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2. Enquadramento teórico

2.1. As tecnologias ao serviço da saúde

2.1.6. Fiabilidade e credibilidade da informação

Uma das questões mais pertinentes com o crescimento exponencial da Internet relaciona-se com a fiabilidade e credibilidade da enorme quantidade de informação disponível e que cresce a um ritmo surpreendente. Esta questão já mereceu atenção em 2000, pela União Europeia, durante a Presidência Portuguesa, com a criação de um primeiro plano de ação denominado eEurope. Neste plano constam um conjunto de critérios que os websites sobre saúde devem seguir para aumentar a sua segurança e fiabilidade, “Proteção da privacidade e dos dados pessoais. Definição clara da política de proteção da privacidade e dos dados pessoais e do sistema de tratamento destes dados, incluindo o tratamento invisível para os utilizadores, em conformidade com a legislação comunitária relativa à proteção dos dados (Diretivas 95/46/CE e 2002/58/CE).” (CCE, 2002, p. 6).

A pertinência desta questão aumentou com o surgimento da web 2.0, com a qual os utilizadores passaram a ser também prosumers, podendo colocar informação on-line sobre saúde de variadas formas e diferentes meios, através de conselhos, opiniões ou tratamentos alegadamente válidos mas de fiabilidade duvidosa, sem existirem mecanismos que garantam a sua autenticidade, levando já muitos utilizadores a questionarem a sua segurança e ética (Pestana, 2011), (Cardoso, 2013). Num estudo efetuado pela Obercom (2012b), é efetuada a comparação entre vários media e o seu grau médio de confiança em relação à informação disponível: os utilizadores têm menor confiança (média de 3,63 numa escala de 1 a 5) na informação disponível on-line que os não utilizadores (4,02); os utilizadores têm em média maior confiança na informação on-line (3,63) do que na imprensa (3,53); os utilizadores portugueses demonstram que não acham a informação sobre saúde disponível na Internet credível, sendo que esta perceção é tão mais elevada quanto maior for a sua idade (Tabela 4); a maioria dos inquiridos também afirmou que a credibilidade depende do tipo de site onde é disponibilizada a informação e do facto de este ser ou não credenciado por um organismo externo (Espanha, 2009) (Tabela 5).

Tabela 4-Credibilidade da informação médica e de saúde na Internet, por escalão etário

Escalões etários Credibilidade da informação (% da resposta “muito credível”)

8-17 anos 8,5 18-24 anos 7,6 23-34 anos 6,5 35-44 anos 4,5 45-54 anos 1,6 55 e mais anos 4

Inquérito Sociedade em Rede em Portugal, CIES-ISCTE, 2006, citado por (Espanha, 2009, p. 114)

Tabela 5-Opiniões sobre a credibilidade da informação médica e de saúde na Internet

Opinião sobre a informação médica e de saúde que encontra na Internet Di scor da Con cor da Ns /Nr Tot al

A credibilidade da informação sobre saúde on-line depende do tipo de

site onde é disponibilizada. 6,4 71,6 22,0 100,0

Deveriam existir instituições que certificassem a qualidade de

informação médica on-line. 4,7 78,6 16,7 100,0

Os sites de instituições do estado sobre saúde inspiram mais

confiança do que sites comerciais. 12,5 57,9 29,6 100,0

Se soubermos quem são os autores dos sites sobre saúde temos mais

confiança. 6,3 71,2 22,5 100,0

Confio mais nos sites nacionais sobre saúde porque percebo melhor a

sua origem. 12,8 55,8 31,4 100,0

Confio mais nos sites internacionais sobre saúde pela sua reputação

científica e atualização. 21,2 44,7 34,1 100,0

Inquérito Sociedade em Rede em Portugal, CIES-ISCTE, 2006, citado por (Espanha, 2009, p. 114)

Como se pode concluir através da informação acima referida é necessário criar formas de tornar a informação presente na Internet sobre saúde credível e fidedigna, para não causar dúvidas aos diferentes stackeholders envolvidos. Sobre este tema será importante referir o estudo levado a cabo por (Ferreira, 2007), que sugere que, de acordo com os médicos participantes, a melhor forma de avaliar este assunto é a experiência profissional, o prestígio da fonte, o rigor, o cruzamento de dados e a criação de órgãos reguladores.

Na tabela seguinte são referidos alguns exemplos de iniciativas para aplicação de critérios de qualidade em websites.

