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4. REALIZANDO CURTAS-METRAGENS

4.3. DEZ JINGLES PARA OSWALD DE ANDRADE 1

4.3.2. Filmagens, pós-produção e exibição 1

Segundo o diretor do filme, Rolf de Luna Fonseca, as filmagens de Dez jingles começaram logo que, depois da pesquisa inicial de materiais, Maurice Capovilla, que já era professor da ECA-USP, convidou três alunos para trabalhar no filme: Gabriel Bonduki para diretor de fotografia, Denise Abrantes como sua assistente e José Motta na montagem.

151 A aproximação do Cineclube Universitário de Campinas com a USP se deu por intermédio da amizade entre em Rolf e Capovilla, que, embora tenha nascido em Valinhos, sempre vivera em Campinas. Segundo Rolf, esse contato com os alunos de cinema da Universidade de São Paulo foi uma tentativa de maior profissionalização do cineclube, não mais necessitando recorrer ao estúdio caseiro e à ajuda técnica de Henrique de Oliveira Júnior.

Após o aceite e a chegada dos integrantes da equipe a Campinas, bastava encontrar um ator para fazer o papel de Oswald de Andrade. Depois de pensar um pouco, Décio Pignatari lembrou-se de ter ouvido falar que havia um sósia do poeta, em Campinas, e comunicou ao diretor. Rolf, então, percebeu que Pignatari falava do professor Francisco Ribeiro Sampaio, que ensinava português no Colégio Culto à Ciência e linguística, na Universidade Católica. O diretor de Dez jingles o conhecia muito bem, pelo fato de ser amigo de seus dois filhos, com quem havia estudado para o concurso da Promotoria. Ele ficou, então, de tentar convencer o professor, que, segundo Rolf, “era um homem de aparência grave e sisuda, [porém] na intimidade era um gozador, um homem muito bem-humorado.”216 Quando foi, finalmente,

convidado para o filme, professor Francisco aceitou e contou uma história ao diretor, da qual ele se lembra bem:

Ele falou: “[...] Eu vou lhe contar uma muito interessante. Um dia eu fui resolver um assunto na Caixa Econômica, em São Paulo, e alguém pensou que eu fosse o Oswald de Andrade, porque ele tinha estado ali, resolvendo um negócio de um empréstimo, pouco antes de eu entrar. Pensaram que eu era [ele]. Confundiram.” Então eu falei: “Nós estamos no caminho certo!”

Depois de escolhido o Oswald de Andrade, as filmagens se iniciaram e duraram poucos dias. De acordo com Rolf, “a filmagem, mesmo, 90% do filme, em uma semana foi feito. O Gabriel e a Denise ficaram morando com a gente uma semana. [...] Inclusive aquela cena das uvas foi filmada na sala da nossa casa, transformada em estúdio.” O diretor afirma que, para se dedicar exclusivamente a Dez jingles, tirou uma licença da Promotoria por três meses, de setembro a novembro de 1971, período em que praticamente todo o filme foi feito.

Sobre o período de filmagens, o diretor enfatiza a dificuldade que tiveram ao filmar em um forno desativado, de uma cerâmica, na cidade de Pedreira. A sequência era a de um jovem amarrado pelos braços, sendo torturado.

152 Foi uma loucura, porque o forno, apesar de já estar há mais de 24 horas desligado, estava ainda quente. E nós amarramos lá o ator, e aquele calor. Ele começou a transpirar. E eu falei para o câmera: “Não tem pressa, vai arrumando as coisas, que quanto mais ele ficar com o aspecto de sofrimento, melhor.” Fica real. E o menino se queixava do calor, e eu: “Aguenta mais um pouco aí, está arrumando a iluminação aqui.” Sei que foi o meu momento de torturador no filme.

Com relação às demais sequências do curta, Fonseca afirma não haver ocorrido grandes problemas. Boa parte do que foi utilizado era material fotográfico, e as cenas com atores eram bastante estáticas, não exigindo um alto grau de dificuldade de interpretação. Com o intuito de cederem locais às filmagens, eram contatados amigos e familiares, como aconteceu com Dona Ana, amiga da família, cuja cozinha se tornou locação para a cena do comercial do livro de Oswald de Andrade. Rolf diz ter se lembrado da cozinha pelo fato de possuir uma grande área, o que facilitaria o recuo da câmera.

