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resistência injustificada à ordem judicial

A fiança é uma espécie de caução que é exigida do acusado e que tem por objetivo tanto garantir o pagamento das custas processuais, multa e reparação de dano em caso de condenação, quanto para evitar risco de fuga, uma vez que caso o acusado fuja ela será perdida.

O artigo 310 do CPP prevê que ao homologar a prisão em flagrante o juiz deverá converter em prisão preventiva ou conceder liberdade provisória, com ou sem fiança, e em caso de liberdade, aplicar ou não medidas cautelares. A partir da reforma de 2011, a fiança passou a ser considerada uma medida cautelar autônoma também. Assim, ela pode ser aplicada ao ser concedida liberdade provisória ao acusado após um flagrante ou a qualquer momento durante o processo, mesmo que jamais tenha ocorrido a prisão do acusado.

O artigo 322 prevê que a autoridade policial poderá conceder fiança nos crimes cuja pena não seja superior a 4 anos (note-se que somente em caso de prisão em flagrante a autoridade policial poderá conceder fiança, não a qualquer momento como cautelar autônoma). Acima desse limite somente o juiz poderá conceder.

Ainda sobre esse limite, quando o acusado preso em flagrante houver praticado mais de um crime o delegado deverá somar as penas, e caso ultrapassar o limite, somente o juiz poderá conceder a fiança. Ainda, em hipóteses de crime tentado ou com causas de diminuição de pena, deverá ser aplicada a redução máxima, e quando houverem causas de aumento de pena, deverá ser aplicado o

aumento mínimo. Por exemplo, em caso de roubo simples tentado, a autoridade policial poderá conceder fiança, uma vez que a pena máxima é 10 anos e ao reduzir o máximo possível pela tentativa (2/3), restará uma pena de 3 anos e 4 meses.

O artigo 323 do CPP prevê os crimes inafiançáveis, nos quais, pela gravidade, não se pode conceder fiança. Porém, o que primeiramente foi pensado para ser um ônus maior ao acusado, acabou se tornando um benefício, uma vez que não há prisão preventiva obrigatória, e, portanto, o acusado poderá ser solto sem que seja possível lhe aplicar a fiança. Sobre o assunto escreve Capez (2012, p. 355, grifo nosso):

Em se tratando de infrações inafiançáveis, como crimes hediondos, racismo, tráfico de drogas, etc., não havendo necessidade de prisão preventiva, nem de providências cautelares alternativas, também caberá liberdade provisória. Só que aqui não existe a possibilidade de o juiz optar pela fiança, já que esta é vedada para tais crimes. Em vez de gravame, ao que parece, estamos diante de um benefício: mesmo que o juiz queira impor uma fiança de 200 mil salários mínimos para um traficante, a lei o impedirá, pois se trata de crime inafiançável. Com efeito, essa estranha figura da liberdade provisória sem fiança (criada pela Lei n. 6.416/77) torna mais vantajoso responder por um crime inafiançável, já que a liberdade provisória, quando cabível, jamais virá seguida da incômoda companhia da fiança.

No artigo 324 também estão previstos outros casos em que não poderá ser concedida fiança. O inciso I basicamente prevê a impossibilidade de concessão de fiança quando o réu houver quebrado a fiança anteriormente aplicada no mesmo processo. Sobre essa hipótese ensina Lopes Júnior (2012, p. 901) que:

[...] é de natureza subjetiva, vedando a fiança ao imputado que, nesse mesmo processo em que ela foi concedida, a tenha quebrado anteriormente ou infringido as obrigações dos arts. 327 e 328. Significa dizer que o agente já tinha se beneficiado da liberdade provisória com fiança e, nos termos do art. 341:

a) regularmente intimado para ato do processo, deixou de comparecer, sem motivo justo;

b) deliberadamente praticou ato de obstrução ao andamento do processo;

c) descumpriu medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança;

d) resistiu injustificadamente a ordem judicial; e) praticou nova infração penal dolosa.

Já os outros incisos preveem que é vedada a concessão de fiança em caso de prisão civil ou militar ou quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva.

A fiança será considerada quebrada quando o réu praticar qualquer dos atos mencionados anteriormente e, conforme o art. 343 do CPP, essa quebra acarretará a perda da metade do valor da fiança, cabendo ao juiz decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação da prisão preventiva.

O artigo 344 do CPP prevê que será perdido o valor da fiança se, condenado, o réu não se apresentar para dar início ao cumprimento da pena (ou seja, fuja). Logo, em caso de condenação, a fiança será usada para pagar as custas processuais, eventual pena de multa e reparação de dano a vítima, e o que sobrar será devolvido ao réu, mas se este não se apresentar para cumprir a pena esse valor restante será recolhido ao fundo penitenciário (art. 345 CPP).

Quanto ao valor da fiança, o magistrado (ou autoridade policial) deverá levar em conta a gravidade do delito e a possibilidade econômica do agente, observando os limites dispostos no art. 325 do CPP, quais sejam: de 1 a 100 salários mínimos para crimes com pena não superior a 4 anos e de 10 a 200 salários quando for superior. Tal valor poderá ser pago mediante depósito de dinheiro, pedras, objetos, títulos da dívida pública ou em hipoteca de bem imóvel.

Ainda de acordo com o mesmo artigo, analisada a situação econômica do réu, a fiança poderá ser reduzida em até 2/3, aumentada em até mil vezes ou dispensada. Assim, se o imputado não tiver condições de arcar com a fiança o juiz poderá dispensá-lo do pagamento e dar-lhe a liberdade provisória sem fiança, podendo cominar com medidas cautelares.

Por fim, conforme art. 340 do CPP, poderá ser exigido o reforço da fiança, ou seja, uma complementação, quando a autoridade tomar por engano fiança insuficiente, houver depreciação ou perecimento dos bens caucionados ou for inovada a classificação do delito para um mais grave.

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