• Nenhum resultado encontrado

As Ferramentas de Flexibilidade pelo Lado da Oferta e da Demanda Utilizadas em Mercados Maduros de Gás Natural

O SETOR DE GÁS NATURAL NO MUNDO

2.3. As Ferramentas de Flexibilidade pelo Lado da Oferta e da Demanda Utilizadas em Mercados Maduros de Gás Natural

A flexibilização na utilização do gás natural é um fator de grande importância na viabilidade de sua cadeia produtiva e em seu balanço de oferta versus demanda. Este tema é bastante discutido na literatura acadêmica e está bem desenvolvido na dissertação de Almeida (2008), intitulada “A Importância da Flexibilidade na Oferta e na Demanda de Gás Natura - O Caso do Mercado Brasileiro”.

Os tópicos a seguir trazem a definição de algumas das principais ferramentas de manobra utilizadas em mercados maduros de gás natural com o intuito de flexibilizar a demanda e a oferta daquele combustível, além de manter o equilíbrio e o bom funcionamento de diversos mercados de gás ao redor do mundo.

2.3.1. O Empacotamento de Gasodutos

Tecnicamente empacotar gasodutos significa armazenar o gás natural nos próprios gasodutos de transporte e distribuição através da colocação adicional de pressão no sistema.

A capacidade de atendimento a variações de demanda depende das características dimensionais dos sistemas de transporte, como a extensão, o diâmetro, a resistência à pressão e a disponibilidade de compressores.

Esta alternativa se revela um importante mecanismo de flexibilidade pelo lado da oferta, porém sua abrangência é restrita a variações horárias da demanda, ou seja, o

25

gás é empacotado nos gasodutos durante os períodos do dia em que há menor demanda, e o consumo desse gás empacotado ocorre naquele mesmo dia.

2.3.2. O Gás Natural Liquefeito – GNL

O GNL é uma importante ferramenta de flexibilidade pelo lado da oferta muito utilizada em mercados maduros, especialmente no Japão, como visto anteriormente, e também, em menor escala, nos mercados norte-americano e europeu.

O gás natural liquefeito ocupa um volume 600 vezes menor que o gás natural em condições normais de temperatura e pressão, ou seja, em estado gasoso. A Figura 2.7 ilustra a cadeia de valor do GNL.

Figura 2.7 – Cadeia de Valor do GNL

Fonte: IGU – GÁS Energy

O grande desafio da indústria de GNL é a constante busca por redução de custos, pois o transporte do gás natural é muito mais caro que do petróleo, por exemplo. E, dessa forma, o GNL só é viável quando o transporte tradicional, via gasodutos, se mostrar economicamente inviável.

O mercado de GNL pode ser dividido em três grandes mercados regionais: o asiático, o europeu e o norte-americano, sendo o asiático responsável por mais de 60% da demanda mundial.

O GNL, como atividade econômica, favorece fortemente a competição, na medida em que cria maiores possibilidades para o surgimento de diferentes fluxos comerciais,

26

bem como maior aumenta a flexibilidade no suprimento e ainda traz maior liquidez ao mercado mundial, de uma forma geral.

2.3.3. As Estocagens Subterrâneas de Gás Natural – ESGN

As Estocagens Subterrâneas de Gás Natural – ESGN são grandes volumes de gás natural estocados em reservatórios submetidos a altas pressões. Sua lógica econômica se dá da seguinte forma: durante o verão dos países frios, quando o consumo e os preços do gás são mais baixos, as ESGN se abastecem de gás natural para, no inverno, quando os preços e a demanda sobem, serem capazes de suprir os mercados consumidores.

As ESGN melhoram o planejamento da distribuição de gás natural e previnem possíveis falhas no sistema de transporte e abastecimento, bem como procuram regular as oscilações sazonais de preço no mercado de gás.

As plantas de ESGN, por razões óbvias, são localizadas normalmente nos arredores dos principais centros consumidores e são geralmente constituídas em:

 Antigos reservatórios naturais de petróleo e gás natural;

 Aqüíferos em estruturas anticlinais, constituídos por rochas de porosidade elevada, capeadas por camadas pouco permeáveis;

 Cavernas artificiais construídas por meio de lixiviação de espessas camadas de rochas salinas;

 Cavidades de minas subterrâneas abandonadas.

Em diversos países da Europa e América do Norte, esta ferramenta representa a principal opção para prover o suprimento do combustível nos picos de demanda diários e sazonais, em épocas de invernos rigorosos. Nos Estados Unidos, até o ano de 2005, já existiam cerca de 430 ESGN, operadas por aproximadamente 120 companhias diferentes.

Além disso, as usinas termelétricas a gás natural são importantes clientes das ESGN em virtude da alta capacidade de entrega desses empreendimentos em qualquer época do ano.

27

2.3.4. Os Consumidores Interruptíveis

São consumidores, na maioria das vezes usinas termelétricas ou grandes indústrias, que firmam contratos com agentes supridores se submetendo a eventuais cortes de fornecimento, previamente acordados, em troca de descontos nos preços de compra do gás natural. O perfil desses empreendimentos permite, normalmente, que parte de seus processos produtivos baseados no consumo de gás natural sejam eventualmente interrompidos.

Esta modalidade de contrato e de consumo representa uma importante ferramenta de flexibilidade pelo lado da demanda muito utilizada em mercados maduros de gás natural.

2.3.5. A Sinalização de Preço

Em mercados maduros de gás natural a competitividade é um dos alicerces estruturais do ponto de vista de funcionamento e desenvolvimento de mercado. Com isso, o preço de mercado é definido pela compatibilização entre as propensões a pagar e a receber dos diferentes participantes do mercado, de acordo com a lógica da oferta versus a demanda.

Dessa forma, a formação do preço de mercado, quando não indexado a fatores externos, se coloca como uma poderosa ferramenta de flexibilidade pelo lado da demanda, funcionando como um termômetro balizador para o perfil de consumo da demanda de um determinado mercado.

2.3.6. Os Consumidores Bicombustíveis

Em mercados maduros, os agentes consumidores exercem um importante papel no desenvolvimento e no estímulo à competição do setor produtivo.

Quando os consumidores podem optar pela substituição de um produto utilizado por outro que também atenda às suas necessidades de consumo, seja devido a sinais de preço ou a qualquer outro motivo, seu “poder de barganha” aumenta e o mercado ganha em competitividade e eficiência.

Como exemplos desse perfil de consumo destacam-se os equipamentos produtores de calor, os automóveis e as próprias usinas termelétricas.

28

2.3.7- O Ar Propanado

Este combustível foi desenvolvido para permitir que seus consumidores possam trabalhar com o gás natural, o próprio ar propanado ou mesmo ambos simultaneamente, tornado-se, assim, uma estratégica ferramenta de flexibilidade pelo lado da demanda.

O ar propanado é um gás combustível formado a partir da mistura de GLP11 (com maior teor de propano) com o ar, possui o mesmo número de Wobbe12 e as mesmas características de queima do gás natural.

Assim, os equipamentos de queima não necessitam de qualquer ajuste ou regulagem ao substituírem o gás natural pelo ar propanado.