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4.1 PRÊMIO ESSO DE JORNALISMO

4.1.2 FILHO DA RUA – ZERO HORA

No ano de 2012, o jornal Zero Hora83, do Rio Grande do Sul (RS), venceu a categoria Esso de Reportagem do Prêmio Esso de Jornalismo com a narrativa “Filho da Rua”84. O

jornal integra o grupo RBS, um conglomerado de comunicação que conta com oito jornais no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, vinte e quatro emissoras de rádios AM e FM, o canal de televisão RBS, afiliada à Rede Globo, além de outros dois canais locais (TVCOM). Na internet, o portal ClicRBS foi lançado em 2000 e agrega o conteúdo de todos os meios de comunicação do grupo.

Resgatando as edições até o ano 2000, verificamos que o Zero Hora foi premiado, na categoria Regional Sul, nos anos 2012, 2011, 2006, 2005 e 2003 do Prêmio Esso. No Vladimir Herzog, a empresa conquistou duas menções honrosas em 2011 e 2003 nas categorias fotografia e jornal, respectivamente. A publicação “Filho da Rua”, de 2012, foi destacada por ambos os prêmios, na categoria jornal pelo Esso e na internet pelo Vladimir Herzog. Nesta dissertação, analisaremos a versão web desta narrativa, publicada no site do

Zero Hora.

É difícil identificar um tema central para o “Filho da Rua”. É uma mistura temática que envolve pobreza, violência, desestrutura familiar, drogas e as várias implicações geradas por essas situações. A narrativa, produzida ao longo de três anos, conta a história de Felipe (nome fictício), um garoto que percorre as ruas de Porto Alegre há mais de nove anos recebendo esmolas para comprar crack. O cenário é a capital gaúcha, com referências aos parques, praças e avenidas por onde o garoto perambulava, e também a cidade de Torres, no litoral do estado, destino escolhido pela mãe como tentativa de afastar Felipe das ruas.

O garoto Felipe foi acompanhado pela equipe do Zero Hora com autorização do Juizado da Infância e da Juventude. Apesar de ser a fonte principal, Felipe muitas vezes não era encontrado e sua história foi reconstituída por pessoas que tiveram suas vidas cruzadas com a do garoto, como a mãe Maria (nome fictício), o padrasto Pedro (nome fictício), conselheiros tutelares, desembargadores, educadores sociais, psicólogos, cobradores de

83 Disponível em: http://migre.me/gxh8X. Acesso em: 30/10/2013. 84 Disponível em: http://migre.me/gxhcy. Acesso em: 30/10/2013.

ônibus, vendedores ambulantes, assistentes sociais, funcionários de fazenda terapêutica, entre outros.

Além da coleta desses depoimentos, “Filho da Rua” apresenta detalhes precisos de datas, horários e nomes, possibilitados através dos registros documentais com mais de trezentas e vinte páginas compiladas sobre o garoto desde 1998. Tais dados foram resultados dos cento e cinco encaminhamentos do Conselho Tutelar, da inserção da família em cinco programas sociais, dos nove encaminhamentos da Promotoria da Infância e da Juventude e dos três do Juizado da Infância e da Juventude, além dos abrigos, clínicas de reabilitação e das quatro escolas em que foi matriculado.

Diferentemente das anteriores, essa narrativa não apresenta um menu de navegação. No topo da página há uma ilustração da fisionomia sombreada do garoto com a cidade ao fundo, porém, a navegação é direcionada pelo Capítulo 1 - “Sozinho: a cidade dá à luz mais um menino de rua”; Capítulo 2 - “Crack: no meio do caminho tinha uma pedra” e Capítulo 3 - “Encruzilhada: longe da família, perto do crime” destacado com uma fonte maior e de cor preta. Sem botões de menu, o acesso aos capítulos ocorre pelos links inseridos nos títulos dos mesmos. Portanto, a navegação ocorre pela barra de rolagem e por links ao final do texto de cada capítulo ressaltados pela cor vermelha.

