• Nenhum resultado encontrado

A pesquisa de campo realizada consistiu em um questionário aplicado ao juiz de direito da 2ª vara criminal da comarca de Ijuí/RS.

Ao analisar o questionário, verifica-se que as medidas cautelares diversas da prisão preventiva não têm sido muito aplicadas e isso se deve principalmente à dificuldade de fiscalização das mesmas. Como mencionado pelo magistrado, a Lei sequer especifica a quem compete a fiscalização, e também não foram disponibilizados recursos (pessoal e equipamento) para esse fim específico.

As medidas de proibição de acesso a lugares e de ausentar-se da comarca, bem como a de recolhimento noturno, são extremamente difíceis de fiscalizar, para não dizer impossíveis. Não há como fiscalizar todas as saídas de todas as cidades para verificar se alguém que está proibido está tentando sair da comarca, e muito menos verificar se todos os imputados estão recolhidos em seus domicílios todas as noites.

A proibição de acesso a lugares é uma medida que poderia até dar certo em determinados lugares, como boates e estádios de futebol. Mas, para que o controle fosse efetivo, esses estabelecimentos deveriam cobrar de cada um que entra um documento de identidade e consultar em um sistema integrado se há alguma restrição, e desta realidade estamos muito longe.

Em analogia, podemos citar o exemplo do que acontece hoje com as penalidades impostas pelo Estatuto do Torcedor. Diversos torcedores estão proibidos de frequentar os estádios de futebol, porém, é extremamente comum encontrá-los frequentando esses locais normalmente devido à falta de uma fiscalização eficiente.

Assim, com a estrutura atual, para que fossem efetivadas essas medidas, cada imputado teria que ter um policial específico para vigiá-lo dia e noite, o que é inviável. O que acontece na prática, como regra, é que simplesmente o acusado pode desrespeitar a ordem de recolhimento noturno, sair da comarca e ir a um lugar que está proibido de frequentar sem que as autoridades jamais saibam, a não ser que aconteça algo fora do normal, como se envolver em um acidente de trânsito ou algo do gênero e assim a polícia consultar seu nome e verificar a restrição.

O monitoramento eletrônico pode resolver esse problema e aumentar a aplicabilidade das medidas, porém, decorridos 3 anos da vigência da Lei que implementou as cautelares, não é em todas as cidades que ele foi implementado. No caso específico da comarca de Ijuí, tal ferramenta não foi disponibilizada ainda, apesar das promessas.

Mesmo quando implementado o monitoramento eletrônico, deve-se atentar para que a fiscalização seja feita de maneira eficiente. De nada adianta ter a possibilidade de saber onde o imputado está se não há nenhum policial ou funcionário público monitorando. Certo mesmo seria configurar esta ferramenta de tal modo que o próprio sistema avisasse automaticamente quando o imputado descumprisse a medida.

A proibição de manter contato com determinada pessoa é mais fácil de ser fiscalizada, uma vez que a própria vítima (ou testemunha, perito, etc.) pode comunicar as autoridades policiais acerca do descumprimento. Tanto é que essa medida é amplamente aplicada nos casos sobre os quais incidem a Lei Maria da Penha e vem dando certo. Desta forma, é uma medida cautelar que possui aplicabilidade e eficiência também em outros casos, fora os de violência doméstica.

Os problemas da cautelar de comparecimento periódico em juízo são outros. Na prática, o imputado se apresenta no cartório da vara criminal que aplicou a medida, e como bem sabido, os cartórios estão abarrotados de processos e serviços. Desta forma, se passa um bom tempo até o juiz tomar ciência de que o acusado está descumprindo e tomar alguma providência.

Além disso, ainda que o réu cumpra de forma correta, e que a apresentação semanal, por exemplo, absolutamente nada impede que o imputado continue delinquindo, nem tumultuando a instrução processual, e muito menos que o réu simplesmente fuja para escapar de eventual pena.

As medidas cautelares de suspensão do exercício de atividade e a de internação provisória do inimputável (ou semi-inimputável) já são totalmente efetivas hoje em dia. Não há qualquer problema de fiscalização ou aplicabilidade, exceto pelo fato de que algumas comarcas não possuírem estabelecimentos adequados para a internação, problema que pode ser resolvido firmando convênios com outros municípios próximos. A quase não aplicação dessas medidas se deve basicamente ao fato de que elas somente podem ser aplicadas em casos bem específicos, diferentemente das outras medidas, que podem ser aplicadas praticamente a qualquer caso.