Tabela 6-Iniciativas para aplicação critérios qualidade informação médica on-line

Nome Descrição

Health on the Net Foudation Code of Conduct (HONcode)11

“O HONcode (2004), criado em 1996, é o código de qualidade mais antigo sugerido pela HON Foundation. Apresenta como objetivos unificar e padronizar a qualidade da informação em saúde disponível na Internet, assim como orientar o utente ou o profissional de saúde a obter informações de saúde credíveis (…)”;

NetScoring12

“NetScoring, critères de qualité de l'information de santé sur l'Internet NetScoring (2005), criado em 1997, foi desenvolvido no Centre Hospitalier de Universitaire de Rouen e oferece um conjunto de critérios que têm como objetivo avaliar a qualidade das informações sobre saúde na Internet. Foram definidos quarenta e nove critérios agrupados em oito categorias: credibilidade, conteúdo, ligações, conceção, interatividade, aspetos quantitativos, ética e acessibilidade (…)”;

HSWG objetivo de avaliar a qualidade da informação em saúde na Internet (…)”; “O HSWG (1998), criado em 1998, definiu um conjunto de critérios com o

URAC13

A URAC (2006) foi fundada em 1990, tendo desenvolvido um programa de validação da informação sobre saúde na Internet e ferramentas para identificar plataformas web de elevada qualidade. O trabalho desenvolvido pela URAC é baseado num grupo de peritos que procuram encontrar normas sobre determinados aspetos da informação sobre saúde na Internet;

DISCERN14

“O DISCERN, Segundo Charnock e Shepperd (1999) foi um projecto criado entre 1996 e 1997 pela British Library, NHS Executive Anglia e pelo Oxford Research and Development Programme em conjunto com a Divisão de Saúde Pública e Cuidados Primários da Universidade de Oxford, com o objetivo de desenvolver um instrumento que permitisse os consumidores e os profissionais avaliarem a qualidade da informação sobre saúde relativamente às opções de tratamento.”;

eHealth Code of Ethics15

“O eHealth Code of Ethics (2000) é um código de conduta que foi adotado pela Internet Healthcare Coalition que definiu as condições capazes de garantir confiança relativamente à informação sobre saúde na Internet: “Candor” “Honesty” “Quality” “Informed Consent” “Privacy” “Professionalism in On-line Health Care” “Responsible Partnering” e “Accountability” “;

QMIC instrumento baseado “num sistema estruturado de auto-certificação com “Quality Medical Information and Communication (QMIC) O QMIC é um referência externa” (CCE, 2002, p. 13).”;

CCE contexto Europeu“Critérios de qualidade aplicáveis aos sítios Web ligados à saúde, no 16, CCE (2002, p. 3)”;

(QUICK)17

“Quality Information ChecKlist (QUICK). O QUICK (2000) é um instrumento apoiado pela Health Development Agency e Centre for Health Information Quality do Reino Unido e é um auxiliar pedagógico de âmbito educativo que se destina a ajudar as crianças a avaliar as informações de saúde na Internet”;

OMNI18 “Organising Medical Networked Information (OMNI). O OMNI (2006),

11http://www.hon.ch/HONcode/Conduct.html, acesso em 03-12-2013 12http://www.chu-rouen.fr/netscoring/, acesso em 03-12-2013 13https://www.urac.org/, acesso em 03-12-2013 14http://www.discern.org.uk/, acesso em 03-12-2013 15http://www.ihealthcoalition.org/ehealth-code-of-ethics/, acesso em 03-12-2013 16http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2000:0330:FIN:PT:PDF, acesso em 03-12-2013 17http://www.quick.org.uk/, acesso em 03-12-2013 18http://www.dhsspsni.gov.uk/ahp_omni, acesso em 03-12-2013 40

fundado em 1995 é um instrumento utilizado “para fornecer uma base de dados pesquisável de informações filtradas e acreditadas. (…) (CCE, 2002, p. 12)”.

Ferreira (2007, p. 48 a 53)

Como podemos verificar através destas iniciativas, algumas com mais de uma década, estas organizações têm tentado resolver o problema. Nestes exemplos não consta nenhuma iniciativa Portuguesa, mas atendendo à evolução da informatização dos serviços públicos de saúde e à crescente procura por esta informação pelos Portugueses, seria importante o nosso país ter também um organismo com esta missão, que poderia ser regulamentado pelo MS e fiscalizado pela IGAS19. No entanto seria também necessário informar utilizadores quais as plataformas credenciadas e educa-los para as saberem reconhecer.