Figura 30 - Home da narrativa “Filho da Rua”

Em termos visuais, não há diferença entre essa narrativa, que levou três anos para ser publicada, e uma notícia corriqueira sobre a cidade de Porto Alegre. Sem interface própria, o conteúdo se integra à home do site, com publicidade na margem direita e na cabeça da página. Além dos anúncios, há um box ao lado do texto intitulado “Mais Sobre” onde é possível navegar pelas palavras-chave “porto alegre”, “torres”, “moradores de rua” e “filho da rua”, sendo que essas duas últimas não resultaram em nenhum registro. O conteúdo relacionado existente refere-se à produção “Filho da Rua – 1 ano depois” realizada pela mesma repórter, Letícia Duarte.

A multimidialidade é pouco explorada. A história toda é narrada a partir de grandes textos elaborados e repletos de detalhes acompanhados apenas por uma fotografia em cada capítulo. Devido à extensão do texto, há vários subtítulos para melhor compreensão da narrativa. Outros recursos foram uma galeria com quatorze fotografias que podem ser acessadas através de links na cor vermelha ao longo do texto; e um webdocumentário, que roda em um player próprio incorporado à narrativa, com duração de 8min41seg, e que carrega emoção, porém, é bastante declaratório com as falas de especialistas. O vídeo não é integrado ao texto e apresenta as mesmas fontes já utilizadas, funcionando, assim, como uma forma de sintetizar toda a narrativa ao problematizar a situação de garotos de rua à procura de esmolas e drogas.

Em relação à interatividade, “Filho da Rua” não permite a colaboração do público com envio de materiais e nem espaço para comentários. A única interação é pelas redes sociais

Facebook, Twitter e Google+ além do envio por e-mail. Os botões de compartilhamento,

entretanto, são disponíveis em cada capítulo e não no conteúdo geral da narrativa. Verificamos que o Capítulo 1 “Sozinho: a cidade dá à luz mais um menino de rua” foi bem espalhado na rede, com 621 recomendações, 41 tweets e 5 referências para o Google+, enquanto nos outros capítulos há uma queda relevante desses números como, por exemplo, no Capítulo 2 “Crack: no meio do caminho tinha uma pedra”, que possui menos da metade dos tweets (21) em relação ao primeiro, além de 25 recomendações e nenhuma referência no Google+.

Consideramos que a versão web de “Filho da Rua” frustrou quaisquer expectativas de um trabalho jornalístico com apuração de três anos, pois não emprega formatos e ferramentas para a criação de conteúdos multimídias e interativos, algumas dessas disponíveis de modo gratuito na rede. Embora com grande volume de dados, esses passam despercebidos ao longo dos extensos textos de cada capítulo. As informações compiladas nas trezentas e vinte páginas, por exemplo, poderiam estar reunidas nos formatos de visualização de dados ou de

infográficos. Dessa forma, seria possível verificar e quantificar as diversas tentativas de rastreamento por parte de diferentes órgãos do sistema público. Sem dúvida, a visualização desses dados iria revelar o envolvimento de várias instituições governamentais e a complexidade de resolução do problema que perpassa por questões jurídicas, de saúde pública, educação, entre outros.

Ainda sobre os recursos, as linhas do tempo poderiam ter sido empregadas, pois o acompanhamento sobre a vida do garoto foi realizado ao longo de três anos. Uma sugestão, por exemplo, seria identificar nessa timeline onde o garoto Felipe estava e o que fazia no dia do seu aniversário em 2009 e se algo mudou no ano seguinte. O formato de linha do tempo ajudaria, até mesmo, a destacar quais os principais acontecimentos ao longo de um ano da vida do garoto. Outro aspecto questionado por nós é a ausência de um menu. Consideramos que isso atrapalha a navegação, pois não oferece ao usuário um roteiro sobre o conteúdo apresentado.

Figura 31 - Parte 1 de “Filho da Rua”

Contudo, ao identificarmos a autoria da publicação, é possível verificar a assinatura apenas de Letícia Duarte e Jefferson Botega. Parece-nos, deste modo, que o Zero Hora não se preocupou com a versão web do conteúdo tão bem apurado, mas sim priorizou a dupla repórter + fotojornalista, talvez pensando apenas na produção para a versão impressa.

Infelizmente, o conteúdo publicado no site do grupo, dezessete anos após a implantação da internet no Brasil, não condiz com a realidade de potencialização da plataforma WWW.

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