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FIGURA 22 MAPA: CONCENTRAÇÃO DOS CAM, VITÓRIA

O mapa de CAM evidenciou a formação de uma hot spot na porção sudoeste de Vitória (Ilha do Príncipe, Vila Rubim, Quadro, Cabral, Caratoíra e Santo Antônio) que congregou um alto grau de concentração em um raio de influência de 800m. Neste

cluster foram computados aproximadamente 17% das 257 ocorrências de Crimes de

Armas e Munições registradas em Vitória no ano de 2008. Caso sejam considerados os níveis médio-altos de concentração (cor laranja), os bairros Moscoso e Parque Moscoso integrariam o referido conglomerado.

Na porção central da Ilha de Vitória, outro cluster com alto grau de concentração de CAM (cor vermelha) foi consolidado, desta vez pelos bairros Penha, Bonfim, São Benedito, Gurigica, Consolação e Itararé. Congregando cerca de 14% dos CAM de Vitória, tal hot spot destacou um raio de 600m.

Na porção noroeste da Ilha de Vitória, os bairros Nova Palestina e Resistência apresentaram um cluster com altas concentrações de CAM (raio de influência 500m). O referido conglomerado registrou aproximadamente 8% dos 257 Crimes de Armas e Munições computados em Vitória no ano de 2008. Nas proximidades desses bairros, Ilha das Caieiras, Redenção, Santo André, São Pedro, Santos Reis e São José apresentaram médias concentrações (cor amarela) e congregaram cerca de 6% dos CAM.

Por fim, uma parcela do bairro Praia do Suá apresentou concentrações médio-altas (cor laranja) na porção sudeste da capital capixaba. Esta área congregou cerca de 3% dos CAM registrados em Vitória no ano de 2008.

Analisando a estrutura do crime organizado referente ao tráfico de drogas ilícitas que faz uso de armas e munições com expressivo potencial de letalidade para impor suas normas e regras de conduta, geralmente, em comunidades desprivilegiadas, Alba Zaluar constatou que esta atravessa classes sociais, tem organização empresarial e não sobrevive sem a conivência das agências estatais incumbidas de combatê-lo.

As próprias instituições encarregadas de manter a lei tornam-se implicadas com o crime organizado. Sem isso não seria possível compreender a facilidade com que armas e drogas chegam até as favelas e bairros populares. A corrupção e a política institucional, predominantemente baseada em táticas repressivas da população pobre, adicionam mais efeitos negativos à já atribulada existência dos pobres. A participação de policiais e outros atores políticos na rede do crime organizado é peça fundamental desse quebra-cabeça da explosão da violência (ZALUAR, 2004, p. 31).

Nessa mesma perspectiva, Peralva (2000, p. 91) aponta que “é bem longe das favelas que vivem os que manipulam as marionetes do narcotráfico”. Por trás dos donos e gerentes, que atuam diretamente nas bocas ou que controlam suas atividades de dentro dos presídios por meio do uso indiscriminado de celulares, existem os atacadistas e matutos. Estes são independentes das gangues do tráfico e não têm dificuldades para vender armas, munições e drogas a qualquer quadrilha

ou em qualquer localidade. Atuam ocultamente de maneira descentralizada sob pouca ou nenhuma hierarquia. O mercado atacadista da cocaína, por exemplo, se baseia na importação de países produtores latino-americanos, como Colômbia, Bolívia e Peru.

Dowdney (2002, p. 32, grifo nosso) afirma que

tanto a imprensa como as polícias brasileiras têm geralmente superestimado a importância dos traficantes no âmbito da favela. Os donos com base na favela têm sido mostrados como atores-chave no interior do mercado brasileiro da droga e são caçados pela polícia segundo este critério. A população conhece bem o nome dos donos e das comunidades faveladas que eles controlam, mas ignora amplamente o fato de que esses mesmos donos não poderiam agir sem os atacadistas, que organizam a importação da cocaína, nem sem os matutos, que levam a cocaína para o coração das favelas que os donos controlam, como é de domínio público. Além de ser incorreto, o foco da mídia sobre os donos distrai a atenção do público dos responsáveis pela importação em larga escala da cocaína, forçando a atenção para pessoas da favela como totalmente responsáveis pela violência ligada ao tráfico.

A respeito do mercado de drogas ilícitas, Souza (2000, p. 54) indica que existe o “subsistema importação/exportação atacado” e o “subsistema varejista”. O primeiro seria compreendido pelas atividades dos grandes traficantes que atuam de maneira descentralizada e mantêm contato com os grandes fornecedores de drogas ilícitas, especialmente, aqueles que se localizam nos países produtores latino-americanos. O sucesso do grande traficante depende da contribuição financeira dos sócios, do apoio logístico dos matutos e da influência dos facilitadores. Na visão do autor citado, os facilitadores não estão ligados às esferas de produção ou circulação do mercado de drogas ilícitas, mas sua presença é de fundamental importância para garantir segurança e estabilidade (funcionários de portos e aeroportos até policiais corruptos, trata-se de agentes que fornecem informações preciosas e “fazem vistas grossas”, recebendo como recompensa propinas e subornos).

