é quando a prosa e o teatro ganham o primeiro plano. É um dos períodos mais dinâmicos da história portuguesa, pois, nesse século, além de aumentar seus domínios, Portugal mostra para a Europa a força da coesão moral de um povo solidário e fiel ao seu rei e uma unidade política inviolável, até então desconhecida.

Inicia-se em 1415, com a tomada de Celta, o período dos descobrimentos e das conquistas marítimas. Durante mais de cem anos a nação lusa se deteve no propósito mercantilista e a literatura acompanhou esse movimento, dando grande importância aos trabalhos históricos e didáticos: produção de textos de caráter documental, cuja finalidade primeira não seria exatamente literária e sim de doutrinação. Portanto, podemos deduzir que as grandes criações artísticas não encontravam espaço, e as canções, até então comum aos palácios, ficaram restritas às reuniões familiares.

A prosa doutrinal encontra na família de Avis expoentes notáveis no séc. XV: O Livro da Montaria de D. João I, sobre a arte e os prazeres da caça; A Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela e Leal Conselheiro, sobre a arte de montar e sobre a ética e a prática da vida

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Indicação de Filme

TÍTULO DO FILME: EXCALIBUR (Excalibur, inglaterra, 1981)

DIREÇÃO: John Boorman

ELENCO: Nigel Therry (Rei Arthur), Helen Mirren (Morgana),Nicholas Clay (Lancelot), Cherie Lunghi (Guinevere), Paul Geoffrey (Percival), Nicol Williamson (Merlin), Robert Addie (Mordred), Gabriel Byrne (Uther Pendragon); 142 min.

Durante muitos séculos, historiadores consideraram Rei Arthur apenas um mito, mas a lenda, acredita-se, baseava-se em um herói real, dividido entre suas ambições pessoais e o dever para com o povo.

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

O gosto dos desportos

Desde os meados do século XIV, a escola trovadoresca em Portugal, assim como o exercício da poesia, da imaginação e da sensibilidade começou a ser substituído pela cultura da força física. É Afonso IV que inicia ostensivamente o predomínio do corpo sobre o espírito. Eram muitos os exercícios praticados naquela época, dentre os mais apreciados estavam as caçadas, a montaria, sem contar as lutas, os torneios, as justas, etc. Por conta dessa mudança no gosto da sociedade é que surgiu uma literatura que refletia as preocupações dominantes da época. Um bom exemplo é D. Fernando, ele trazia a casa cheia de falcões e encarregou seu falcoeiro Pero Menino de elaborar um tratado de mezinas para aplicar às doenças que atacavam os falcões. Este livro, entre outros semelhantes, tem reduzido valor literário; o que não acontece com o Livro da Montaria, de D. João I, considerado um valioso documento da literatura desportiva portuguesa.

O livro da Ensinança de Bom Cavalgar

D. Duarte, ainda príncipe, começou este livro, levado pelo desejo de ensinar aos seus súditos a teoria de bem cavalgar. É uma obra original, não decalcada dos modelos clássicos, onde não abundavam livros destes, é um fruto da sua experiência. Todavia esse livro não pode ser considerado apenas um ensinamento sobre equitação, pois ele transcende a esfera profissional e penetra no campo psicológico, falando sobre o medo no aprendizado

da disciplina e recomenda a beleza das atitudes na prática dos exercícios. É a percepção estética do jogo clássico.

O Leal Conselheiro

Devemos a primeira edição deste livro aos esforços de dois portugueses, moradores de Paris: o visconde de Santarém e José Inácio Roquette, o conhecido dicionarista. Não tendo unidade de tempo nem de pensamento: é um tratado de recopilação enciclopédica, que versa as disciplinas mais variadas. D.Duarte, espírito exatíssimo, profundo observador, adquiriu cedo o costume de tomar apontamentos por escrito. Não confiava na memória. O livro era dedicado a sua esposa, a rainha, e tinha, como o título indica, um fim educativo, era como que um guia de moral caseira.