Quanto à fiança, ela certamente é bastante aplicada e efetiva, porém, apenas juntamente com a concessão da liberdade provisória após o flagrante. Como medida cautelar autônoma talvez não seja muito aplicada ainda por falta de costume ainda, devido ao pouco tempo desde a entrada em vigor da Lei.

Ainda, conforme mencionado pelo magistrado, há a aplicação prática da medida cautelar de recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação nos crimes de trânsito. Tal medida está prevista no artigo 294 do Código de Trânsito Brasileiro e já está em vigor a muito mais tempo do que as cautelares analisadas. Também possui um problema de fiscalização, porém serve para inibir o imputado de dirigir, até porque, se ele for parado em qualquer blitz de rotina receberá uma multa e terá seu veículo recolhido, além de responder a outro processo criminal.

Em suma, apesar de as medidas cautelares diversas terem sido criadas para substituírem a prisão preventiva na maioria dos casos, ainda não são totalmente efetivas e aplicáveis em razão da falta de possibilidade de fiscalização. Desta forma, ainda há uma disparidade muito grande entre o que se objetivava com a nova lei e o que acontece na prática forense. Contudo, com a futura concretização do monitoramento eletrônico, há a possibilidade real de que essa situação mude e as medidas se tornem efetivas, e assim teremos no processo penal pátrio a verdadeira efetivação do princípio da presunção de inocência.

CONCLUSÃO

No processo penal brasileiro vige o princípio da presunção de inocência, garantido pela Constituição Federal, que prevê que ninguém pode ser considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, e por isso ninguém pode ser punido antes disso.

Porém, dependendo das atitudes do réu, essa sentença pode não ter efetividade nenhuma. Durante o processo, que é naturalmente demorado, o réu pode fugir para escapar da punição, conturbar o mesmo através de ameaças a testemunhas e peritos, ou então continuar a delinquir e perturbar a ordem pública.

Antes da Lei 12.403/11, para resolver esse problema o juiz tinha tão somente duas opções: ou ele aplicava a prisão preventiva para garantir o processo penal e a posterior aplicação de pena e ignorava o princípio da presunção de inocência, ou então observava esse princípio, deixando o réu em liberdade, e corria o risco de que o mesmo fugisse, conturbasse o processo, ou continuasse delinquindo sem consequência alguma.

As medidas cautelares diversas da prisão preventiva introduzidas pela Lei 12.403/11 foram concebidas para resolver esse problema, garantindo o processo penal e a posterior aplicação da pena e ao mesmo tempo não impondo ao réu uma restrição tão severa quanto a prisão preventiva, deixando esta somente para os casos mais extremos.

Entretanto, decorridos três anos da vigência da Lei 12.403/11, o que se verifica na prática é que as medidas cautelares diversas ainda não são tão efetivas

quanto deveriam e nem são tão aplicadas, principalmente em razão da falta de fiscalização.

Assim, por enquanto elas não vêm cumprindo o objetivo a que se destinam, mas em um futuro próximo, com a implementação da monitoração eletrônica, é possível que o problema da falta de fiscalização seja resolvido e que enfim as medidas cautelares sejam aplicadas como substitutas da prisão preventiva, deixando esta apenas como a última opção, e assim atendendo ao princípio constitucional da presunção de inocência.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-lei n° 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 14 maio 2013.

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 21 jun. 2013.

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. Vol. 1. Niterói: Impetus, 2011.

LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal: e sua conformidade Constitucional. 9. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2012.

______. O novo regime jurídico da prisão processual, liberdade provisória e medidas cautelares diversas. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

MORAIS, Paulo Iász de; NASCIMENTO, Felipe Pinheiros. A efetividade do Princípio da Presunção de Inocência Diante da nova Lei de Prisão e Medidas Cautelares nº 12.403, de 04.05.2011. In: DONATO, Élton José. Revista Síntese Direito Penal e Processual Penal. Vol. 11, n. 69. Porto Alegre: Síntese, ago./set. 2011.