Na época da montagem, no entanto, foram encontradas algumas lacunas, que precisavam ser preenchidas com novos planos, como relembra Rolf:

Quando nós começamos a montar, constatamos que se precisava de alguns materiais de cobertura. O Motta, como era especialista em montagem, embora ainda aluno da ECA, já tinha uma visão de montagem que eu não tinha. [...] Anotei tudo que realmente tinha que ser feito e filmamos mais alguns materiais para encaixar naquilo que já estava feito. Essas filmagens foram feitas, inclusive, aqui mesmo no estúdio do Henrique de Oliveira, porque a equipe já tinha sido dispersada.

A montagem de Dez jingles, no entanto, foi realizada em São Paulo, no estúdio da Estanislau Szankovski Produções Cinematográficas. Na época, a produtora dedicava-se à realização de documentários e jingles publicitários, e, durante os anos 1980, dedicou-se à produção de pornochanchadas. Em 1971, quando o curta foi montado, Rolf diz lembrar-se de sua rotina para acompanhar o processo de montagem, e ressalta a importância do trabalho do montador, José Motta, para o filme:

O trabalho do Motta foi genial, porque, quando eu vi os copiões do filme, falei: “E agora como é que nós vamos juntar tudo isso?”, porque o filme é todo à base de fragmentos, então, se não fosse bem montado, se perderia muita coisa. O Motta realmente teve uma compreensão do roteiro. Eu dei uma cópia para ele, e ele ficava olhando. Às vezes eu nem estava presente, e ele ia estudando as coisas. Eu saia daqui de Campinas todo fim de tarde, para ir para São Paulo, e a gente começava a trabalhar por volta das seis e meia, mais ou menos, quando fechava o estúdio. Era o estúdio da Estanislau Szankovski Produções Cinematográficas, na Liberdade, que na época estava em obras. Eu lembro que a gente andava em um palmo de calçada quase, porque estava tudo com as obras do metrô, que estavam em andamento. Isso foi em 1971.

153 Dayz Peixoto Fonseca considera que o estágio mais complicado na realização de Dez jingles foi o período da dublagem. Todo o procedimento foi realizado no mesmo estúdio onde o filme foi montado e os atores Armando Bógus e Celia Helena, nomes de prestígio no meio teatral, tinham de se locomover até lá e gravar suas falas.217

Além dessas falas, o filme contava com uma série de canções, sendo que uma, o samba sobre Oswald de Andrade que fecharia o filme, ainda necessitava ser composta. Por intermédio de Pignatari, Rolf conheceu o maestro Damiano Cozzella, que cuidaria da música, em parceria com Rogério Duprat, que possuía um estúdio de gravação de comerciais e jingles. No dia da gravação, segundo Rolf, faltavam alguns versos para que a música terminasse no tempo exato do término do filme, e, no próprio estúdio, Décio escreveu mais algumas frases e a música pôde ser gravada. Do coro da canção, participaram também os maestros Henrique Gregório, Júlio Medaglia e um componente do conjunto musical Titulares do Ritmo, que estavam no estúdio para resolver outros assuntos, mas acabaram participando das gravações, além da cantora Eloá, que é a puxadora do samba.218

Após os diferentes estágios do processo de finalização, o filme somente ficou pronto em 1972. Sua exibição ocorreu diversas vezes, porém não é sabido o local de sua primeira apresentação. Fonseca recorda que sua última exibição pública foi no último curso de cinema que ele ofereceu, no início dos anos 2000. Além disso, ele afirma ter levado Dez jingles para ser exibido no Rio de Janeiro, na Jornada Baiana de Curta Metragem, onde uma das cópias se extraviou, e no Cineclube de Marília. O Museu da Imagem e do Som de São Paulo pagou por uma cópia do filme, já que seu diretor na época era Rudá de Andrade, filho de Oswald de Andrade. Rolf diz acreditar que, assim como ocorreu com a cópia que tinha em casa, aquela vendida ao MIS também tenha se deteriorado. Ele conta que levou a fita para a Cinemateca Brasileira, com o intuito de saber sobre uma possível restauração, o que não foi possível, pois a película já se encontrava totalmente cristalizada.

De qualquer forma, Dez jingles para Oswald de Andrade, assim como os outros dois filmes produzidos pelo CCUC, Um pedreiro e O artista, são obras que representam os pensamentos, as influências cinematográficas e, até certo ponto, a realidade dos integrantes do Cineclube Universitário, como iremos analisar a seguir.

217 FONSECA, Dayz Peixoto. Entrevista à autora, em 03/08/2012.

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