O estilo de D. Duarte

Sem nenhum talento poético, D. Duarte empregava uma linguagem excessivamente culta, prática pouco aceita no período medieval. Muito rigoroso no emprego dos vocábulos, chegava por vezes a discriminar as diferenças de sentido – É um dos primeiros em Portugal que não crêem na existência de sinônimos. Contudo, isso não deve ser atribuído ao seu instinto literário, e sim a sua cultura moral e desejo de perfeição. Lia e traduzia o latim no

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desejo de se aproximar ao máximo do original e é este empenho de tradutor que dá ao seu estilo um caráter arrevesado e truncado, pois limitava-se a aplicar a sintaxe latina na frase portuguesa.

O cronista Fernão Lopes

Ao tempo em que D. Duarte compunha os últimos capítulos do Leal Conselheiro, começa Fernão Lopes, arquivista das escrituras desde 1417, a registrar em crônicas as estórias dos antigos reis de Portugal. Sua obra é fruto de um imenso trabalho, realizado em quinze anos de busca fadigosa de documentos antigos de toda espécie e em várias línguas. Compreendendo todas as crônicas, desde a do conde D. Enrique até à de D. João I. Inclusive, as crônicas dos reis antigos, que foram atribuídas a Rui de Pina – um furto literário denunciado por Damião de Góis com base, sobretudo, nas diferenças estilísticas existentes.

Das crônicas que escreveu, só restam três: a) Crônica de D. Pedro

Esta crônica abrange os dez anos de reinado de D. Pedro (1357 a 1367). É constituída por um prólogo e quarenta e quatro capítulos. Tal como fez para as restantes crônicas, Fernão Lopes apoiou-se em fontes narrativas e diplomáticas, como é o caso dos documentos dos livros da chancelaria de D. Pedro.

História e mito tendem a se confundir no imaginário advindo do episódio que envolve Inês de Castro e seu amante, o futuro rei de Portugal D. Pedro, filho de D. Afonso IV. Os primeiros textos de que se tem notícia a enfocar o drama do “Romeu e Julieta português” (nas palavras de Alexandra MARTINS) são de Fernão LOPES (1380?-1460?), cronista que conduz a historiografia lusitana a novas perspectivas, ao filtrar as lendas dos fatos.

b) Crônica de D. Fernando

Esta crônica foi, provavelmente, redigida por volta de 1436. É constituída por um prólogo e cento e setenta e oito capítulos. Começa por relatar as peripécias de pouco depois da morte de D. Pedro, em março de 1367 e finda também pouco depois da morte de D. Fernando. Os últimos seis capítulos são de grande interesse, pois retratam a reação do povo e de uma parte da nobreza, quando D. Leonor Teles se torna regente do Reino, substituindo a sua filha D. Beatriz, rainha de Castela.

c) Crônica de D. João I (1ª e 2ª partes)

Esta crônica é considerada a obra-prima de Fernão Lopes e, segundo algumas opiniões, é classificada como sendo mais épica do que Os Lusíadas e muito mais nacional. Em cronologia é a maior das crônicas, visto que abrange acontecimentos ocorridos durante 28 anos. Na concepção de José Hermano Saraiva, a primeira parte da Crônica de D. João I não é uma crônica no sentido rigoroso do termo, mas um livro de história, na acepção que hoje damos a esta expressão.

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

O CANCIONEIRO GERAL

O fim do período de consolidação da língua (ou de utilização do português arcaico) é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516, período no qual o Português tornou-se uma língua madura, com uma tradição literária riquíssima, separando-se definitivamente do galego (no séc XV, a língua na Galiza começou a ser influenciada pelo Castelhano – basicamente o Espanhol moderno).

Tempo em que as guerras e a instabilidade da política não refrearam a aspiração de uma vida melhor, pelo contrário, a nobreza compreendeu que só em volta do rei lhe restava viver para se abrigar da penúria e da opressão. A aristocracia começou a freqüentar e cultivar as reuniões e as maneiras do palácio. Nos tempos de D. João II, os serões tiveram grande esplendor, pois o rei prezava a poesia e sentindo que a sociabilidade poderia funcionar como uma obra de propaganda política, encontrou nesses encontros uma maneira de ter os fidalgos na mão. A corte, então, tornou-se o principal centro de produção cultural e literária, graças a esse fortalecimento da casa real.