.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 11. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado Senhor

Estamos desenvolvendo uma pesquisa cujo título é “A (IN)EFICÁCIA DAS MEDIDAS CAUTELARES SUBSTITUTIVAS DA PRISÃO PREVENTIVA: Uma análise à luz do princípio da presunção da inocência”. Este trabalho é fruto de estudos de graduação em Direito na UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e tem como objetivo analisar a eficácia ou não da aplicação das medidas cautelares como substitutas da prisão preventiva, tendo como base o princípio constitucional da presunção da inocência.

A metodologia utilizada para a realização da pesquisa é descritiva e exploratória, com abordagem qualitativa. Quanto à pesquisa de campo em específico, será utilizada a técnica de pesquisa de documentação direta, haja vista que será empregada entrevista semiestruturada.

A entrevista será utilizada apenas para fins científicos vinculados ao presente projeto de pesquisa, podendo você ter acesso as suas informações e realizar qualquer modificação no seu conteúdo, se julgar necessário. Todos os documentos ficarão sob nossa responsabilidade por um período de cinco anos e após serão deletadas e/ou incineradas.

Nós pesquisadores garantimos o que as informações obtidas serão utilizadas apenas para fins científicos vinculados a este projeto de pesquisa.

Você tem liberdade para recusar-se a participar da pesquisa, ou desistir dela a qualquer momento sem que haja constrangimento, podendo você solicitar que as informações sejam desconsideradas no estudo.

Mesmo participando da pesquisa poderá recusar-se a responder as perguntas ou a quaisquer outros procedimentos que ocasionem constrangimento de qualquer natureza.

A pesquisa não causará danos ou prejuízos, seja à instituição pesquisada seja a você, nem tampouco benefícios ou compensações.

Está garantido também que você não terá nenhum tipo de despesa financeira durante o desenvolvimento da pesquisa, como também, não será disponibilizada nenhuma compensação financeira.

Eu, Patrícia Marques Oliveski (orientadora), bem como Felipe Artur Wachter Ketzer (orientando), assumimos toda e qualquer responsabilidade no decorrer da

investigação e garantimos que as informações somente serão utilizadas para esta pesquisa, podendo os resultados vir a ser publicados.

Se houver dúvidas quanto à sua participação, poderá pedir esclarecimento a qualquer um de nós, nos endereços e telefones abaixo:

E-mail: fketzer@yahoo.com.br ou poliveski@unijui.edu.br Fones: (55) 9609 3774 (Felipe Artur Wachter Ketzer) e (55) 9118 6919 (Patrícia Marques Oliveski).

Ou ao Comitê de Ética em Pesquisa da UNIJUI - Rua do Comércio, 3.000 - Prédio da Biblioteca - Caixa Postal 560 - Bairro Universitário - Ijuí/RS - 98700-000. Fone (55) 3332-0301, e-mail: cep@unijui.edu.br.

O presente documento foi assinado em duas vias de igual teor, ficando uma com o entrevistado ou responsável legal e a outra com os pesquisadores.

Eu, _____________________________________, CPF______________, ciente das informações recebidas concordo em participar da pesquisa, autorizando- os a utilizarem as informações por mim concedidas e/ou os resultados alcançados.

_____________________ Assinatura do entrevistado

____________

Patrícia Marques Oliveski CPF 646.527.930-49

______________

Felipe Artur Wachter Ketzer CPF 016.907.290-82

APÊNDICE B DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE DOS PESQUISADORES RESPONSÁVEIS

Nós, Felipe Artur Wachter Ketzer e Patrícia Marques Oliveski, abaixo assinado responsáveis pela pesquisa denominada “A (IN)EFICÁCIA DAS MEDIDAS CAUTELARES SUBSTITUTIVAS DA PRISÃO PREVENTIVA: Uma análise à luz do princípio da presunção da inocência”, declaramos:

1) Assumir o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações que serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa;

2) Que as informações obtidas no desenvolvimento desse trabalho serão utilizadas somente para atingir os objetivos previstos na pesquisa;

3) Que os resultados da pesquisa serão tornados públicos através da publicação de periódicos científicos e/ou seminários e encontros científicos que sejam favoráveis ou não, respeitando sempre a privacidade e os direitos individuais do sujeito da pesquisa.