Assim, os atacadistas são atores urbanos prestigiados, em geral membros da abastada elite brasileira, que mantém contatos internacionais de suma importância nos países produtores, participação em sistemas de fraudes, remessa ilegal de valores monetários para o exterior, lavagem de dinheiro e influência nos mais elevados níveis de poder do Estado, quando não são eles próprios membros de instituições e órgãos públicos (NEPAD; CLAVES, apud DOWDNEY, 2002, p. 34).

O “subsistema importação/exportação atacado” teria uma abrangência mais ampla em relação ao “subsistema varejista”. Este último se caracteriza pelas atividades dos donos de bocas, gerentes gerais, gerentes da boca, subgerente, fiel, endolador, vapor, soldado, contenção, falcão, olheiro, fogueteiro, aviãozinho, entre outros agentes definidos pela rígida hierarquia das quadrilhas do tráfico de drogas ilícitas.

Souza (2000, p. 56) chama atenção para o fato de que, nas grandes cidades brasileiras, o “subsistema varejista” está longe de se restringir aos agentes baseados em favelas e em outros espaços residenciais pobres. Usuários-revendedores e traficantes atuando na distribuição a varejo operam a partir dos mais diferentes pontos da cidade, como restaurantes, boates, instituições de ensino, apartamentos de classe média etc.. O que garante destaque às quadrilhas do tráfico de drogas ilícitas que se situam nos bairros desprivilegiados é o caráter excessivo da violência, que é empregada como principal instrumento de punição em um severo código de condutas.

A correlação espacial entre os principais indicadores criminais e as características econômicas dos bairros de nossa área de estudo serão detalhadas no próximo subitem dando continuidade à análise das estruturas aqui caracterizadas. Até o momento, detalhamos as estruturas demográfica e educacional e suas correlações positivas e negativas com os CVPES e CVPAT. Neste último subitem introduzimos os indicadores CTDI e CAM a fim de complementar o estudo.

4.2.6- Estrutura econômica

O mapa da figura 23 destacou a distribuição espacial da renda média dos responsáveis pelos domicílios no município de Vitória no ano 2000. A leitura cartográfica permite inferir que os bairros Jardim Camburi, Morada de Camburi, Mata da Praia, Jardim da Penha, Barro Vermelho, Santa Lúcia, Praia do Canto, Ilha do Frade, Ilha do Boi, Enseada do Suá, Santa Helena e Bento Ferreira apresentaram um predomínio de chefes de domicílios com renda média superior a 10 salários mínimos. Estas são áreas que congregam as principais atividades comerciais e de

prestação de serviços da cidade. Além disso, as residências das classes privilegiadas também estão concentradas nesses bairros.

Todos estes estão situados na porção litorânea leste da capital capixaba e formam conglomerados ocupados pela população economicamente e socialmente privilegiada, haja vista, a cartografia apresentada e analisada no subitem 4.2.5, que ressaltou as melhores condições dos responsáveis pelos domicílios dessas regiões em relação aos níveis de instrução. Na verdade, a comparação entre os mapas de renda média (figura 23) e do nível de instrução - ensino superior (figura 19) evidenciam uma clara correlação espacial, ao passo que a maioria dos bairros com predomínio dos salários mais elevados também registraram a prevalência dos responsáveis pelos domicílios que possuem o ensino superior como curso mais elevado frequentado.

Os bairros Centro, Parque Moscoso e Vila Rubim; Maruípe, Santa Cecília, Jucutuquara, Fradinhos, Nazareth, Lourdes, Consolação e Horto; e Goiabeiras, Jabour, Sólon Borges, Segurança do Lar, Antônio Honório e República formaram três conglomerados com prevalência de chefes de domicílios com renda média de 5 a 10 salários mínimos.

Duas aglomerações de bairros com renda média dos chefes de domicílio abaixo de 5 salários mínimos foram identificadas no em torno de São Pedro e nas adjacências de São Benedito. Importa salientar que este último bairro, juntamente com Resistência, Nova Palestina, Santos Reis e Romão, registrou a menor renda média do município de Vitória, situando-se abaixo de 2 salários mínimos, o que totalizava menos de R$ 300,00 mensais em 2000 e totalizava menos de R$ 830,00 por mês em 2008.

A maioria dos bairros com predomínio dos salários mais baixos apresentou, concomitantemente, os menores percentuais de chefes de domicílios que cursaram o ensino superior e os maiores percentuais dos responsáveis pelos domicílios que cursaram apenas o ensino fundamental. Além disso, essas regiões evidenciaram as maiores taxas de analfabetismo, conforme pode ser constatado no mapa da figura 23.