Freqüentador da corte, o risonho e inteligente Garcia de Resende, homem da criação de D. João II, teve a ótima idéia de compilar a produção poética do lirismo palaciano, obra que publicou em 1516, sob o nome de Cancioneiro Geral.

A moda de colecionar a poesia cortesã viera da Espanha, pois lá, a vida cortesã e galante começou mais cedo do que em Portugal, graças ao favor de reis como D. João II, grande agasalhador de poetas. O que resultou, na segunda metade do século XVI, um acusado predomínio da cultura e da língua castelhanas. Não é, pois, de se admirar que topemos no Cancioneiro de Resende com numerosas composições em castelhano, e este hispanismo continuará pelo século de Quinhentos, favorecido já agora pela hegemonia política de Espanha. Mas, acentuar-se, a maior e melhor parte do Cancioneiro está em língua portuguesa.

É certo que há na poesia palaciana mais futilidade, já que a própria ocasionalidade da inspiração dá um profundo acento a algumas composições feitas – lembremos que foram compostas para serem recitadas e não para serem publicadas em livro. O fato mais insignificante despertava a inspiração poética. E tudo isso se dava num ambiente de liberdade, característico da renascença.

A tradição lírica galego-portuguesa

Um dos fatos que devemos primeiramente destacar no Cancioneiro é a persistência da antiga tradição lírica, não é claro sob o aspecto formal, pois há muito desaparecera o paralelismo da cantiga de amigo, mas pelo que se refere às tendências permanentes do temperamento saudosista. O amor triste é ainda muito presente no Cancioneiro de Resende.

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Mas o amor adquire aspectos novos, torna-se mais natural e mais atrevido. A dama aparece em acordo com a realidade e as relações afetivas são incrementadas por um toque de ardência sensual. Havia, pois, um conflito aberto entre as duas concepções do amor: a tradicional, platônica, e aquela que já se respirava na atmosfera cálida e sensual da renascença.

A corrente satírica

Obedecendo ainda a uma corrente da antiga tradição, encontramos no Cancioneiro freqüentes exemplos do escárnio de amor; o poeta, despeitado dos rigores da dama, retrata-a em cores de feretrata-aldretrata-ade físicretrata-a ou morretrata-al. Como modelo do poetretrata-a cômico, gretrata-alhofeiro, que não desce ao fundo das coisas e se atém aos aspectos ridículos da vida, o Cancioneiro oferece-nos Henrique da Mota que, em certo modo, pode ser considerado um precursor de Gil Vicente, pois que as suas composições, dialogadas, são teatralizáveis e constituem verdadeiras farsas. As peças satíricas mais notáveis em alcance social são as trovas de Álvaro de Brito Pestana a Luís Fogaça sobre os ares maus de Lisboa, as de Duarte da Gama às desordens da vida portuguesa e as de Luís da Silveira e Garcia de Resende à mudança dos tempos.

Dantismo e petrarquismo

A influência dantesca aparece já no período galego-castelhano, mas vai-se acentuando cada vez mais, até que, no último quartel do século XV, dá lugar a uma forma especial de poesia. Essa imitação de Dante de primeira mão deu-se primeiramente em Espanha e depois em a Portugal, por intermédio de Juan de Mena e do Marquês de Santilhana. A influência indireta de Dante foi igualada, senão até superada pela arte francesa, que era mais clara, superficial e acessível. Outra influência italiana e essa mais direta e profunda, porque encontrava correspondência no nosso temperamento, foi a de Petrarca, que renovara no século XIV o lirismo dos velhos trovadores. A atitude petrarquista manifesta-se nas antítemanifesta-ses, nas imprecações dolorosas e na utilização artística da natureza como espelho ou contraposição do estado de alma do poeta.