Local, data.

_______________________ Patrícia Marques Oliveski CPF 646.527.930-49

_______________________ Felipe Artur Wachter Ketzer CPF 016.907.290-82

APÊNDICE C – AUTORIZAÇÃO

O Juiz de Direito Diretor do Foro de Ijuí/RS, autoriza o aluno Felipe Artur Wachter Ketzer a realizar a pesquisa “A (IN) EFICÁCIA DAS MEDIDAS CAUTELARES SUBSTITUTIVAS DA PRISÃO PREVENTIVA: Uma análise à luz do princípio da presunção de inocência”, parte do trabalho de Conclusão de Curso da graduação em direito, sendo esta instituição fonte de sua pesquisa.

Local, data.

__________

Juiz Diretor do Foro Eduardo Giovelli

ANEXO A – QUESTIONÁRIO SOBRE MEDIDAS CAUTELARES

As medidas cautelares diversas da prisão preventiva, nesta Vara Criminal, são aplicadas na prática como substitutivas da prisão preventiva? Em caso positivo especifique as mais aplicadas.

A despeito da lei que as institui estar em vigência há mais de dois anos, sua aplicação na prática desta Vara Criminal tem sido muito esporádica. Uma das grandes dificuldades de ordem prática, e que tem colaborado para sua pouca utilização, é a questão da dificuldade de sua fiscalização no seu cumprimento (verdadeira ausência de fiscalização da maioria destas). Nem mesmo foram disponibilizadas, ainda, tornezeleiras eletrônicas para tal fim por exemplo. Nesta vara, as mais aplicadas em substituição à prisão tem sido, quando da revogação de prisão preventiva em sede de violência doméstica, pelo cumprimento das medidas protetivas deferidas em favor da vítima.

Quais são os critérios usados pelo entrevistando para a aplicação das medidas cautelares?

Os critérios são levar em conta a personalidade do agente, seus antecedentes e o fato em si cometido. Estes dois últimos, especialmente, são os mais relevantes, pois a jurisdição penal é do fato mas também do sujeito que o pratica, ambos os vértices são se dissociam.

Quais são as dificuldades encontradas na aplicação dessas medidas? O que poderia ser melhorado?

A grande dificuldade é a fiscalização do seu cumprimento, o que resulta na pouca aplicação destas. Melhorar seria criando/especificando a quem compete fiscalizar o cumprimento, situação que não está clara, e também definida a atribuição disponibilizando-se meios (pessoal e equipamento, por exemplo, com as tornozeleiras eletrônicas) para sua eficácia.

Especificamente quanto ao monitoramento eletrônico, ele é utilizado? O que precisaria ser feito para que o uso de tal ferramenta fosse implementado (ou melhorado)?

Não é utilizado, pois ainda não disponibilizado pelo Estado. Há promessas, vencidas, de sua disponibilização – era ainda para abril para Ijuí, o que não ocorreu até o momento.

Que outras medidas não previstas no artigo 319 do CPP poderiam ser (ou são) aplicadas?

O rol do 319 é bem amplo, me parece. Em leis esparsas, como por exemplo em trânsito, algumas vezes se o autor é reiterado em tais delitos deste microssistema, e comete um grave, ao invés da prisão se suspende sua permissão de dirigir enquanto perdurar o processo (há caso assim em Ijuí).

A lei que criou as medidas cautelares, 12.413/2011 foi criada com o objetivo de diminuir o decreto da prisão preventiva e assim garantir a observância do princípio constitucional da presunção de inocência. De acordo com seu entendimento e sua prática, tal objetivo está sendo alcançado? As medidas cautelares são eficazes como substitutas da prisão preventiva com a atual estrutura estatal?

Não. As ordens de prisão, seu decreto ou não, muito pouco mudou com o advento desta lei, como dito, pela dificuldade prática em ser aplicada e na fiscalização do cumprimento das medidas.

________________ ______________

Patrícia Marques Oliveski Eduardo Giovelli

CPF 646.527.930-49 Juiz de Direito

_____________________ CPF 911.559.830-68

Felipe Artur Wachter Ketzer CPF 016.907.290-82

Documentos relacionados