Temos, pois, que a dupla influência de Dante e de Petrarca despertou, ou melhor, renovou a sensibilidade romântica na poesia portuguesa: porque há uma verdadeira antecipação romântica na poesia do Cancioneiro que se mostra nos contatos entre o poeta e a natureza e ainda em o poeta procurar, numa saudade triste, os lugares em que viveu os seus antigos amores.

O espírito clássico

Já na poesia alegórica é evidente um certo estendal de erudição mitológica, mas se a forma denuncia já uma curiosidade renascentista, o fundo é ainda mais romântico-medieval.

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

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Esse mesmo espírito clássico provocou algumas tentativas falhadas de poesia épica. O ar andava, já então, carregado de inspirações heróicas. Simplesmente, ainda não chegara o tempo e o poeta que as havia de condensarem estrofes imortais. Um poeta de então, Luís Henriques, exercitara o verso maior em assuntos graves. Nem todos, porém, se deixaram ir nessa corrente. E um pequeno grupo de poetas, tocado de espírito horaciano, cultivando o conceito filosófico da mediania dourada, começou a reagir à margem do bulício do palácio, contra as ambições do tempo. Esse pequeno núcleo aparece representado no Cancioneiro por Diogo de Melo, Nuno Pereira e João Roiz de Castelo Branco.

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Indicação de Filme

TÍTULO DO FILME: 1492 - A CONQUISTA DO PARAÍSO

(1492: Conquest of Paradise, ESP/FRA/ING, 1992) DIREÇÃO: Ridley Scott

ELENCO:Gérard Depardieu, Sigourney Weaver, Armand Assante, Ângela Molina, Fernando Rey, Tcheky Kario, 150 min, Vídeo Arte. A viagem de Cristóvão Colombo insere-se no cenário da expansão ultramarina liderada por Portugal e Espanha entre os séculos XV e XVI. Portanto, para compreender a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, é necessário inseri-la no quadro das transformações por que passou a Europa na Baixa Idade Média (século XII ao XV), durante a transição do feudalismo para o capitalismo comercial.

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Atividades

Atividades

Atividades

Atividades

Atividades

Complementares

Complementares

Complementares

Complementares

Complementares

O sentimento do eu-lírico ou eu-poético idealiza a mulher, elevando-a a um pedestal. Que versos expressam essa idealização?

1.

Além de colocar nas mãos de Deus a possibilidade de ser feliz, o poeta atribui a Ele a responsabilidade pela beleza da mulher. Que fragmento da cantiga expressa a segunda idéia?

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

O eu-lírico é masculino e tem um desejo. a) O que ele pede?

b) A quem ele dirige seus pedidos?

c) Se os pedidos não puderem ser atendidos, qual é a solução entrevista pelo eu-lírico?

3.

Nesse texto aparecem as características mais comuns da Cantiga de Amor. Trace um paralelo com o que você apreendeu sobre a Cantiga de amigo, confrontando as diferenças e semelhanças entre elas.

4.

Alguns compositores se inspiram nesses tipos de cantiga para elaborar suas composições. Nos dias atuais, que exemplos de Cantiga de Amor e de Cantiga de Amigo podemos extrair da música brasileira.

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D

O

T

EATRO

P

ORTUGUÊS AO

A

RCADISMO

O Teatro de Gil Vincente

Durante a Idade Média surge em Portugal o Teatro Vicentino, representação que se caracteriza pelos temas, linguagem e atores populares. A carreira literária de Gil Vicente começa em 1502, quando representa o Auto da Visitação, até o ano de 1536, ano da representação de sua última peça Floresta de Enganos. Durante os anos de sua trajetória teatral dedicou-se a escrever e representar teatro para o entretenimento da realeza e da fidalguia, são dezenas de peças de temas variados. Escreveu cerca de 44 peças: 17 bilíngües, 16 em português e 11 em espanhol. Na corte portuguesa usava-se, também, o idioma espanhol em razão da rainha Maria, segunda mulher de D. Manuel I, ser filha dos Reis Católicos da Espanha. Além disso, falar espanhol era sinal de distinção entre os nobres, pois o povo falava apenas português.

Didaticamente, pode-se dividir em fazes o teatro vicentino. Temos três fazes principais: 1502-1514 – Sob influência de Juan del Encina.

1515-1527 – Corresponde ao ápice da carreira dramática.

1528-1539 – Teatro intelectualizado, sob influência do classicismo renascentista. Quanto ao tema, pode ser dividido em:

Tradicional

Peças de caráter litúrgico, ligados ao teatro de Juan del Encina, aos assuntos bucólicos e às novelas de cavalaria.

Atualidade

Caracteriza-se pela presença de um retrato satírico do modo de viver do seu tempo, e não perdoa nenhuma classe social, seja ela a fidalguia, a burguesia, o clero ou a plebe.

É um teatro baseado na espontaneidade e com intento de divertir e organizava-se sob a lei do improviso. Supõe-se que Gil Vicente redigia um roteiro básico, apenas para ordenar a encenação em uma seqüência verossímil. Lírico ou cômico, seus textos continham a predominância da visão medieval e de uma nostalgia de um tempo perdido. O grande mérito do autor é o seu talento de poeta, sobretudo de poeta dramático, é em conseqüência disso que o teatro vicentino se tornou um marco dentro da Literatura Portuguesa.

VOCÊ SABIA QUE...

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

Suas peças estão classificadas em obras de devoção, comédias, tragicomédias, farsas e obras miúdas, como monólogos e paráfrases de salmos e apresentam a seguinte divisão:

Os Autos: são composições religiosas, pastoris, nos quais se nota a

influência do teatro pastoril de João de Encima, dramaturgo espanhol. São peças de temática devota e moral, alegórica, que refletem os valores do mundo medieval.

As comédias: trazem valores greco-romanos e mitológicas, contendo relatos

romanescos como as novelas de cavalaria.

As farsas: preservam a mesma estrutura dos autos, traçando, porém, uma caricatura

contra os maus costumes, apresentando uma crítica social contundente, mordaz, carregada de alusões pessoais. De caráter pedagógico moral, há uma longa tradição na farsa medieval sobre o tema do adultério feminino.

Primeira fase: 1890 a 1198-1434

A criação literária portuguesa, no primeiro período medieval (1890 a 1198-1434), corresponde à floração trovadoresca e acontece quase simultaneamente à formação da nação lusa. Essa produção cultural denominada também de cantigas era composta pelos trovadores e cantada pelos jograis que percorria todo o reino em ambientes diversos. A fim de preservar essa literatura, que era transmitida oralmente, fora fixada por escrito em coletâneas denominadas cancioneiros.

A poesia trovadoresca é dividida em dois tipos: lírico-amorosa compreendendo às Cantigas de Amigo, associadas ao canto e à dança, impregnadas do realismo da vida campesina, da sensualidade, queixume, euforia, amor popular e amor burguês; e as Cantigas de Amor de origem provençal, marcadas pela vassalagem amorosa, impregnadas pelo idealismo, a “coita” de amor e idealização da mulher. O outro tipo é a satírica subdivida em escárnio, maldizer, seguir e tenção de briga. Os principais trovadores desse período foram Paio Soares de Taveirós D. Dinis, Martim Codax, Aires Nunes e João Garcia de Guilhade. Além poesia a época trovadoresca se caracteriza também pelo aparecimento da prosa medieval: novelas de cavalaria, retratando um heroísmo de influência religiosa e feudal, biografias, crônicas e livros de linhagem.

Segunda fase: 1434-1527

Período conhecido também como Humanismo, vai desde a nomeação de Fernão Lopes como cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Francisco Sá de Miranda da Itália, quando introduziu uma nova estética, o Classicismo, em 1527. Teve como principais características a divulgação dos mestres da Antiguidade greco-latina, o incentivo às Universidades, a laicização da cultura e o Culto do Homem.

A prosa, no humanismo português, consistiu, principalmente, na crônica histórica e teve como principal expoente Fernão Lopes um cronista realista de técnica literária da narrativa, um criador de perfis psicológicos que tratou o povo como agente da história.

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inaugurado pelo regime absolutista da dinastia de Avis foi a prosa doutrinária, direcionada para a educação da realeza e da fidalguia, com o sentido de orientá-la no convívio social e no adestramento físico.

Além da prosa tivemos a poesia palaciana recolhidas por Garcia de Resende no

Cancioneiro Geral. São poesias já dissociadas de música, elaboradas para serem lidas e

recitadas nas cortes. Surge também o Teatro popular de Gil Vicente produção literária caracterizada pela sátira à sociedade portuguesa e a visão religiosa medieval moralizadora.

Classicismo

O Renascimento e a Lírica Camoniana

Considerado o marco inicial da era moderna, o Renascimento é o mais importante movimento de renovação cultural ocorrido na Europa durante os séculos XV e XVI. O crescimento gradativo da burguesia comercial e das atividades econômicas entre as cidades européias estimulou a vida urbana e o surgimento de um novo homem cujo reconhecimento de seu valor contribuiu para o enriquecimento do ambiente cultural, resultando na formação de um novo clima intelectual otimista e confiante na força do ser humano – que se torna o centro do universo (antropocentrismo), manifestado pela ruptura com a tradição feudal que era marcadamente religiosa e teocêntrica.

A visão humanista é o primeiro impulso para o surgimento do Classicismo. Esse movimento literário surge em Portugal, em 1527. E, como resultado da mudança que o homem tinha de si mesmo – sendo, portanto, uma continuação do Humanismo – são traduzidas e difundidas numerosas obras gregas e latinas, de assunto literário, filosófico e científico, com o objetivo de reviver os ideais da Antigüidade Clássica, influenciando assim, as artes, a cultura e a literatura.

Essa retomada à Antiguidade clássica influi diretamente na linguagem, na forma e nos temas. A linguagem clássico-renascentista é a própria expressão das idéias e dos sentimentos do homem do século XVI, sendo usada com clareza e objetividade, é sóbria, simples e precisa. A valorização da forma está expressa na preferência pelo soneto, com versos decassílabos distribuídos em duas quadras e três tercetos. Nesses versos é usada a chamada medida nova em oposição à redondilha medieval, chamada de medida velha. Nos temas, presenciamos o uso da mitologia, do amor platônico, da exaltação das faculdades humanas (o herói nacional), do nacionalismo, do culto à beleza e da perfeição.

Temos, então, algumas características que individualizam o Classicismo:

     Humanismo      Valorização da antiguidade      Contenção lírica      Locus Amoenus      Carpe Diem      Verossimilhança      Ausência de Conflitos

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Estudo da

Literatura

Portuguesa

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VOCÊ SABIA QUE...

Entre os séculos XV e XVI, Portugal é um dos países mais importantes da Europa?

Portugal é, então, um dos países mais importantes da Europa e se encontra mergulhado no espírito aventureiro das viagens marítimas e dos descobrimentos. O espírito renascentista pode ser entendido como oposto ao que orientou o mundo medieval. O antropocentrismo toma o lugar do teocentrismo e o homem passa a valorizar o conhecimento, a filosofia e se volta para a razão.

Em Portugal, Luís de Camões é o homem-síntese, a expressão do Renascimento. Camões inaugurou, em se tratando de linguagem poética, o Classicismo em terras Lusas. Considerado o poeta máximo da língua portuguesa, tem sua obra dividida em duas fases, a Lírica e a Épica. A épica tem n’Os Lusíadas a sua mais importante obra classicista. A Lírica é representada pelos sonetos, mas também contribuiu com canções e redondilhas. E, no gênero Dramático, escreveu Anfitriões, Filodemo e El rei Seleuco. Suas obras se situam entre o Classicismo e o Maneirismo.

Platão, Petrarca, Horácio, Virgílio entre outros do clássico grego e romano, assim como todo o Renascimento, pulsam na poesia de Camões, mas, dentre todas as influências recebidas, Platão é considerado a principal, pois foi nas passagens da doutrina Platoniana que Camões soube ver uma forma de investigar as relações da palavra com seu referente, fazendo dele um exímio “manipulador” das mesmas.

[...]

Que alma é tábua rasa Que com escrita doutrina Celeste tanto imagina. Que voa da própria casa E sove a pátria divina [...]

Os sonetos contêm um grande lirismo. A preocupação técnica impressiona o mais parnasiano dos poetas, a mais comum das rimas de Camões possui os 14 versos em decassílabo, distribuídos em 2 quartetos e 2 tercetos, de rima abba-abba-cde-cde. É de clara descrição do ambiente, percebendo-se a presença de elementos pagãos e católicos. Os temas giram em torno do amor, abordado principalmente através da antítese amor

platônico x amor carnal; da busca da perfeição; do desconcerto do mundo; da pátria; de

Deus; da figura feminina, na figura idealizada da mulher x beleza física; e da visão da natureza. Infelizmente, dizem alguns estudiosos, que alguns sonetos que a ele são atribuídos, não são realmente de sua autoria, como por exemplo, um dos mais lidos e apreciados por seu lirismo de beleza universal:

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O novo estilo de época que caracteriza o Renascimento é denominado de Classicismo e, em Portugal, é marcado pela convivência do feudalismo com o mercantilismo, pelas grandes descobertas e por importantes transformações culturais. As principais características do movimento foram a imitação dos clássicos gregos e latinos, o racionalismo, o antropocentrismo e o neoplatonismo.

Os autores de destaque foram Sá de Miranda, introdutor do movimento; Bernardim Ribeiro poeta e novelista; Antônio Ferreira que, além de poeta, era também dramaturgo, e Luís Vaz de Camões escritor mais representativo do Renascimento sendo também o prenunciador do Barroco. Além de poeta Camões era dramaturgo e cabe-lhe no que concerne a linguagem poética a inauguração do movimento em terras Lusas. Considerado o poeta máximo da língua portuguesa, tem sua obra dividida em duas fases, a Lírica e a Épica.

No século XVI comparece, também, a prosa historiográfica tendo como principal representante João de Barros, cuja concepção de história caracteriza-se pela preocupação de contribuir com o exemplo moral e superior dos heróis para a elevação dos espíritos. Outros historiadores desse período foram Gaspar Correia, Fernão Lopes de Castanheda, Damião de Góis e outros. A Novela de Cavalaria se nacionaliza com João de Barros que traz como herói nessas narrativas os portugueses.

RESUMINDO...

Barroco

Dois fatos importantes ocorridos em 1580, quando se inicia o Barroco em Portugal, marcam a vida cultural e política do país, a morte de Camões e a de D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir na África. Com o desaparecimento do rei, o trono português é passado para Felipe II, da Espanha, sendo Portugal anexado à Espanha e permanecendo sob seu domínio durante 60 anos.

Desse modo, o Barroco acontece em meio a uma crise de identidade do povo português, que sob o julgo espanhol esforça-se em preservar sua cultura e sua língua, todavia percebe a impossibilidade de ignorar as influências culturais espanholas. Ao mesmo tempo em que recebe forte influência da Contra-Reforma, de grande penetração nos países ibéricos. Segundo Massaud Moisés1,o movimento Barroco – iniciado em Espanha e

introduzido em Portugal durante o reinado filipino – “é de instável contorno por corresponder a uma profunda transformação cultural, cujas raízes constituem ainda objeto de polêmica.” Se tomarmos como base o aspecto literário, percebemos traços do Barroco já no Renascimento, no chamado Maneirismo.

O Barroco, no entender de alguns estudiosos, tornou-se a arte da Contra-Reforma, a qual teria absorvido a estética barroca fazendo dela uma espécie de estratégia de catequese, mesmo porque nesse período o ensino fica quase por completo a cargo dos jesuítas. A censura eclesiástica, nesse sentido representou um obstáculo a qualquer avanço no campo científico cultural, por conta disso enquanto a Europa vivia um período de

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